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terça-feira, 18 de março de 2014

Franco Pallamolla - Presidente da Abimo - fala dos desafios para a inovação no setor médico-hospitalar

Apesar dos avanços e conquistas do Complexo Industrial da Saúde (CIS) quanto à política industrial e incentivos na área, diversos fatores ainda atrasam o desenvolvimento da indústria de materiais e equipamentos para saúde. Com um déficit comercial de US$ 3,7 bilhões em 2012 em oposição a US$ 1,7 bilhão em 2007, o setor apresenta uma tendência preocupante quanto ao crescimento das importações no País. Questões como a dificuldade de diálogo entre indústria e academia, falta de mão de obra especializada e os empecilhos para a inovação, além da falta de uma atuação forte e decisiva do Governo sobre aspectos que fortaleçam o desenvolvimento tecnológico são os principais desafios apontados por ele. Leia a entrevista abaixo: 

Está cada vez mais claro que a  saúde brasileira espera, com ansiedade, por inovações que permitam melhorias nos sistemas e maior acesso à população. Mas por que essa inovação demora tanto a aparecer?
FP: São vários os pontos a serem debatidos e, para isso, é preciso abrir espaço para uma comunicação bastante ampla e eficiente com todos os envolvidos nos processos de inovação. Ou seja, precisamos ouvir as universidades, os empresários e também o governo. Muitas vezes encontramos dificuldade de diálogo ou, ainda, uma dificuldade em saber o que os centros de pesquisa estão fazendo, o que está sendo desenvolvido pelas universidades e o que as empresas precisam.

Por que é tão difícil inovar?
FP: Os empecilhos para inovar não são exclusividade do setor da saúde e nem do Brasil. Outros segmentos e outras nações, desenvolvidas ou não, encontram problemas e batalham para contorná-los dia após dia. Mas, quando falamos em inovação na saúde, temos alguns pontos que merecem destaque, como mencionou recentemente Domingo Braile, presidente do conselho da Braile Biomédica, referência da tecnologia médica no Brasil: “quando falamos na área da saúde estamos falando da máquina mais complexa que existe, que é o corpo humano”.

Esse é um campo de atuação que realmente precisa de cuidados especiais...
FP: Sim, de fato deve-se tomar muito cuidado com as inovações neste setor, afinal tudo precisa ser fundamentado no cuidado com a vida. Mas inovar não necessariamente representa criar algo nunca antes visto.

Como assim?
FP: Inovar pode ser reformular um processo para garantir mais agilidade ou encontrar soluções tecnológicas para aproximar médico e paciente reduzindo o tempo de análise e o diagnóstico de casos específicos.

A inovação deve ser um meio de fomento à indústria e a economia, como um todo?
FP: Evidente. Países inovadores em diferentes segmentos se destacam na economia mundial e garantem melhor posição no mercado como um todo. E é justamente por isso que a inovação deve ser tratada no âmbito da política econômica pública.

Qual é o papel do governo nesse sentido?
FP: Para que universidades e empresas se entendam no que diz respeito à inovação, há a necessidade de uma atuação forte e decisiva do governo sobre aspectos que fortaleçam o desenvolvimento e ofereçam oportunidades a ambos os lados. Enquanto o governo e suas entidades trabalham planos de incentivo, desoneração de impostos e menos entraves burocráticos, as empresas devem otimizar seus processos produtivos. 

Esse debate se estende, também, aos papéis da universidade e da indústria neste cenário?
FP: A parceria entre academia e indústria deve sim existir, ou melhor dizendo, ambos os lados devem coexistir e trabalhar juntos para inovar.

Há, também, de se considerar o papel da Anvisa dentro dos projetos de inovação.
FP: A regulamentação da anuência de patentes enfrenta processos burocráticos que são considerados empecilhos à inovação. A Anvisa tem de ser mais ágil. Não podemos ter processos tão morosos. Isso é uma das coisas que causa o déficit da balança comercial, pois se não tenho as renovações, os importados entram e ganham dos nacionais.

Segundo um levantamento da revista americana Forbes, que listou as 15 graduações mais promissoras em termos de salários e oportunidades de emprego, o grande destaque até 2020 fica por conta da engenharia biomédica.  Essa é mais uma área que pode ser beneficiada pela cultura da inovação?
FP: A falta de mão de obra especializada para realizar e comandar projetos inovadores também atrapalha e torna ainda mais lento o desenvolvimento do Brasil no setor da saúde.  O engenheiro biomédico é aquele que aplica princípios elétricos, mecânicos, químicos, ópticos, de informática e outros para entender, modificar, mensurar ou controlar sistemas biológicos, projetar e fabricar produtos que possam monitorar funções fisiológicas e auxiliar no diagnóstico e tratamento de pacientes.
Trata-se de uma profissão ainda muito nova no Brasil, porém com um amplo campo de trabalho, já que, formado, o profissional pode atuar em toda cadeia da saúde pública ou privada.

A ABIMO destaca-se como uma indutora para a inovação dentro da indústria que representa. Além da organização do Congresso de Inovação em Materiais e Equipamentos para Saúde (CIMES), qual são as outras atuações da ABIMO em prol da inovação?
FP: A ABIMO acredita que incentivar a indústria nacional, independentemente do porte ou da área de atuação, favorece o país, que ganha em tecnologia; e também toda a sociedade, que é beneficiada com novas soluções e oportunidades. Trabalhamos ativamente junto aos órgãos de governo para incluir o setor em suas políticas de fomento e também organizamos anualmente o  Prêmio Inova Saúde, que tem como propósito compartilhar com todo o setor da saúde as conquistas e os progressos da nossa indústria. Além disso, pretendemos inspirar e incentivar todas as companhias a investirem em novas tecnologias, produtos e serviços.
Baseado no artigo do Portal Protec

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