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domingo, 4 de outubro de 2015

Análise de Mídia - 04 de outubro de 2015

A presença da Indústria no noticiário deste domingo (04) qualifica e eleva o debate voltado a questões estratégicas para o setor produtivo.

Comércio exterior é uma das referências. Tema é abordado sob diversas frentes e abre perspectivas bastante relevantes.

No geral, a conjuntura macro determina o ritmo da pauta do dia, por isso também jornais privilegiam a cobertura associada a ações de governo.

Um dos destaques está em O ESTADO DE S.PAULO, que aborda a escalada do dólar como “alavanca” para as empresas brasileiras voltarem exportar.

Advertindo que “o caminho não tem sido fácil”, porém, ESTADÃO revela que muitas companhias estão sendo obrigadas a reestruturar departamentos que haviam sido praticamente extintos.

Dados da Fundação Centro de Estudo do Comércio Exterior (Funcex) e a opinião de analistas compõem a reportagem.

O papel dos chineses no contexto das vendas externas globais também é discutido pelo ESTADÃO, que relata: “a participação do Brasil na Argentina, por exemplo, era de 15,8% em 2005 e agora está em 10,6%. Nesse mesmo período, a fatia da China no país subiu de 7,2% para 18%, afirma o diretor de CNI, CARLOS ABIJAODI”.

Texto coordenado completa que “um dos grandes entraves à expansão das exportações é a ausência de acordos comerciais com grandes mercados”.

ESTADÃO critica a política externa brasileira e a opção por “voltar os olhos” para acordos envolvendo países da América do Sul e da África.

Como exemplo bem-sucedido, ESTADÃO ressalta a Colômbia, que tem 16 acordos com países que representam 55% do comércio mundial, “afirma CARLOS ABIJAODI”.

José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), opina e reforça que a tarefa do governo é reconquistar os mercados perdidos nos últimos anos.

Na FOLHA DE S.PAULO, reportagem especial revela que “a desvalorização cambial espremeu a indústria”.

Jornal chama a atenção para a pressão do câmbio sobre o custo da matéria-prima importada ou cotada em dólar e ressalta que a crise dificulta o reajuste no mercado interno.

FOLHA especula que o setor industrial espera transferir o maior custo de produção daqui a dois ou três meses, quando os estoques, hoje altos, acabarem.

Na mesma reportagem, justifica ainda que, “outra saída para o aumento de custo é reduzi-lo, por meio da substituição de insumos importados por nacionais, quando for possível”.

Humberto Barbato, presidente da Abinee, afirma à FOLHA que reúne a indústria eletroeletrônica, diz que o setor vive um impasse: "O empresário sabe que, no momento em que sobe preço, perde mercado. Ninguém quer tomar o primeiro passo. Mas, por outro lado, não há como absorver custos."

Em tom de alerta, FOLHA pondera que, “além da possibilidade de perder mercado para o concorrente, o temor de que o consumidor desista da compra inibe a alta de preço.

Jornal reproduz a seguinte frase atribuída a RENATO DA FONSECA, gerente CNI: “Se você repassar tudo, mesmo sem concorrência, a pessoa adia ou desiste da compra".

De forma coordenada, FOLHA revela que “setores com mais dificuldade para repassar o aumento de custos buscam fornecedores locais para trocar os insumos importados pelos fabricados aqui”.

Na interpretação do jornal, a estratégia pode favorecer a indústria nacional, mas ainda ocorre em ritmo lento.

Conforme a FOLHA, as empresas de componentes elétricos podem se beneficiar da desvalorização do real, avalia a Abinee. "Esse movimento pode gerar uma reindustrialização. Alguns componentes que haviam sido substituídos por outros importados já voltam a ser comprados no Brasil", diz Barbato, presidente da associação.

Também na FOLHA DE S.PAULO, reportagem exclusiva informa que “o governo e a indústria apostam no mercado norte-americano para que o valor das exportações brasileiras, há quatro anos em queda, volte a crescer em 2016”.

Jornal afirma que este é o único grande parceiro comercial do Brasil com potencial de aumentar de forma mais expressiva sua demanda no médio prazo.

"Os EUA têm sido nossa salvação", resume ABIJAODI, conforme reproduz a FOLHA, que na mesma reportagem destaca, entre os produtos que têm ganhado espaço, as máquinas e equipamentos, peças automotivas e produtos químicos.

“Para ABIJAODI, o fôlego é importante porque, apesar do ganho de competitividade obtido pelo país com a desvalorização do real – que reduz o valor em dólares dos produtos brasileiros –, o cenário internacional e doméstico é desfavorável”, resume a FOLHA.

Jornal avança e na mesma reportagem relata que o ministro Armando Monteiro (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) diz não ter dúvidas de que as exportações brasileiras crescerão em valor em 2016.

Como ponto de atenção – e complementando o dia – registra-se na FOLHA DE S.PAULO artigo assinado por Arnaldo Niskier, membro da Academia Brasileira de Letras e presidente do CIEE (Centro de Integração Empresa-Escola) no Rio de Janeiro.

Sob o título ‘Um tiro no SISTEMA S’, Niskier afirma em tom irônico: “Só um gênio do mal para mexer no sistema”.

“É conhecida a dificuldade do governo federal para fazer o seu ajuste fiscal. Em meio a essa confusão toda, até propostas estapafúrdias acabam sendo feitas, como é o caso de sequestrar os recursos financeiros do SISTEMA S, o conjunto de nove instituições de interesse de categorias profissionais”, reforça Niskier.

“Retirar R$ 8 milhões do SISTEMA S e colocar nas contas baleadas do governo é condenar entidades beneméritas como o Senac, o SENAI, o Senar, o Sesc, o SESI, o Sebrae, a ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial) e a Apex-Brasil (Agência Brasileira de Exportação e Investimentos) a praticamente fechar as portas, como algumas chegaram mesmo a anunciar”, completa Niskier (retransmito a integra abaixo).



FOLHA DE S.PAULO
Controle de agrotóxicos em alimento é quase nulo

O ESTADO DE S.PAULO
PMDB passa a controlar orçamento maior que PT

O GLOBO
Crise obriga empresas a vender R$ 150 bi em ativos



O deslocamento da pauta econômica deixa poucos espaços disponíveis para que a agenda setorial se apresente.

Apesar do baixo volume, porém, alguns itens se sobressaem.

Dando continuidade à expressiva cobertura centrada em comércio exterior – sobretudo nos jornais paulistas – breve reportagem na FOLHA DE S.PAULO relata que, “apesar do otimismo com o dólar mais favorável aos exportadores, a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), alerta para as dificuldades à frente”.

José Augusto de Castro, presidente da entidade, afirma à FOLHA que os exportadores enfrentam escassez de crédito e terão o desafio de disputar espaço com outras economias que também passaram a ter uma moeda mais competitiva, como os países da zona do euro.

Já a coluna MERCADO ABERTO, também na FOLHA DE S.PAULO, informa que "a indústria plástica prevê uma retração mais acentuada em seu faturamento nos próximos meses. No acumulado do ano até agosto, a queda foi de 4%. A projeção, no entanto, é que 2015 termine com um recuo de 10%".

"O segundo semestre deverá ser pior", afirma à coluna da FOLHA, o presidente da Abiplast (associação brasileira do setor), José Ricardo Roriz Coelho.

Sobre o assunto, MERCADO ABERTO ainda relata que, "nos primeiros sete meses de 2015, a indústria fechou cerca de 13,4 mil postos de trabalho -o que equivale a 3,8% do total de empregados no setor. Durante todo o ano passado, 3.000 vagas haviam sido eliminadas".

Finalizando o dia, registra-se artigo assinado por PAUL SINGER, secretário nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego, na FOLHA DE S.PAULO.

Segundo SINGER, "chegou a hora de o Brasil lançar mão dessa experiência histórica e organizar um movimento do governo em parceria com a sociedade civil para o resgate humana das vítimas do desemprego".



O ESTADO DE S. PAULO opina de forma bastante crítica sobre a reforma ministerial e afirma: “a presidente petista não parece interessada em respeitar a inteligência alheia. Seu único objetivo é sobreviver. Por isso, ela deu ao PMDB nada menos que sete pastas em seu novo Ministério".

FOLHA DE S.PAULO interpreta de forma técnica a “medida corretiva” apresentada pelo governo na semana passada que evita, a parti de agora, as chamadas pedaladas fiscais. “A providência é bem-vinda, a despeito da escolha oportunista do momento. Trata-se de disciplinar, aliás com grande atraso, a prestação de serviços dos bancos federais ao Tesouro Nacional”, resume.

O GLOBO trata da Lava Jato e afirma que “foi uma derrota indiscutível” do juiz Sérgio Moro, dos procuradores do MP e dos policiais federais a decisão do STF de transferir para um juiz em São Paulo processo sobre a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR).


DORA KRAMER, em O ESTADO DE S.PAULO, registra em tom crítico: "O afastamento de Aloizio Mercadante da Casa Civil é um ato que não soluciona. A saída dele não resolve (...) O problema é que na Casa Civil ou na Educação, Dilma vai continuar ouvindo Aloizio Mercadante, seu pior conselheiro".

ELIANE CANTANHÊDE, em O ESTADO DE S.PAULO, afirma que "a próxima etapa da 'reforma ministerial' do Lula é limar o ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Lula demorou a exercer seu domínio sobre a pupila Dilma Rousseff, que esperneou o quanto pôde, mas, agora, ele não vai parar mais. A intervenção no governo, ou o impeachment branco, vai longe".

O ex-presidente do Banco Central, HENRIQUE MEIRELLES, escreve na FOLHA DE S. PAULO que "a expressiva alta do dólar reanimou a discussão sobre intervenções nos mercados de câmbio". Segundo ele, "o BC, por sua vez, deve estar preparado para controlar as expectativas e os efeitos inflacionários das flutuações da moeda. E o governo precisa manter uma política econômica sustentável que não gere volatilidade excessiva não só no dólar, mas nos mercados como um todo".

PAINEL, na FOLHA DE S. PAULO, informa que “os sindicatos da indústria de construção civil planejam aprovar uma paralisação geral nacional na sexta (9). Há queixas de atraso nos pagamentos do Minha Casa Minha Vida no valor de R$ 1,5 bilhão”.

De acordo com PAINEL, “ setor havia fechado acordo para reduzir o ritmo das obras em troca da pontualidade nos pagamentos, mas diz que o trato foi desrespeitado. Os empresários são os mesmos que vaiaram o ministro Gilberto Kassab (Cidades) em evento em setembro”.

MIRIAM LEITÃO, em O GLOBO, reproduz trechos de uma entrevista exclusiva com o ministro da Fazenda Joaquim Levy. Foco está no ajuste e nas perspectivas de crescimento do PIB.

Conforme MIRIAM LEITÃO, Levy acha o Brasil precisa discutir agora questões que aumentarão a competitividade e eficiência da economia.

"A inclusão social que aconteceu no Brasil precisa ser protegida. Vou dar um exemplo: triplicou o número de passageiros do transporte aéreo no Brasil. Agora empresas aéreas estão preocupadas com a queda do consumo. Para aumentar a eficiência e reduzir custos, elas precisam de querosene mais barato", diz Levy.

O ministro da Fazenda ainda explica à colunista de O GLOBO: "E isso não se fará com subsídio, nem com baixa de tributo temporário, mas sim com uma reforma do ICMS que acabe com uma contradição no setor. O imposto em São Paulo é 20%, em alguns estados do Nordeste, é 7% ou menos. Empresas vão abastecer lá e voltam com o avião com tanque cheio. Como a gente vai evitar essas viagens? Com a reforma do ICMS".

PANORAMA POLÍTICO, em O GLOBO: "Os empresários já vinham perdendo sua força política. Mas agora, de acordo com analistas, foram feridos de morte com a decisão do STF, proibindo o financiamento eleitoral pelas empresas. O poder de barganha junto aos governos e ao Parlamento vai se reduzir. Suas teses ficarão submetidas ao pragmatismo dos políticos e à difusa sintonia com a opinião pública".

Também em PANORAMA POLÍTICO: "As centrais sindicais estão entre os derrotados pela reforma feita pela presidente Dilma. A CUT, a CTB, a UGT e a Força Sindical, que é oposição, se manifestaram contra a fusão dos ministérios do Trabalho e da Previdência Social".

VERTICAL S/A, em O POVO (CE): "A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) – Paulo Skaf – diz ver com "extrema preocupação" os movimentos do presidente da CNI, o mineiro ROBSON ANDRADE, para aceitar supostos acordos com o Governo Dilma, no qual o SESI e o SENAI abririam mão de recursos que custeiam seus serviços. Em nota, a Fiesp usa o termo "repudiar" os supostos acordos e exorta demais federações que se alimentam do SISTEMA S”.


Editorial de O ESTADO DE S.PAULO afirma que “a indicação de um político profissional para o Ministério da Educação (MEC) (...) é mais um capítulo do teatro do absurdo em que se transformou o governo da presidente Dilma Rousseff numa área estratégica para o futuro do País”.

De forma crítica, jornal afirma que a presidente Dilma “conseguiu introduzir o caos no setor no curto período de nove meses” – texto menciona problemas no Ciência sem Fronteiras, no Pronatec e no Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).

Reportagem diferenciada no caderno TRABALHO & FORMAÇÃO PROFISSIONAL do CORREIO BRAZILIENSE informa que “é graças à tecnologia que alunos do ensino médio do Serviço Social da Indústria (SESI) estão vivendo a experiência de um intercâmbio cultural diferente”.

Texto relata que, dividido em três etapas, o programa Conexão Mundo possibilita o aprendizado em contato direto com americanos.


RENATO CRUZ, em sua coluna em O ESTADO DE S.PAULO, informa que “45% dos projetos de inovação apoiados pelo SENAI se transformaram em produtos e serviços que chegaram ao mercado”.

Conforme o texto, “o levantamento leva em conta os editais SENAI/SESI de Inovação de 2005 a 2012. Durante esse período, foram investidos R$ 222,9 milhões. Dos 132 projetos no mercado, 19 são de indústrias de grande porte, 11 de empresas médias e 102 de micro e pequenas. Entre esses projetos estão um sistema de identificação e localização de equipamentos médicos e uma nova fórmula de adoçante dietético”.



A reconfiguração da Esplanada dos Ministérios faz o noticiário avançar sobre questões partidárias e da conjuntura política.

No geral, abordagens assumem perfis analíticos e exploram detalhes que, ao longo da semana passada, não despertaram tanto interesse.

Reportagens especiais, entrevistas exclusivas e artigos são as principais referências do dia.

Manchete de O ESTADO DE S.PAULO informa que o PMDB ficará responsável por administrar ao menos R$ 99 bilhões do Orçamento para 2016, enquanto que o PT, R$ 75,5 bilhões.

Levantamento do ESTADÃO expõe uma série de números e faz correlações entre as mudanças nos ministérios e a tentativa da presidente Dilma Rousseff de estancar a crise de governabilidade.

Questões partidárias associadas à reforma ministerial e, mais especificamente, especulações em torno dos próximos movimentos do presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) também se reposicionam.

Jornais voltam a discutir sob esse ponto de vista a abertura da discussão do processo de impeachment da presidente Dilma

FOLHA DE S.PAULO, em reportagem diferenciada, relata que “a presidente Dilma Rousseff mandou os auxiliares se prepararem para reagir se Cunha se movimentar para deflagrar o processo”.

Conforme FOLHA, o governo teme que o presidente da Câmara dê nas próximas semanas os passos necessários para pôr em marcha o impeachment, na tentativa de camuflar o desgaste que ele tem sofrido desde que se tornou alvo da operação Lava Jato.

A O ESTADO DE S.PAULO e FOLHA DE S. PAULO o economista Marcio Pochmann, presidente da Fundação Perseu Abramo, concede entrevistas exclusivas nas quais critica a política econômica e lança uma série de dúvidas sobre as ações do governo para contornar a crise por meio do ajuste econômico.

Pochmann afirma que o ajuste é um equívoco e chama a atenção para a estagnação econômica. O especialista propõe uma espécie de “virada à esquerda”.

Destaque ainda para artigo assinado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em O GLOBO e em O ESTADO DE S.PAULO.

Analisando a conjuntura política, FHC afirma que “o povo não vê no ajuste financeiro a glória futura, mas sim o aperto cotidiano”.

Segundo ele, “os programas e promessas são palavras que a experiência mostrou natimortos pela inércia da administração ou por sua incompetência. Os políticos já não sabem quantos mais anéis pedir à presidente para cumprirem o que, em princípio, já lhes foi pago, pois querem mais. Para não falar nos mercados, que buscam refúgio no dólar, embora não se tenha crise cambial à vista”.

Em O GLOBO, outro ponto de atenção:  o juiz federal Sérgio Moro escreve em artigo que “a corrupção sistêmica não vai ceder facilmente”.

Moro defende sociedade civil e Poder Público sejam parceiros, mas adverte: “milhões já foram às ruas protestar contra a corrupção, mas não surgiram respostas institucionais relevantes”.

Em tom pessimista, Moro completa que “o tempo está passando e o momento, em parte, está sendo perdido”.

Complementando o dia, CORREIO BRAZILIENSE (DF) publica em manchete entrevista exclusiva com o ministro Edinho Silva.

Segundo o CORREIO, o ministro defende o modelo de coalizão definido pela reforma ministerial e fala sobre a investigação aberta contra ele no STF para apurar a doação de R$ 7,5 milhões supostamente desviados da Petrobras.

Edinho Silva ainda admite erros do PT e se queixa de que muitos dos ataques à presidente Dilma são decorrentes de machismo. "Ela é mulher honesta, íntegra e trabalhadora", diz.



Ações de governo inseridas no contexto da crise são passadas a limpo por reportagens que requalificam o foco no noticiário econômico.

Volume não é dos maiores, mas mesmo pontualmente essas abordagens se destacam entre as demais e merecem leitura.

Um dos destaques está em O ESTADO DE S.PAULO, que de forma exclusiva informa que o Palácio do Planalto “descarta” voltar com o programa Minha Casa Melhor.

Desde o início do ano, afirma o ESTADÃO, as contratações estão suspensas. “Faltam recursos no governo para bancar o programa, que é alvo de críticas da atual equipe econômica”, resume.

O Minha Casa Melhor concedia empréstimos em condições especiais para a compra de eletrodomésticos, eletrônicos e móveis para os beneficiários do Minha Casa Minha Vida.

A agenda macroeconômica também está bem posicionada.

Ritmo do noticiário é garantido por opiniões e análises que tentam, de algum modo, explicar os rumos do país em meio a tantas incertezas domésticas e externas.

Como ponto de atenção, em O ESTADO DE S.PAULO, a economista Monica Baumgarten de Bolle, pesquisadora do Instituto Peterson de Economia Internacional, em Washington, explica a proposta radical manifestada em artigo na semana passada no qual propôs que o Brasil abandone o regime de câmbio flutuante e adote bandas de flutuação para a moeda.

“Falta um plano fiscal, uma solução para as contas públicas. Isso não é simplesmente passar a CPMF e cortar uns gastos aqui e outros ali, mas pegar o sistema de Previdência e realmente acabar com as regras de indexação”, afirma.

“Os riscos que existem no cenário externo tornam mais urgente a gente sair da paralisia. Uma das coisas presentes em todos os círculos de conversa é a China”, completa Monica Baumgarten de Bolle.

Também em entrevista exclusiva, Christine Lagarde, diretora-gerente do FMI, afirma a O GLOBO que Brasil teria muito a ganhar com abordagem “robusta, estratégica e ambiciosa”, centrada no corte de despesas, garantindo crescimento e avanços sociais.

Manchete de O GLOBO informa ainda que empresas públicas e privadas estão “promovendo um verdadeiro saldão de ativos”.

Levantamento do jornal revela que em diferentes setores as companhias estão tentando se desfazer menos R$ 149,6 bilhões. “Na lista de empresas, estão Petrobras, Vale, Eletrobras e Infraero”, resume o texto.
ARNALDO NISKIER

Um tiro no Sistema S

Só um gênio do mal para mexer no sistema. Uma saída poderia ser cobrar pelos cursos, mas isso resultaria em um baque nas matrículas

É conhecida a dificuldade do governo federal para fazer o seu ajuste fiscal. Em meio a essa confusão toda, até propostas estapafúrdias acabam sendo feitas, como é o caso de sequestrar os recursos financeiros do Sistema S, o conjunto de nove instituições de interesse de categorias profissionais.

Até há pouco, falava-se em prestigiar o Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego). Anunciava-se um programa de 12 milhões de técnicos. Depois, o número baixou consideravelmente, mas com a política de despir um santo para vestir o outro.

Retirar R$ 8 milhões do Sistema S e colocar nas contas baleadas do governo é condenar entidades beneméritas como o Senac, o Senai, o Senar, o Sesc, o Sesi, o Sebrae, a ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial) e a Apex-Brasil (Agência Brasileira de Exportação e Investimentos) a praticamente fechar as portas, como algumas chegaram mesmo a anunciar.

Só o Sesc estima perder cerca de 27 mil funcionários, além de inviabilizar o atendimento de 200 mil alunos no Rio de Janeiro. No caso do Sebrae, o corte programado, se vier a ser confirmado, pode levar a entidade a cobrar pelos seus serviços ou reduzir o número de 8 milhões de microempresários atendidos por ano. É possível imaginar o tamanho desse prejuízo?

A se confirmar a crise, será a maior dos mais de 70 anos de existência do Sistema S, nascido na década de 1940, quando Gustavo Capanema era ministro da Educação. Foi autor das célebres e consagradas Leis Orgânicas do Ensino Industrial e do Ensino Comercial, até hoje vigentes.

A prova da competência do Senai, por exemplo, pode ser medida pelo fato de mais de 60% dos seus alunos estarem empregados, mesmo com a elevada retração do mercado. A entidade, nos 1.008 cursos que oferece, forma aproximadamente 90 mil alunos por ano em 30 segmentos industriais.

Só mesmo um gênio do mal para mexer no setor, provocando a reação indignada de dirigentes como Paulo Skaf, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). Os números do Senai, por exemplo, são espetaculares: 3,64 milhões de matrículas no ano passado, dos quais 1 milhão ministrados na modalidade do ensino à distância. Já o Sesi formou 217 mil jovens e adultos.

Com essa absurda intervenção do governo federal, uma hipótese provável seria passar a cobrar pelos cursos, mas não há dúvida de que isso representaria um baque nas matrículas. É a fórmula encontrada de prestigiar o que entendemos por ensino profissional?

A se confirmar a pretensão oficial, haverá uma série de perdas nos programas hoje vigentes de educação –sobretudo a construção de creches–, saúde, cultura e esporte.

Haverá uma drástica redução de matrículas e a possível perda de gratuidade nos cursos profissionais do Senac. Enfim, uma queda considerável de substância, como se pudéssemos nos dar ao luxo dessa perda inoportuna.

ARNALDO NISKIER, 80, é membro da Academia Brasileira de Letras e presidente do CIEE (Centro de Integração Empresa-Escola) no Rio de Janeiro

 OS REIS TAMBÉM MORREM

O mandato de Dilma ainda dura três anos e pouco, e o tempo urge. Ou bem a presidente reage ou ela é 'renunciada; chegará a hora de acelerar decisões

Num dos sábados do mês de setembro encontrei tempo e motivação para escutar a Orquestra do Estado de São Paulo (Osesp), sob o comando do maestro Isaac Karabtchevsky, tocar os Gurre-Lieder de Arnold Schõnberg. Com a força expressiva do autor, os versos novecentistas do dinamarquês Jens Peter Jacobsen, traduzidos para o alemão por Robert Franz Arnold, ganham uma dramaticidade wagneriana. Dizem os entendidos que, ademais de Wagner, os acordes transpiram também a Mahler. Não saberia avaliar. O que senti, especialmente quando os instrumentos entoaram sons de uma marcha fúnebre, foi o inevitável da morte e a angústia dos próximos que ficam. Esta sensação talvez me viesse porque a última vez que fui à Osesp em sua companhia Ruth teve a crise cardíaca que, dias depois, terminou sendo fatal. Estive a recordar o tempo todo que em setembro ela faria 85 anos.

O rei Waldemar, no poema, chora a morte de sua amada e diz: "Mas, Tove está aqui e está lá, está tão perto e está tão longe". Revolta-se contra os próprios deuses e proclama: "Senhor Deus, teus exércitos de anjos cantam sempre tua glória; entretanto, o de que necessitarias era de um anjo que te soubesse censurar. Mas quem se atreveria?" Da angústia existencial da morte concreta, a dos mais próximos e a própria, passei a pensar na morte política para não me afligir ainda mais. Grave e grande problema: como passar de uma situação de poder a outra? Os reis podem abdicar e assim, sem morrer, renunciam ao poder. Penam em vida, eventualmente, a ausência do poder. Agora, até os papas renunciam; devem rezar na paz de Castel Gandolfo pelo êxito do sucessor. No parlamentarismo são os deputados que, formando uma nova maioria, ora ressuscitam o primeiro-ministro moribundo, ora simbolicamente o decapitam, escolhendo outro. No presidencialismo o eleito, em tese, deve esperar que o tempo se esvaia até que o povo escolha novamente um "rei". O anterior, bom grado, mau grado, sobrevive fisicamente, ora tentando voltar ao trono, ora conformado com o que já fez; ora ajudando o sucessor a governar, ora atrapalhando-o. Às vezes, entretanto, não há sucessão à vista e o rei já não governa. Quando o presidente, no caso de República democrática, agride a Constituição, ainda sobra o remédio do impedimento, uma espécie de morte assistida. Ou então ele abre mão voluntariamente do poder pela renúncia. O tema, na Ciência Política, sem ter a dramaticidade do Gurre-Lieder, é sempre tratado com circunspecção e interesse. Não por acaso voltou à baila em algumas repúblicas presidencialistas contemporâneas o discutível instituto do recall: a velocidade da vida e dos meios de comunicação tornam precocemente envelhecidos governos democraticamente eleitos. Estamos diante dessa encruzilhada. Trombetas, trompas e fagotes já entoam o final, falta apenas a percussão dos címbalos para que todos saibam que o rei morreu. Este, entretanto, detém o poder e não encontra alguém, como o anjo que Waldemar queria que se atrevesse diante do próprio Deus, para dizer-lhe: acabou!

Por enquanto, falei no figurativo. Mas vamos aos fatos. O povo não vê no ajuste financeiro a glória futura, mas sim o aperto cotidiano. Os programas e promessas são palavras que a experiência mostrou natimortos pela inércia da administração ou por sua incompetência. Os políticos já não sabem quantos mais anéis pedir à presidente para cumprirem o que, em princípio, já lhes foi pago, pois querem mais. Para não falar nos mercados, que buscam refúgio no dólar, embora não se tenha crise cambial à vista.

Estamos assistindo a uma corrida contra o tempo. Repito o já sabido e dito: as forças dinâmicas do quadro brasileiro vêm sendo a crise econômica e a Operação Lava-Jato. Só que o desdobramento de uma, a judicial, independe da outra, que, entretanto, sofre suas consequências. Não obstante, as lideranças políticas, a começar pela maior da República, parecem assistir conformadas ao mergulho do país no poço fundo da crise pela falta de confiança.

Daí a angústia: há urgência para que as decisões políticas nos permitam enfrentar os desafios econômicos e sociais. Estes são de magnitude: os compromissos legais de financiamento a serem cumpridos pelo governo, seja por diretivas constitucionais, seja por mandamentos legais, seja por compromissos políticos assumidos, não cabem no Orçamento e o país não quer pagar mais impostos. Não quer porque não vê que deles resulte melhoria palpável para as contas públicas nem para a população, dadas a continuidade da gastança, a incompetência da gestão e a corrupção. A quadratura deste círculo exige a reconstrução da confiança perdida. Daí a corrida contra o tempo. O mandato ainda dura três anos e pouco e o tempo urge. Ou bem a presidente reage (e vê-se que não tem gás para tanto), ou ela é "renunciada". Mesmo que se cogite de impedimento, este está
limitado pelo decorrer de prazos legais. Haverá tempo? Como conciliar, sempre dentro da Constituição, as urgências da economia e da vida com a morosidade dos tempos políticos?

Não tenho a vara de condão para me levar ao futuro. Arrisco dizer, no entanto, que nessa pugna entre os meneios político-partidários e as necessidades concretas das pessoas e das empresas, chegará o momento de acelerar decisões. Talvez um anjo perverso aconselhe à presidente: entregue logo sua alma ao diabo, entre mais fundo no "toma lá dá cá" e salve seu mandato. Pode até conseguir, mas valerá a pena? E acaso isso modifica a dança do país à beira do abismo? Quanto antes os mais responsáveis percebam que ou agem ou serão tragados pela voragem da crise, melhor. Ainda há tempo. Pouco, contudo.

Fernando Henrique Cardoso, Ex-presidente do Brasil

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