Posicionada de modo discreto, mas ainda relevante na cobertura macroeconômica, a indústria é observada à distância nesta quinta-feira (10) pelos principais jornais do país. A exposição de assuntos internacionais pontua parte da agenda, que recupera também itens que na semana passada direcionaram as análises mais relevantes ao setor.
As articulações do governo em torno de medidas que estimulam o setor produtivo nacional, os efeitos da Copa do Mundo no PIB e os resultados negativos da indústria automobilística estão entre os assuntos de maior apelo do dia.
Em O ESTADO DE S. PAULO, por exemplo, destaque para a informação de que, após o fim do Mundial da Fifa, o governo deverá se reunir, por etapas, com 23 entidades empresariais para discutir novas medidas de estímulo com os Ministérios da Fazenda e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic).
Conforme o ESTADÃO, “a ideia é prosseguir com as negociações que tiveram com a presidente Dilma Rousseff em reunião no Planalto, dia 18”, em referência ao encontro da presidente com membro do Fórum Nacional da Indústria, quando foi anunciado um pacote de socorro para a indústria.
ESTADÃO recorda que, na ocasião, uma série de benefícios foram concedidos para a indústria, entre eles a retomada do Reintegra (incentivo à exportação). Segundo a reportagem, as novas reuniões devem ocorrer com grupo de quatro ou cinco empresários e avisa que, segundo o Mdic, o diálogo ainda está nos estágios iniciais.
Apesar disso, jornal adianta que alguns setores já estão com agenda pronta e a reportagem publica avaliação feita por dirigentes de entidades diversas, como da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) e das associações brasileiras Indústria de Materiais de Construção (Abramat), da Indústria Têxtil e de Confecção, e de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).
CORREIO BRAZILIENSE também destaca a série de encontros com o setor produtivo que o Planalto programa, após o fim do torneio, com a chamada de 23 entidades empresariais, e explica que essa seria uma continuidade do encontro realizado em 18 de junho. Jornal do DF afirma que essa é uma forma do governo evitar que as dificuldades da economia desgastem ainda mais a imagem do governo. CORREIO ressalta que com o Brasil fora da disputa pela Copa, dificuldades econômicas ganham visibilidade, e o debate da inflação volta a entrar em cena.
Avaliando a cena econômica de forma geral e as propostas em estudo para 2015, o ex-ministro João Sayad, em entrevista à FOLHA DE S. PAULO, avisa que de medidas arrocho devem ser descartadas no próximo ano, independentemente do resultado eleitoral. Para ele, as mudanças necessárias não são macroeconômicas, mas de regulação, e prevê que o crescimento será lento. Sayad observa ainda que o regime de metas precisa de ajustes, e combustíveis deveriam ser reajustados.
Ainda de acordo com Sayad, alterar o câmbio, como sugerem a indústria e a agricultura, gera inflação e que a política do novo mandato tem que fazer uma trajetória para a política cambial que seja compatível com a inflação. O especialista concorda que a desindustrialização é um problema, mas critica a posição do empresariado. “É, e é complicado. Mas eles viraram financistas, deixaram de ser industriais. Primeiro, porque são terceira ou quarta geração dos que trouxeram a indústria. Segundo, porque se adaptaram”, declara.
O setor automotivo continua a ocupar espaço significativo nas edições do dia. Jornais observam, com base em dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), que o movimento de recuo da atividade continua, gerando expectativas cada vez mais negativas para o desempenho do segmento em 2014.
Como ponto de atenção, editorial da FOLHA avalia que a forte retração registrada pelo setor automotivo no primeiro semestre reflete fracasso da política econômica dos últimos anos. Texto resume que de um lado o setor esbarra nos limites estreitos das medidas de estímulo ao consumo; de outro, tropeça na falta de competitividade e de integração com o resto do mundo. Em junho a fabricação de veículos diminuiu 23,3% em relação a maio, e no acumulado do ano houve redução de 16,8%, diante do mesmo período de 2013”.
VALOR ECONÔMICO ressalta que o primeiro semestre de 2014 para as montadoras foi pior do que o esperado. As expectativas apontavam para um mercado próximo dos volumes de 2013 ou, na pior das hipóteses, até 4% menor, mas as vendas de veículos, no acumulado do ano, caíram 7,6%, enquanto as exportações cederam mais de 35%, numa combinação que levou as fábricas a cortar a produção em quase 17%, além de reduzir a força de trabalho com a eliminação de 5,5 mil vagas desde janeiro. Jornal observa que escaparam das previsões iniciais fatores como o agravamento da crise na Argentina, a escalada dos estoques no primeiro trimestre e aas dificuldades envolvendo os financiamentos a caminhões do BNDES.
VALOR completa que, com a manutenção do IPI reduzido até o fim do ano, as projeções estão sendo agora atualizadas à nova realidade, com a revisão das projeções da Anfavea, que prevê queda de 5,4% dos emplacamentos e de 10% da produção. Jornal especializado recorda que antes mesmo da associação revisar suas projeções, a Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores) já tinha anunciado projeção de queda de 8,1% do mercado, incluindo caminhões e ônibus, neste ano.
Outro ponto de atenção está no BRASIL ECONÔMICO, que publica breve entrevista com Vinícius Botelho, pesquisador de Economia Aplicada do FGV/Ibre. Foco está no desempenho da indústria nacional, especialmente com base nos últimos dados do setor automotivo.
Botelho afirma que a economia brasileira crescerá por volta de 1,6% em 2014. E afirma: “Esse crescimento envolve uma contração da indústria de transformação e da construção civil, além de uma forte desaceleração do setor de serviços, porque quando a indústria desacelera, a economia toda desaquece. Acreditamos que a indústria total contrairá 0,1% neste ano no PIB, mas pode ser mais. Depois do resultado da produção de veículos em junho, divulgado pela Anfavea, passamos a contemplar cenários em que essa contração chega a 2%”, afirma Botelho.
Na contramão dos resultados do primeiro semestre da indústria automobilística e das expectativas pessimistas do mercado, manchete do BRASIL ECONÔMICO destaca que o segmento de carros de luxo vem acumulando resultados positivos em 2014.
Ainda na cobertura setorizada, ESTADÃO registra que as importações de porcelanatos da China passaram a sofrer anteontem uma taxação adicional de US$ 3,01 a US$ 5,73 por metro quadrado, para anular efeitos de concorrência desleal por meio de dumping - que é a venda no comércio exterior de produtos com preço artificialmente baixos.
Os reflexos da Copa do Mundo na economia nacional, com impactos diretos na indústria e no varejo, complementam a agenda de interesse.
Avaliando os reflexos do mundial de futebol, CORREIO apresenta alguns dos efeitos no cenário econômico brasileiro, como a pouca influencia das obras concretizadas nas cidades sede do torneio no resultado do PIB e a alta da inflação, gerado pelo aumento das diárias de hotéis e passagens aéreas. Texto registra que muitos setores reclamaram da decretação de feriados em vários dias de jogo, e que apenas o segmento de turismo e alguns ramos de serviços têm algo a comemorar.
CORREIO reproduz posicionamento assumido pelo gerente de Estatística da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), Guilherme Mercês, para quem os efeitos positivos da Copa para o setor foram mitigados pela decretação de feriados nas cidades sedes.
ESTADÃO indica que, com a eliminação do Brasil da semifinal da Copa do Mundo, o comércio varejista recorre a promoções para impulsionar as vendas de TVs, tanto nas lojas como no comércio eletrônico.
O debate envolvendo teorias que associam o desempenho da seleção brasileira a possíveis reflexos eleitorais continua – sobretudo nos jornais de São Paulo – redimensionando, em parte, a cobertura política do dia.
Diferentemente de ontem, porém, abordagens que interligam o Mundial às eleições reforçam supostos movimentos do Palácio do Planalto no sentido de preservar a presidente Dilma Rousseff de eventuais prejuízos de imagem.
Textos relatam que estrategistas ligados ao governo procuram reforçar mensagens positivas, mostrando ao público que, apesar de não ter sido campeão, o Brasil organizou um grande Mundial.
O ESTADO DE S. PAULO, em manchete, destaca de forma mais explícita que Dilma "tenta se descolar de fracasso da seleção" e que o Planalto já espera que a presidente seja hostilizada na entrega da taça para o campeão do mundial, no próximo domingo: "Com medo de que o mau humor com a seleção respingue na campanha, a ordem do Planalto é 'virar a página' do que Dilma definiu como 'pesado' e baixar o tom do mote da Copa das Copas".
FOLHA DE S. PAULO registra que, ontem, em entrevista à rede norte-americana CNN no Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff afirmou que "reagir à derrota é a marca de uma grande nação", numa linha traçada pelo governo para se contrapor ao clima negativo gerado pelo desempenho brasileiro.
Na agenda eleitoral centrada em questões que mobilizam as campanhas dos principais presidenciáveis destaque está no CORREIO BRAZILIENSE, que aponta: governo e oposição buscam o melhor discurso para atrair 47 milhões de eleitores indecisos (número que representa um terço do eleitorado).
Outro assunto que está em destaque na cobertura do dia é a condenação do ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda (PR), em segunda instância, por improbidade administrativa no caso conhecido como mensalão do DEM, ontem, pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDFT).
Em manchete, O GLOBO informa que, mesmo com a condenação Arruda manteve sua candidatura ao governo, mas o Ministério Público vai tentar impugnar seu registro.
A cena internacional recupera parte do protagonismo perdido e redireciona a cobertura econômica.
Jornais destacam o anúncio do Federal Reserve (Fed), ontem, confirmando o fim dos estímulos ao PIB dos Estados Unidos: o banco central americano pretende encerrar em outubro próximo seu ostensivo programa de recompra de títulos da dívida americana, caso as condições da economia permaneçam satisfatórias.
O ESTADO DE S. PAULO afirma que se a medida do Fed se concretizar, as expectativas do mercado passarão a se concentrar no momento de elevação da taxa de juros da maior economia do mundo, que está próxima de zero há quase seis anos. Texto observa que sob o comando de Janet Yellen, o Fed enfrentará agora o desafio de decidir o momento de retomada da alta de juros, que só terá início no próximo ano.
Mídia nacional também destaca que os governos do Brasil e da China devem assinar um memorando de cooperação na área de ferrovias: "O acordo deve ser assinado durante a visita do presidente chinês, Xi Jinping, ao Brasil, na próxima semana, quando para participar da reunião do grupo dos Brics, nos dias 15 e 16, em Fortaleza (CE). Em seguida, terá encontro com a presidente Dilma Rousseff, em Brasília."
Manchete do VALOR ECONÔMICO pontua que o acordo com a China visa auxiliar empresas de ambos os países a firmarem parcerias para disputar concessões no mercado brasileiro. O objetivo, reforça a reportagem, é permitir que companhias chinesas, com capital, investimento e conhecimento tecnológico no setor, possam se unir a empresas brasileiras, que estão acostumadas a atuar em regime de concessão: "Mais de cem empresários chineses vão acompanhar Xi Jinping, o que deve fortalecer os contatos para formação de consórcios capazes de disputar leilões em outras áreas além de ferrovias, como petróleo e energia elétrica."
A informação de que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) adiou para o final deste mês o prazo para que as distribuidoras de energia elétrica paguem as usinas geradoras também está em evidência nos jornais.
FOLHA DE S.PAULO resume que, "com a medida, a conta de R$ 1,322 bilhão que corresponde ao gasto dessas empresas em maio - e que teria que ser paga nesta semana - ficará para o dia 31 de julho".
Com foco no mau humor do varejo, EDITORIAL ECONÔMICO do ESTADÃO registra que o Índice de Confiança dos Empresários do Comércio (Icec) caiu pelo quarto mês consecutivo, em junho, chegando aos 101,1 pontos, muito próximo da marca dos 100 pontos que separa otimistas de pessimistas. O indicador, apurado pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP), recuou 3,5% entre maio e junho.