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sábado, 19 de novembro de 2016

O risco de falar de doenças usando metáforas de guerra e vitória

Cuidar da saúde não é guerra

Nosso cérebro não é um palco de guerra, e as metáforas de embate prejudicam os doentes, defende pesquisador

Falar sobre um problema de saúde fazendo comparações com a guerra é muito comum quando cientistas, médicos e pesquisadores tentam explicar seus esforços - e a comparação é feita tanto quando eles falam aos meios de comunicação de massa, quanto quando apresentam trabalhos em congressos para seus pares.

Embora isso possa motivar esforços para lidar com a questão, esse tipo de linguagem e as mensagens que ela passa também podem criar medo e estigma, transformar os pacientes em vítimas e desviar recursos que seriam melhor aplicados na prevenção, de um lado, ou em cuidados de importância crítica, de outro.

Essas conclusões foram apresentadas pelo Dr. Daniel George, da Escola de Medicina da Universidade da Pensilvânia (EUA).

"Se aplicadas de maneira descuidada, metáforas de guerra podem iludir nosso senso do que é possível terapeuticamente, e dar falsa esperança para as pessoas e cuidadores que estão sofrendo", argumenta ele.

Metáforas de resistência
George e seus colegas argumentam que as metáforas e narrativas que tratam a doença como algo a ser atacado pode ser socialmente prejudicial para as pessoas afetadas.

Embora seu uso até seja proveitoso quando se lida com doenças infecciosas causadas por patógenos específicos, que causam surtos ou epidemias, essas metáforas tornam-se problemáticas quando se tenta discutir diversas síndromes associadas à idade, como Alzheimer ou Parkinson, que podem não ser completamente curáveis.

Desta forma, as metáforas de guerra na medicina podem levar a modos de pensar que podem não ser em nada produtivos, nem cientificamente e menos ainda socialmente.

A sugestão de George e seus colegas é que cientistas, médicos e demais profissionais de saúde avancem para diferentes tipos de metáforas - de um tipo que encoraje o uso de palavras como "retardar" ou "adiar" a progressão da doença, em vez de "prevenir" ou "curar", além de enfatizar a construção de uma "resiliência" em relação aos processos de envelhecimento no cérebro, em vez de visar a "vitória absoluta" sobre uma doença.

Metáforas de guerra podem iludir nosso senso do que é possível terapeuticamente e dar falsa esperança para as pessoas e cuidadores que estão sofrendo .Dr. Daniel George

Guerra contra o inimigo errado
O uso das metáforas de guerra é particularmente comum nas referências à doença de Alzheimer, diz George, argumentando que elas devem ser substituídas por mensagens de resiliência contra uma condição complexa, associada à idade, que pode não ser completamente derrotável.

Apesar de décadas de falhas no desenvolvimento de medicamentos contra o Alzheimer, a atenção dos cientistas continua a se concentrar em drogas que "atacam" um composto molecular chamado beta amiloide, com o objetivo de curar a doença, quando os estudos mais recentes mostram que as beta-amiloides podem nem mesmo ser "inimigas".

As pesquisas, afirma George, mostram que o aparecimento das placas de amiloide não se correlaciona com os sintomas clínicos do Alzheimer, além do que essas placas têm sido repetidamente encontradas nos cérebros de um terço dos idosos normais, que não desenvolvem a doença, o que sugere que as placas de amiloide podem ser, no mínimo um sintoma, e não uma causa do dano neurológico.

Com isto, um número crescente de pesquisadores acredita que declarar "guerra" contra a doença de Alzheimer "atacando" as placas de amiloides beta pode, em última instância, ser um exercício de autoagressão - e que a insistência nessa linha de pesquisas está drenando recursos que poderiam ser dirigidos para outras abordagens.

Redação do Diário da Saúde, Imagem: Allan Ajifo/Wikimedia


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