Mídia nacional reserva espaço a temas de grande interesse para a indústria nesta terça-feira (04). Dados da atividade são explorados em reportagens, indicando que a situação do setor apresentou melhoria, mas os jornais ainda evitam apontar para a recuperação sustentável. O desempenho industrial também aparece relacionado ao resultado da balança comercial e ainda a abordagens sobre o comércio exterior.
Reportagens destacam que a pesquisa de Indicadores Industriais, divulgada ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), aponta que o setor faturou mais em setembro, mas confirmou temores de desaquecimento no mercado de trabalho. Na série livre de influências sazonais, o faturamento subiu 0,8% na comparação com agosto, assim como as horas trabalhadas na produção e a utilização da capacidade instalada. Já o emprego teve queda de 0,6% em igual base de comparação – sétimo recuo consecutivo neste ano.
O ESTADO DE S. PAULO alerta que o nível de emprego da indústria pode não se recuperar até o fim do ano. Jornal reproduz a declaração atribuída ao gerente-executivo de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), FLÁVIO CASTELO BRANCO, avaliando o cenário do emprego fabril. “Para o mercado de trabalho, a queda de 0,6% não é trivial”, afirma. “O mercado de trabalho industrial mostra uma retração forte nos últimos meses, com um efeito carregamento de 0,7% (no ano)”, diz o executivo da CNI, expondo ainda que o nível de emprego da indústria pode não se recuperar até o fim do ano.
Também explorando os dados negativos do emprego, BRASIL ECONÔMICO publica avaliação conferida a FLÁVIO CASTELO BRANCO. "Esta foi a sétima retração mensal consecutiva. Desde março a indústria vem mostrando quedas sucessivas. Embora aparentemente a queda porcentual mensal não pareça tão significativa, a análise desde o inicio do ano mostra tuna inclinação bastante íngreme, o que confirma tuna retração forte nos últimos meses. Ainda que no próximo mês o indicador pare de cair, o emprego industrial deve encerrar este ano no negativo", afirmou o gerente-executivo da CNI.
Reportagem relata ainda que, segundo CASTELO BRANCO, os dados de emprego confirmam que o quadro da indústria ainda é de desaquecimento. "Tanto é assim que, no terceiro trimestre, o faturamento registra queda de 1,5% e as horas trabalhadas na produção caíram 0,8% na comparação com o segundo trimestre. De janeiro a setembro, o faturamento acumula queda de 2,1% e as horas trabalhadas na produção recuaram 2,9% em relação a igual período de 2013", informa o jornal.
No mesmo texto, BRASIL ECONÔMICO afirma que outros fatores confirmam um cenário ruim, como o rendimento médio real (-0,3%) e massa salarial real (-0,2%). O jornal registra que, para FLÁVIO CASTELO BRANCO, o que explica que os dois indicadores permaneçam positivos no acumulado do ano são os dissídios que carregam a reposição da inflação do período anterior. "Daí continuarem mostrando ganhos reais, apesar da queda do emprego."
CORREIO BRAZILIENSE também destaca a geração de empregos no setor, com base nos dados da pesquisa da CNI e assinala que 2014 é considerado o ano perdido pelo setor. A reportagem também traz posicionamento assumido pelo gerente-executivo de Política Econômica da confederação, FLÁVIO CASTELO BRANCO. O jornal acrescenta que a CNI continua prevendo uma diminuição de 2,2% em 2014 do Produto Interno Bruto (PIB) industrial.
Também no CORREIO, coluna CORREIO ECONÔMICO aborda os dados divulgado ontem pela CNI e assinala que a saída para a indústria brasileira passa por buscar acordos comerciais com outros países e não por evitá-los. "Quando se fala de certos assuntos, não há divisão no país: o governo consegue mesmo a unanimidade, desagradando gregos e troianos. Isso vale para duas políticas que são intimamente ligadas: a industrial e a externa, sobretudo em sua vertente mais palpável para a vida das pessoas, a do comércio."
CORREIO ECONÔMICO avalia que os Indicadores Industriais de setembro “confirmam que, apesar de ligeira melhora, o quadro é de desaquecimento". Texto acrescenta que a política comercial também tem sido pautada pela preocupação de preservar a indústria nacional, mantendo-a a salvo da concorrência externa.
A política comercial externa é outro assunto que ganha repercussão na mídia nacional, associada a reportagens sobre o resultado da balança comercial brasileira em outubro (leia mais em ECONOMIA). Textos apontam que o fraco desempenho da indústria e a queda no preço de matérias-primas como minério de ferro derrubaram as exportações brasileiras.
Em reportagem sobre o assunto, O GLOBO lembra o Brasil é alvo de uma ação movida pela União Europeia (UE) na Organização Mundial do Comércio (OMC), por causa de incentivos fiscais concedidos aos segmentos automotivo e de tecnologia da informação.
Texto afirma que o país teria razões para abrir, pelo menos, três processos contra os europeus no mesmo fórum multilateral de solução de controvérsias: as reclamações são de discriminação da carne bovina brasileira nas compras da UE restrição da importação de determinados tipos de carne de frango do Brasil e exigência de regras de rastreabilidade da origem da madeira brasileira, mais onerosas do que as aplicadas para os produtores locais.
Jornal carioca registra que os exemplos fazem parte de um levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que lista motivos para abrir 20 novos contenciosos na OMC contra parceiros internacionais que aplicam barreiras não tarifárias que prejudicam as exportações brasileiras.
O GLOBO reproduz posicionamento assumido por CARLOS EDUARDO ABIJAODI, diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI e responsável pelo levantamento. "Hoje, muitas tarifas de importação elevadas podem barrar nossos produtos, mas muito pior é a barreira não tarifária. O Brasil precisa se aproximar de outros países, fazer acordos comerciais e, nessas negociações, eliminar barreiras ao comércio. Caso contrário, o caminho é a OMC", diz ABIJAODI.
Em editorial, O ESTADO DE S. PAULO aborda o impasse gerado na Organização Mundial do Comércio (OMC) pela União Europeia (UE) sobre programas de incentivos coordenados pelo governo brasileiro. Em tom crítico, jornal paulista afirma que o governo prepara sua estratégia para "uma grande e inútil batalha", na OMC, "em defesa de uma política industrial fracassada".
ESTADÃO registra que, além de perder presença fora do País, a indústria brasileira vem sendo batida no mercado interno, onde é crescente a presença de produtos estrangeiros, como registra a Confederação Nacional da Indústria (CNI). "O protecionismo acaba sendo inútil, quando se deixa de cuidar da eficiência e da competitividade. Não ajuda a disputar clientes no exterior e seu efeito no mercado interno tende a diminuir. Da mesma forma, o estímulo fiscal à inovação acaba sendo pouco produtivo, quando a preocupação com a eficiência é secundária."
VALOR ECONÔMICO registra que o secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Daniel Godinho, criticou ontem o painel aberto na OMC contra a política industrial brasileira. De acordo com ele, "os regimes contestados pela UE são plenamente compatíveis com regras multilaterais e, por isso, estamos muito confiantes com o resultado do painel aberto pela UE".
Em sua coluna na FOLHA DE S. PAULO, o empresário BENJAMIN STEINBRUCH afirma que uma parte dos problemas econômicos do país decorre da falta de confiança tanto dos consumidores para consumir quanto dos empresários para investir e outra parte advém de restrições estruturais que impedem o crescimento sustentado da economia. Texto aponta o câmbio como um dos fatores responsáveis pelo encolhimento da indústria nacional nas últimas décadas e pela perda de espaço nas exportações.
No VALOR ECONÔMICO, coluna mensal assinada por LUIZ GONZAGA BELLUZZO, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, escreve sobre o futuro da indústria. O autor lembra que as medidas defensivas adotadas depois da crise de 2008, tais como a desoneração, o crédito favorecido, a exigência de conteúdo nacional e medidas de defesa comercial foram importantes para impedir uma deterioração ainda mais profunda da indústria de transformação. BELLUZZO avalia que a política industrial não pode reproduzir as orientações do período "dito nacional desenvolvimentista e muito menos promover uma abertura comercial sem estratégia". (íntegra aqui) O debate sobre o ritmo do Produto Interno Bruto (PIB) volta a aparecer na pauta de interesse da indústria nesta terça-feira. O boletim Focus, divulgado pelo Banco Central reduziu, de 0,27% para 0,24%, a previsão de crescimento do PIB para este ano.
O ESTADO DE S. PAULO destaca que mesmo com a alta da Selic as previsões do mercado não melhoraram. Jornal reforça que, embora pessimistas com o PIB deste ano, os economistas continuam a acreditar em uma expansão de 1% em 2015. "Neste ano, segundo a pesquisa, a indústria terá retração de 2,17%. No próximo ano, voltará a crescer e a dar contribuições positivas para o crescimento. Para 2015, a previsão é de recuperação do setor, que deve ter expansão de 1,42%."
Já o VALOR ECONÔMICO destaca que a Confederação Nacional da Indústria (CNI) informou que deve manter a previsão de 0,3% de crescimento da economia neste ano. Jornal publica declaração atribuída ao gerente executivo da entidade, FLÁVIO CASTELO BRANCO. "Os últimos dados não foram tão positivos para uma reversão [no caso da indústria]. Não creio que tenha alguma alteração [nas previsões]. Não se aprofundou o quadro de queda e nem houve recuperação." CORREIO BRAZILIENSE também publica reportagem sobre os dados do Focus.
Com foco no setor automotivo, O ESTADO DE S. PAULO informa que as vendas de veículos de janeiro a outubro caíram 8,9% em relação a igual período de 2013 e somam 2,833 milhões de unidades. Texto acrescenta que os executivos do setor automotivo acreditam que a publicação da medida que facilitará a retomada dos carros de clientes inadimplentes, prevista para os próximos dias, deve impulsionar em 10% as vendas, e também na manutenção das alíquotas de IPI, que devem subir em janeiro. O assunto também está em destaque na FOLHA DE S. PAULO e VALOR ECONÔMICO.
A cobertura política traz novos elementos para a cobertura sobre a operação Lava Jato nesta segunda-feira. O foco é a saída do presidente da Transpetro (subsidiária da Petrobras), Sérgio Machado, que ontem entrou com pedido de licença não remunerada da companhia pelos próximos 31 dias. O assunto é manchete na maioria dos jornais de circulação nacional.
Reportagens destacam que o afastamento de Machado – citado pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, em depoimento à Polícia Federal – ocorre após questionamentos da auditoria Pricewaterhouse Coopers (PwC), que se recusou a validar o balanço trimestral da estatal que seria divulgado nesta semana.
O ESTADO DE S. PAULO, em manchete, relata que o “afilhado político de Renan Calheiros (PMDB-AL) estava há 11 anos à frente da subsidiária da Petrobras e sofria pressão para deixar a estatal”. Segundo a reportagem, em depoimento no início de outubro Paulo Roberto Costa disse que recebeu “R$ 500 mil em dinheiro das mãos de Machado num esquema de pagamento de propina” que é investigado pela Lava Jato.
Já o BRASIL ECONÔMICO, também em manchete, registra que a recusa da auditoria PwC para validar o balanço trimestral da estatal “travou a reunião do Conselho de Administração da Petrobras na última sexta-feira, que votaria a aprovação do balanço e avaliaria pedido de reajuste dos preços dos combustíveis”.
Em outra frente do noticiário, mídia nacional aborda a relação do Planalto com o PT. Abordagens registram o encontro realizado ontem pela Executiva Nacional do partido, quando foi cobrada maior participação no 2º mandato da presidente Dilma.
Segundo O GLOBO, a cobrança do PT se dá, sobretudo, nas decisões relativas à política econômica e à regulação dos meios de comunicação. Acrescenta ainda que, na reunião, o partido admitiu apoiar um deputado de outro partido da base aliada se ele reunir mais condições de derrotar a candidatura à presidência da Câmara do líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), “desafeto da presidente Dilma Rousseff”.
FOLHA DE S. PAULO destaca que a resolução divulgada pela Executiva Nacional do PT na qual pede que a legenda seja mais proativa “no enfrentamento das acusações de corrupção” e reivindica que a presidente “se alinhe mais com partidos de esquerda”.
Os jornais ainda reservam espaço para novas informações envolvendo os réus condenados no processo do mensalão. Um dos principais destaques é que a partir de hoje o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, passa a cumprir o restante da pena em regime domiciliar. Na semana passada o ministro do STF, Luís Roberto Barroso, concedeu o benefício a Dirceu.
O resultado da balança comercial brasileira, divulgado ontem pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), é um dos principais itens da cobertura econômica de hoje. Mídia nacional adota um viés negativo para detalhar os dados de outubro, quando as importações superaram as exportações em US$ 1,17 bilhão.
Reportagens pontuam que foi o pior resultado para o mês em 16 anos (desde 1998). O levantamento do governo indica que as vendas ao exterior somaram US$ 18,33 bilhões, enquanto as importações ficaram em US$ 19,5 bilhões em outubro. Na comparação com o mesmo período do ano passado, ambas as contas registraram retração: as vendas ao exterior caíram 19,7% e as importações recuaram 15,4%.
Com entrevista do secretário de Comércio Exterior, Daniel Godinho, manchete da FOLHA DE S. PAULO esclarece que o resultado da balança neste ano foi influenciado por dois fatores que contrariaram as expectativas: a queda maior que a esperada de preços de alguns produtos, como o minério de ferro, e a retração da demanda argentina, principal comprador de manufaturados brasileiros. “No total, as exportações para o país vizinho recuaram 27% até outubro na comparação com o mesmo período de 2013.”
A meta fiscal do governo federal é outro assunto que ocupa posição privilegiada no noticiário do dia. Reportagens registram que o governo deve enviar ao Congresso Nacional, até o início da próxima semana, projeto que prevê alteração da meta do superávit primário das contas do setor público para 2014 (poupança para pagamento dos juros da dívida pública), mas pode enfrentar resistência de parlamentares. De janeiro a setembro deste ano, o déficit primário das contas públicas está acumulado em mais de R$ 15 bilhões.
Reportagem do VALOR ECONÔMICO pontua que para reverter esse cenário o ajuste fiscal esperado para 2015 deve recair, novamente, sobre o lado da receita tributária. “Para economistas ouvidos pelo Valor, o governo vai precisar voltar a aumentar impostos ao longo do próximo ano se quiser evitar a perda do grau de investimento.”
Já o CORREIO BRAZILIENSE alerta: a gastança de dinheiro público já ultrapassou, e muito, a capacidade do governo de honrar seus compromissos. Texto explica que, além de aumentar despesas com a máquina estatal, o setor público também viu a conta com os juros aumentar para patamares nunca antes vistos.
“Dados do Banco Central (BC) mostram uma situação preocupante para o país. De janeiro a setembro deste ano, o desembolso de estados, de municípios, do Distrito Federal e da União com encargos financeiros chegou a R$ 209,1 bilhões - quase três vezes maior do que o valor gasto 12 anos atrás, de R$ 72,3 bilhões, no mesmo período de 2002”, informa o jornal do DF.
FOLHA DE S. PAULO aborda a crise hídrica e faz comparativo da situação de escassez com impactos econômicos diretos no crescimento do país. O jornal aponta que, se as 133 cidades de SP, MG e RJ que enfrentam dificuldades no abastecimento "perderem 1% de sua produção por força da estiagem --indústrias que paralisem atividades, por exemplo--, o prejuízo (0,23% do PIB) se aproximaria do crescimento que se projeta para a economia nacional no ano".
O ESTADO DE S. PAULO reserva espaço para a proposta de "controle social da mídia". Crítico à medida, mas poupando de responsabilidade a presidente Dilma Rousseff, o jornal afirma em editorial que, "em benefício da liberdade de imprensa, é bom que esse projeto permaneça onde a presidente o colocou".
Com foco na reforma política, O GLOBO defende a realização de referendo e a adoção de "duas medidas tópicas", que teriam "enorme impacto no saneamento do quadro político-partidário": cláusula de barreira e fim das coligações em pleitos proporcionais.