“O Brasil está sedento por consensos, estabilidade e soluções para hoje e para o futuro”, disse Dilma Rousseff aos membros do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. “Conto com vocês para fazer a travessia ao porto seguro da retomada do desenvolvimento e da geração de oportunidades a todos.”
Num esforço de interpretação, pode-se dizer que, nesse trecho do seu discurso, Dilma quis dizer que aquela mulher voluntarista e autossuficente que ela foi até o Réveillon não existe mais. A presidente que produziu a ruína governando na base dos rompantes e sob o lema do padrinho Lula —‘Nós contra eles’— deu lugar a uma cultora de consensos.
Consenso no Conselhão? Grêmio como já chamam alguns....Ainda não foi inventado nome mais apropriado para a reunião de 92 ilustres, sem a participação dos que fazem as leis – o legislativo ficou de fora. O conselheiro Robson Andrade, presidente da Confederação Nacional da Indústria, quer que Dilma patrocine “reformas contundentes” na economia—entre elas a da previdência e a trabalhista. O conselheiro Vagner Freitas, presidente da Central Única dos Trabalhadores, avisa que sua tribo não aceita reformas que suprimam direitos previdenciários e trabalhistas.
Dito e feito. Tudo o que a presidente queria dizer para exibir sua nova pose foi dito na reunião do Planalto. Mas mesmo Dilma, um ser pouco afeito às mumunhas da política, sabe que sem o Congresso nada será feito, sem uma pauta clara, sem um posicionamento proativo com mudanças e redução de despesas da máquina do governo, “apelar” exclusivamente para o aumento de arrecadação com mais impostos, sem o Legislativo, o Conselhão do Executivo é uma inutilidade que almeja a pompa, mas tropeça nas circunstâncias.
Em privado, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, desdenha da agenda que Dilma chama de “positiva”. CPMF? Não passa, sentencia Cunha. Reforma da Previdência? Sem o PT, pode esquecer. DRU? Deve passar, mas não do dia pra noite. Antes, será necessário decidir sobre o impeachment, ainda pendente de votação, também, é verdade que bastante esvaziado, mas se surgirem novos fatos neste interim pode ser retomado com força total.
Líder de Dilma na Câmara, o petista José Guimarães quer retirar do caminho o pedido de afastamento da presidente na primeira semana depois do Carnaval. Líder do DEM, o deputado Mendonça Filho, retruca: “Não tem necessidade de tanta pressa. Esse tema terá de ser muito bem refletido, seguirá o rito normal. Decisão, só em março. Talvez abril.” Vale lembrar que a retomada do legislativo começa com a indicação das lideranças... e alguns poderão ser substituídos.
E quanto à mão que Dilma parece estender no rumo da oposição? “Para haver diálogo, precisaria existir uma pauta”, diz Mendonça. Essa agenda da Dilma não existe. A única coisa concreta é o aumento da carga tributária. Não dá para conversar. Por civilidade, podemos cumprimentar os negociadores do governo. Boa tarde, boa noite. E passar bem!”
A exemplo do líder do DEM, o presidente do PSDB, Aécio Neves, está à procura da agenda de Dilma: “O governo, mesmo depois de 13 anos no poder, não tem ainda convicção do que fazer. Qual a proposta do governo de reforma tributária? Qual a proposta do governo de reforma da previdência? Qual a proposta do governo para retomar os investimentos no setor de petróleo? Simplesmente não sabemos.”
Deve-se a suposta disposição de Dilma para o diálogo à flacidez do bloco governista. Apoiada por uma megacoligação partidária que soma perto de 400 deputados e mais de 50 senadores, a presidente poderia continuar governando de costas para a oposição. Mas a infidelidade dos aliados do Planalto aumenta na proporção direta da queda da popularidade de Dilma.
Vem daí que, à frente de um governo endividado até a raiz dos cabelos do contribuinte, Dilma tornou-se refém de um conglomerado partidário 100% custeado pelo déficit público. Em ano eleitoral, como 2016, quando acabam de comer o queijo, os governistas costumam entregar ao Planalto os buracos. A falta de credibilidade de Dilma eleva o preço da fatura. Não há conselhão que dê jeito nisso.
A sutileza festiva do anúncio de novas ofertas de créditos subsidiados passa pela necessidade de gerar novos recursos para o tesouro que induz novos impostos. A ampliação da oferta de crédito consignado desconsidera a capacidade de gestão e endividamento do povo, que poderá experimentar um efeito inicialmente positivo, mas em pouco tempo vai descobrir que precisará pagar a conta... induzimos erros novos com soluções velhas. Outras economias, como a de Portugal, por exemplo, amargou anos a saturação do endividamento do povo que impactou significativamente no desenvolvimento econômico de médio e longo prazo.
O Governo precisa apresentar uma agenda concreta e robusta para as necessárias reformas, começando com a readequação da máquina governamental, passando pela previdenciária, tributária até chegar na política, caso contrário seguimos neste ciclo vicioso onde as questões políticas impactam na economia e está por sua vez amplia os problemas políticos e enquanto isso o pais fica estagnado, perdendo credibilidade, ampliando a desconfiança local e internacional que repele investimentos que por sua vez motiva a queda de produção, o desemprego e assim por diante.
Em ano eleitoral nos municípios, começar os trabalhos no executivo excluindo o legislativo de uma reunião de “notáveis” que supostamente contribuirão com a indicação de novos caminhos é mais uma demonstração da pretensa autossuficiência do governo, que ratifica publicamente querer manter sua agenda e não buscar uma pauta realmente nacional que induza a produção e o crescimento econômico.
Parodiando o ex-diretor do IMPA, Cesar Camacho “uma ilha de excelência corre perigo porque a entropia trabalha para igualá-la ao ambiente mediano que a rodeia” o governo precisa pensar no País.
Com informações do blog do Josias de Souza
Em nota divulgada na noite desta quinta-feira (28), o senador Aécio Neves desqualificou a agenda econômica apresentada pelo governo aos membros do Conselho de Desenvolvimento Econômica e Social (CDES). Presidente do PSDB, principal partido de oposição, Aécio referiu-se à reunião do ‘Conselhão’ como uma mera jogada publicitária de Dilma.
Aécio anotou: “Infelizmente, ao invés de mostrar concretamente suas propostas de reformas, o governo federal mais uma vez faz uso de manobras midiáticas para tentar artificialmente criar uma agenda positiva. No final, essas medidas de marketing apenas agravarão a crise de credibilidade deste governo e dificultarão ainda mais o ajuste macroeconômico a ser feito. Infelizmente, o governo está perdido em meio a crises de naturezas diversas que vêm empobrecendo os brasileiros e tirando deles a esperança de um futuro melhor. E mais uma vez faltou a coragem necessária para fazer o que precisa ser feito.”
Aécio duvida que a promessa do governo de ofertar R$ 83 bilhões em créditos subsidiados vá reanimar a economia. Por três razões:
1) Essa é “a mesma política que foi adotada desde 2009 e que não levou ao aumento do investimento;
2) “Sem confiança e credibilidade, mesmo que houvesse queda dos juros, os empresários não iriam investir sem que o governo aprove medidas estruturais de controle do gasto;
3) “Com o nível de endividamento das famílias hoje em 46% da renda e com o risco de perder emprego, os consumidores não entrarão em uma aventura de aumentar a sua dívida.”
Ex-adversário de Dilma na sucessão presidencial de 2014, Aécio insinuou que a presidente ainda não sabe como fazer para colocar em pé reformas que considerava desnecessárias na campanha eleitoral. “O governo, mesmo depois de 13 anos no poder, não tem ainda convicção do que fazer. Qual a proposta do governo de reforma tributária? Qual a proposta do governo de reforma da previdência? Qual a proposta do governo para retomar os investimentos no setor de petróleo? Simplesmente não sabemos.”
Irônico, Aécio insinuou também que a prioridade de Dilma não é seduzir os empresários, sindicalistas e intelectuais que integram o Conselhão. Antes de tudo, a presidente terá de se entender com o seu partido: “É inútil reunir 92 pessoas quando todos nós sabemos que hoje o maior empecilho para se estabelecer o consenso mínimo para reformas estruturais é a posição do Partido dos Trabalhadores, que tem se mostrado contrário ao ajuste fiscal e demanda a volta da desastrosa política econômica denominada ‘Nova Matriz Econômica’.”
Vai abaixo a íntegra da nota de Aécio Neves:
A presidente Dilma reuniu hoje o CDES (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social) para tratar de uma suposta pauta positiva para o país. Infelizmente, a presidente com essas ações levanta dúvidas ainda maiores sobre o real compromisso do governo no encaminhamento de reformas para a superação da crise.
Mais uma vez, o governo sinaliza com o aumento de crédito subsidiado em mais de R$ 80 bilhões; a mesma política que foi adotada desde 2009 e que não levou ao aumento do investimento. A presidente parece esquecer que, sem confiança e credibilidade, mesmo que houvesse queda dos juros, os empresários não iriam investir sem que o governo aprove medidas estruturais de controle do gasto. Além disso, com o nível de endividamento das famílias hoje em 46% da renda e com o risco de perder emprego, os consumidores não entrarão em uma aventura de aumentar a sua dívida.
Causa surpresa que, apesar do elevado desequilíbrio fiscal, o governo ainda insista em falar em banda fiscal. O que é preciso é o compromisso claro do governo Dilma com alguma meta de primário, qualquer que seja essa meta, e o encaminhamento ao Congresso Nacional de um conjunto de reformas estruturais que sinalizem para o menor crescimento do gasto público.
Mas o governo, mesmo depois de 13 anos no poder, não tem ainda convicção do que fazer. Qual a proposta do governo de reforma tributária? Qual a proposta do governo de reforma da previdência? Qual a proposta do governo para retomar os investimentos no setor de petróleo? Simplesmente não sabemos.
É inútil reunir 92 pessoas quando todos nós sabemos que hoje o maior empecilho para se estabelecer o consenso mínimo para reformas estruturais é a posição do Partido dos Trabalhadores que tem se mostrado contrário ao ajuste fiscal e demanda a volta da desastrosa política econômica denominada “Nova Matriz Econômica''.
Infelizmente, o governo parece ainda não ter a exata dimensão da gravidade da situação econômica do Brasil. A melhor forma de o governo combater a crise econômica, moral e de credibilidade é reconhecendo os seus erros, sendo mais transparente nas suas propostas e, com o apoio da sua base, encaminhar ao Congresso Nacional um conjunto de reformas estruturais. Medidas pontuais de expansão do crédito de bancos públicos aumentam o custo financeiro da dívida, o subsídio, e dificultam o ajuste fiscal.
Infelizmente, ao invés de mostrar concretamente suas propostas de reformas, o governo federal mais uma vez faz uso de manobras midiáticas para tentar artificialmente criar uma agenda positiva. No final, essas medidas de marketing apenas agravarão a crise de credibilidade deste governo e dificultarão ainda mais o ajuste macroeconômico a ser feito.
Infelizmente, o governo está perdido em meio a crises de naturezas diversas que vêm empobrecendo os brasileiros e tirando deles a esperança de um futuro melhor. E mais uma vez faltou a coragem necessária para fazer o que precisa ser feito.
A verdade é que sem o resgate da confiança, com a apresentação de uma agenda clara de reformas, não haverá o retorno dos investimentos e, sem eles, não superaremos nossas enormes dificuldades. E esse Governo, ao que parece, infelizmente, já não tem mais condições de nos tirar do atoleiro em que ele próprio nos jogou.“
Com informações do blog do Josias de Souza