Em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), nesta terça-feira (18), o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, reconheceu que a alta variação dos índices de preços ao consumidor nos últimos 12 meses indica que a inflação "ainda mostra resistência".
Na avaliação do presidente do BC, pressões localizadas, como a dos alimentos in natura, constituem "choque temporário" que tende a se reverter nos próximos meses.
Para Tombini, em momentos como esse, a política monetária deve manter-se "especialmente vigilante", a fim de minimizar "riscos de níveis elevados de inflação".
Em resposta à senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), o presidente do BC disse que "não há nada que nos condene a ter inflação acima da meta de 4,5%", fixada por resolução da instituição em 2005 e mantida inalterada desde então.
Para segurar a alta dos preços, o Banco Central iniciou um aperto monetário em abril do ano passado, resultando na elevação de 3,5 pontos percentuais na meta da taxa Selic, que passou de 7,25% para 10,75%. A variação acumulada em 12 meses do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) caiu de 6,7% para 5,68%.
Os efeitos de ações de política monetária sobre a inflação, segundo Tombini, são cumulativos e se manifestam com defasagens. Parte significativa da resposta dos preços ao atual ciclo de apertos ainda está por se materializar, acrescentou.
Vulnerabilidade
Os senadores Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) e Cristovam Buarque (PDT-DF) questionaram o presidente do Banco Central sobre uma suposta vulnerabilidade da economia brasileira, apontada em avaliação recente do Federal Reserve (FED), o Banco Central americano.
Tombini disse que esse tipo de avaliação contém fragilidades e nem sempre é levado em conta pelos investidores internacionais. Ele considerou uma "perda de tempo" elaborar uma resposta ao FED, que classificou a economia brasileira como a segunda mais vulnerável de uma lista de 15 países emergentes, à frente apenas da Turquia. A sugestão para o BC brasileiro responder ao FED foi feita por Cristovam.
Para o presidente do BC, o Brasil "tem transitado bem" nesse período de normalização das condições monetárias. Com a redução do ritmo de afrouxamento monetário em maio de 2013, nos Estados Unidos, após vários anos de política expansionista, houve consequências para os países em desenvolvimento.
– O aumento da volatilidade nos mercados financeiros internacionais que observamos desde maio de 2013 é reflexo desse processo. É uma consequência típica de períodos de transição, que geralmente são repletos de incertezas, quanto à magnitude e à velocidade dos ajustes – acrescentou.
De acordo com Tombini, esse processo e suas consequências não devem ser confundidos com vulnerabilidade. O Brasil, acrescentou, possui reservas internacionais de US$ 377 bilhões, é credor externo líquido e tem endividamento externo baixo e compromissos de curto prazo "relativamente pequenos". A parcela de dívida pública interna em mãos de não residentes no país é de apenas 17,2%, conforme acrescentou.
Operação da Caixa
Questionado pelo senador José Agripino (DEM-RN), o presidente do Banco Central evitou detalhar as providências adotadas diante da denúncia da revista IstoÉ, com base em auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU), sobre o encerramento de milhares de contas de poupança sem movimento em 2012, na Caixa Econômica Federal.
O procedimento teria resultado num acréscimo de R$ 420 milhões ao lucro do banco naquele ano.
Tombini disse que houve uma "realocação contábil" (dos saldos das contas encerradas) e que o BC determinou a imediata cessação dessa prática, sendo atendido pela Caixa.
A audiência, que se realizou das 11h às 13h50 no Plenário 19 da Ala Alexandre Costa, foi presidida pelos senadores Lindbergh Farias (PT-RJ) e Luiz Henrique (PMDB-SC).
Agência Senado
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