O
atual ciclo recessivo da economia brasileira, iniciado em dezembro de 2014,
atingiu em setembro o segundo pior resultado da história. Já dura nove
trimestres e acumula queda de produtividade de 7,9%. O efeito dominó do
desaquecimento da economia se reflete em queda de investimentos em diversos
setores, entre eles o de ciência, tecnologia e inovação (CT&I). Com poucos
recursos públicos para fomentar as atividades de pesquisa e desenvolvimento
(P&D), um dos principais mecanismos para as empresas inovadoras tocarem
seus negócios são os fundos de investimentos privados.
De
acordo com um estudo feito pela Associação Brasileira de Private Equity &
Venture Capital (Abvcap), o capital comprometido vem crescendo de forma
consistente nos últimos quatro anos. Em 2012, esse valor era de 52,7 bilhões e
atingiu, em 2015, a marca de R$ 102,4 bilhões. Atualmente há cerca de 800
fundos atuantes no Brasil.
Os
fundos de Private Equity e de Venture Capital são mecanismos que compram ações,
entre 5% e 20%, de companhias que apresentam negócios inovadores e com
potencial de crescimento em escala local regional e global. A diferença entre
eles é o porte da empresa. O Venture Capital é voltado para empresas de pequeno
e médio porte, com faturamento anual entre R$ 5 milhões e R$ 100 milhões. Já o
Private Equity visa empreendimentos consolidados com faturamento anual na casa
dos R$ 100 milhões.
Esses
fundos são uma importante ferramenta para impulsionar negócios no ecossistema
de inovação brasileiro, principalmente de startups. Os recursos financiam as
primeiras expansões e levam o negócio a novos patamares no mercado.
Nesta
segunda-feira (17), a Conferência da Associação Nacional de Entidades
Promotoras de Empreendimentos Inovadores dedicou um painel para aproximar os
gestores de ambientes de inovação – como parques tecnológicos e incubadoras e
aceleradoras de empresas – dos fundos de Venture Capital e trocar experiências
sobre como atrair esses recursos.
Para
o presidente da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos
Inovadores (Anprotec), Jorge Audy, no modelo atual de empreendedorismo
inovador, os agentes investidores são fundamentais. “Estes recursos são
importantes para manter o setor em crescimento. O ecossistema brasileiro de
inovação está em crescimento e precisa de investimentos para continuar
competitivo”, disse o presidente da Anprotec, na abertura do painel.
A
maior parte dos fundos de Venture Capital tem sede no Rio de Janeiro e em São
Paulo. A concorrência para acessar os investimentos é grande, mas as chances
são iguais para todos. Os critérios apontados pelos investidores como
determinantes para o aporte no projeto são inovação, diferenciais competitivos
relevantes, mercado abrangente, equipe qualificada e potencial de
rentabilidade.
“Os
pontos fundamentais que os fundos de investimento procuram são: um empreendedor
que tem sede de crescer e mercado escalável. É preciso alguém com vontade de
ganhar dinheiro. Tem que ser um negócio que cresça em um ritmo maior que
o desenvolvimento normal das coisas.”, disse o membro do Conselho Deliberativo
da Abvcap, Clóvis Meurer, em entrevista à Agência CT&I.
Desafios
e oportunidade
Um
dos desafios do mercado de Venture Capital e Private Equity é a cultura do
empreendedorismo. A avaliação é do CEO da Bran Ventures, Marcelo Almeida, que é
o consultor operacional do Primatec, fundo lançado em 2015 pela Finep para
investir em empresas de base tecnológica vinculadas à incubadoras de empresas
ou parques tecnológicos.
“Muitas
vezes o empreendedor não entende que o investidor é um sócio. Eles terão um
relação direta no dia a dia. O papel do investidor não é só aportar dinheiro.
Ele está lá para ajudar no processo de inovação e negócios, dando dicas e
apontando onde o negócio deve ser aprimorado. Isso é reflexo da baixa cultura
do brasileiro em empreender.”
O
Primatec, que administra R$ 100 milhões, tem como diferencial “transformar”
parques e incubadoras em parceiros locais do fundo. “Esse modelo faz com que
eles nos ajudem a prospectar negócios e a acompanhar os resultados. E
serão remunerados por isso, com base em resultados”, afirmou.
De
acordo com Clóvis Meurer, os gestores dos ambientes de inovação podem desempenhar
um importante papel na atração desses investimentos. “Os parques deveriam
buscar investidores locais e regionais para fazer a primeira aplicação de
recursos no empreendimento. Esse é um caminho interessante que facilita a vinda
dos fundos maiores para colocar dinheiro.”
Modalidades
Além
do Private Equity e do Venture Capital, os investidores privados também
utilizam o capital semente para impulsionar as atividades de empresas. O
público alvo dessa ferramenta são os novos negócios. Muitas vezes, são ainda
ideias ou projetos no papel. Na outra ponta, estão pessoas ou instituições que
buscam altos retornos e estão dispostas a correr riscos, conhecidos como
investidores anjos. Eles buscam, preferencialmente, empresas inovadoras e de
base tecnológica, as startups.
(Felipe
Linhares, da Agência Gestão CT&I)
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