Em audiência, especialistas
apontaram o risco de comercializar fosfoetanolamina sem experimentos prévios
que comprovem a eficácia
Alysson Muotri ouve o senador Hélio José durante
o debate sobre o desenvolvimento de tecnologia na área da saúde
A POLêMICA SOBRE a
liberação ou não do uso da fosfoetanolamina — substância ainda sem testes
clínicos, mas apontada como revolucionária no tratamento do câncer — acabou
chegando ontem a debate da Comissão de Ciência e Tecnologia (CCT) sobre o
desenvolvimento de tecnologias na área de saúde.
A questão da fosfoetanolamina foi
levantada pelos senadores Hélio José (PSD - DF), vice-presidente da CCT, e
Lasier Martins (PDT - RS). O assunto também será tema de audiência pública
conjunta com as Comissões de Assuntos Sociais (CAS) e de direitos Humanos
(CdH) na quinta-feira.
Entre os expositores convidados pela
CCT, prevaleceu o entendimento sobre o risco de comercializar um
medicamento sem experimentos prévios que comprovem sua eficácia e
segurança.
— A princípio, acho irresponsável
distribuir uma droga para o câncer sem passar por uma fase pré-clínica e
clínica rigorosa — opinou o biólogo Alysson Muotri, pesquisador do Instituto
Salk para Estudos Biológicos, na Califórnia, com foco em autismo.
Parecer similar foi dado pelo médico
e também pesquisador Marcelo Morales, diretor do CNPq.
— Entendo a ansiedade das pessoas
que têm câncer, deses- peradas em usar um remédio que dê resultado.
Mas, em relação à ciência, não se pode pular etapas — considerou.
Testes com animais
Outro assunto controvertido em pauta
foi o uso de animais em testes realizados pela in- dústria farmacêutica.
de acordo com Helder Constantino,
representante no Brasil da Human Society International (HSI), entidade que
luta pelo fim de testes com animais em laboratório, um crescente número
de artigos científicos tem demonstrado a
limitação dos testes de fárma- cos em animais, o que chegaria a
impedir a extrapolação dos dados obtidos para humanos.
— A abordagem da HSI é se aproximar
de cientistas que acreditam no potencial das no- vas tecnologias no
seu campo de pesquisa e trabalhar com eles — comentou Constantino, defendendo
a substituição de testes em animais por técnicas in vitro e computacionais.
Visão distinta foi expressada por
Marcelo Morales, para quem o desenvolvimento de um medicamento passa, obrigatoriamente, por testes em laboratório com animais, protegidos pela Lei
11.794/2008. de qualquer modo, ele observou que o CNPq já lançou a Rede
Nacional de Métodos Alternativos (Renama), admitindo ainda ser possível
alcançar, paulatinamente, a redução no uso de animais em laboratórios de
pesquisas.
Já Alysson informou usar modelos
animais nas pesquisas sobre autismo, mas reconheceu as limitações para
transpor os resultados para humanos. É nessa perspectiva que a Califórnia tem
investido no estudo de novos fárma- cos com modelos humanos (células-tronco),
acrescentou.
— Na Califórnia, você pode pular o
teste em animal, enquanto aqui é requisitado [para liberação comercial de
medicamento] — comentou.
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