Assim como nos jornais diários,
a reforma ministerial também está entre as prioridades das revistas
que circulam neste fim de semana.
Os sinais emitidos pelo governo, o impacto das mudanças na base aliada e os cenários de curto prazo impulsionam o noticiário.
O ajuste na equipe e o futuro da era Dilma Rousseff respondem pelo maior volume entre as publicações.
Registra-se a elevada capacidade de análise. Em praticamente todos os textos há juízos de valor sobre “erros e acertos” da petista.
As reportagens de capa, no entanto, se diferenciam. Essa variedade ajuda a compor um mosaico mais abrangente do que na semana passada.
CARTA CAPITAL centra forças em supostas intrigas e nos ruídos que, segundo a revista, colocam em xeque a permanência do ministro da Fazenda Joaquim Levy. Texto atribuí a fragilidade à “obsessão” de Levy pelo ajuste fiscal e à falta de sustentação política.
ISTOÉ expõe os dilemas petistas que, depois de cortes profundos no Orçamento, têm prejudicado a manutenção dos programas sociais. “O discurso da inclusão, tão caro a Lula e Dilma, ficou sem sentido. Ele faz parte do passado. Acabou”, resume.
Em ISTOÉ DINHEIRO, reportagem especial narra histórias de sucesso e superação de pessoas comuns que, em meio a crises, conseguiram enriquecer mudando de vida e de carreira.
VEJA publica a reportagem mais editorializada entre todas sobre a reforma ministerial e seus efeitos. Texto é bastante crítico à presidente Dilma Rousseff e investiga em detalhes a influência do ex-presidente Lula a partir de agora (leia a integra abaixo).
Em ÉPOCA, destaque para nova denúncia exclusiva que acusa o ex-presidente Lula de ter feito lobby em nome de empresas privadas na África.
Os sinais emitidos pelo governo, o impacto das mudanças na base aliada e os cenários de curto prazo impulsionam o noticiário.
O ajuste na equipe e o futuro da era Dilma Rousseff respondem pelo maior volume entre as publicações.
Registra-se a elevada capacidade de análise. Em praticamente todos os textos há juízos de valor sobre “erros e acertos” da petista.
As reportagens de capa, no entanto, se diferenciam. Essa variedade ajuda a compor um mosaico mais abrangente do que na semana passada.
CARTA CAPITAL centra forças em supostas intrigas e nos ruídos que, segundo a revista, colocam em xeque a permanência do ministro da Fazenda Joaquim Levy. Texto atribuí a fragilidade à “obsessão” de Levy pelo ajuste fiscal e à falta de sustentação política.
ISTOÉ expõe os dilemas petistas que, depois de cortes profundos no Orçamento, têm prejudicado a manutenção dos programas sociais. “O discurso da inclusão, tão caro a Lula e Dilma, ficou sem sentido. Ele faz parte do passado. Acabou”, resume.
Em ISTOÉ DINHEIRO, reportagem especial narra histórias de sucesso e superação de pessoas comuns que, em meio a crises, conseguiram enriquecer mudando de vida e de carreira.
VEJA publica a reportagem mais editorializada entre todas sobre a reforma ministerial e seus efeitos. Texto é bastante crítico à presidente Dilma Rousseff e investiga em detalhes a influência do ex-presidente Lula a partir de agora (leia a integra abaixo).
Em ÉPOCA, destaque para nova denúncia exclusiva que acusa o ex-presidente Lula de ter feito lobby em nome de empresas privadas na África.
CNI NA MÍDIA
BRASIL CONFIDENCIAL, na ISTOÉ,
adverte que “os Estados Unidos estão prestes a assinar um mega acordo comercial
com outros 11 países. E o Brasil está ficando de fora”.
Texto ressalta que se trata da Parceria Transpacífica, grupo que reunirá em uma área de livre comércio 40% do PIB mundial e 805 milhões de habitantes.
BRASIL CONFIDENCIAL adverte que um “estudo da Confederação Nacional da Indústria – CNI mostra que esse acerto poderá derrubar 2,7% das exportações nacionais”.
Como ponto de atenção, coluna afirma que, “enquanto isso, industriais brasileiros pressionam para que o Brasil e o Mercosul acelerem suas negociações comerciais e lancem novas discussões sobre barreiras não-tarifárias, investimentos, serviços, propriedade intelectual e compras governamentais”.
Texto ressalta que se trata da Parceria Transpacífica, grupo que reunirá em uma área de livre comércio 40% do PIB mundial e 805 milhões de habitantes.
BRASIL CONFIDENCIAL adverte que um “estudo da Confederação Nacional da Indústria – CNI mostra que esse acerto poderá derrubar 2,7% das exportações nacionais”.
Como ponto de atenção, coluna afirma que, “enquanto isso, industriais brasileiros pressionam para que o Brasil e o Mercosul acelerem suas negociações comerciais e lancem novas discussões sobre barreiras não-tarifárias, investimentos, serviços, propriedade intelectual e compras governamentais”.
ANÁLISE SETORIAL
Questões associadas às políticas
fiscal e tributária voltam a chamar a atenção das revistas.
Parte desse noticiário está inserida na cobertura política e/ou com foco na agenda do Congresso Nacional.
Um dos destaques está em ISTOÉ, que revela: um estudo do Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional (Sinprofaz) mostra que o Brasil perderá mais de meio trilhão de reais por causa da sonegação de impostos só neste ano.
Na mesma reportagem, ISTOÉ lembra que, em um ato contra o aumento de impostos e a volta da CPMF, a Fiesp instalou um pato inflável de 12 metros de altura no canteiro central da Esplanada dos Ministérios e espalhou outros no espelho d’água.
Ainda em ISTOÉ, o anuário AS MELHORES CIDADES DO BRASIL antecipa que Manaus, Itajaí e Porto Nacional mobilizam-se para melhorar índices de saneamento básico, saúde e educação.
Sobre Porto Nacional (TO), texto menciona que “o município também doou área para a Federação das Indústrias do Tocantins construir uma escola profissionalizante do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI)”.
Já a revista ÉPOCA, na seção DEBATES E PROVOCAÇÕES, afirma que o papel do Estado na retomada do crescimento continua a dividir liberais e desenvolvimentistas.
O economista Marcos Lisboa afirma em artigo relacionado à reportagem que “a maior transparência das políticas públicas e de instituições como FAT, FGTS, SISTEMA S e os sindicatos, patronais e dos trabalhadores, com a divulgação de balanços auditados de forma independente, colaboraria com a deliberação democrática sobre o uso de recursos arrecadados compulsoriamente e seus impactos sociais”.
Itens específicos atrelados à pauta estrutural da indústria ou com foco na conjuntura macroeconômica também chamam a atenção.
VEJA repercute a informação – amplamente divulgada pelos jornais – de que o Brasil perdeu 18 posições e ficou em 75º lugar entre 140 países no ranking de competitividade global, elaborado anualmente pelo Fórum Econômico Mundial.
Texto reforça que o Brasil melhorou em apenas três dos 12 pilares econômicos avaliados. “Houve avanço em infraestrutura, por causa da privatização de aeroportos”, pontua.
Entre os textos de opinião, registram-se dois em especial.
O ex-ministro Antonio Delfim Netto, na CARTA CAPITAL, opina que “o comportamento da bancada do PSDB que, com uma única exceção, votou pela rejeição dos vetos que Dilma Rousseff aplicou, corajosamente, às maluquices aprovadas pelos deputados, foi uma enorme frustração para a sociedade brasileira e diminuiu a dignidade da atividade política!”.
Segundo Delfim, “na melhor das hipóteses, portanto, os votos foram dados por covardia. Na pior, por um indecente instinto ‘golpista’”.
Já o ex-ministro Maílson da Nóbrega, em VEJA, escreve sobre o Plano Nacional de Educação (PNE) e como ponto de atenção afirma: “o desafio de melhorar a sua qualidade não está na falta de recursos, mas na forma como estes são utilizados”.
“É preciso repensar o PNE e a vinculação de recursos, uma forma errada de fixar prioridades. Os legisladores de hoje amarram os de amanhã”, completa Maílson da Nóbrega.
Destaque ainda para a agenda de infraestrutura. Tema – que nas últimas semanas não foi incorporado à pauta das revistas – volta a se impor e complementa o noticiário de interesse.
ISTOÉ DINHEIRO indica, por exemplo, que a operação Lava Jato está mudando o cenário competitivo no setor de infraestrutura do país e afirma que “estão surgindo oportunidades para outras companhias, como construtoras médias e grupos estrangeiros”.
“Para o governo, permitir a participação do maior número de interessados em projetos como os de rodovias e aeroportos é essencial para garantir que o novo plano de concessões, com investimentos previstos de mais de R$ 100 bilhões, saia do papel e contribua para deflagrar a recuperação da economia, relata ISTOÉ DINHEIRO.
Parte desse noticiário está inserida na cobertura política e/ou com foco na agenda do Congresso Nacional.
Um dos destaques está em ISTOÉ, que revela: um estudo do Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional (Sinprofaz) mostra que o Brasil perderá mais de meio trilhão de reais por causa da sonegação de impostos só neste ano.
Na mesma reportagem, ISTOÉ lembra que, em um ato contra o aumento de impostos e a volta da CPMF, a Fiesp instalou um pato inflável de 12 metros de altura no canteiro central da Esplanada dos Ministérios e espalhou outros no espelho d’água.
Ainda em ISTOÉ, o anuário AS MELHORES CIDADES DO BRASIL antecipa que Manaus, Itajaí e Porto Nacional mobilizam-se para melhorar índices de saneamento básico, saúde e educação.
Sobre Porto Nacional (TO), texto menciona que “o município também doou área para a Federação das Indústrias do Tocantins construir uma escola profissionalizante do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI)”.
Já a revista ÉPOCA, na seção DEBATES E PROVOCAÇÕES, afirma que o papel do Estado na retomada do crescimento continua a dividir liberais e desenvolvimentistas.
O economista Marcos Lisboa afirma em artigo relacionado à reportagem que “a maior transparência das políticas públicas e de instituições como FAT, FGTS, SISTEMA S e os sindicatos, patronais e dos trabalhadores, com a divulgação de balanços auditados de forma independente, colaboraria com a deliberação democrática sobre o uso de recursos arrecadados compulsoriamente e seus impactos sociais”.
Itens específicos atrelados à pauta estrutural da indústria ou com foco na conjuntura macroeconômica também chamam a atenção.
VEJA repercute a informação – amplamente divulgada pelos jornais – de que o Brasil perdeu 18 posições e ficou em 75º lugar entre 140 países no ranking de competitividade global, elaborado anualmente pelo Fórum Econômico Mundial.
Texto reforça que o Brasil melhorou em apenas três dos 12 pilares econômicos avaliados. “Houve avanço em infraestrutura, por causa da privatização de aeroportos”, pontua.
Entre os textos de opinião, registram-se dois em especial.
O ex-ministro Antonio Delfim Netto, na CARTA CAPITAL, opina que “o comportamento da bancada do PSDB que, com uma única exceção, votou pela rejeição dos vetos que Dilma Rousseff aplicou, corajosamente, às maluquices aprovadas pelos deputados, foi uma enorme frustração para a sociedade brasileira e diminuiu a dignidade da atividade política!”.
Segundo Delfim, “na melhor das hipóteses, portanto, os votos foram dados por covardia. Na pior, por um indecente instinto ‘golpista’”.
Já o ex-ministro Maílson da Nóbrega, em VEJA, escreve sobre o Plano Nacional de Educação (PNE) e como ponto de atenção afirma: “o desafio de melhorar a sua qualidade não está na falta de recursos, mas na forma como estes são utilizados”.
“É preciso repensar o PNE e a vinculação de recursos, uma forma errada de fixar prioridades. Os legisladores de hoje amarram os de amanhã”, completa Maílson da Nóbrega.
Destaque ainda para a agenda de infraestrutura. Tema – que nas últimas semanas não foi incorporado à pauta das revistas – volta a se impor e complementa o noticiário de interesse.
ISTOÉ DINHEIRO indica, por exemplo, que a operação Lava Jato está mudando o cenário competitivo no setor de infraestrutura do país e afirma que “estão surgindo oportunidades para outras companhias, como construtoras médias e grupos estrangeiros”.
“Para o governo, permitir a participação do maior número de interessados em projetos como os de rodovias e aeroportos é essencial para garantir que o novo plano de concessões, com investimentos previstos de mais de R$ 100 bilhões, saia do papel e contribua para deflagrar a recuperação da economia, relata ISTOÉ DINHEIRO.
O golpe do 3º mandato
Ameaçada de impeachment, cercada por
escândalo de corrupção e pressionada pela crise econômica que se agrava, Dilma
se rende e entrega o governo ao ex-presidente Lula e seus aliados do PMDB
Daniel Pereira
QUANDO CONQUISTOU A PRESIDÊNCIA,
Dilma Rousseff fixou como meta recuperar para as mãos do Estado pedaços da
máquina pública que estavam sob o controle de ruidosas engrenagens partidárias.
De forte apelo popular, essa estratégia de enfrentamento do fisiologismo
começou a sair do papel em grande estilo. Ao montar sua equipe, em 2011, ela
demitiu o PMDB do comando da Saúde, que tem o maior orçamento da Esplanada dos
Ministérios. A gerentona, valente e inabalável diante de pressões políticas,
punha o maior partido do país em seu devido lugar. Tudo em nome do interesse
nacional. Tudo ressaltado pela propaganda oficial. Em boa parte de seu primeiro
mandato, Dilma exerceu o poder na plenitude. Chegou a sobrepor suas vontades às
de próceres petistas em temas caros ao partido. Chegou a bater recorde de
popularidade. Eram tempos de glória para ela. Tempos que não voltam mais. Na
semana passada, a presidente - aprovada por apenas 10% da população, sem apoio
parlamentar e ameaçada de impeachment - aceitou transferir a tarefa de governar
a nomes escolhidos por Lula e caciques do PMDB.
Em troca de ajuda para completar seu
segundo mandato, ela renunciou de fato e passou a batuta ao antecessor. Depois
de meses de pressão, o criador, enfim, dobrou a criatura - e o terceiro mandato
de Lula começou. A rendição foi consumada por meio de uma reforma
administrativa que reduziu de 39 para 31 o número de ministérios, extinguiu
3000 cargos comissionados e prometeu economia com despesas de varejo, como
diárias e passagens. Dilma tirou do Palácio do Planalto pessoas que eram de sua
estrita confiança e formavam o coração de seu governo. Para substituí-las,
escalou quadros leais a Lula. Seguindo recomendação do ex-presidente, ela
também aumentou o número de ministérios controlados pelo PMDB, que recebeu de
volta a pasta da Saúde, aquela que, de acordo com a Dilma destemida de 2011,
jamais voltaria ao balcão de negócios montado pelo presidente de turno para
comprar apoio no Congresso. "Os governos de coalizão, como é o caso do meu
e de todos os governos depois da democratização, precisam de apoio no
Congresso. Nós vivemos em uma democracia e temos de dialogar com o Congresso
eleito pelo povo em favor da população", disse Dilma, convertida de novo
ao pragmatismo sem limites.
A principal mudança realizada ocorreu
na Casa Civil, com a saída de Aloizio Mercadante, que foi remanejado para a
Educação, e a entrada de Jaques Wagner. Lula nunca gostou de Mercadante. Além
de não esconder seu desapreço pessoal por ele, passou a responsabilizá-lo por
quase tudo o que considera errado no governo, do bate-cabeça na condução da
economia à demora da presidente em participar dos esforços destinados a barrar
o avanço das investigações da Operação Lava-Jato. O PMDB também fustigava
Mercadante, acusando-o de atrapalhar a relação do Executivo com o Legislativo e
de sabotar a atuação do vice-presidente Michel Temer quando este coordenava a
articulação política. Numa conversa recente, Temer perguntou a Dilma por que
ela não substituía Mercadante. "Porque o Jaques Wagner ligará para o Lula
de cinco em cinco minutos." O temor da presidente era claro. Nada que
impedisse sua capitulação. A contragosto, Dilma transferiu Miguel Rossetto da
Secretaria-Geral da Presidência, que foi extinta, para o Ministério do Trabalho
e, agora, também da Previdência Social.
Rossetto era atacado sistematicamente
por Lula, integrantes da corrente majoritária do PT e caciques peemedebistas.
Em coro, eles diziam que o ministro não virava um mísero voto no plenário e,
com um discurso de esquerdista que parou no tempo, não ajudava o governo a
encontrar soluções para os graves problemas enfrentados. Rossetto seria tão
amador quanto a presidente, de quem é amigo. Com a reforma, foi criada a
Secretaria de Governo. Ela reunirá atribuições de órgãos extintos e será tocada
por Ricardo Berzoini, que dava expediente no Ministério das Comunicações.
Parece um mero rearranjo. Só parece. Como Wagner, Berzoini é petista histórico
e milita nas hostes de Lula. Ele entrou na equipe de Dilma pelas mãos do
ex-presidente e jamais foi considerado um soldado da mandatária. Muito pelo
contrário. No primeiro mandato de Dilma, Berzoini ameaçou retaliar o governo
depois que perdeu influência em fundos de pensão de estatais, área em que
navegava com invejável desenvoltura e que foi transformada num manancial de
negócios escusos do PT. O núcleo do novo governo contará ainda com Edinho Silva
e José Eduardo Cardozo, que permanecem à frente da Secretaria de Comunicação
Social e do Ministério da Justiça.
Edinho foi tesoureiro da campanha à
reeleição de Dilma, mas reza pela cartilha de Lula e é habitué do instituto do
ex-presidente, considerado o QG de todas as grandes conspirações. Dilma só não
está completamente sozinha porque resistiu à ofensiva do PT e do PMDB para
substituir Cardozo. Lula, por exemplo, fez pressão para que o ministro fosse
substituído pelo próprio Temer. Dilma barrou o lobby e marcou seu gol de honra
contra o antecessor. Lula interveio na gestão da sucessora porque quer manter
vivas as chances de disputar a Presidência em 2018 e afastar o risco de ser
preso em razão do petrolão. Na seara política, sua meta era assumir o governo
por meio de prepostos e fortalecer a aliança com o PMDB. Assim foi feito. Na
reforma, Dilma deu sete ministérios aos peemedebistas, contemplando todas as
alas do partido. Até o deputado Celso Pansera (RJ) - aquele chamado pelo
doleiro Alberto Youssef de "pau-mandado" do presidente da Câmara,
Eduardo Cunha - foi acomodado na Esplanada. Ele comandará a pasta de Ciência e
Tecnologia. Por pouco
Dilma não nomeou um deputado que
defendera sua renúncia para a Saúde, que acabou nas mãos de Marcelo Castro
(PI). O baixo clero do PMDB está em festa.
A presidente se entregou gostosamente
ao loteamento porque precisa de votos para aprovar o ajuste fiscal e se livrar
de eventual processo de impeachment. Ao aceitar sete ministérios, o PMDB
mercadejou seu apoio como sempre fez. Nem por isso entregará a mercadoria
esperada. Como de costume, o partido está com um pé no governo e o outro na
oposição. Caso perceba que a situação de Dilma é insustentável, não terá pudor
de romper com ela e defender abertamente o seu impedimento. Hoje, a balança
peemedebista ainda pende levemente para um apoio a Dilma. Vários fatores, no
entanto, podem mudar essa situação. Por exemplo: a descoberta de uma prova de
que a reeleição foi financiada com dinheiro desviado da Petrobras, ou o
agravamento da crise econômica. Nos últimos meses, Lula criticou Dilma e o
ministro da Fazenda, Joaquim Levy, por falarem de ajuste fiscal sem prometer à
população que, depois dele, haverá um período de bonança econômica. Afinado com
economistas ligados ao PT como Mareio Pochmann, o ex-presidente queria a
demissão de Levy. Agora, trabalha com um plano alternativo. A ideia é convencer
Dilma a remanejar Levy para o Banco Central (BC), abrindo espaço para que
Henrique Meirelles assuma a Fazenda. Respeitada pelo mercado, a dupla daria um
choque de credibilidade ao governo. Meirelles, que comandou o BC no governo
Lula, já repetiu mais de uma vez que não tem nenhuma intenção de pôr novamente
os pés na nau petista.
Ao anunciar a mudança nos
ministérios, Dilma também apresentou medidas simbólicas de contenção de
despesas - entre elas, o corte de 10% em seu salário e no de seus ministros.
"Isso (reforma administrativa) vai contribuir para que o país saia mais
rapidamente da crise e vai ajudar as medidas de reequilíbrio fiscal e controle
da inflação, além de consolidar a estabilidade macroeconômica, aumentando a
confiança na economia", discursou a presidente, superestimando seu pacote.
O novo desenho da Esplanada foi tratado por Dilma e Lula numa reunião, no
Palácio da Alvorada. O ex-presidente é figura cada vez mais presente em
Brasília. Longe dos holofotes, ele tem como prioridade convencer os ministros
dos tribunais superiores a conter as investigações do petrolão. O escândalo
está nos calcanhares do PT e do governo. Quando negociava seu acordo de delação
premiada, Ricardo Pessoa, dono da UTC, disse a interlocutores que havia
financiado campanhas eleitorais de Jaques Wagner com dinheiro desviado da
Petrobras, o que, pelo que se sabe, não foi confirmado em depoimento
formal. Às autoridades. Pessoa declarou ter repassado 2,4 milhões de reais para
a reeleição de Lula em 2006, via caixa dois, e ter sido coagido por Edinho a
doar à campanha de Dilma de 2014, sob pena de perder contratos na Petrobras. Já
Berzoini é apontado como parceiro de longas caminhadas de Cláudio Mente, um dos
operadores do caixa alimentado com verba roubada da Petrobras.
Como fez no mensalão, Lula se lançou
numa ofensiva, com a ajuda de advogados e ex-ministros, para que a cúpula do
Judiciário coíba as supostas arbitrariedades cometidas pelo juiz Sérgio Moro,
por procuradores e por policiais federais ao apurar o maior escândalo de
corrupção da história do país. Na prática, ele trabalha pela absolvição dos
petrogatunos. A estratégia do petista é fechar um grande acordo entre os
presidentes dos três poderes que permita a condenação de políticos de baixo
clero e o salvamento dos ocupantes dos cargos mais relevantes da República.
Dilma relutou, mas aderiu a esse esforço. Numa visita recente a
Portugal, encontrou-se fora da agenda com o presidente do Supremo Tribunal
Federal (STF), Ricardo Lewandowski, para tratar do petrolão. Na semana passada,
governistas de peso acompanharam a posse no Superior Tribunal de Justiça (STJ)
de Marcelo Navarro, que integrará a turma responsável pelos processos relacionados
à Lava-Jato. Navarro chegou ao tribunal sob a bênção de peemedebistas
investigados no caso. Não são apenas as peças da política que se mexem no
tabuleiro. Nos bastidores do Judiciário, a movimentação é intensa - e distante
da necessária luz do dia. No começo de sua carreira política, o ex-presidente
Getúlio Vargas renunciou a um mandato de deputado sob a alegação de que
"quem se agacha demais perde com a indignidade do gesto o respeito que lhe
é devido". Dilma não renunciou formalmente, mas, fragilizada e solitária,
ajoelhou-se diante da turma do pixuleco, do PMDB e de seus bons contatos na
Justiça.
COLABOROU HUGO MARQUES (VEJA)
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