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sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Para novo presidente do CNPq, parcerias são o caminho para ciência superar crise

Ex-presidente do Confap, Mário Neto Borges também aposta nos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia para contornar as dificuldades orçamentárias. "É o programa mais importante de fomento à ciência", afirmou.

Novo presidente do CNPq, Mário Neto Borges foi nomeado em 20 de outubro de 2016.

O novo presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Mário Neto Borges, enxerga nas parcerias com estados e empresas e na internacionalização da pesquisa um caminho para a ciência brasileira superar a falta de recursos. Outra aposta é no programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT), que vai financiar 101 redes de pesquisa no próximo ciclo. Para ele, trata-se do principal programa de fomento à ciência desenvolvido hoje no Brasil.

"Aceitei esse desafio sabendo das dificuldades por que o país passa e, portanto, das recessões orçamentárias que impactam na vida de uma agência de fomento. Mas as perspectivas são positivas no sentido de que as crises nos levam a ser criativos e a buscar opções para que possamos obter novas fontes de financiamento", disse, em entrevista ao Portal MCTIC.

Nomeado presidente do CNPq em 20 de outubro, o engenheiro eletricista Mário Neto Borges coordenou a área internacional do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), que presidiu por dois mandatos, de 2009 a 2013. Também ocupou os cargos de diretor científico e presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), onde permaneceu de 2004 a 2014, e de reitor da Universidade Federal de São João Del Rei (UFSJ), de 1998 a 2004.

Mário Neto Borges é natural de Sacramento (MG), se graduou em engenharia elétrica pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG) e possui mestrado em acionamentos elétricos pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e doutorado em inteligência artificial aplicada à educação pela Universidade de Huddersfield, da Inglaterra. É professor aposentado da UFSJ, que se tornou universidade federal sob sua reitoria.

MCTIC: O senhor assume o CNPq com quais desafios e perspectivas?
Mário Neto Borges: Aceitei esse desafio, a convite do ministro [da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Gilberto] Kassab, sabendo das dificuldades por que o país passa e, portanto, das recessões orçamentárias que impactam na vida de uma agência de fomento. Mas as perspectivas são positivas no sentido de que as crises nos levam a ser criativos e a buscar opções para que possamos obter novas fontes de financiamento, por meio de parcerias com outros ministérios, com os estados, pelas FAPs, com empresas e no exterior. Os 101 INCTs que nós estamos financiando agora, nesse início, são o exemplo mais importante desse tipo de solução que está sendo encontrada para superarmos as dificuldades do momento. Então, o desafio é realmente contornar as restrições e voltar a colocar o CNPq no lugar que ele merece, como principal agência de fomento à ciência no Brasil.

MCTIC: O que esperar do segundo ciclo dos INCTs? A nova rede terá condições de ampliar o êxito dos oito primeiros anos do programa?
Mário Neto Borges: Sem sombra de dúvida, esse é o programa mais importante de fomento à ciência, não só porque ele envolve os pesquisadores mais qualificados do Brasil, mas pelo fato de que ele, também, por definição, é um programa em rede. No mínimo, três estados têm que participar de cada projeto apoiado. Essa oportunidade agora é para dar continuidade a um programa dessa importância e colocar o barco para andar na medida em que esses recursos vão chegando, para que nós possamos incentivar a ciência brasileira de forma a avançar nas fronteiras do conhecimento, sempre se lembrando da importância de que eles sirvam, ainda, como referência para qualificar pessoas de diversos níveis de educação e contribuir na tarefa de fazer a difusão da ciência para o público leigo.

MCTIC: Quais áreas de pesquisa merecem atenção nos próximos anos?
Mário Neto Borges: Em uma agência de fomento, todas as áreas de pesquisa são importantes. Mas, sem sombra de dúvida, quando temos que definir alguma prioridade, a saúde passa a ser uma delas, porque, quando nós estabelecemos, como o CNPq tem, uma parceria com as FAPs e o Ministério da Saúde no programa PPSUS, o Programa Pesquisa para o Sistema Único de Saúde, nós estamos colocando a ciência como sendo um elemento para melhorar a saúde pública. Então, esse é um aspecto muito relevante. Citei esse como um exemplo, mas existem outros. Certamente, nós temos o cuidado de levar em conta que todas as áreas do conhecimento são importantes para uma agência de fomento à ciência, porque a ciência é ampla.

MCTIC: Como ajudar o país a internacionalizar suas universidades?
Mário Neto Borges: O CNPq pode ajudar a internacionalizar as universidades, os centros de pesquisa e as empresas. A internacionalização é uma bandeira pela qual eu tenho um carinho especial, desde o período em que passei na presidência da Fapemig até minha experiência como coordenador da área internacional do Confap. Além de ter a possibilidade de se relacionar com outros países, você acelera a produção científica no país, por um lado, ao aumentar a qualificação da ciência produzida, porque vai trabalhar com parceiros de países altamente qualificados. Mas, muito importante também em um momento de crise é o fato de você trazer recursos internacionais para alimentar pesquisa no Brasil. Então, exemplos como as parcerias com o Reino Unido, por meio do Fundo Newton, ou a União Europeia, por meio do programa Horizonte 2020, são exemplos patentes e reais de que a internacionalização é fundamental. Agora, ela não fica só no âmbito da ciência. Ela pode ser expandida para a educação, na troca de pesquisadores e alunos de mestrado, doutorado e da própria graduação, e para as empresas, que podem, a partir de parcerias que estejam sendo construídas em outros países, especialmente na área da inovação, que envolve necessariamente o setor privado.

MCTIC: O senhor disse que momentos de crise nos levam a ser criativos. Como a ciência pode enfrentar a conjuntura econômica e o país evitar uma evasão de cérebros?
Mário Neto Borges: Essa pergunta é muito importante porque ela dá oportunidade para dizer o seguinte: investimento em ciência, tecnologia e inovação é fundamental. Por um lado, um país, estando com a sua ciência, tecnologia e inovação alimentada de recursos, realmente retém os seus cérebros e os incentiva a fazer pesquisa e desenvolver projetos. O que a gente observa no mundo é que toda vez que há uma crise econômica, os países mais desenvolvidos passam a investir mais em ciência, tecnologia e inovação. A crise de 2008 é patente. Nós temos números que demonstram isso, porque Estados Unidos, União Europeia, Coreia do Sul e China passaram a aumentar investimento em ciência e tecnologia naquele momento em que a crise era mundial. Por quê? Porque é um dos pilares de desenvolvimento sustentável de longo prazo. Se você investe nisso, cria riqueza, oportunidade de trabalho e produtos mais competitivos para o país, internamente e internacionalmente. Portanto, esse investimento tem que ser feito sempre, mas especialmente nos momentos de crise. E nós estamos tentando trabalhar agora, nessa nova gestão, para mostrar que isso é importante no CNPq, na Finep [Financiadora de Estudos e Projetos] e na Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior], que são as três agências federais, para que o Brasil possa, então, superar essa dificuldade e criar essas condições de um desenvolvimento sustentável de longo prazo, que gere riqueza, porque é muito importante você distribuir a riqueza. O Brasil tem muitas desigualdades, mas, para distribuir riqueza, você tem que gerar riqueza. E para gerar riqueza hoje, de forma sustentável, necessariamente se precisa de ciência, tecnologia e inovação.

Fonte: MCTIC Crédito: Ascom


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