Recursos serão empregados na
construção e manutenção do biotério biomodular, etapa é decisiva para os
estudos pré-clínicos; iniciativa que está na fronteira do conhecimento é
pioneira e única na América Latina
Foto: Odjair Baena (MCTI)
OMinistério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) e a Universidade de São Paulo (USP) anunciaram, nesta sexta-feira (19), o investimento conjunto de R$ 10 milhões no projeto que pretende desenvolver órgãos compatíveis para transplante. A carta de apoio foi assinada pelo reitor da universidade e pelo secretário de Pesquisa e Formação Científica do MCTI. Cada instituição fará o aporte de R$ 5 milhões. Os recursos serão aplicados na construção do biotério suíno biomodular visando a produção de órgãos para xenotransplantes. A previsão é que o local seja entregue em seis meses.
Xenotransplante é o termo
técnico que define o transplante de órgãos entre espécies diferentes. Neste
caso, serão utilizados suínos geneticamente modificados com potencial para
evitar a rejeição imunológica hiperaguda do receptor humano. Os suínos são
considerados os melhores candidatos e doadores universais, por possuírem
fisiologia semelhante, órgãos com peso e medidas compatíveis, manuseio de baixo
custo, curto período de gestação e ninhadas numerosas. Rins, coração e pele são
os principais órgãos de interesse.
A iniciativa dos pesquisadores
da USP, agora em parceira com o MCTI, é a única na América Latina voltada à
pesquisa de produção de órgãos em animais para transplante em humanos. O
projeto é coordenado pelo professor Silvano Raia, professor emérito da
Faculdade de Medicina da USP, e pioneiro na execução de transplantes de órgãos
no País. O grupo de pesquisa que ele coordena é multidisciplinar, envolvendo
geneticistas, embriologistas e imunologistas, e trabalha há quatro anos no
projeto, tendo obtido resultados relevantes para a criação dos embriões suínos
geneticamente modificados.
De acordo com o coordenador do
projeto, os recursos são necessários para a etapa decisiva do projeto que
envolve a criação dos suínos geneticamente modificados em condições sanitárias
adequadas para evitar patógenos. O chamado pig facility é uma
instalação de nível de biossegurança dois (NB2) indispensável para a criação de
suínos doadores de órgãos e o início dos ensaios pré-clínicos. Além da
construção do biotério biomodular, está em fase licitatória a construção da pig
facility definitiva, que ficará pronta em 30 meses.
As atividades de pesquisa do
projeto visam proporcionar as condições necessárias para o estabelecimento da
tecnologia de xenotransplante no Brasil. Desta maneira, os pesquisadores terão
condições de avaliar a possibilidade da utilização de suínos para a produção de
órgãos compatíveis para o transplante em humanos.
Essa é uma alternativa para
atender a demanda crescente por órgãos para transplante, ocasionada pelo
aumento da idade média da população e pelo aperfeiçoamento dos medicamentos
imunossupressores, entre outros fatores. Segundo Raia, desde que os
transplantes de órgãos se iniciaram no mundo, há 20 anos, mais de dois milhões
de vidas foram salvas. O método de xenotransplantes é o que melhor apresentou
condições para a produção de órgãos adicionais. A tecnologia está na fronteira
do conhecimento e as pesquisas nessa área podem contribuir também com outras
áreas da medicina.
Espera-se que as pesquisas
gerem conhecimentos que, a longo prazo, permitam a realização de
xenotransplantes em território nacional, via Sistema Único de Saúde, promovendo
acesso à população brasileira de tecnologia de ponta desenvolvida
nacionalmente. Espera-se ainda que o desenvolvimento da técnica de
xenotransplante e demais tecnologias associadas fomente o Complexo Industrial
da Saúde brasileiro, trazendo desenvolvimento econômico e social para o País.
O secretário de Pesquisa e
Formação Científica do MCTI enfatizou que o projeto está intrinsicamente
relacionado com o tripé da pasta ministerial que é produzir conhecimento, gerar
riquezas e contribuir com a qualidade de vida dos brasileiros. Ele destacou
ainda que a pasta atua em coordenação para que as pesquisas científicas sejam
realizadas dentro das boas práticas laboratoriais, exigidas pelos parâmetros
regulatórios, para que as tecnologias cheguem mais rapidamente para utilização
do paciente por meio do sistema de saúde.
O reitor da USP destacou que o
projeto será desencadeador de uma série de conhecimentos com repercussão em
diferentes áreas da medicina. Ele citou o projeto vai proporcionar equipes mais
treinadas, melhores técnicas para cirurgias, novas descobertas na área de
imunologia que vão além de proporcionar o desenvolvimento de órgãos para
transplante, entre outras. Para o reitor, MCTI e USP se sentem honradas em
apoiar o projeto, que coloca a ciência brasileira no cenário internacional.
O secretário de saúde do
Estado de São Paulo destacou que o momento é considerado histórico, pois as
pesquisas poderão auxiliar a salvar vidas de pacientes que precisam de
transplantes de órgãos. Ele destacou que o projeto vai produzir legados na área
científica para o Brasil e para o mundo, e de assistência à saúde.
Também participaram da
cerimônia a diretora de Cooperação Institucional do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o diretor da Faculdade de
Medicina da USP, o e representante do Instituto de Biociências da USP.
Demandas futuras – O
Brasil é o segundo no mundo, em números absolutos, na realização do
procedimento, atrás dos Estados Unidos, e cerca 88% dos transplantes são
realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Mesmo assim, a fila de espera por
órgãos é crescente. De acordo com dados do Sistema Nacional de
Transplantes, do Ministério da Saúde, até julho de 2022, cerca de 59 mil
pessoas estavam na fila para transplantes no Brasil. A maior parte aguarda por
rins e córneas.
Assista a íntegra da cerimônia neste link.