Um biotério com capacidade para criar
até 3 mil peixes adultos do tipo paulistinha – também conhecido como zebrafish
(Danio rerio) – foi inaugurado na última sexta-feira (16/10) no Instituto
Butantan. A espécie tem sido cada vez mais usada como modelo em pesquisas
científicas, principalmente na área de saúde.
Batizada de Plataforma Zebrafish, a
nova estrutura foi montada no âmbito do Centro de Pesquisa em Toxinas, Resposta
Imune e Sinalização Celular (CeTICS), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e
Difusão (CEPIDs) financiados pela FAPESP.
“Nossa ideia é que o local possa
abrigar não apenas estudos do CeTICS como também de diversos outros grupos.
Inicialmente, isso seria feito por meio de colaborações em projetos de
interesse do CEPID que possam gerar inovação, artigos e teses. Mas, em um
futuro breve, também poderemos comercializar o animal – normal, mutante ou
transgênico –, bem como prestar serviços para a comunidade científica”, disse
Monica Lopes-Ferreira, pesquisadora principal e coordenadora da Plataforma
Zebrafish.
Além das estantes onde ficam os
aquários de criação, foram adquiridos para compor o laboratório microinjetores,
lupas e microscópios. O CeTICS também conta com outros equipamentos de ponta
essenciais para a realização de projetos na área de biologia molecular,
imunologia, proteômica e desenvolvimento de fármacos, como espectrômetro de
massa, citômetro de fluxo e aparelhos de sequenciamento.
“Temos o melhor sistema de criação de
zebrafish disponível e toda a estrutura necessária para as pesquisas. Se
pensarmos que a maioria dos estudos é feita com embriões do peixe e que cada
acasalamento gera em média 300 embriões, nosso aquário com capacidade para 3
mil animais adultos permitirá um número muito grande de projetos”, disse Lopes-Ferreira.
De acordo com o coordenador do
CeTICS, Hugo Aguirre Armelin, os trâmites para criar a plataforma começaram há
cerca de três anos, quando ainda estava vigente o Centro de Toxinologia
Aplicada (CAT), projeto aprovado no primeiro edital do programa CEPID e que
depois daria lugar ao CeTICS.
“Quando assumi a coordenação do CAT,
uma das iniciativas foi criar uma estrutura para pesquisas com zebrafish. Esse
tem sido um dos modelos de genética mais explorados no mundo há mais de duas
décadas e aqui no Brasil não há ainda nenhum laboratório fazendo um trabalho
realmente competitivo nessa área”, disse Armelin.
Segundo o coordenador do CeTICS, a
proposta é que o peixe comece a ser introduzido em ambientes de pesquisa onde
atualmente são usados principalmente camundongos e ratos.
Lopes-Ferreira, por exemplo, coordena
uma pesquisa na qual foram isoladas e caracterizadas quimicamente toxinas
encontradas em venenos de peixes. Em experimentos com camundongos, o grupo
observou que algumas dessas moléculas são capazes de inibir processos
asmáticos.
Lopes-Ferreira pretende agora
aprofundar o estudo em zebrafish, aplicando a toxina nos peixes e comparando a
expressão dos genes entre os grupos tratados e não tratados.
Vantagens
Além do custo de criação muito inferior
ao de qualquer mamífero, o zebrafish oferece diversas outras vantagens como
organismo modelo, conforme explicaram os pesquisadores.
Tem fácil manejo, pequeno porte (de 3
a 4 centímetros), alta taxa reprodutiva e rápido desenvolvimento. Evolui de ovo
a larva em até 72 horas e torna-se adulto com apenas 3 meses de idade. Vive até
os 5 anos, enquanto um camundongo não passa de 2 anos, e é possível usá-lo em
experimentação durante todos os estágios de desenvolvimento.
“O fato de os embriões serem totalmente
transparentes permite observar uma série de fenômenos, como, por exemplo, o
efeito de um composto sobre os órgãos, sem que seja necessário usar métodos
invasivos”, comentou Armelin.
Lopes-Ferreira ressalta que a espécie
já teve o genoma sequenciado e que aproximadamente 70% dos genes são
semelhantes aos dos humanos. “É relativamente fácil manipular o peixe
geneticamente para criar modelos de estudos de doenças”, disse a pesquisadora.
Para marcar a inauguração da nova
plataforma, a equipe do CeTICS ofereceu, entre os dias 5 e 9 de outubro, o
curso gratuito Manejo e Criação de Zebrafish. No dia 16 foi aberta ao público
uma exposição com painéis explicativos sobre a biologia do peixe e as possíveis
aplicações em pesquisa. No dia seguinte, como parte da programação da Virada
Científica da Universidade de São Paulo (USP), foram organizadas visitas ao
laboratório e um bate-papo com Lopes-Ferreira.
“Somente agora a ciência brasileira
está acordando para o zebrafish. Há no mundo cerca de 2 mil artigos feitos com
base em pesquisas que usaram esse modelo e apenas 40 são brasileiros. Queremos
aumentar esse número”, disse Lopes-Ferreira.
Karina Toledo | Agência FAPESP
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