No ano do centenário do isolamento da
bactéria que causa a doença, que acomete cerca de 500 mil pessoas anualmente,
Laboratório Central de MG disponibiliza a cultura para Leptospira sp.
A leptospirose, doença causada por
uma bactéria chamada Leptospira, presente principalmente na urina de
ratos, é uma das doenças mais negligenciadas pelos sistemas públicos de
saúde em todo o mundo, causando um elevado número de mortes a cada ano.
Estima-se que ocorram de 350 a 500 mil casos graves ocorramanualmente
no em todo o mundo, mesmo assim este número é subestimado. A magnitude de casos
leves é completamente desconhecida. Considerando a elevada letalidade causada por leptospirose grave,
pode-sesupor que a carga global de leptospirose é semelhante à da febre do
dengue vírus. Dados oficiais obtidos dos Ministérios da Saúde dos países
das Américas no período de 1996 a 2005 relataram que do total de casos que
ocorrem no mundo, as Américas contribuem com 10% do valor e o Brasil contribuiu
com mais de 28 mil casos. No período entre 2007 a 2012, do total de 22.351
casos de leptospirose confirmados no Brasil, 19.540 foram concluídos por
critérios clínico-laboratorial. Cerca de 70% dos casos ocorrem em área urbana.
Entendendo a doença
A doença ocorre em áreas urbanas de
países industrializados e em desenvolvimento, bem como nas regiões rurais em
todo o mundo. A manutenção da leptospirose em regiões urbanas e rurais do
Brasil é favorecida pelo clima tropical úmido e vasta população de roedores. No homem, a
doença resulta principalmente da exposição direta com animal infectado ou
indiretamente através do contado com água e solo contaminados com urina de
animais portadores ou doentes. Os sintomas clássicos da doença são: febre, calafrios,
mialgia generalizada, cefaleia, dor retro orbital, podendo ser acompanhados de
complicações renais, hemorrágicas, cardíacas, respiratórias, oculares, entre
outras.
Funed passa a oferecer a cultura de Leptospira sp.
Apesar de terem decorridos cem
anos da descoberta do agente, o cultivo de leptospira, mesmo apresentando alta
especificidade, é pouco usado para fins diagnósticos devido ao crescimento
lento da bactéria e da baixa sensibilidade.
A equipe do Serviço de Doenças
Bacterianas e Fúngicas do Instituto Octávio Magalhães da Funed, Laboratório
Central de Minas Gerais (Lacen/MG), vêm se dedicando há mais de uma década na
avaliação e desenvolvimento de métodos para aumentar a chance do diagnóstico
laboratorial da leptospirose em Minas Gerais. Neste ano, coincidindo com o
centenário da descoberta da doença, a Funed passa a oferecer a cultura de
leptospira para casos em que há suspeita clínica e epidemiológica da doença.
Amostras de sangue de todo o Estado poderão ser coletadas e encaminhadas para a
Funed.
A cultura de Leptospira sp.
é extremamente importante na identificação dos sorovares (diferentes tipos de
leptospiras) envolvidos em surtos ou epidemias, ou mesmo que circulam em
determinada região. Com a implantação do método, a Funed estará contribuindo
com este conhecimento para a melhor compreensão da relação
agente-hospedeiro e distribuição da Leptospira spp. no Estado.
“Esperamos que esta contribuição venha pautar as medidas de prevenção e
controle, assim como futuros protocolos para o diagnóstico laboratorial e o
correto tratamento da doença”, relata a diretora do Instituto Octávio Magalhães
da Funed, Marluce Assunção Oliveira.
Um pouco da história da doença
A leptospirose é uma zoonose de
importância global. A doença é conhecida desde Hipócrates, quem primeiro
descreveu a icterícia infecciosa. No Cairo, em 1800, a doença foi identificada
e diferenciada de outras por Larrey, médico militar francês, que observou no
exército napoleônico dois casos de icterícia infecciosa. AdolfWeil, em
1886, observou trabalhadores agrícolas na Alemanha com febre, icterícia, hemorragias, insuficiência
hepática e renal. Em honra ao notável pesquisador, em 1888, foi chamada
de Doença de Weil, que a caracterizou como uma doença grave
e de alta mortalidade. A leptospirose era conhecida com
diferentes nomes, incluindo febre dos pântanos, doença dos porqueiros ou tifo
bilioso.
A partir da Primeira Guerra Mundial, o
estudo da leptospirose teve um grande desenvolvimento, quando se sucederam
vários surtos da doença entre as tropas que se encontravam nas frentes de
batalha. Durante esse período, foram registrados 350 casos da doença na França.
Em 1915, o agente etiológico da leptospirose foi isolado pela primeira vez, no
Japão, por Inada e Ido, que detectaram a presença de leptospiras no sangue
de trabalhadores de mina com a síndrome infecciosa. Em paralelo, também foi
descrita por médicos alemães que estudaram soldados alemães afetados pela
"doença francesa" nas trincheiras do nordeste da França. Uhlenhuth e
Fromme observaram a presença de espiroquetas no sangue de cobaias inoculadas
com o sangue obtido a partir de soldados infectados. Os animais inoculados
morreram e as leptospiras foram identificadas microscopicamente, sendo chamadas
de “Spirochaeta Icterohaemorrhagiae”. Ido foi reconhecido como o
verdadeiro descobridor do agente causador da leptospirose apesar de não ter
sido o primeiro a observar o agente, mas por postar o primeiro trabalho na
Europa. Em 1917, propôs-se a criação do gênero Leptospira.
Prevenção e controle
De forma geral as principais medidas de prevenção e controle
da doença são controle da população de roedores, redução do risco de exposição
às águas e lama de enchentes, medidas de proteção individual para trabalhadores
ou indivíduos expostos a situação de risco, como o uso de luvas e botas;
conservação adequada de água e alimentos; armazenamento e destinação adequados
do lixo.
Texto: Marluce Assunção Oliveira
Assessoria de Comunicação Social
(31) 3314-4577
0 comentários:
Postar um comentário