Com desinformação, boatos e casos de reações adversas de meninas que tiveram a saúde fragilizada após a aplicação da vacina, a Campanha Nacional de Vacinação contra o HPV entrou em sua segunda fase em setembro. A maior parte das pesquisas indica que todas as pessoas sexualmente ativas já tiveram contato com algum dos tipos do vírus e apenas 5% das infecções desenvolverão alguma manifestação aparente, como verrugas e o próprio câncer de colo de útero, segundo dados do Instituto Nacional de Câncer. Por que então correr o risco de vacinar?
O papilomavírus humano, mais conhecido como HPV, possui mais de 100 tipos de variações que podem infectar a pele e as mucosas de homens e mulheres, dos quais 40 estão relacionados às infecções genitais e anais. Sua principal forma de transmissão é pela via sexual, independente da orientação sexual, havendo ou não penetração. Algumas variações específicas do vírus provocam verrugas transitórias e outros tipos de lesões, sendo 90% dos casos provocados pelos tipos 6 e 11. Pelo menos outros 13 tipos podem produzir lesões com potencial de desenvolvimento de câncer, tendo os tipos 16 e 18 presentes em 70% dos casos de câncer de colo de útero.
A vacina adotada pelo Ministério da Saúde é chamada quadrivalente porque engloba a imunização exatamente dos tipos de vírus mais comuns em lesões leves, moderadas e graves provocadas pelo HPV: tipos 6, 11, 16 e 18. O objetivo da campanha é evitar que meninas que ainda não iniciaram suas vidas sexuais sejam expostas a essas variações do vírus. Por isso a estratégia se inicia em jovens de 11 a 13 anos de idade e em breve começará a imunizar também meninas de 9 a 11 anos.
- O principal ganho da campanha será percebido a longo prazo. Com essa geração de meninas protegidas desses tipos mais recorrentes do HPV, o exame Papanicolau será suficiente para acompanhar os outros tipos de lesão e teremos a chance de eliminar o câncer de colo de útero como causa de morte de mulheres no Brasil. Este é um avanço em Saúde Pública indescritível, completamente impensado há poucos anos atrás – explica Jarbas Barbosa, Secretário de Vigilância em Saúde do Ministério.
No mundo, cerca de 270 mil mulheres morrem deste tipo de câncer. Já no Brasil, o Inca estima que surjam 15 mil novos casos de câncer de colo de útero e que cerca de 4,8 mil mulheres venham a óbito apenas em 2014. A imunização de mulheres mais velhas é menos eficaz porque a vacina não tem caráter terapêutico e, por isso, não é capaz de garantir que as lesões não se desenvolvam em pessoas já infectadas.
- Mulheres e jovens sexualmente ativas devem seguir acompanhando o desenvolvimento de lesões com profissionais ginecologistas e fazendo o exame Papanicolau com a frequência recomendada – orienta o Dr. Fábio Russomano, responsável pelo setor de doenças do colo do útero do Instituto Fernandez Figueira, ligado à Fiocruz.
Exame Papanicolau
A melhor forma de prevenir o desenvolvimento de infecções graves no colo do útero por pessoas imunizadas ou não é o exame. Feito pelo ginecologista, o Papanicolau é uma análise do material coletado da mucosa presente no colo do útero. Por ser uma lesão que se desenvolve lentamente ao longo dos anos, o câncer de colo de útero deve ser rastreado uma vez ao ano. É recomendado que se comece a realizá-lo a partir dos 25 anos.
- Essas meninas continuarão precisando fazer o exame. A principal diferença é que quando elas terão menos preventivos alterados, menos biopsias e menos tratamento de lesões que hoje as mulheres tem – explica Russomano.
Como vacinar
Na semana passada foi iniciada a mobilização nacional pela segunda fase da imunização das jovens entre 11 e 13 anos. A maior parte das secretarias municipais de saúde está programando a vacinação dentro das escolas públicas e privadas. Os pais serão informados com antecedência sobre o dia de aplicação. Além disso, a vacina faz parte do calendário de imunização do SUS e está disponível também durante todo o ano nos postos de saúde, onde a adolescente deverá comparecer com um documento de identidade.
Eventos adversos
Na primeira fase da campanha, o Ministério informou ter vacinado mais de 4,3 milhões de meninas, tendo registrado cerca de 911 complicações indesejadas. Destas, a maior parte das adolescentes relatou dor, inchaço ou vermelhidão no local da aplicação. As outras 82 queixas são relacionadas em sua maioria à sensação de desmaio, dores de cabeça e alergia. O Ministério registrou 25 atendimentos de complicações mais graves, que incluem 12 processos alérgicos que demandaram internação e 13 casos diversos que incluem convulsão sem sequelas, síndrome da dor, trombose venosa e hipertensão intracraniana.
Sobre este casos graves, o Secretário de Vigilância em Saúde, Jarbas Barbosa, mostra conhecimento da evolução de saúde de cada uma das pacientes e declara que especialistas da Vigilância Epidemiológica de Eventos Adversos, ligada à Secretaria, seguem pesquisando a relação das doenças com a aplicação da vacina.
- Estamos usando uma vacina aprovada por todas as principais agência internacionais, com uma eficácia de prevenção de lesões desses quarto tipos de HPV de 98%. Ela é uma vacina acima de tudo segura, com riscos e restrições baixíssimos e que podem ser prevenidos por uma conversa com as equipes médicas das unidades de saúde – diz Jarbas.
Restrições em relação à vacina
A vacina contra o HPV não deve ser aplicada em mulheres gestantes, jovens com hipersensibilidade ao princípio ativo ou ao veículo da vacina e todas as meninas que chegaram a apresentar reações adversas graves após receberem a primeira dose (alergias, febre ou qualquer outro sintoma debilitante).
- Meninas que tiverem no seu histórico reação alérgica, não apenas a primeira dose da vacina do HPV, mas a qualquer outra vacina tomada durante a vida não devem ser vacinadas sem que as famílias esclareçam dúvidas com as equipes de imunização da rede do SUS. A informação é a melhor estratégia de cuidado nesses casos – completa Glunar de Azevedo Silva, professora associada do Departamento de Epidemiologia do Instituto de Medicina Social da UERJ.
A recomendação da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério é que as famílias que não se sintam seguras em relação à vacinação das jovens procurem se informar em fontes oficiais, sejam no Portal da Saúde ou em uma das 36 mil salas de vacinação da rede pública de saúde.
Como recusar
O Secretário de Vigilância em Saúde do Ministério, Jarbas Barbosa, uma das principais autoridades para tratar do assunto, reforça que esta decisão compete às famílias, mas orienta que todas as dúvidas sejam esclarecidas com os profissionais competentes.
A Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), responsável por reunir e incentivar o aperfeiçoamento da maior parte das organizações de médicos ginecologistas do país, também se declara favorável à campanha. A Febrasgo orienta as famílias a procurarem o profissional de sua confiança para esclarecer qualquer dúvida sobre se devem ou não vacinar suas filhas.
Caso a jovem se encaixe em algum dos tópicos de restrição à vacina listados pelo Ministério ou orientados pela equipe da rede pública de saúde, os responsáveis deverão preencher um Termo de Recusa de vacinação contra o HPV entregue pela escola ou pela equipe do posto de saúde.