Lava Jato apura suspeita de
compra de voto para escolha do Rio como sede da Olimpíada de 2016
PF e MPF cumprem mandados de
busca na casa de Carlos Arthur Nuzman e no Comitê Olímpico Brasileiro.
Empresário conhecido como 'Rei Arthur' é alvo de mandado de prisão. Ex-sócia de
Arthur foi presa na manhã desta terça
Agentes da Polícia Federal e
do Ministério Público Federal prenderam, na manhã desta terça-feira (5), Eliane
Pereira Cavalcante, ex-sócia de Arthur César de Menezes Soares Filho, conhecido
como Rei Arthur, ex-dono da empresa Facility, que é procurado pelos agentes. O
objetivo é cumprir mandados contra suspeitos de comprar jurados da eleição da
cidade sede da Olimpíada de 2016.
A operação, batizada de Unfair
Play, é mais uma etapa da Lava Jato no Rio de Janeiro. Em março, o jornal
francês “Le Monde” havia denunciado que, três dias antes da escolha da cidade,
houve pagamento de propina a dirigentes do Comitê Olímpico Internacional.
Por volta das 6h, os agentes
chegaram à casa de Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico
Brasileiro (COB) e do Comitê Rio 2016, para cumprir mandados de busca. Os
agentes permaneceram no local por cerca de 3h30. Também foram realizadas buscas
na sede do COB. Às 10h15h, ele chegou à sede da PF para prestar depoimento.
Por quebra de e-mails trocados
entre os sócios, o MPF descobriu que o Arthur pretendia se mudar para o
Uruguai. Como há suspeitas de que o presidente do COB tenha nacionalidade
russa, ele está proibido de se ausentar do país e deverá entregar todos os
passaportes que possuir.
As investigações encontraram
indícios de que Nuzman teve participação na compra de votos de membros do
Comitê Olímpico Internacional (COI) para os jogos e que teria sido o
responsável por interligar corruptos e corruptores.
De acordo com as
investigações, um dos votos foi comprado de Lamine Diack – então presidente da
Federação Internacional de Atletismo e então membro do Comitê Olímpico
Internacional –, por meio de seu filho, Papa Massata Diack.
O advogado de defesa de Carlos
Nuzman afirmou que o cliente não cometeu ilegalidades. "Vou examinar o
processo e daremos as explicações. Ele está tranquilo e sereno", afirmou o
advogado Sergio Mazzillo, garantindo que "nenhuma irregularidade foi
cometida". O G1 ainda não conseguiu contato com as defesas de Arthur e de
Elaine.
O COI afirmou, em nota, que
está colaborando com as investigações e que tem total interesse que o assunto
seja esclarecido. O COB, o comitê organizador dos jogos e a defesa de Sérgio
Cabral ainda não se pronunciaram.
Principais pontos da
investigação:
A Justiça francesa investiga
denúncia de compra de votos na escolha do Rio como sede da Olimpíada de 2016.
A suspeita é que um dos votos
comprados é o de Lamine Diack, então membro do Comitê Olímpico Internacional.
Segundo o MPF, o dinheiro para
a compra do voto de Lamine saiu de uma empresa de Arthur Soares, o Rei Arthur.
Uma empresa de Soares
transferiu US$ 2 milhões para Papa Diack, filho de Lamine.
Para o MPF, as ‘negociações’
feitas por Carlos Arthur Nuzman foram ‘essenciais’ para o repasse da propina.
Segundo a investigação,
realizada em colaboração com o Ministério Público francês, Cabral determinou
que Arthur Soares realizasse pagamento de US$ 2 milhões ao ex-atleta Papa
Diack, para obter votos de seu pai para a eleição da cidade do Rio de Janeiro como
sede das Olimpíadas de 2016.
O Ministério Público das
Finanças francês já vinha fazendo essa investigação da compra de votos e, por
um acordo de cooperação, está trabalhando com o Ministério Público Federal do
Brasil. Na manhã desta terça(5), há autoridades francesas acompanhando a
operação na casa de Nuzman, no Leblon, na Zona Sul do Rio.
Também há um mandado de prisão
preventiva contra Arthur Soares Filho, que vive em Miami, nos Estados Unidos, e
pode ser preso lá. O empresário já é considerado foragido e está na Difusão
Vermelha, a lista de procurados da Interpol. Os mandados foram expedidos pelo
juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Criminal do Rio.
Também foram expedidos
mandados de busca e apreensão nas empresas AS Patrimonial, Pulse
Participações, Laborvida Laboratórios Farmacêuticos, LHS Barra
Empreendimentos Imobiliários, Grupo Prol S.A., NZ Palestras, Conferências e
Estuados Eireli. Além disso, foram bloqueados diversos bens dos envolvidos,
incluindo apartamentos em área nobre do Rio de Janeiro, carros de luxo e
aeronaves.
Para dar continuidade aos
trabalhos, o MPF obteve na medida cautelar para realizar pedido de cooperação
jurídica internacional com as Ilhas Virgens Britânicas, França e Estados
Unidos, a fim de rastrear os recursos que Arthur Soares possui em nome de
outras pessoas nesses países.
Segundo as investigações, o
dinheiro do esquema vinha do empresário, que chegou a ter contratos que somavam
milhões de reais com o governo do estado. Arthur abastecia uma conta no Caribe,
que era gerenciada por um operador financeiro do grupo de Sérgio Cabral.
Ministério Público Federal
(MPF) pediu o bloqueio de até R$ 1 bilhão do patrimônio de Carlos Arthur
Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB); do empresário Arthur
Cesar Soares de Menezes Filho, o "Rei Arthur"; e de Eliane Pereira
Cavalcante, ex-sócia do empresário. O objetivo, segundo procuradores, é reparar
os danos causados pelos trio devido às proporções mundiais da acusação.
Elaine foi presa em casa em um
prédio luxuoso em Laranjeiras, na Zona Sul. A empresa Facility, da qual ela foi
sócia, possuía contratos milionários com o governo do estado na gestão de
Sérgio Cabral, através do fornecimento de pessoal e de serviços.
Os procuradores descobriram
que o grupo, para ter mais contratos com o governo do estado, pagava propina a
Sergio Cabral a partir de uma conta na Antígua e Barbuda. O dinheiro depositado
nesta conta foi usado também para pagar a compra de votos para que o Rio fosse
sede da olimpíada do ano passado.
As investigações, iniciadas há
nove meses, apontam que os pagamentos teriam sido efetuados tanto diretamente
com a entrega de dinheiro em espécie, como por meio da celebração de contratos
de prestação de serviços fictícios e também por meio do pagamento de despesas pessoais.
Além disso, teriam sido realizadas transferências bancárias no exterior para
contas de doleiros.
Setenta policiais federais
cumprem dois mandados de prisão preventiva e onze mandados de busca e
apreensão, expedidos pela 7ª Vara Federal Criminal/RJ, na cidade do Rio de
Janeiro (Leblon, Ipanema, Lagoa, Centro, São Conrado, Barra da Tijuca e
Jacaré), no município de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, e em Paris, na
França. Os presos serão indiciados por corrupção, lavagem de dinheiro e
organização criminosa.
Organização criminosa
internacional
De acordo com o Ministério
Público, as fronteiras internacionais não limitaram a atuação da organização
criminosa de Cabral. Para os procuradores, “trata-se de um esquema altamente
sofisticado, que agia internacionalmente com desenvoltura e uma engenhosa e
complexa relação corrupta”. Prova disso é que, para alcançar o atual estágio da
investigação, o MPF teve que realizar pedidos de cooperação jurídica
internacional com nada menos que quatro países diferentes: Antígua e Barbuda,
França, Estados Unidos e Reino Unido.
Durante as investigações, o
Ministério Público Francês colheu substancioso material para demonstrar que
houve compra de votos para escolha da sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Um dos
votos foi comprado de Lamine Diack, então presidente da Federação Internacional
de Atletismo e então membro do Comitê Olímpico Internacional, por meio de seu
filho, Papa Massata Diack.
Tido como um dos maiores
contratados pelo Estado do Rio de Janeiro, “Rei Arthur” tinha interesse
evidente e direto na realização desse grande evento esportivo: “vultosas
quantias de investimentos da União e a abertura de uma imensa janela de
oportunidades para exponenciar os contratos não apenas com o Estado, mas também
com o Município e com o Comitê Olímpico Rio 2016”, detalha o MPF.
Com informações do G1