A malignidade tumoral tem sido
associada à presença de células-tronco cancerígenas, sendo que, quanto maior a
presença de tais células, mais agressivo o tumor é classificado, refletindo em
um pior prognóstico para o paciente. Este é um dos principais resultados da
pesquisa desenvolvida pelo professor da Universidade de São Paulo (USP), Alexander Henning Ulrich, também bolsista de Produtividade
em Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) e líder do Laboratório de Neurociências[1], certificado pela USP junto ao Diretório dos Grupos de
Pesquisa no Brasil, [2], do CNPq.
Prof. Alexander Henning Ulrich
no Laboratório da USP (Foto: IQ/USP)
A pesquisa envolveu o estudo
sobre Células-tronco (CT), "que são células com capacidade de
auto-renovação e que, devido às suas características, nos últimos anos, têm
surgido como uma importante promessa terapêutica para diversas doenças",
explica o professor Ulrich. As CT encontradas nos tumores têm sido
apontadas como responsáveis pela iniciação e crescimento tumoral, resistência
às terapias clássicas e, pela volta da doença depois do tratamento (recidiva).
Ulrich esclarece que no
laboratório foi estudado o papel das cininas
("mensageiros" gerados no sangue) e das purinas (moléculas
produzidas no organismo) sobre as células-tronco a fim de que essas moléculas
possam ser utilizadas como terapia para doenças neurodegenerativas.
Os receptores de cininas estão
localizados na superfície das células e esses receptores são responsáveis por
captar e reconhecer a presença das cininas no tecido. As cininas, por sua vez,
são moléculas que, ao ligar-se aos receptores, promovem vários modificações nas
células. "Entre estes efeitos, nosso grupo mostrou que a bradicinina (uma
cinina) favorece a formação de novos neurônios a partir de células-tronco, em
um processo denominado neurogênese", aponta Ulrich.
Estas recentes descobertas
abrem novas perspectivas para um efeito benéfico das cininas em doenças do
sistema nervoso, tais como Parkinson, esclerose lateral amiotrófica e
Alzheimer. Além disso, explica o pesquisador, "as cininas e seus
receptores também apresentam perspectiva de tratar tumores do sistema nervoso,
já que foi mostrado seu papel na indução da diferenciação de células de
cânceres, ou seja, elas seriam transformadas e remediadas, freando assim, o
crescimento tumoral".
Indagado sobre o porque das
células-tronco de origem tumoral serem responsáveis pelo desenvolvimento de
tumores, o professor Ulrich revela que as células tronco de origem
tumoral, ao se proliferarem, são capazes de auto-renovar, gerando mais células-tronco,
e também de diferenciar em outros tipos celulares encontrados no tumor, como,
por exemplo, células endoteliais que dão origem a vasos sanguíneos, o que acaba
por ajudar a nutrir o tumor, bem como seu crescimento.
Nesse estudo também foi
abordado o desenvolvimento de aptâmeros (moléculas formadas de DNA) que se
ligam à superfície de células tumorais, e que servem para antecipar a
identificação da malignidade do tumor e podem, desta forma, ajudar na escolha
antecipada de uma terapia adequada para aquele tipo de tumor.
O professor Ulrich explica que
os aptâmeros, como ligantes específicos, podem futuramente ser utilizados não
só para identificar e quantificar a presença de células-tronco em amostras
tumorais, mas também determinar a sua malignidade.
A próxima etapa da pesquisa,
explica o pesquisador, seria demonstrar a aplicação dos aptâmeros também como
promissora ferramenta terapêutica, já que são capazes de carregar e entregar
drogas quimioterápicas ao tumor de maneira mais específica que a terapia convencional.
Esse procedimento poderá ajudar a minimizar os efeitos colaterais associados ao
tratamento dos pacientes, pois levaria a droga para célula cancerígena alvo do
tratamento, poupando o restante do organismo.
A equipe do professor Ulrich
atestou que aptâmeros possuem ação comprovada em células tumorais de pulmão.
Todavia, em células tronco tumorais de glioblastoma (tumor maligno mais comum
no cérebro), os experimentos continuam para comprovar a ação dos aptâmeros.
A pesquisa, cujo título é
"Células-tronco: dos papéis de receptores de cininas e purinas às
aplicações terapêuticas em doenças do sistema nervoso", gerou um registro
de patente[3] e contou com recursos da Chamada "Pesquisa
Translacional em Terapia Celular", da ordem de R$ 150 mil em custeio e R$
96 mil em bolsas. A Chamada foi uma parceria do CNPq com o Departamento de
Ciência e Tecnologia[4], do Ministério da Saúde.
Coordenação de Comunicação do
CNPq
[4] http://u.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/principal/secretarias/sctie/decit-departamento-de-ciencia-e-tecnologia