Trabalhei duro durante toda semana, por mais de 15h por dia, viajei, fiz reuniões técnicas, comerciais, políticas em linha com minha atuação e sempre para proporcionar o melhor conteúdo, informação atualizada e segura aos nossos clientes. Estamos sempre em busca de verticalizar, otimizar, viabilizar, economizar ou minimamente gastar o que é imprescindível para realizar algumas ações/missões em prol da saúde pública.
Como vou viajar domingo a noite, para flexibilizar custos e para ter mais tempo disponível para cumprir com os meus compromissos da próxima semana, resolvi adiantar uma série de coisas que faria só na segunda-feira, no meio desta faina..., o que prejudicou o tempo para o almoço, para agilizar resolvemos ir um “self service”, próximo.
De saída, por mero acaso fui eu a ir desligar a televisão que estava ligada... eis que me deparo com a reportagem “ao vivo” que mostrava o helicóptero oficial da presidência da república pousando em um campo privado de futebol em São Bernardo do Campo, onde uma comitiva oficial com 5 ou 6 carros aguardava a presidenta... Minha Família estava a espera no elevador para ir almoçar já fora de hora, e, como ainda tinha que abastecer o carro, recomendei que eles fossem se adiantando..., e, me sentei para processar e tentar entender o que via...
A reportagem dava conta que a presidente, acompanhada do Chefe da Casa Civil, Jacques Wagner saíram do Palácio do Planalto às 11h00, de helicóptero em direção à base aérea, onde um avião estava a espera. Voaram para São Paulo, onde ficara mais de 4h à espera, enquanto ela em outro helicóptero iria visitar o Lula em São Bernardo do Campo e retornaria para seguir viagem para cumprir agenda pessoal no Rio Grande do Sul.
Enquanto isso a comitiva composta de 5 ou 6 veículos seguiu em caravana e entrou na garagem do prédio onde mora o Lula em SBC. 50 ou 60 pessoas se encontravam em frente ao edifício, metade com a camisa nova, vermelha do partido, vários com bandeiras gritando algumas palavras de ordem, enquanto as câmaras estavam filmando...
Chateados comigo minha Família seguiu para o restaurante próximo de casa, onde eu deveria encontra-los logo mais, mas resolvi continuar a assistir a reportagem e tentar entender onde está o divisor de águas entre o “legal e o Ilegal”; onde fica o limite entre o que público e o que é da iniciativa privada... e fui ficando ainda mais pressionado pela Família e mais confuso com que atonitamente via....
Já desligando a TV e decido sair, vejo um dos membro da Família Stuckert, fazendo filmagem e fotos na sacada do apartamento do Lula (a Família Stuckert, Pai e Filhos, são os fotógrafos oficiais da presidência da república há muitos anos, e, acompanha as autoridades palacianas em todos eventos locais e internacionais).
Na sacada do apartamento, Dilma acenou para militantes, acompanhada de Lula e da esposa do ex-presidente, Marisa Letícia. Na rua em frente ao prédio, manifestantes gritavam em apoio a Lula e soltaram uma fumaça vermelha.
Às 14h30, Dilma desceu para cumprimentar os militantes e acenar para as pessoas que desde cedo esperavam no local. Ela não falou com a imprensa e voltou para dentro do prédio. Dilma foi embora logo em seguida.
Após o encontro, Dilma Rousseff seguiu para Porto Alegre (RS), onde constam compromissos pessoais na agenda.
Fiquei pensado, repensando... se a Dilma pretendeu realizar um ato de desagravo ao Lula;..... porque lançou mão do aparato da Presidência da República; helicóptero em BSB, avião BSB para SP, helicóptero SP para SBC utilizar de um campo de futebol privado para pousar, comitiva 5 ou 6 carros com blindagens, seguranças, escoltas, helicóptero de volta ao aeroporto de São Paulo, avião a disposição para seguir viagem para cumprir agenda pessoal no RGS, de alguma forma a comitiva declarada; pelo menos Jaques Wagner e o Fotografo dos Stuckert, ao que tudo indica, deveriam retornar para Brasília.
Custos das aeronaves, disponibilidade das três ou quatro Tripulações das aeronaves, comitiva com 5 ou 6 carros, motoristas, seguranças, fotografo, dentre outros tudo pago pelos cofres públicos?????
Claro que a presidente, como todos os demais políticos legitimamente eleitos, em exercício de mantados e cargos de primeiro escalão, que “prestam serviços fora de suas bases” tem o direito de retornar “para casa” periodicamente, mas daí faze-lo desta forma, acintosa, desrespeitosa, sem qualquer preocupação com o erário público me parece um verdadeiro “abuso de poder”, se fosse apenas o exercício do direito do retorno as bases...
O que dizer de utilizar tudo isso para um “desagravo” um enfrentamento explicito às autoridades jurídicas e polícias que conduzem, e muito bem, o processo, numa aparente queda de braços para expor o exercício do poder em detrimento e desrespeito aos cofres públicos.
Senti o impacto ainda maior por que acabara de ler na VEJA o texto : "O legal versus o ilegal"
Que para conhecimento e reflexão retransmito a seguir:
Lula é conduzido coercitivamente a depor na Polícia Federal em São Paulo para esclarecer uma mínima parte de suas atribulações com a Justiça brasileira - mas já fez comício, em vez de dar Explicações
EURÍPEDES ALCANTARA
LULA AMA suas platéias. As platéias de Lula o amam. Mas isso não é suficiente para apagar as evidências de prática de crimes que levaram a Polícia Federal a escoltá-lo para depor, na sexta-feira passada, em uma delegação do órgão instalada no Aeroporto de Congonhas. Como todo populista, Lula é um defensor do igualitarismo, desde que ele seja sempre mais igual do que os outros. Um suspeito da autoria de crimes pelos quais ele é investigado, em especial o delito de ter enriquecido com repasses de dinheiro desviado de uma estatal que pertence ao povo brasileiro, é levado por policiais a depor coercitivamente. Basta que as autoridades decidam assim. Ponto. Mas Lula se acha acima da lei. Ele se sentiu no direito de debochar da Justiça e dos agentes policiais. Fez um pronunciamento depois de depor durante três horas à Polícia Federal sobre as razões pelas quais recebeu 30 milhões de reais de empreiteiras pegas na Operação Lava-Jato por usufruírem um esquema de corrupção na Petrobras.
Lula nada explicou. Nada disse que ajudasse os brasileiros a entender por que recebeu milhões de reais de empresas condenadas por esquemas de propina na Petrobras e de lobistas traficantes de medidas provisórias no seu governo. Fez-se de vítima e encenou o número de sempre diante de sua platéia. Enalteceu as próprias qualidades e magnificou seus feitos nos oito anos em que presidiu o Brasil. Feitos, aliás, que ninguém discute. Lula foi um governante de imensa sorte, presidindo um país cuja economia recebeu mais de 200 bilhões de dólares de recursos extras produzidos por exportações de minerais e grãos que tiveram preços recordes no período. Se no lugar de Lula tivesse sido eleito um "poste", essa massa espetacular de recursos teria sido injetada na economia brasileira da mesma maneira. Mas ter sorte não é um elemento desprezível na vida privada nem na pública. O problema para Lula é que, no âmbito da Justiça e nas encrencas que claramente ele tem com a polícia, a sorte não conta muito.
Foi louvável a tentativa de Lula de politizar os eventos de sexta-feira passada. Politizar é o instinto básico do ex- presidente. Mas, como a sorte, esse atributo não ajuda muito Lula em suas atuais atribulações. Carlos Fernando Lima, um dos procuradores da Lava-Jato, explicou o objetivo e a abrangência da Operação Aletheia (verdade, em uma tradução livre do grego).
Disse ele: "Não temos nenhuma motivação política. A única consideração do Ministério Público é o legal versus o ilegal. Esta é apenas mais uma etapa da Operação Lava-Jato". O procurador esclareceu que, ao levar Lula coercitivamente para depor - em vez de marcar uma hora para recebê-lo na delegacia - , o MP quis evitar manifestações públicas de parte a parte. "Sabemos
da polarização que existe no país e, para evitar maiores manifestações, procuramos fazer da maneira mais silenciosa possível."
Com Policarpo Junior, Rodrigo Rangel, Daniel Pereira, Robson Bonin e Hugo Marques
LULA DEPOIS DA PF
Muita retórica, autolouvação, jogo para a platéia e nenhuma explicação
O tríplex, o sítio e a fortuna
A sociedade secreta de Lula com as empreiteiras envolvidas no da Petrobras rendeu favores, mordomias e mais de 40 milhões
Durante anos, o ex-presidente Lula esforçou-se para manter viva a imagem do homem comum, do político honesto que exerceu o poder em sua plenitude e permaneceu impermeável às tentações. Para os incautos, ele morava até hoje no mesmo apartamento modesto em São Bernardo do Campo (SP) e conservava hábitos simples, como carregar na cabeça uma caixa de isopor cheia de cerveja. Longe dos holofotes, Lula se acostumou com a vida faustosa. Longe dos holofotes, o petista cultivava hábitos sofisticados. Longe dos holofotes, o petista se tomou milionário. E a origem do dinheiro que ele acumulou, em boa parte, está nas empreiteiras acusadas de participar do bilionário esquema de desvio de dinheiro da Petrobras, criado em seu governo. O mito começou a desabar quando as investigações da Lava-Jato revelaram os primeiros sinais de que o ex-presidente, seus filhos, parentes, amigos e aliados estavam todos esparramados de alguma forma na gigantesca bacia da corrupção.
Para além do apartamento de São Bernardo, o Lula mais próximo da realidade havia comprado um apartamento tríplex de frente para o mar do Guarujá, no litoral paulista, e um sitio nas montanhas de Atibaia, no interior do estado. As duas propriedades, porém, nunca estiveram em nome dele. Ambas foram reformadas e equipadas por empreiteiras do petrolão. O sítio, para o qual Lula enviou parte de sua mudança logo após deixar o Planalto, está até hoje em nome de dois sócios de Fábio Luís da Silva, o Lulinha, o filho mais velho do ex-presidente. E o tríplex nunca saiu do nome da OAS, uma das maiores companhias acusadas de distribuir propinas a partidos e políticos em troca de contratos na Petrobras. Em 2015, reportagens de VEJA abriram caminho para o que resultaria na mais constrangedora cena da vida de um político.
Até a semana passada, o ex-presidente continuava negando peremptoriamente ser o dono do sítio e do tríplex. Os policiais e procuradores, porém, não têm dúvidas de que saiu dos cofres das empreiteiras do petrolão o dinheiro usado para comprar o sítio em 2010, meses antes de Lula deixar o Planalto. Um presente que, suspeitam os investigadores, Lula teria recebido quando ainda era presidente, o que configuraria crime de corrupção e improbidade administrativa. As empreiteiras também cuidaram dos detalhes para que a propriedade ficasse ao gosto de Lula e de sua família. Bancaram as obras no sítio, como a construção de uma nova
sede com quatro confortáveis suítes e de um tanque para pescaria. Pagaram até a mobília.
Os móveis da cozinha foram encomendados pela OAS em uma loja de luxo.
A história do triplex enreda Lula ainda mais nas tramóias das empreiteiras do petrolão. Como VEJA revelou, foi o ex-presidente quem convenceu a OAS a assumir as obras deixadas para trás pela Bancoop, cooperativa que foi à bancarrota após desviar o dinheiro de milhares de associados para os cofres do PT. Pedido de Lula, sabe-se agora, era ordem, e a OAS topou. Um dos projetos assumidos pela empreiteira foi justamente o do Edifício Solaris, no Guarujá, onde o ex-presidente teria uma unidade. A OAS não só evitou o prejuízo a Lula, tirando o projeto do prédio do papel, como aproveitou a oportunidade para afagar o petista. Reservou para ele um triplex, na cobertura do edifício - e cuidou para que, a exemplo do sítio, o apartamento ficasse ao gosto da família. A empreiteira investiu quase 800 000 reais apenas numa reforma, que deixou o imóvel com um elevador privativo e equipamentos de lazer de primeiríssima qualidade. Sem constrangimento, Lula e a ex-primeira-dama Marisa visitaram as obras na companhia de Léo Pinheiro, o ex-presidente da OAS. Tudo estava ajustado para que a família logo começasse a desfrutar o apartamento. Mas veio a Lava-Jato e os planos mudaram. Lula, então, passou a dizer que tinha apenas uma opção de compra do apartamento - e que
desistira do negócio. O argumento não convenceu a polícia.
Paralelamente, a Lava-Jato também mapeou as transações financeiras do ex-presidente. No ano passado, VEJA revelou que a LILS, empresa de palestras aberta por Lula logo após deixar o Planalto, recebera 10 milhões de reais só das empreiteiras do petrolão. Agora, as transações foram anexadas à investigação como indício de que os pagamentos, na verdade, serviram para maquiar vantagens indevidas que o presidente recebeu por "serviços" prestados às empreiteiras. Executivos da OAS ouvidos pela Lava-Jato, por exemplo, disseram à polícia que não se recordavam de palestras do ex-presidente na empreiteira - no papel, a OAS pagou 1,2 milhão de reais à LILS. A empresa de palestras não era a única fonte dos repasses milionários a Lula, que teve seus sigilos fiscal e bancário quebrados pelo juiz Sérgio Moro. O Instituto Lula, entidade sem fins lucrativos criada pelo petista com o propósito altruísta de acabar com a fome na África e desenvolver a América Latina, também era destinatário de repasses milionários das companhias que fraudaram a Petrobras. Dos 34,9 milhões de reais recebidos pelo instituto entre 2011 e 2014 a título de doações, 20,7 milhões foram repassados pela Camargo Corrêa, Odebrecht, Queiroz Galvão, OAS e Andrade Gutierrez, todas investigadas.
A farra acabou. Disse o Ministério Público Federal no pedido que resultou na condução coercitiva do ex-presidente: "Há elementos de prova de que Lula tinha ciência do esquema criminoso engendrado em desfavor da Petrobras, e também de que recebeu, direta e indiretamente, vantagens indevidas decorrentes dessa estrutura delituosa".
"Você tem que acertar uma coisa pra mim"
O desprezo do ex-presidente Lula pela Justiça se manifesta pelo método de achar que pode alterar fatos comprando o silêncio de testemunhas. Foi assim quando seu grupo foi posto sob suspeição pela morte do prefeito de Santo André, foi assim no mensalão, e tem sido assim no petrolão LULA DEIXOU a Presidência da República como recordista de popularidade, com uma aliada em seu lugar e certo de que voltaria ao cargo, garantindo ao PT pelo menos vinte anos no poder. Com prestigio de sobra, considerava-se acima do bem, do mal e das leis. Num discurso recente, apresentou-se como o mais honesto dos brasileiros e, desafiando as instituições, disse que não havia delegado ou procurador capaz de acusá-lo de nenhuma irregularidade. Um senhor erro de avaliação. Um tremendo tiro no pé. A nova fase da Operação Lava-Jato contesta essa pureza de costumes tão decantada nos palanques.
Depoimentos formais a autoridades também. Prestados por pessoas que compartilharam da intimidade do governo do PT, eles revelam que a estrutura de poder comandada pelo ex-presidente comprava o silêncio de testemunhas que ameaçavam implicá-lo em escândalos de corrupção. A alegada honestidade, quem diria, era mantida à base de subornos. Um dos depoimentos é do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), ex-líder do governo, ex-líder do PT e ex-presidente da CPI dos Correios.
Durante a negociação de um acordo de delação premiada, Delcídio disse a procuradores que partiu de Lula a ideia de pagar uma mesada à família do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró em troca do silêncio dele. Segundo o senador, foram repassados 2S0 000 reais ao filho de Cerveró, com o objetivo - declarado por Lula - de evitar que o alvo do suborno narrasse aos investigadores detalhes da participação do pecuarista José Carlos Bumlai no petrolão. A oferta financeira não rendeu o retomo esperado. Cerveró denunciou Bumlai e outros peixes bem mais graúdos. Às autoridades, afirmou que a campanha de Lula à reeleição, em 2006, recebeu dinheiro sujo decorrente de um contrato da estatal e declarou que Dilma sabia de tudo sobre o processo de compra da Refinaria de Pasadena. A operação resultou num prejuízo de quase 800 milhões de dólares para a Petrobras. Aos investigadores, Delcídio reproduziu a orientação que recebeu do ex-presidente da República. "Você tem que acertar uma coisa pra mim. O Cerveró é sua cria. O Bumlai é minha", disse Lula, referindo-se ao fato de Delcídio ser o padrinho político de Cerveró. "Se cair a operação das sondas da Schahin, eles (a Lava-Jato) vão chegar ao Bumlai e, se isso acontecer, vai cair a operação de Santo André." Reproduções de diálogos são sujeitas a distorções, mas os fatos encadeados têm o respaldo da realidade. Em 2012, VEJA revelou parte dos segredos que Marcos Valério, o operador do mensalão, cogitava contar ao Ministério Público. Eram enredos desabonadores. Valério dizia que um empresário, a mando de Lula, comprou o silêncio de uma testemunha que ameaçava envolver o ex-presidente e outros próceres do PT no caso do assassinato de Celso Daniel, então prefeito de Santo André. Dias depois, Valério declarou aos procuradores que o pagador desse suborno tinha sido Bumlai. A Operação Lava-Jato se encarregou de desvendar o resto da trama. Para calar o chantagista e bancar outras despesas emergenciais do partido, o pecuarista pegou 12 milhões de reais no Banco Schahin por meio de um contrato fraudulento de empréstimo. Em contrapartida, o PT, beneficiário da dinheirama, ordenou que seus prepostos instalados na diretoria da Petrobras, como o próprio Cerveró, contratassem a Schahin por 1,6 bilhão de reais para operar um navio-sonda. Uma mão sujou a outra, ambas lambuzadas com o suado dinheiro do contribuinte.
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A preocupação de Lula era com o risco de a investigação sobre Bumlai reavivar as suspeitas sobre a morte do ex-prefeito Celso Daniel
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Toda essa tenebrosa transação está devidamente mapeada. A Lava-Jato conseguiu até colher confissões de culpa. "Ou seja, para quitar uma dívida contraída no interesse do Partido dos TrabaIhadores e de pessoas diretamente a ele vinculadas, utilizou-se de uma contratação fraudada na Petrobras", disse o Ministério Público ao pedir a condução coercitiva de Lula. Os cofres da estatal alimentaram outras tentativas de suborno. Em 2006, o mesmo Marcos Valério exigiu mais de 200 milhões de reais para não dizer à CPI dos Correios e à Justiça que Lula era o chefe e o principal beneficiário do mensalão. Como VEJA revelou em maio passado, a chantagem chegou aos ouvidos do ex-presidente, que determinou o pagamento da fatura, feito no exterior por empreiteiros do petrolão. No fim de fevereiro, Delcídio confirmou essa história ao Ministério Público. Ele só não declinou o nome de quem pagou pela solidariedade de Valério. Desde a descoberta do mensalão, Lula costuma repetir que não sabia de nada sobre os escândalos de corrupção. Que seus amigos flagrados em cenas criminosas agiam sem o conhecimento dele. E que sempre defendeu a investigação de toda e qualquer suspeita de irregularidade. Não é bem assim.
Nos bastidores, entra em cena um Lula diferente, que manda emissários acalmar possíveis delatores e opera pessoalmente para evitar a convocação de companheiros. Quando Delcídio era líder do governo, o ex-presidente pediu que a bancada não permitisse a convocação de Mauro Marcondes, o lobista que pagou 2,5 milhões de reais a Luís Cláudio da Silva, seu filho caçula. Com a palavra, o Ministério Público: "Lula era extremamente próximo de todas essas pessoas que foram investigadas ou condenadas, nos esquemas do mensalão e da Lava-Jato, e extremamente experiente em política, o suficiente para saber como as coisas funcionavam em seu governo. Tudo isso aponta não apenas para a mera ciência, mas especialmente para o poder de comando por parte de Lula". O ex-presidente disse que a ação da polícia, classificada de espetáculo midiático, foi ilegal e arbitrária. Em pronunciamento oficial, Dilma manifestou "integral inconformismo" com a condução coercitiva do antecessor.
Operação aloprada
Passou pelo Planalto - e não foi abortada - uma tentativa desesperada de atingir por meio de um dossiê fajuto o juiz Sérgio Moro, os promotores e os delegados da Lava-Jato AS TENTATIVAS do governo de obstruir as investigações da Operação Lava-Jato não tiveram como alvo apenas os ministros do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça. Para que o plano fosse bem-sucedido, era necessário também frear o trabalho dos delegados, dos procuradores do Paraná e do juiz Sérgio Moro - os responsáveis pelo processo que desvendou o maior escândalo de corrupção da história do país, colocou na cadeia empreiteiros, políticos, lobistas e promove um cerco ao ex-presidente Lula. A presidente Dilma, ao que tudo indica, decidiu arriscar-se nesse terreno- e escalou para a missão o seu assessor mais poderoso: o ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner. Ele tem em mãos um dossiê que acusa o juiz Moro de participar de uma conspiração com o objetivo de atingir o PT e seus líderes.
O documento, resultado de uma investigação paralela, foi entregue ao ministro no fim do ano passado. Com o pomposo nome de "Relatório de Inteligência", ele traz um organograma do que estaria por trás das investigações da Lava-Jato. É um trabalho digno de "aloprados", como Lula definiu em 2006 os petistas que compraram um dossiê fajuto para tentar envolver o tucano José Serra, então candidato a governador de São Paulo, numa quadrilha que desviava verbas do Ministério da Saúde. Na época, a Polícia Federal desmontou a farsa e prendeu em flagrante a arraia-miúda responsável pela falsificação, mas, de novo, os mandantes conseguiram se safar. Desta vez, os mentores do plano têm nome e sobrenome.
No fim do ano passado, Jaques Wagner recebeu em uma audiência no Palácio do Planalto dois policiais federais ligados a sindicatos que representam a categoria. A audiência não foi registrada na agenda do ministro. O cuidado tinha explicação. Os agentes foram levar um dossiê de seis páginas que acusa o juiz Moro, os procuradores, os delegados da Operação LavaJato e até os advogados de réus que decidiram colaborar com a Justiça de estarem todos a serviço de um grande plano do PSDB para implodir o PT e o governo. Um diagrama com fotos anexado ao dossiê tenta estabelecer essas conexões. O esquema mirabolante envolve na trama até mesmo uma multinacional "interessada"em destruir a Petrobras. O portador do documento foi o policial Flávio Werneck, presidente do Sindicato dos Policiais Federais no Distrito Federal (Sindipol) e vice-presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef). A audiência foi acompanhada pelo também petista Tião Viana, governador do Acre.
Procurado por VEJA, Werneck admitiu que levou o dossiê ao ministro. Ele explicou que apresentou o caso ao Planalto por se tratar de uma denúncia grave, num momento delicado pelo qual passa o país. "Temos um problema de anacronismo na investigação, que já tem dois anos e vem pegando pontos-chave de empresas e do governo. Isso afeta diretamente a economia", explicou o agente. Jaques Wagner, depois de ler o conteúdo, teria dito apenas que encaminharia o dossiê para "um promotor baiano de sua confiança dar sequência ao assunto".
Os sindicalistas aproveitaram a reunião para pedir reajuste salarial e repisar outras reivindicações da categoria - reivindicações que o ministro se comprometeu a atender.
O envolvimento do chefe da Casa Civil numa operação desastrada para obstruir as investigações é mais uma grande dor de cabeça para o governo. Na semana passada, Jaques Wagner recebeu da presidente Dilma Rousseff carta branca para escolher o substituto de José Eduardo Cardozo no Ministério da Justiça, pasta à qual está subordinada hierarquicamente a Polícia Federal. O eleito de Wagner para a vaga foi o promotor baiano Wellington Lima e Silva, até então uma figura desconhecida nacionalmente, mas famosa na Bahia por uma longa folha corrida de serviços prestados ao PT e ao hoje ministro da Casa Civil. A troca acontece no momento em que as investigações apontam para conexões do escândalo na Bahia. A polícia colheu indícios de que dinheiro desviado do petrolão pode ter financiado em 2014 a campanha do petista Rui Costa, sucessor de Wagner no governo. Uma nota fiscal apreendida revelou um repasse de 255 000 reais da OAS, uma das empreiteiras envolvidas no escândalo, para a empresa Pepper Comunicação. Os investigadores já sabem que houve uma simulação de prestação de serviço. O dinheiro, na verdade, teria sido remetido clandestinamente para saldar dívidas da campanha do PT na Bahia. A substituição de Cardozo também chamou atenção por ter acontecido às vésperas da ação da Lava-Jato contra o ex-presidente Lula, de quem Wagner é um fiel escudeiro.
Não precisa dizer que fiquei ainda mais indignado e claro sem almoço!!!