Biolab e Eurofarma, donas da Orygen, fazem acordo de cooperação tecnológica com a americana, e tiram do papel fábrica de R$ 500 mi.
A Orygen, joint venture entre os laboratórios nacionais Biolab e Eurofarma, fechou uma parceria com a multinacional americana Pfizer para transferência de tecnologia e desenvolvimento de medicamentos biossimilares para tratamento de doenças complexas, como câncer e artrites. Com esse acordo, que já foi submetido ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), a Orygen deverá tirar do papel seu projeto, de cerca R$ 500 milhões, para a construção de uma fábrica para nacionalizar a produção desses medicamentos.
Por esse trato, a Pfizer vai transferir a tecnologia de cinco anticorpos monoclonais - Trastuzumabe, Rituxumabe, Adalimumabe, Infliximabe e Bavacizumabe. O anticorpo monoclonal é um linfócito (tipo de célula de defesa do organismo) clonado, utilizado na indústria farmacêutica e hospitalar no combate a doenças degenerativas. A partir desses anticorpos será possível desenvolver os biossimilares, que são uma cópia do medicamento biológico (produzido a partir de células vivas).
Encontrar um parceiro estratégico como a Pfizer era a ponta que faltava para a Orygen dar início ao seu ambicioso projeto de ter uma fábrica de medicamentos biossimilares no País, afirmou o bioquímico inglês Andrew Simpson, presidente da Orygen. Simpson construiu uma carreira acadêmica no renomado Instituto Ludwig de Pesquisa de Câncer, nos Estados Unidos e é o responsável pelo desenvolvimento dos projetos da Orygen no Brasil.
Criada em 2012, a Orygen tinha em sua formação original outros dois acionistas - as farmacêuticas Libbs e Cristália, que decidiram seguir com seus projetos de produção desses medicamento sozinhas.
Mesmo com a saída dos dois sócios, Biolab e Eurofarma continuaram buscando um parceiro estratégico para deslanchar seu projeto. A futura fábrica, que deverá ser financiada em boa parte pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), deverá ser construída no interior de São Paulo. "Ainda estamos negociando onde a fábrica será construída", disse um dos acionistas da companhia.
Se tudo ocorrer como o planejado, a planta da Orygen deverá entrar em operação em 2016 e os primeiros medicamentos deverão ser produzidos a partir de 2018, disse Simpson. "A Pfizer já está em fase de desenvolvimento avançado desses medicamentos." Boa parte desses produtos ainda é protegido por patente, disse Simpson.
Procurada, a Pfizer informou que "entrou em um acordo com a Orygen para colaborar na fabricação e comercialização de produtos biossimilares no Brasil. O acordo ainda está sujeito à aprovação do Cade". Segundo a multinacional, as duas empresas "continuam suas discussões a fim de finalizar os detalhes da colaboração que estão sendo negociados".
Superfarmacêuticas. A produção de medicamento biossimilar é considerada estratégica para o governo brasileiro, uma vez que esses produtos são importados. Em 2012, o Ministério da Saúde começou a discutir um acordo com oito farmacêuticas nacionais para produzir localmente esses medicamentos, como forma de reduzir o déficit da balança comercial desse setor, que gira em torno de US$ 11 bilhões ao ano, o que inclui a importação de medicamentos, equipamentos médicos e insumos farmacêuticos.
O governo vai garantir a compra desses medicamentos para fornecer ao Sistema Único de Saúde (SUS).
Há dois anos, quando o governo federal começou a discutir com a iniciativa privada propostas para nacionalização de medicamentos, a ideia original era que oito farmacêuticas nacionais formassem uma única empresa, com o apoio do BNDES, para produzir biossimilares no Brasil. Contudo, essa união não deu certo por conta de desentendimentos entre as empresas.
Os laboratórios Aché, EMS, Hypermarcas e União Química formaram um bloco único para criar a Bionovis, que também terá uma fábrica dedicada para biossimilares. Cada empresa tem 25% de participação nessa companhia. Em abril deste ano, a Bionovis, presidida pelo executivo Odnir Finotti, fechou parceria com a Merck Serono para o desenvolvimento desses medicamentos.
No outro bloco estavam Biolab, Eurofarma, Libbs e Cristália, que, juntas, criaram a Orygen. No entanto, meses após selada a união entre elas, Libbs e Cristália também desistiram da associação. Cada laboratório hoje tem seus projetos independentes para a produção de biossimilares.
MÔNICA SCARAMUZZO - O Estado de S. Paulo
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