A presença da Indústria no
noticiário deste domingo (04) qualifica e eleva o debate voltado a questões
estratégicas para o setor produtivo.
Comércio exterior é uma das
referências. Tema é abordado sob diversas frentes e abre perspectivas bastante
relevantes.
No geral, a conjuntura macro
determina o ritmo da pauta do dia, por isso também jornais privilegiam a
cobertura associada a ações de governo.
Um dos destaques está em O
ESTADO DE S.PAULO, que aborda a escalada do dólar como “alavanca” para as
empresas brasileiras voltarem exportar.
Advertindo que “o caminho não
tem sido fácil”, porém, ESTADÃO revela que muitas companhias estão sendo obrigadas
a reestruturar departamentos que haviam sido praticamente extintos.
Dados da Fundação Centro de
Estudo do Comércio Exterior (Funcex) e a opinião de analistas compõem a
reportagem.
O papel dos chineses no
contexto das vendas externas globais também é discutido pelo ESTADÃO, que
relata: “a participação do Brasil na Argentina, por exemplo, era de 15,8% em
2005 e agora está em 10,6%. Nesse mesmo período, a fatia da China no país subiu
de 7,2% para 18%, afirma o diretor de CNI, CARLOS ABIJAODI”.
Texto coordenado completa que
“um dos grandes entraves à expansão das exportações é a ausência de acordos
comerciais com grandes mercados”.
ESTADÃO critica a política
externa brasileira e a opção por “voltar os olhos” para acordos envolvendo
países da América do Sul e da África.
Como exemplo bem-sucedido,
ESTADÃO ressalta a Colômbia, que tem 16 acordos com países que representam 55%
do comércio mundial, “afirma CARLOS ABIJAODI”.
José Augusto de Castro,
presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), opina e reforça
que a tarefa do governo é reconquistar os mercados perdidos nos últimos anos.
Na FOLHA DE S.PAULO,
reportagem especial revela que “a desvalorização cambial espremeu a indústria”.
Jornal chama a atenção para a
pressão do câmbio sobre o custo da matéria-prima importada ou cotada em dólar e
ressalta que a crise dificulta o reajuste no mercado interno.
FOLHA especula que o setor
industrial espera transferir o maior custo de produção daqui a dois ou três
meses, quando os estoques, hoje altos, acabarem.
Na mesma reportagem, justifica
ainda que, “outra saída para o aumento de custo é reduzi-lo, por meio da
substituição de insumos importados por nacionais, quando for possível”.
Humberto Barbato, presidente
da Abinee, afirma à FOLHA que reúne a indústria eletroeletrônica, diz que o
setor vive um impasse: "O empresário sabe que, no momento em que sobe
preço, perde mercado. Ninguém quer tomar o primeiro passo. Mas, por outro lado,
não há como absorver custos."
Em tom de alerta, FOLHA
pondera que, “além da possibilidade de perder mercado para o concorrente, o
temor de que o consumidor desista da compra inibe a alta de preço.
Jornal reproduz a seguinte
frase atribuída a RENATO DA FONSECA, gerente CNI: “Se você repassar tudo, mesmo
sem concorrência, a pessoa adia ou desiste da compra".
De forma coordenada, FOLHA
revela que “setores com mais dificuldade para repassar o aumento de custos
buscam fornecedores locais para trocar os insumos importados pelos fabricados
aqui”.
Na interpretação do jornal, a
estratégia pode favorecer a indústria nacional, mas ainda ocorre em ritmo
lento.
Conforme a FOLHA, as empresas
de componentes elétricos podem se beneficiar da desvalorização do real, avalia
a Abinee. "Esse movimento pode gerar uma reindustrialização. Alguns
componentes que haviam sido substituídos por outros importados já voltam a ser
comprados no Brasil", diz Barbato, presidente da associação.
Também na FOLHA DE S.PAULO,
reportagem exclusiva informa que “o governo e a indústria apostam no mercado
norte-americano para que o valor das exportações brasileiras, há quatro anos em
queda, volte a crescer em 2016”.
Jornal afirma que este é o
único grande parceiro comercial do Brasil com potencial de aumentar de forma
mais expressiva sua demanda no médio prazo.
"Os EUA têm sido nossa
salvação", resume ABIJAODI, conforme reproduz a FOLHA, que na mesma
reportagem destaca, entre os produtos que têm ganhado espaço, as máquinas e
equipamentos, peças automotivas e produtos químicos.
“Para ABIJAODI, o fôlego é
importante porque, apesar do ganho de competitividade obtido pelo país com a
desvalorização do real – que reduz o valor em dólares dos produtos brasileiros
–, o cenário internacional e doméstico é desfavorável”, resume a FOLHA.
Jornal avança e na mesma
reportagem relata que o ministro Armando Monteiro (Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior) diz não ter dúvidas de que as exportações brasileiras
crescerão em valor em 2016.
Como ponto de atenção – e
complementando o dia – registra-se na FOLHA DE S.PAULO artigo assinado por
Arnaldo Niskier, membro da Academia Brasileira de Letras e presidente do CIEE
(Centro de Integração Empresa-Escola) no Rio de Janeiro.
Sob o título ‘Um tiro no
SISTEMA S’, Niskier afirma em tom irônico: “Só um gênio do mal para mexer no
sistema”.
“É conhecida a dificuldade do
governo federal para fazer o seu ajuste fiscal. Em meio a essa confusão toda,
até propostas estapafúrdias acabam sendo feitas, como é o caso de sequestrar os
recursos financeiros do SISTEMA S, o conjunto de nove instituições de interesse
de categorias profissionais”, reforça Niskier.
“Retirar R$ 8 milhões do
SISTEMA S e colocar nas contas baleadas do governo é condenar entidades beneméritas
como o Senac, o SENAI, o Senar, o Sesc, o SESI, o Sebrae, a ABDI (Agência
Brasileira de Desenvolvimento Industrial) e a Apex-Brasil (Agência Brasileira
de Exportação e Investimentos) a praticamente fechar as portas, como algumas
chegaram mesmo a anunciar”, completa Niskier (retransmito a integra abaixo).
FOLHA DE S.PAULO
Controle de agrotóxicos em
alimento é quase nulo
O ESTADO DE S.PAULO
PMDB passa a controlar
orçamento maior que PT
O GLOBO
Crise obriga empresas a vender
R$ 150 bi em ativos
O deslocamento da pauta
econômica deixa poucos espaços disponíveis para que a agenda setorial se
apresente.
Apesar do baixo volume, porém,
alguns itens se sobressaem.
Dando continuidade à
expressiva cobertura centrada em comércio exterior – sobretudo nos jornais
paulistas – breve reportagem na FOLHA DE S.PAULO relata que, “apesar do
otimismo com o dólar mais favorável aos exportadores, a Associação de Comércio
Exterior do Brasil (AEB), alerta para as dificuldades à frente”.
José Augusto de Castro,
presidente da entidade, afirma à FOLHA que os exportadores enfrentam escassez
de crédito e terão o desafio de disputar espaço com outras economias que também
passaram a ter uma moeda mais competitiva, como os países da zona do euro.
Já a coluna MERCADO ABERTO,
também na FOLHA DE S.PAULO, informa que "a indústria plástica prevê uma
retração mais acentuada em seu faturamento nos próximos meses. No acumulado do
ano até agosto, a queda foi de 4%. A projeção, no entanto, é que 2015 termine
com um recuo de 10%".
"O segundo semestre
deverá ser pior", afirma à coluna da FOLHA, o presidente da Abiplast
(associação brasileira do setor), José Ricardo Roriz Coelho.
Sobre o assunto, MERCADO
ABERTO ainda relata que, "nos primeiros sete meses de 2015, a indústria
fechou cerca de 13,4 mil postos de trabalho -o que equivale a 3,8% do total de
empregados no setor. Durante todo o ano passado, 3.000 vagas haviam sido
eliminadas".
Finalizando o dia, registra-se
artigo assinado por PAUL SINGER, secretário nacional de Economia Solidária do
Ministério do Trabalho e Emprego, na FOLHA DE S.PAULO.
Segundo SINGER, "chegou a
hora de o Brasil lançar mão dessa experiência histórica e organizar um
movimento do governo em parceria com a sociedade civil para o resgate humana
das vítimas do desemprego".
O ESTADO DE S. PAULO opina de
forma bastante crítica sobre a reforma ministerial e afirma: “a presidente
petista não parece interessada em respeitar a inteligência alheia. Seu único
objetivo é sobreviver. Por isso, ela deu ao PMDB nada menos que sete pastas em
seu novo Ministério".
FOLHA DE S.PAULO interpreta de
forma técnica a “medida corretiva” apresentada pelo governo na semana passada
que evita, a parti de agora, as chamadas pedaladas fiscais. “A providência é
bem-vinda, a despeito da escolha oportunista do momento. Trata-se de
disciplinar, aliás com grande atraso, a prestação de serviços dos bancos
federais ao Tesouro Nacional”, resume.
O GLOBO trata da Lava Jato e
afirma que “foi uma derrota indiscutível” do juiz Sérgio Moro, dos procuradores
do MP e dos policiais federais a decisão do STF de transferir para um juiz em
São Paulo processo sobre a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR).
DORA KRAMER, em O ESTADO DE
S.PAULO, registra em tom crítico: "O afastamento de Aloizio Mercadante da
Casa Civil é um ato que não soluciona. A saída dele não resolve (...) O
problema é que na Casa Civil ou na Educação, Dilma vai continuar ouvindo
Aloizio Mercadante, seu pior conselheiro".
ELIANE CANTANHÊDE, em O ESTADO
DE S.PAULO, afirma que "a próxima etapa da 'reforma ministerial' do Lula é
limar o ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Lula demorou a exercer seu domínio
sobre a pupila Dilma Rousseff, que esperneou o quanto pôde, mas, agora, ele não
vai parar mais. A intervenção no governo, ou o impeachment branco, vai
longe".
O ex-presidente do Banco
Central, HENRIQUE MEIRELLES, escreve na FOLHA DE S. PAULO que "a
expressiva alta do dólar reanimou a discussão sobre intervenções nos mercados
de câmbio". Segundo ele, "o BC, por sua vez, deve estar preparado
para controlar as expectativas e os efeitos inflacionários das flutuações da
moeda. E o governo precisa manter uma política econômica sustentável que não
gere volatilidade excessiva não só no dólar, mas nos mercados como um
todo".
PAINEL, na FOLHA DE S. PAULO,
informa que “os sindicatos da indústria de construção civil planejam aprovar
uma paralisação geral nacional na sexta (9). Há queixas de atraso nos
pagamentos do Minha Casa Minha Vida no valor de R$ 1,5 bilhão”.
De acordo com PAINEL, “ setor
havia fechado acordo para reduzir o ritmo das obras em troca da pontualidade
nos pagamentos, mas diz que o trato foi desrespeitado. Os empresários são os
mesmos que vaiaram o ministro Gilberto Kassab (Cidades) em evento em setembro”.
MIRIAM LEITÃO, em O GLOBO,
reproduz trechos de uma entrevista exclusiva com o ministro da Fazenda Joaquim
Levy. Foco está no ajuste e nas perspectivas de crescimento do PIB.
Conforme MIRIAM LEITÃO, Levy
acha o Brasil precisa discutir agora questões que aumentarão a competitividade
e eficiência da economia.
"A inclusão social que
aconteceu no Brasil precisa ser protegida. Vou dar um exemplo: triplicou o
número de passageiros do transporte aéreo no Brasil. Agora empresas aéreas
estão preocupadas com a queda do consumo. Para aumentar a eficiência e reduzir
custos, elas precisam de querosene mais barato", diz Levy.
O ministro da Fazenda ainda
explica à colunista de O GLOBO: "E isso não se fará com subsídio, nem com
baixa de tributo temporário, mas sim com uma reforma do ICMS que acabe com uma
contradição no setor. O imposto em São Paulo é 20%, em alguns estados do
Nordeste, é 7% ou menos. Empresas vão abastecer lá e voltam com o avião com
tanque cheio. Como a gente vai evitar essas viagens? Com a reforma do
ICMS".
PANORAMA POLÍTICO, em O GLOBO:
"Os empresários já vinham perdendo sua força política. Mas agora, de
acordo com analistas, foram feridos de morte com a decisão do STF, proibindo o
financiamento eleitoral pelas empresas. O poder de barganha junto aos governos
e ao Parlamento vai se reduzir. Suas teses ficarão submetidas ao pragmatismo
dos políticos e à difusa sintonia com a opinião pública".
Também em PANORAMA POLÍTICO:
"As centrais sindicais estão entre os derrotados pela reforma feita pela
presidente Dilma. A CUT, a CTB, a UGT e a Força Sindical, que é oposição, se
manifestaram contra a fusão dos ministérios do Trabalho e da Previdência
Social".
VERTICAL S/A, em O POVO (CE):
"A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) – Paulo Skaf –
diz ver com "extrema preocupação" os movimentos do presidente da CNI,
o mineiro ROBSON ANDRADE, para aceitar supostos acordos com o Governo Dilma, no
qual o SESI e o SENAI abririam mão de recursos que custeiam seus serviços. Em
nota, a Fiesp usa o termo "repudiar" os supostos acordos e exorta
demais federações que se alimentam do SISTEMA S”.
Editorial de O ESTADO DE
S.PAULO afirma que “a indicação de um político profissional para o Ministério
da Educação (MEC) (...) é mais um capítulo do teatro do absurdo em que se
transformou o governo da presidente Dilma Rousseff numa área estratégica para o
futuro do País”.
De forma crítica, jornal
afirma que a presidente Dilma “conseguiu introduzir o caos no setor no curto
período de nove meses” – texto menciona problemas no Ciência sem Fronteiras, no
Pronatec e no Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).
Reportagem diferenciada no
caderno TRABALHO & FORMAÇÃO PROFISSIONAL do CORREIO BRAZILIENSE informa que
“é graças à tecnologia que alunos do ensino médio do Serviço Social da
Indústria (SESI) estão vivendo a experiência de um intercâmbio cultural diferente”.
Texto relata que, dividido em
três etapas, o programa Conexão Mundo possibilita o aprendizado em contato
direto com americanos.
RENATO CRUZ, em sua coluna em
O ESTADO DE S.PAULO, informa que “45% dos projetos de inovação apoiados pelo
SENAI se transformaram em produtos e serviços que chegaram ao mercado”.
Conforme o texto, “o
levantamento leva em conta os editais SENAI/SESI de Inovação de 2005 a 2012.
Durante esse período, foram investidos R$ 222,9 milhões. Dos 132 projetos no
mercado, 19 são de indústrias de grande porte, 11 de empresas médias e 102 de
micro e pequenas. Entre esses projetos estão um sistema de identificação e
localização de equipamentos médicos e uma nova fórmula de adoçante dietético”.
A reconfiguração da Esplanada
dos Ministérios faz o noticiário avançar sobre questões partidárias e da
conjuntura política.
No geral, abordagens assumem
perfis analíticos e exploram detalhes que, ao longo da semana passada, não
despertaram tanto interesse.
Reportagens especiais,
entrevistas exclusivas e artigos são as principais referências do dia.
Manchete de O ESTADO DE
S.PAULO informa que o PMDB ficará responsável por administrar ao menos R$ 99
bilhões do Orçamento para 2016, enquanto que o PT, R$ 75,5 bilhões.
Levantamento do ESTADÃO expõe
uma série de números e faz correlações entre as mudanças nos ministérios e a
tentativa da presidente Dilma Rousseff de estancar a crise de governabilidade.
Questões partidárias
associadas à reforma ministerial e, mais especificamente, especulações em torno
dos próximos movimentos do presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) também
se reposicionam.
Jornais voltam a discutir sob
esse ponto de vista a abertura da discussão do processo de impeachment da
presidente Dilma
FOLHA DE S.PAULO, em
reportagem diferenciada, relata que “a presidente Dilma Rousseff mandou os
auxiliares se prepararem para reagir se Cunha se movimentar para deflagrar o
processo”.
Conforme FOLHA, o governo teme
que o presidente da Câmara dê nas próximas semanas os passos necessários para
pôr em marcha o impeachment, na tentativa de camuflar o desgaste que ele tem
sofrido desde que se tornou alvo da operação Lava Jato.
A O ESTADO DE S.PAULO e FOLHA
DE S. PAULO o economista Marcio Pochmann, presidente da Fundação Perseu Abramo,
concede entrevistas exclusivas nas quais critica a política econômica e lança
uma série de dúvidas sobre as ações do governo para contornar a crise por meio
do ajuste econômico.
Pochmann afirma que o ajuste é
um equívoco e chama a atenção para a estagnação econômica. O especialista
propõe uma espécie de “virada à esquerda”.
Destaque ainda para artigo
assinado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em O GLOBO e em O ESTADO
DE S.PAULO.
Analisando a conjuntura
política, FHC afirma que “o povo não vê no ajuste financeiro a glória futura,
mas sim o aperto cotidiano”.
Segundo ele, “os programas e
promessas são palavras que a experiência mostrou natimortos pela inércia da
administração ou por sua incompetência. Os políticos já não sabem quantos mais
anéis pedir à presidente para cumprirem o que, em princípio, já lhes foi pago,
pois querem mais. Para não falar nos mercados, que buscam refúgio no dólar, embora
não se tenha crise cambial à vista”.
Em O GLOBO, outro ponto de
atenção: o juiz federal Sérgio Moro
escreve em artigo que “a corrupção sistêmica não vai ceder facilmente”.
Moro defende sociedade civil e
Poder Público sejam parceiros, mas adverte: “milhões já foram às ruas protestar
contra a corrupção, mas não surgiram respostas institucionais relevantes”.
Em tom pessimista, Moro
completa que “o tempo está passando e o momento, em parte, está sendo perdido”.
Complementando o dia, CORREIO
BRAZILIENSE (DF) publica em manchete entrevista exclusiva com o ministro Edinho
Silva.
Segundo o CORREIO, o ministro
defende o modelo de coalizão definido pela reforma ministerial e fala sobre a
investigação aberta contra ele no STF para apurar a doação de R$ 7,5 milhões
supostamente desviados da Petrobras.
Edinho Silva ainda admite
erros do PT e se queixa de que muitos dos ataques à presidente Dilma são
decorrentes de machismo. "Ela é mulher honesta, íntegra e
trabalhadora", diz.
Ações de governo inseridas no
contexto da crise são passadas a limpo por reportagens que requalificam o foco
no noticiário econômico.
Volume não é dos maiores, mas
mesmo pontualmente essas abordagens se destacam entre as demais e merecem
leitura.
Um dos destaques está em O
ESTADO DE S.PAULO, que de forma exclusiva informa que o Palácio do Planalto
“descarta” voltar com o programa Minha Casa Melhor.
Desde o início do ano, afirma
o ESTADÃO, as contratações estão suspensas. “Faltam recursos no governo para
bancar o programa, que é alvo de críticas da atual equipe econômica”, resume.
O Minha Casa Melhor concedia
empréstimos em condições especiais para a compra de eletrodomésticos,
eletrônicos e móveis para os beneficiários do Minha Casa Minha Vida.
A agenda macroeconômica também
está bem posicionada.
Ritmo do noticiário é
garantido por opiniões e análises que tentam, de algum modo, explicar os rumos
do país em meio a tantas incertezas domésticas e externas.
Como ponto de atenção, em O
ESTADO DE S.PAULO, a economista Monica Baumgarten de Bolle, pesquisadora do
Instituto Peterson de Economia Internacional, em Washington, explica a proposta
radical manifestada em artigo na semana passada no qual propôs que o Brasil
abandone o regime de câmbio flutuante e adote bandas de flutuação para a moeda.
“Falta um plano fiscal, uma
solução para as contas públicas. Isso não é simplesmente passar a CPMF e cortar
uns gastos aqui e outros ali, mas pegar o sistema de Previdência e realmente
acabar com as regras de indexação”, afirma.
“Os riscos que existem no
cenário externo tornam mais urgente a gente sair da paralisia. Uma das coisas
presentes em todos os círculos de conversa é a China”, completa Monica
Baumgarten de Bolle.
Também em entrevista
exclusiva, Christine Lagarde, diretora-gerente do FMI, afirma a O GLOBO que
Brasil teria muito a ganhar com abordagem “robusta, estratégica e ambiciosa”,
centrada no corte de despesas, garantindo crescimento e avanços sociais.
Manchete de O GLOBO informa
ainda que empresas públicas e privadas estão “promovendo um verdadeiro saldão
de ativos”.
Levantamento do jornal revela
que em diferentes setores as companhias estão tentando se desfazer menos R$
149,6 bilhões. “Na lista de empresas, estão Petrobras, Vale, Eletrobras e
Infraero”, resume o texto.
ARNALDO NISKIER
Um tiro no Sistema S
Só um gênio do mal para mexer
no sistema. Uma saída poderia ser cobrar pelos cursos, mas isso resultaria em
um baque nas matrículas
É conhecida a dificuldade do
governo federal para fazer o seu ajuste fiscal. Em meio a essa confusão toda,
até propostas estapafúrdias acabam sendo feitas, como é o caso de sequestrar os
recursos financeiros do Sistema S, o conjunto de nove instituições de interesse
de categorias profissionais.
Até há pouco, falava-se em
prestigiar o Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e
Emprego). Anunciava-se um programa de 12 milhões de técnicos. Depois, o número
baixou consideravelmente, mas com a política de despir um santo para vestir o
outro.
Retirar R$ 8 milhões do
Sistema S e colocar nas contas baleadas do governo é condenar entidades
beneméritas como o Senac, o Senai, o Senar, o Sesc, o Sesi, o Sebrae, a ABDI
(Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial) e a Apex-Brasil (Agência
Brasileira de Exportação e Investimentos) a praticamente fechar as portas, como
algumas chegaram mesmo a anunciar.
Só o Sesc estima perder cerca
de 27 mil funcionários, além de inviabilizar o atendimento de 200 mil alunos no
Rio de Janeiro. No caso do Sebrae, o corte programado, se vier a ser
confirmado, pode levar a entidade a cobrar pelos seus serviços ou reduzir o
número de 8 milhões de microempresários atendidos por ano. É possível imaginar
o tamanho desse prejuízo?
A se confirmar a crise, será a
maior dos mais de 70 anos de existência do Sistema S, nascido na década de
1940, quando Gustavo Capanema era ministro da Educação. Foi autor das célebres
e consagradas Leis Orgânicas do Ensino Industrial e do Ensino Comercial, até
hoje vigentes.
A prova da competência do
Senai, por exemplo, pode ser medida pelo fato de mais de 60% dos seus alunos
estarem empregados, mesmo com a elevada retração do mercado. A entidade, nos
1.008 cursos que oferece, forma aproximadamente 90 mil alunos por ano em 30
segmentos industriais.
Só mesmo um gênio do mal para
mexer no setor, provocando a reação indignada de dirigentes como Paulo Skaf,
presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). Os
números do Senai, por exemplo, são espetaculares: 3,64 milhões de matrículas no
ano passado, dos quais 1 milhão ministrados na modalidade do ensino à
distância. Já o Sesi formou 217 mil jovens e adultos.
Com essa absurda intervenção
do governo federal, uma hipótese provável seria passar a cobrar pelos cursos,
mas não há dúvida de que isso representaria um baque nas matrículas. É a
fórmula encontrada de prestigiar o que entendemos por ensino profissional?
A se confirmar a pretensão
oficial, haverá uma série de perdas nos programas hoje vigentes de educação
–sobretudo a construção de creches–, saúde, cultura e esporte.
Haverá uma drástica redução de
matrículas e a possível perda de gratuidade nos cursos profissionais do Senac.
Enfim, uma queda considerável de substância, como se pudéssemos nos dar ao luxo
dessa perda inoportuna.
ARNALDO NISKIER, 80, é membro
da Academia Brasileira de Letras e presidente do CIEE (Centro de Integração
Empresa-Escola) no Rio de Janeiro
OS REIS TAMBÉM MORREM
O mandato de Dilma ainda dura
três anos e pouco, e o tempo urge. Ou bem a presidente reage ou ela é
'renunciada; chegará a hora de acelerar decisões
Num dos sábados do mês de
setembro encontrei tempo e motivação para escutar a Orquestra do Estado de São
Paulo (Osesp), sob o comando do maestro Isaac Karabtchevsky, tocar os
Gurre-Lieder de Arnold Schõnberg. Com a força expressiva do autor, os versos
novecentistas do dinamarquês Jens Peter Jacobsen, traduzidos para o alemão por
Robert Franz Arnold, ganham uma dramaticidade wagneriana. Dizem os entendidos
que, ademais de Wagner, os acordes transpiram também a Mahler. Não saberia
avaliar. O que senti, especialmente quando os instrumentos entoaram sons de uma
marcha fúnebre, foi o inevitável da morte e a angústia dos próximos que ficam.
Esta sensação talvez me viesse porque a última vez que fui à Osesp em sua
companhia Ruth teve a crise cardíaca que, dias depois, terminou sendo fatal.
Estive a recordar o tempo todo que em setembro ela faria 85 anos.
O rei Waldemar, no poema,
chora a morte de sua amada e diz: "Mas, Tove está aqui e está lá, está tão
perto e está tão longe". Revolta-se contra os próprios deuses e proclama:
"Senhor Deus, teus exércitos de anjos cantam sempre tua glória;
entretanto, o de que necessitarias era de um anjo que te soubesse censurar. Mas
quem se atreveria?" Da angústia existencial da morte concreta, a dos mais
próximos e a própria, passei a pensar na morte política para não me afligir
ainda mais. Grave e grande problema: como passar de uma situação de poder a
outra? Os reis podem abdicar e assim, sem morrer, renunciam ao poder. Penam em
vida, eventualmente, a ausência do poder. Agora, até os papas renunciam; devem
rezar na paz de Castel Gandolfo pelo êxito do sucessor. No parlamentarismo são
os deputados que, formando uma nova maioria, ora ressuscitam o
primeiro-ministro moribundo, ora simbolicamente o decapitam, escolhendo outro.
No presidencialismo o eleito, em tese, deve esperar que o tempo se esvaia até
que o povo escolha novamente um "rei". O anterior, bom grado, mau
grado, sobrevive fisicamente, ora tentando voltar ao trono, ora conformado com
o que já fez; ora ajudando o sucessor a governar, ora atrapalhando-o. Às vezes,
entretanto, não há sucessão à vista e o rei já não governa. Quando o
presidente, no caso de República democrática, agride a Constituição, ainda
sobra o remédio do impedimento, uma espécie de morte assistida. Ou então ele
abre mão voluntariamente do poder pela renúncia. O tema, na Ciência Política,
sem ter a dramaticidade do Gurre-Lieder, é sempre tratado com circunspecção e
interesse. Não por acaso voltou à baila em algumas repúblicas presidencialistas
contemporâneas o discutível instituto do recall: a velocidade da vida e dos
meios de comunicação tornam precocemente envelhecidos governos democraticamente
eleitos. Estamos diante dessa encruzilhada. Trombetas, trompas e fagotes já
entoam o final, falta apenas a percussão dos címbalos para que todos saibam que
o rei morreu. Este, entretanto, detém o poder e não encontra alguém, como o
anjo que Waldemar queria que se atrevesse diante do próprio Deus, para dizer-lhe:
acabou!
Por enquanto, falei no
figurativo. Mas vamos aos fatos. O povo não vê no ajuste financeiro a glória
futura, mas sim o aperto cotidiano. Os programas e promessas são palavras que a
experiência mostrou natimortos pela inércia da administração ou por sua
incompetência. Os políticos já não sabem quantos mais anéis pedir à presidente
para cumprirem o que, em princípio, já lhes foi pago, pois querem mais. Para
não falar nos mercados, que buscam refúgio no dólar, embora não se tenha crise
cambial à vista.
Estamos assistindo a uma
corrida contra o tempo. Repito o já sabido e dito: as forças dinâmicas do
quadro brasileiro vêm sendo a crise econômica e a Operação Lava-Jato. Só que o
desdobramento de uma, a judicial, independe da outra, que, entretanto, sofre suas
consequências. Não obstante, as lideranças políticas, a começar pela maior da
República, parecem assistir conformadas ao mergulho do país no poço fundo da
crise pela falta de confiança.
Daí a angústia: há urgência
para que as decisões políticas nos permitam enfrentar os desafios econômicos e
sociais. Estes são de magnitude: os compromissos legais de financiamento a
serem cumpridos pelo governo, seja por diretivas constitucionais, seja por
mandamentos legais, seja por compromissos políticos assumidos, não cabem no
Orçamento e o país não quer pagar mais impostos. Não quer porque não vê que
deles resulte melhoria palpável para as contas públicas nem para a população,
dadas a continuidade da gastança, a incompetência da gestão e a corrupção. A
quadratura deste círculo exige a reconstrução da confiança perdida. Daí a
corrida contra o tempo. O mandato ainda dura três anos e pouco e o tempo urge.
Ou bem a presidente reage (e vê-se que não tem gás para tanto), ou ela é
"renunciada". Mesmo que se cogite de impedimento, este está
limitado pelo decorrer de
prazos legais. Haverá tempo? Como conciliar, sempre dentro da Constituição, as
urgências da economia e da vida com a morosidade dos tempos políticos?
Não tenho a vara de condão
para me levar ao futuro. Arrisco dizer, no entanto, que nessa pugna entre os
meneios político-partidários e as necessidades concretas das pessoas e das
empresas, chegará o momento de acelerar decisões. Talvez um anjo perverso
aconselhe à presidente: entregue logo sua alma ao diabo, entre mais fundo no
"toma lá dá cá" e salve seu mandato. Pode até conseguir, mas valerá a
pena? E acaso isso modifica a dança do país à beira do abismo? Quanto antes os
mais responsáveis percebam que ou agem ou serão tragados pela voragem da crise,
melhor. Ainda há tempo. Pouco, contudo.
Fernando Henrique Cardoso,
Ex-presidente do Brasil