Iniciativa realizará testagem
e acompanhamento de casos da doença
Ainda em alerta pela pandemia
da covid-19, o mundo observa agora a ascensão de outra doença viral. A varíola
dos macacos, doença similar à varíola humana, já está presente em mais de 20
países, com epicentro na Europa. Para monitorar a doença, a UFRJ prepara uma
série de ações junto com o Núcleo de Enfrentamento e Estudos em Doenças
Infecciosas Emergentes e Reemergentes (Needier).
Segundo a plataforma Our World in Data, da
Universidade de Oxford, já foram confirmados no mundo 435 casos, além de outros
149 em análise. Atualmente há dois casos suspeitos no Brasil, mas nenhum no Rio
de Janeiro.
“O Rio de Janeiro é uma cidade
de portas abertas com grande fluxo de viajantes internacionais. É razoável
admitir que seja apenas uma questão de tempo. A pandemia de covid-19 trouxe à
tona nossa vulnerabilidade global. Não existem mais fronteiras geográficas para
o movimento de humanos, nem de patógenos”, afirma Terezinha Castiñeiras,
coordenadora do Needier e professora da Faculdade de Medicina.
O vírus, mais brando do que a
varíola humana erradicada pela vacinação em 1980, foi descoberto no continente
africano em 1958 e já teve surtos anteriores. A fonte da disseminação atual,
entretanto, ainda não pôde ser definida. Embora tenha sido identificada entre
macacos, pesquisas atuais apontam que o principal elo com os humanos seja a
partir de roedores selvagens infectados.
A manifestação mais
característica da doença é o aparecimento de pústulas espalhadas pelo corpo –
geralmente predominantes na face e nos membros. Clarissa Damaso, professora do
Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF), explica que, após cerca de
14 dias de incubação, febre, dores musculares, fadiga e dores de cabeça compõem
o quadro sintomático inicial. Depois disso, os gânglios podem ficar inchados e
as lesões na pele começam a aparecer. A infecção costuma durar entre três e
quatro semanas.
A fase das pústulas é a mais
contagiosa, já que o líquido presente nas lesões possui uma grande quantidade
de vírus, mas a infecção também pode ser transmitida por gotículas. Diferente
da covid-19, essa forma de contágio é mais difícil, pois precisa de bastante
proximidade para atingir outro indivíduo. Na varíola dos macacos, outra forma
importante de contaminação é por meio de roupas, lençóis e toalhas usados por
pessoas infectadas.
Damaso defende que não é
momento para pânico e que a situação atual é distinta do início do Sars-CoV-2.
A vacina amplamente utilizada para combater a varíola humana é eficiente contra
esse vírus, podendo voltar a ser fabricada em larga escala e utilizada,
principalmente, em indivíduos que tiveram contato com casos suspeitos e
confirmados. Além disso, a ciência também já conhece medicamentos capazes de
combater o vírus de maneira segura e eficaz.
Iniciativas da Universidade
A primeira ação do Needier foi
definir a estratégia de resposta ao aumento dos casos da varíola dos macacos e
à possibilidade de sua chegada no Brasil. Entre as prioridades estão: criar um
grupo de trabalho dedicado ao tema; implementar o protocolo de diagnóstico
laboratorial; estabelecer a logística de acolhimento, triagem, diagnóstico e orientação
de casos suspeitos e contactantes; e estruturar o sistema de vigilância
genômica.
O atendimento será realizado
em instalações do Needier, no Polo de Biotecnologia, a partir de agendamento
prévio com a equipe do núcleo. A abordagem seguirá rigorosamente as normas de
biossegurança e incluirá avaliação médica, coleta de material biológico para
diagnóstico e orientação clínica.
“A meta é atender os casos
suspeitos e contactantes, sejam eles referenciados por outras instituições de
saúde ou demanda espontânea. Também está previsto o recebimento de material de
casos suspeitos encaminhados de outras instituições de saúde para a confirmação
laboratorial do diagnóstico”, explica Castiñeiras.
A professora também informa
que o atendimento para casos de covid-19 continua. Com taxa de contágio
aumentando, é importante monitorar a transmissão ativa e detectar precocemente
o aparecimento de novas variantes. “É fundamental ter em mente que essa
pandemia ainda não acabou”, conclui.
Para contato com o Needier,
mande e-mail para consulta@needier.ufrj.br ou
mensagem de WhatsApp para (21) 96845-8188.
Assista à live da professora Clarissa Damaso sobre a varíola dos macacos no canal do IBCCF.