Ex-presidente do Confap, Mário
Neto Borges também aposta nos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia para
contornar as dificuldades orçamentárias. "É o programa mais importante de
fomento à ciência", afirmou.
Novo presidente do CNPq, Mário Neto Borges foi nomeado em
20 de outubro de 2016.
O novo presidente do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Mário Neto Borges,
enxerga nas parcerias com estados e empresas e na internacionalização da
pesquisa um caminho para a ciência brasileira superar a falta de recursos.
Outra aposta é no programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT),
que vai financiar 101 redes de pesquisa no próximo ciclo. Para ele, trata-se do
principal programa de fomento à ciência desenvolvido hoje no Brasil.
"Aceitei esse desafio
sabendo das dificuldades por que o país passa e, portanto, das recessões
orçamentárias que impactam na vida de uma agência de fomento. Mas as
perspectivas são positivas no sentido de que as crises nos levam a ser
criativos e a buscar opções para que possamos obter novas fontes de
financiamento", disse, em entrevista ao Portal MCTIC.
Nomeado presidente do CNPq em
20 de outubro, o engenheiro eletricista Mário Neto Borges coordenou a área
internacional do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa
(Confap), que presidiu por dois mandatos, de 2009 a 2013. Também ocupou os
cargos de diretor científico e presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de Minas Gerais (Fapemig), onde permaneceu de 2004 a 2014, e de reitor
da Universidade Federal de São João Del Rei (UFSJ), de 1998 a 2004.
Mário Neto Borges é natural de
Sacramento (MG), se graduou em engenharia elétrica pela Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais (PUC-MG) e possui mestrado em acionamentos elétricos
pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e doutorado em inteligência
artificial aplicada à educação pela Universidade de Huddersfield, da
Inglaterra. É professor aposentado da UFSJ, que se tornou universidade federal
sob sua reitoria.
MCTIC: O senhor assume o CNPq
com quais desafios e perspectivas?
Mário Neto Borges: Aceitei
esse desafio, a convite do ministro [da Ciência, Tecnologia, Inovações e
Comunicações, Gilberto] Kassab, sabendo das dificuldades por que o país passa
e, portanto, das recessões orçamentárias que impactam na vida de uma agência de
fomento. Mas as perspectivas são positivas no sentido de que as crises nos
levam a ser criativos e a buscar opções para que possamos obter novas fontes de
financiamento, por meio de parcerias com outros ministérios, com os estados,
pelas FAPs, com empresas e no exterior. Os 101 INCTs que nós estamos
financiando agora, nesse início, são o exemplo mais importante desse tipo de
solução que está sendo encontrada para superarmos as dificuldades do momento.
Então, o desafio é realmente contornar as restrições e voltar a colocar o CNPq
no lugar que ele merece, como principal agência de fomento à ciência no Brasil.
MCTIC: O que esperar do
segundo ciclo dos INCTs? A nova rede terá condições de ampliar o êxito dos oito
primeiros anos do programa?
Mário Neto Borges: Sem
sombra de dúvida, esse é o programa mais importante de fomento à ciência, não
só porque ele envolve os pesquisadores mais qualificados do Brasil, mas pelo
fato de que ele, também, por definição, é um programa em rede. No mínimo, três
estados têm que participar de cada projeto apoiado. Essa oportunidade agora é
para dar continuidade a um programa dessa importância e colocar o barco para
andar na medida em que esses recursos vão chegando, para que nós possamos
incentivar a ciência brasileira de forma a avançar nas fronteiras do
conhecimento, sempre se lembrando da importância de que eles sirvam, ainda,
como referência para qualificar pessoas de diversos níveis de educação e
contribuir na tarefa de fazer a difusão da ciência para o público leigo.
MCTIC: Quais áreas de pesquisa
merecem atenção nos próximos anos?
Mário Neto Borges: Em uma
agência de fomento, todas as áreas de pesquisa são importantes. Mas, sem sombra
de dúvida, quando temos que definir alguma prioridade, a saúde passa a ser uma
delas, porque, quando nós estabelecemos, como o CNPq tem, uma parceria com as
FAPs e o Ministério da Saúde no programa PPSUS, o Programa Pesquisa para o
Sistema Único de Saúde, nós estamos colocando a ciência como sendo um elemento
para melhorar a saúde pública. Então, esse é um aspecto muito relevante. Citei
esse como um exemplo, mas existem outros. Certamente, nós temos o cuidado de
levar em conta que todas as áreas do conhecimento são importantes para uma
agência de fomento à ciência, porque a ciência é ampla.
MCTIC: Como ajudar o país a
internacionalizar suas universidades?
Mário Neto Borges: O CNPq
pode ajudar a internacionalizar as universidades, os centros de pesquisa e as
empresas. A internacionalização é uma bandeira pela qual eu tenho um carinho
especial, desde o período em que passei na presidência da Fapemig até minha
experiência como coordenador da área internacional do Confap. Além de ter a
possibilidade de se relacionar com outros países, você acelera a produção
científica no país, por um lado, ao aumentar a qualificação da ciência
produzida, porque vai trabalhar com parceiros de países altamente qualificados.
Mas, muito importante também em um momento de crise é o fato de você trazer
recursos internacionais para alimentar pesquisa no Brasil. Então, exemplos como
as parcerias com o Reino Unido, por meio do Fundo Newton, ou a União Europeia,
por meio do programa Horizonte 2020, são exemplos patentes e reais de que a
internacionalização é fundamental. Agora, ela não fica só no âmbito da ciência.
Ela pode ser expandida para a educação, na troca de pesquisadores e alunos de
mestrado, doutorado e da própria graduação, e para as empresas, que podem, a
partir de parcerias que estejam sendo construídas em outros países,
especialmente na área da inovação, que envolve necessariamente o setor privado.
MCTIC: O senhor disse que
momentos de crise nos levam a ser criativos. Como a ciência pode enfrentar a
conjuntura econômica e o país evitar uma evasão de cérebros?
Mário Neto Borges: Essa
pergunta é muito importante porque ela dá oportunidade para dizer o seguinte:
investimento em ciência, tecnologia e inovação é fundamental. Por um lado, um
país, estando com a sua ciência, tecnologia e inovação alimentada de recursos,
realmente retém os seus cérebros e os incentiva a fazer pesquisa e desenvolver
projetos. O que a gente observa no mundo é que toda vez que há uma crise
econômica, os países mais desenvolvidos passam a investir mais em ciência,
tecnologia e inovação. A crise de 2008 é patente. Nós temos números que
demonstram isso, porque Estados Unidos, União Europeia, Coreia do Sul e China
passaram a aumentar investimento em ciência e tecnologia naquele momento em que
a crise era mundial. Por quê? Porque é um dos pilares de desenvolvimento
sustentável de longo prazo. Se você investe nisso, cria riqueza, oportunidade
de trabalho e produtos mais competitivos para o país, internamente e
internacionalmente. Portanto, esse investimento tem que ser feito sempre, mas
especialmente nos momentos de crise. E nós estamos tentando trabalhar agora,
nessa nova gestão, para mostrar que isso é importante no CNPq, na Finep
[Financiadora de Estudos e Projetos] e na Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior], que são as três agências federais, para que o
Brasil possa, então, superar essa dificuldade e criar essas condições de um
desenvolvimento sustentável de longo prazo, que gere riqueza, porque é muito
importante você distribuir a riqueza. O Brasil tem muitas desigualdades, mas,
para distribuir riqueza, você tem que gerar riqueza. E para gerar riqueza hoje,
de forma sustentável, necessariamente se precisa de ciência, tecnologia e
inovação.
Fonte: MCTIC Crédito: Ascom