Na véspera das eleições, principais jornais do país amplificam o clima de expectativa em torno daquilo que as urnas podem revelar amanhã. No que se refere à pauta da indústria, mídia nacional opta por uma cobertura mais generalista neste sábado (04), pontuando apenas o que interessa e está diretamente associado à corrida ao Palácio do Planalto.
Merece registro especial a entrevista de Otaviano Canuto, consultor sênior para os Brics no Banco Mundial, em O GLOBO. Com foco em itens macro associados ao debate eleitoral no Brasil, o especialista defende maior controle de gastos e o aperfeiçoamento de sistemas que incentivem a produção e o investimento.
Canuto destaca como ponto de atenção a condução e a qualidade da política econômica. “Vou dar um exemplo concreto: se a política de concessões em infraestrutura tivesse alcançado mais rapidamente o perfil que assumiu no ano passado, o país já poderia estar usufruindo dos efeitos de uma onda de investimentos em infraestrutura”.
Em linha com o que preconiza Canuto, o ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, principal assessor econômico de Aécio Neves, explica a O GLOBO e a O ESTADO DE S.PAULO os principais pontos do programa de governo do presidenciável tucano. Lançado ontem, o documento reúne propostas em várias áreas.
ESTADÃO relata que, “com o tripé econômico reorganizado”, o programa projeta que a taxa de investimentos passará dos atuais 16,5% do PIB para 24% do PIB. Eles serão puxados principalmente pela infraestrutura, completa o jornal.
Ainda de acordo com o texto, está prevista a intensificação da atuação da iniciativa privada, por meio de parcerias público-privadas (PPP) e concessões. Tese é de que “uma infraestrutura maior aumentaria a competitividade das indústrias, que vive uma situação de "desespero", apesar dos estímulos dados pelo atual governo”.
Apesar de O ESTADO DE S.PAULO destacar o compromisso com políticas sociais, chama atenção a promessa de atenção à competitividade por meio de melhorias na infraestrutura e de uma reforma tributária.
Sobre mudanças na política de tributos, o projeto promete criar um Imposto de Valor Agregado (IVA) Nacional – resultado da fusão do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), principal tributo estadual, com a taxação federal sobre a receita e o faturamento das empresas. A União faria a arrecadação e distribuiria aos estados, mediante o compromisso de não prejudicá-los em relação à receita atual obtida com o ICMS.
Também no ESTADÃO, o jornalista Rolf Kuntz reflete em sua coluna sobre a situação econômica brasileira e tira conclusões pessimistas sobre os resultados da indústria brasileira, do comércio exterior e dos fundamentos econômico, atribuindo isso à "incompetência" dos governos petistas. Para ele, a política industrial brasileira é muito mais voltada para o protecionismo do que para a inovação e a produtividade.
Kuntz observa “a política industrial nunca foi mais que um arremedo, com tinturas nacionalistas e desenvolvimentistas, de estratégias típicas de outras eras. Nunca se cuidou de fato da eficiência econômica e do poder de competição”. Texto é reforçado por dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI) referentes ao primeiro trimestre deste ano e associados ao coeficiente de exportação.
Em reportagem diferenciada e exclusiva, CORREIO BRAZILIENSE traça o perfil do eleitor a partir de suas preferências e dos valores preservados por ele como fundamentais na hora de definir o voto.
Densa e cheia de conceitos sociológicos, abordagem relata o que move as pessoas a escolher alguém para representá-las. CORREIO menciona que, "de acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o medo do desemprego entre os brasileiros atingiu no mês passado 77 pontos, o maior nível desde novembro de 2009. Houve alta de 1,2% em relação a junho, na sexta alta seguida do indicador".
De volta à influência da cena política sobre a percepção do empresariado em relação ao curto prazo, DIRETO DA FONTE, no ESTADÃO, informa que a Câmara Americana de Comércio (Amcham) ouviu CEOs, diretores e altos executivos de empresas brasileiras sobre as eleições e constatou que 52% consideram que "a expansão da atividade econômica será maior se houver transição política".
De olho no mercado internacional, FOLHA observa como mais um ponto de atenção que a perda de vigor da economia chinesa, que já não cresce mais a um ritmo de 10% como na década passada, acabou se refletindo não só na demanda em desaceleração de produtos de países emergentes, como também deixou de ser uma espécie de colchão para esses mercados no momento de retirada dos estímulos pelo BC dos EUA. Avaliação é do Fundo Monetário Internacional (FMI) em relatório divulgado ontem. Para o Fundo, caso o crescimento chinês tivesse sido forte como o esperado, o choque da retirada dos estímulos pelo Fed teria sido 20% menor nas Bolsas de emergentes.
No penúltimo dia de campanha, jornais concentram a cobertura na disputa entre Marina Silva e Aécio Neves por um lugar no segundo turno. As movimentações dos presidenciáveis, ontem, estão em destaque nas primeiras páginas.
O ESTADO DE S.PAULO ressalta frase atribuída a Marina contra a candidatura de Aécio: “O outro candidato é acostumado a perder para o PT.” O tucano, que estava em Belo Horizonte, “fugiu da polêmica, já de olho em futuros acordos”, registra o jornal paulista. O reforço das atenções de Aécio em Minas Gerais é apontado no CORREIO BRAZILIENSE.
Já Dilma Rousseff, que desfilou em carro aberto por São José dos Campos (SP), disse “não ter preferência” por qualquer adversário”.
Repercute bastante o dia seguinte ao debate na TV GLOBO. Todos os jornais analisam a performance dos candidatos e destacam os pontos fortes do confronto inovador proposto pela emissora. A atuação de Aécio é um dos itens que se sobressai na maneira como a mídia apresenta o evento.
Entre as reportagens que associam as eleições a movimentos nos mercados provocados pelas pesquisas, destaque para a FOLHA DE S.PAULO, que em manchete informa que o dólar e a Bolsa voltaram a variar ontem sob influência da disputa pelo Planalto.
Noticiário também pontua novos desdobramentos da operação Lava Jato. ESTADÃO afirma que o doleiro Alberto Youssef “está entregando ao Ministério Público farta documentação para comprovar todas as revelações de sua delação premiada. A expectativa dos investigadores é de que ele aponte empreiteiras, empresários e políticos envolvidos”.
No CORREIO, notícia é de que o ex-diretor de abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, admitiu à Justiça que liderava o esquema de corrupção na estatal e que a cobrança de propina chegava a 20% do valor dos contratos.
As contas públicas, temas associados ao mercado de trabalho e questões ligadas às eleições estão em foco no noticiário econômico do dia. Cobertura, no entanto, é relativamente discreta devido ao peso conferido aos cadernos de Política.
O GLOBO traz reportagem diferenciada sobre as “manobras” contábeis do governo para fechar as contas. “O governo subestimou em R$ 6,2 bilhões as despesas com seguro-desemprego. A previsão de gastos com o benefício para o ano é de R$ 27,703 bilhões, mas até 27 de setembro já foram desembolsados R$ 25,460 bilhões, o que corresponde a 92% do total programado, de acordo com dados do Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi)”, resume.
Segundo cálculos de técnicos da Consultoria de Orçamento da Câmara dos Deputados, as despesas com o auxílio deverão chegar a R$ 33,947 bilhões em 2014, considerando a média de pagamento mensal nos primeiros nove meses do ano, de R$ 2,829 bilhões, completa O GLOBO.
FOLHA publica artigo do candidato ao governo de São Paulo pelo PMDB, Paulo Skaf, ex-presidente da Fiesp, na qual ele defende renovação da política paulista. Ao mencionar sua proposta para a educação, Skaf promete usar sua experiência de dez anos como presidente do SESI e do SENAI em São Paulo para "fazer uma revolução". "Vamos valorizar os professores e implantar um novo modelo de ensino e gestão, com ensino em tempo integral e fim da aprovação automática dos alunos", afirma.
O ESTADO DE S. PAULO se debruça sobre a reta final da campanha e o comportamento dos principais candidatos à Presidência da República no último debate. Jornal critica a falta de exposição e críticas de propostas em razão do que considera disputas pessoais. Na discussão sobre corrupção, o jornal avalia, por exemplo, que eles estavam entregues ao jogo do "Sou, mas quem não é?". Um dia antes do primeiro turno da disputa, o jornal vê possibilidades de mudanças milimétricas a partir das últimas pesquisas de intenção de voto.
FOLHA DE S.PAULO alerta para um quadro econômico internacional mais preocupante e avalia que se torna mais importante ainda que o Brasil "faça o dever de casa". O jornal é menos alarmista a respeito do futuro econômico no curto prazo e lembra que o país é mais estável, tem reservas em moeda forte e a evolução da dívida pública ainda não é alarmante, mas pondera que o Brasil deverá se defrontar com renovadas limitações impostas pelas mudanças no exterior: um ciclo de comércio mais modesto, demanda menor pela produção nacional, crédito mais escasso.