O
primeiro dia de atividades científicas do congresso Medtrop debateu a tríplice
epidemia, que colocou o nome de Pernambuco nas discussões mundiais relacionadas
à saúde pública. Zika, dengue e Chikungunya foram assunto em vários momentos do
dia, a começar pela conferência de abertura, com a epidemiologista Fátima
Militão de Albuquerque.
Fátima
Militão apresentou os resultados das pesquisas da equipe interdisciplinar do
MERG no na manhã dessa segunda-feira Teatro Guararapes
A
pesquisadora titular da Fiocruz PE apresentou o tema “Epidemia do vírus Zika no
Brasil: Emergências e respostas em saúde pública”. Ao falar sobre as pesquisas
do Zika vírus e a epidemia de microcefalia no Brasil, analisando o momento
histórico do surto de 2016 em Pernambuco, Fátima resumiu que o desafio dos pesquisadores,
sanitaristas e clínicos foi de escrever ciência em uma página em branco.
“Não
existiam, até 2016, estudos sobre associação da epidemia do Zika Vírus com a
microcefalia. Hoje, temos vários estudos que foram desenvolvidos e contribuíram
para este conhecimento consolidado, mas ainda restam perguntas”, disse.
As respostas mais urgentes buscadas sobre os efeitos da infecção pelo zika dizem respeito, por exemplo, à taxa de risco de uma grávida ter um bebê com microcefalia. Essa é só uma das metas perseguidas pela equipe do Grupo de Pesquisa da Epidemia de Microcefalia (Merg), do qual Fatima faz parte.
Na
conferência, a epidemiologista anunciou os estudos em andamento no Merg. “Em
parceria com o Zika in Infants and Pregnancy study (ZIP study), está em
andamento um coorte com gestantes, recrutadas no primeiro trimestre de
gestação, na América Latina. Vamos analisar mais de 10 mil mulheres gestantes,
sendo mil delas da área da RMR de PE”, disse Fátima.
Segundo Fátima, em 2019, a Assembleia Mundial de Saúde, da Organização Mundial de Saúde, irá reconhecer o novo código CID 11, que inclui a Síindrome congênita com a microcefalia. Outra lacuna a ser preenchida pelo MERG será o estudo em andamento do impacto social e econômico da Síndrome Congênita do Zika Vírus para mulheres, famílias e os serviços públicos.
MESA-REDONDA
O
impacto socioeconômico das arboviroses também foi assunto dos palestrantes da
mesa-redonda “Chikungunya na prática e seus desafios”, no final da manhã. A
médica infectologista Melissa Falcão, do hospital da Universidade Estadual de
Feira de Santana (UEFS), e Luciano Cavalcanti, biólogo da Universidade Federal
do Ceará (UFC), destacaram os problemas ocasionados na vida das pessoas com
Chikungunya.
A
médica Melissa Falcão acompanha mais de 1.200 pacientes, que integram a
população economicamente ativa. “Os estudos mostram como esta doença é
limitante e tem impacto na qualidade de vida dos doentes crônicos”, salientou
ela. Já Luciano Cavalcanti ressaltou em sua fala as perdas no poder aquisitivo
dessas famílias, cujo provedor afetado pela Chikungunya tem de interromper o
trabalho, às vezes, a única fonte de renda da família.
O
Medtrop segue até a quarta-feira (5) com palestras e debates sobre
reemergências de epidemias, doenças negligenciadas e emergentes, entre outras
discussões sobre respostas rápidas para o controle da saúde pública. Paralelo
ao congresso estão acontecendo importantes reuniões nacionais sobre malária,
tuberculose e doença de chagas.
Além
de mesa sobre febre amarela, nesta terça-feira (4) estarão em pauta no
congresso tratamento por animais peçonhentos, como escorpiões; análise das
consequências do Zika: coorte três anos depois de crianças com microcefalia (PE
e MA) e ensaios de uma vacina para Zika. Na parte da tarde, novas tecnologias
serão apresentadas e a inovação em doenças infecciosas, bem como sua
incorporação no SUS, com destaque para as avaliações econômicas sobre
tuberculose e leishmaniose visceral
SBMT