Pesquisadores
do Instituto de Química da Universidade Estadual Paulista (Unesp) desenvolveram
em parceria com colegas da University of Oxford, da Inglaterra, uma plataforma
tecnológica que pode resultar na criação de biossensores ultrassensíveis para o
diagnóstico rápido e precoce de uma série de doenças, como câncer de mama e de
próstata, mal de Parkinson, Alzheimer, entre outras.
“A
plataforma tecnológica que temos desenvolvido é tão sensível que permitiria
detectar câncer de próstata, por exemplo, em um estágio muito inicial, quando
ainda há poucas células cancerígenas em circulação e que seriam impossíveis de
serem diagnosticadas por meio de uma biópsia, por exemplo”, explica o professor
da Unesp de Araraquara e coordenador do projeto, Paulo Roberto Bueno.
O
método consiste na medição da presença de anticorpos específicos, proteínas ou
outros biomarcadores (parâmetros biológicos mensuráveis que permitem conhecer o
estado de uma doença ou a resposta a um fármaco) numa amostra de sangue ou
outros tipos de amostras biológicas por meio de eletrodos em escala
microscópica.
“Esse
processo nos permite criar um sistema ultrassensível e altamente seletivo para
determinar a presença de moléculas biológicas de interesse clínico em uma
amostra de sangue, por exemplo”, afirmou Bueno.
A
fim de identificar apenas um tipo de molécula de interesse dentre milhares de
outras presentes na amostra de sangue de um paciente, o sistema faz uma análise
espectroscópica de substâncias baseada na produção e interpretação de seus
espectros de capacitância (grandeza elétrica).
K
“Essa
tecnologia também permite a combinação de vários eletrodos para detectar a
presença e quantificar diversos biomarcadores simultaneamente, como os
associados ao câncer de próstata”, exemplificou o pesquisador.
O
principal biomarcador da doença é o Antígeno Prostático Específico (PSA) que,
em níveis elevados, indica o desenvolvimento desse que é o segundo tipo de
câncer que mais causa mortes de homens no Brasil – atrás apenas do câncer de
pulmão. Os níveis de PSA, contudo, podem variar naturalmente.
A
fim de determinar o risco de um paciente desenvolver câncer de próstata, o
método pode rastrear ao mesmo tempo o PSA e outros biomarcadores, como o PSA
total e uma proteína chamada PAP, também relacionada à doença. Se o sistema
detectar que todas essas três proteínas estão variando de forma constante e
concomitante em um determinado paciente, o médico pode identificar o risco de
desenvolvimento da doença e encaminhá-lo para um tratamento preventivo. “O
mesmo conceito é válido para outras doenças degenerativas, como o mal de
Parkinson e Alzheimer, que necessitam de diagnóstico precoce”, avaliou.
Os
pesquisadores vislumbram a possibilidade de utilizar a tecnologia para fazer
diagnóstico emergencial de outras doenças, como a dengue e as causadas pelo
Zika vírus, no local de ocorrência.
Em
vez de coletar a amostra de sangue de um paciente com suspeita de infecção pela
dengue ou Zika vírus e enviá-la a um laboratório para análise – o que pode
demorar semanas –, o método poderia ser usado para analisar a amostra na
própria residência por agentes de saúde.
Os
resultados dos exames poderiam ser encaminhados via internet para um hospital
da região onde o paciente seria encaminhado para tratamento.
Bueno
explica que, além de agilizar o diagnóstico, o método pode ser útil para mapear
focos dessas doenças e alertar o sistema de saúde, por meio da criação de um
banco de dados inteligente, possível de ser atualizado diariamente.
Potencial de mercado
A
tecnologia resultou em cinco patentes, depositadas pela University of Oxford em
cotitularidade com a Unesp e divididas entre pesquisadores das duas
instituições.
De
olho no potencial de mercado do sistema, a universidade britânica fundou um
spin-off – empresa nascente de base tecnológica derivada de uma instituição de
pesquisa –, chamada Oxford Impedance Diagnostics, que licenciou três das cinco
patentes e pretende ampliar o desenvolvimento da plataforma tecnológica.
A
startup obteve um financiamento “semente” (seed money) de 2 milhões de libras
esterlinas – equivalente a quase R$ 7 milhões – de investidores, incluindo
fundos de investimento da própria University of Oxford, e investidores “anjos”.
“O
modelo de negócios da empresa indica que em até oito anos devem ser criados
alguns testes rápidos que serão comercializados internacionalmente para
detecção de uma série de doenças com base na plataforma tecnológica que estamos
desenvolvendo”, afirmou Bueno.
(Agência
Gestão CT&I/ABIPTI, com informações da Fapesp)
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