A Organização Pan-Americana da
Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) promoveu, nos últimos dois dias,
uma série de palestras e mesas redondas na agenda do 12º Congresso Brasileiro
de Saúde Coletiva (Abrascão). Diversos temas foram discutidos, entre eles o
acesso a medicamentos como um direito à saúde e a contribuição do programa Mais
Médicos para o Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil.
Um dos destaques deste sábado
(28) foi a palestra sobre a estratégia Zero Morte Materna, da OPAS, dedicada à
prevenção da mortalidade materna por hemorragia pós-parto. Haydee Padilla –
coordenadora de Família, Gênero e Curso de Vida do escritório da Organização no
Brasil – deu início ao evento apresentando o convidado Bremem De Mucio,
assessor regional em saúde sexual e reprodutiva do Centro Latino-Americano de
Perinatologia, Saúde da Mulher e Reprodutiva (CLAP/SMR).
Haydee ponderou que a taxa de
mortalidade materna diminuiu significativamente nas regiões – de 62,4% para
cada 100 mil nascidos vivos em 2007 para 46,8% para cada 100 mil nascidos vivos
em 2016. No entanto, a coordenadora afirmou que mais esforços são necessários
para combater essa “epidemia silenciosa”. “A mortalidade materna continua a ser
um desafio para a saúde pública. Quase todos os casos podem ser evitados e
sabemos que a pobreza é um fator-chave nas desigualdades de gênero, raça e
etnia”, disse.
Durante sua exposição, De
Mucio explicou como o processo de desenho da estratégia foi conduzido. “O
projeto foi traçado com a meta de reduzir ao menos 5% da mortalidade materna
por hemorragia”, contou. Para isso, foram desenvolvidas quatro áreas de
intervenção. Uma delas, essencial para o processo, foi a criação de uma ferramenta
online capaz de analisar os países da região de acordo com a fórmula matemática
utilizada no Sistema das Nações Unidas. Ele contou que uma parte significativa
dos países produz seus próprios indicadores de mortalidade materna por
hemorragia e que, por isso, a OPAS desenvolveu um sistema de informação que une
essas estatísticas e facilita a avaliação adequada.
O assessor regional também
citou o marco institucional do plano de ação regional para assegurar a redução
da mortalidade materna e a morbidade materna grave. “O cenário epidemiológico
indicava que, a cada cinco mortes maternas, uma era provocada por hemorragia.
Ressalto, como Haydee disse, que a mortalidade materna é totalmente evitável e
não há sentido em ter mortes por hemorragia”, sublinhou.
O projeto foi implementado em
quatro países, com análises feitas seis meses antes e seis meses depois da
intervenção. Segundo De Mucio, percebeu-se na última avaliação uma melhora
significativa nos registros clínicos. “Novas rotinas institucionais foram
incorporadas na atenção de emergências obstétricas. O impacto na mortalidade
requer mais estudos, porém não houve mortes por hemorragia pós-parto em nenhuma
dessas instituições após a implantação do projeto.”
Acesso a medicamentos e acesso
e cobertura de saúde
“Medicamentos essenciais –
avançando a uma agenda global para uma abordagem regional” foi o tema da mesa
redonda realizada nesta sexta-feira (27). Tomás Pippo, coordenador de
Medicamentos e Tecnologia em Saúde da OPAS/OMS Brasil, foi um dos expositores.
Ele explicou que o acesso aos medicamentos está intimamente ligado ao direito à
saúde e que as famílias que são obrigadas a pagarem por esses medicamentos,
usando dinheiro do próprio bolso, podem ser empurradas para uma situação de
pobreza.
“Garantir o acesso efetivo e
equitativo aos medicamentos apresenta vários desafios, entre eles, o
crescimento dos preços, um fator limitante para a sustentabilidade dos sistemas
de saúde; a efetividade dos tratamentos; e o fato de que as despesas
farmacêuticas podem chegar entre 25% a 65% do gasto total em saúde de uma
pessoa”, afirmou Pippo. Ele lembrou que, em países desenvolvidos, esses custos
variam entre 7% e 30%. Pippo listou as 10 principais causas de ineficiência dos
sistemas de saúde. Os medicamentos estão envolvidos em três delas: a
subutilização de medicamentos genéricos e preços mais altos que o esperado, o
uso de medicamentos falsificados ou de baixa qualidade e o uso inapropriado e
ineficaz de medicamentos. “A redução das despesas desnecessárias em
medicamentos e um melhor uso deles, somados a uma melhora no controle de
qualidade, poderiam gerar economias aos países de até 5% do gasto em saúde.”
Mais Médicos
A contribuição do Mais Médicos
para a sustentabilidade do Sistema Único de Saúde (SUS) foi abordada pela mesa
redonda coordenada por Gabriel Vivas, coordenador do programa na OPAS/OMS no
Brasil. Para a discussão, foram convidados especialistas da Universidade
Federal da Bahia (UFBA) e Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
“O programa Mais Médicos
começou há cinco anos e já podemos considerá-lo uma política exitosa de uma
perspectiva regional, sendo um dos maiores investimentos em atenção primária à
saúde na região das Américas”, argumentou. Vivas também apresentou a Plataforma
de Conhecimento do Mais Médicos, lançada em 2015 pela OPAS. A ferramenta possui
mais de 400 artigos sobre o programa produzidos por autores nacionais e
internacionais. Saiba mais no link: https://goo.gl/66a6PL.
Experiências exitosas de
outros países
Katia de Pinho Campos,
coordenadora de Determinantes da Saúde, Doenças Crônicas Não Transmissíveis e
Saúde Mental da OPAS/OMS no Brasil, encabeçou uma mesa redonda sobre inovação
na atenção primária à saúde para o controle de condições crônicas. Nela,
convidados da Espanha, Canadá e Banco Mundial compartilharam junto a dezenas de
espectadores exemplos exitosos de inovação baseados em seus países.
Austeridade e saúde
Outra mesa redonda, conduzida
pelo coordenador de Sistemas e Serviços de Saúde da Representação da OPAS/OMS
no Brasil, Renato Tasca, deu voz a três especialistas que falaram sobre os
riscos e efeitos da austeridade para a saúde da população. As gravações das
oficinas, palestras e mesas redondas estão disponíveis no link https://www.youtube.com/channel/UCZsVg7kvQGv7-fuoGsWKyuw.