Com abordagens que sinalizam para os desafios que os ajustes das contas públicas propostos pela nova equipe econômica do governo, revistas que circulam neste fim de semana reservam espaço para a conjuntura macroeconômica e insere o setor fabril entre os itens que merecem atenção.
Entre os temas em destaque na pauta dos semanários, há registro das 800 demissões na Volkswagen e 244 na Mercedes-Benz, nesta semana, seguidas de greves nas duas montadoras do ABC paulista. Textos avaliam o cenário para o setor.
- Com chamada de capa, reportagem da ÉPOCA adverte que a promessa da presidente Dilma Rousseff de ajustar as contas públicas de forma indolor é uma “tarefa impossível” e que “as demissões aumentarão e o governo terá de persistir e negociar”. “A queda de empregos na indústria é a que mais nos chama a atenção. Mas acredito que o nível de desemprego, em 2015, ficará em torno de 4,8%, como está hoje”, afirma à reportagem Manoel Dias, ministro do Trabalho e Emprego.
- Como ponto de atenção, mesma abordagem alerta: “Na indústria, a situação é mais clara e pior. O indicador de emprego da Confederação Nacional da Indústria (CNI) caiu continuamente de março a outubro, indicando, mês a mês, mais demissões. No Estado de São Paulo, onde há maior concentração de indústrias, ao longo de 2014, houve no setor 88 mil demissões a mais que admissões, segundo a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Não é razoável supor que os outros setores, como comércio e serviços, compensem indefinidamente essa perda”.
- Nessa mesma linha, ISTOÉ DINHEIRO registra que as demissões na indústria automotiva são reflexo da retração no mercado de veículos e da falta de perspectivas econômicas. Conforme a reportagem, “o cenário para 2015 é recheado de desafios diante do ajuste econômico que está sendo promovido pelo governo federal”.
- Já a ISTOÉ registra que por trás da greve na Volkswagen esconde-se a primeira batalha entre o governo e o movimento sindical, “que teme ver suas conquistas ameaçadas pela nova política econômica”.
- LEONARDO ATTUCH, na ISTOÉ, afirma que é praticamente um consenso, entre economistas, que o Brasil necessita de um ajuste fiscal e adverte que a “grande dificuldade é encontrar a dose certa do remédio, especialmente no momento em que a economia começa a emitir sinais de fragilidade no seu indicador mais importante, que é o emprego”.
- Segundo ATTUCH, ainda que os cortes resultem de problemas internos das empresas, “é inegável que as empresas são também afetadas pelo fim da política de desonerações fiscais – um regime de incentivos que, com Joaquim Levy e Nelson Barbosa na economia, não tem data para voltar”.
A posse dos novos ministros e a primeira semana de trabalho do novo governo é outro assunto que está em evidência na cobertura das revistas.
- Nesse sentido, ISTOÉ DINHEIRO destaca que a nova equipe econômica do governo está afinada. Conforme a reportagem, no discurso de posse, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy disse à plateia empresarial que o início do segundo mandato da presidente Dilma será marcado por um ajuste das contas públicas. “O equilíbrio fiscal é a chave para a confiança e o desenvolvimento do crédito, que permite a mais empreendedores levarem à frente seus projetos e, com isso, contribuírem para a geração de emprego, o bem-estar geral e a riqueza da nação”, afirmou.
- Conforme a mesma reportagem, o novo ministro do Desenvolvimento, Armando Monteiro Neto, tomou posse prometendo retomar o diálogo com o setor privado e estimular as exportações brasileiras, especialmente do setor industrial. “O mercado internacional nos oferece mais oportunidades do que ameaças”, disse o ministro. Para DINHEIRO, trata-se de uma mudança de postura em relação ao primeiro mandato de Dilma, quando a ordem era proteger o mercado nacional. “Não há política industrial sem uma política ativa de comércio exterior”, afirmou o novo ministro, que presidiu a CNI (Confederação Nacional da Indústria).
- “Maior interlocução é tudo o que vinham pedindo os empresários, especialmente da indústria, que no ano passado teve queda de 3,2% na produção até novembro”, pontua DINHEIRO na mesma reportagem, que publica ainda declaração atribuída ao presidente da CNI, ROBSON BRAGA DE ANDRADE, sobre o novo ministro do Desenvolvimento: “Ele tem uma visão muito moderna do que o País e a indústria precisam, e saberá negociar no Congresso e dentro do governo”.
- PRIMEIRO PLANO, na ÉPOCA, posiciona que “começou bem o trabalho da nova equipe econômica do governo federal, em sua missão vital de reduzir o gasto público. Ao lado do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e do ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, o Executivo conta com técnicos competentes no comando do Tesouro Nacional (Marcelo Saintive) e da Receita Federal (Jorge Rachid)”.
- “O equilíbrio fiscal é indispensável para continuarmos no exitoso caminho de ampliar as oportunidades para nosso povo”, disse Levy, segundo a coluna. “Das palavras à ação, as medidas de contenção de gastos anunciadas até a quinta-feira passada demonstram sagacidade e não são exageradas”, avalia PRIMEIRO PLANO.
- PODER, na ISTOÉ DINHEIRO, assinala que “o novo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro Neto, quer abrir novas frentes de comércio para os produtos brasileiros, especialmente os industrializados”. Segundo a coluna, “parece um pouco óbvio – afinal, o objetivo da pasta é justamente o de fomentar o comércio – mas difere radicalmente da postura adotada no primeiro da presidenta Dilma Rousseff”.
- “Monteiro, em seu primeiro discurso no cargo, deu sinais de que vai buscar qualificar a indústria brasileira para competir lá fora. ‘O mercado é o grande tribunal da competitividade’, afirmou. Prometeu também fortalecer os canais de representação empresarial junto ao governo e ouvir o setor privado”, registra PODER.
- Coluna lembra que Monteiro foi presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e que anunciou, para as próximas semanas, um plano nacional de exportações, que será elaborado com participação do setor privado. “É preciso esperar a prática. Mas o discurso, pelo menos, já evoluiu”, avalia PODER.
- BRASIL CONFIDENCIAL, na ISTOÉ, registra que "será em março a estreia de Joaquim Levy num megaevento mundial. O ministro da Fazenda chefiará a delegação brasileira na Assembleia dos Governadores do Banco Interamericano de Desenvolvimento, em Busan, cidade onde fica o maior porto da Coreia do Sul".
- Em nota complementar, BRASIL CONFIDENCIAL assinala que "na Coreia, Joaquim Levy explicará a nova política monetária e fiscal do Brasil a colegas de 48 países membros da instituição e debaterá o relatório de final de ano do BID, que estimou em 2,2% o crescimento econômico da América Latina e do Caribe em 2015".
Em relação à nomeação dos demais ministros, tom das abordagens é crítico. Revistas avaliam as dissonâncias identificadas, logo nos primeiros dias, entre os discursos feitos pelos integrantes do novo governo.
- ISTOÉ aponta que o início do segundo governo de Dilma Rousseff foi marcado pela “falta de sintonia” entre integrantes do primeiro escalão. “Na primeira semana de trabalho, os ministros chamaram mais a atenção por brigas e divergências internas do que pela pauta de ações do novo governo”, afirma a reportagem.
- Texto exemplifica que “falta de sintonia” expôs o novo ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, a um episódio constrangedor, que, “interpelado pela presidente, Barbosa teve que se desmentir”. Reportagem aponta também uma “colisão frontal” entre os novos ministros da Agricultura, Kátia Abreu, e do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias, que “resolveram imprimir um tom ideológico ao discorrerem sobre as políticas e os objetivos de suas áreas e acabaram invadindo as atribuições da pasta coirmã”.
- Mesma reportagem acrescenta que, ao assumir a Cultura, Juca Ferreira teve de justificar a aliados o motivo de sua antecessora, a senadora Marta Suplicy, do mesmo partido que o seu (PT), ter feito críticas tão agressivas à sua indicação.
- Também nesse sentido, VEJA aponta que "os novos ministros de Dilma divergem em público, são renegados por seus partidos e levam pito da presidente, sem habilidade para conciliar diferenças". Na avaliação da revista, “à exceção do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, os notórios o são mais por fatos que gostariam de ver esquecidos do que pela excelência reconhecida em suas áreas”.
- “Menos de uma semana depois da posse, os novos ministros mostraram que: 1) têm divergências fundamentais entre si (além de Kátia Abreu, da Agricultura, x Patrus Ananias, do Desenvolvimento Agrário, declararam suas discordâncias, em alto e bom som, Armando Monteiro, do Desenvolvimento, x Arthur Chioro, da Saúde, na questão da volta da CPMF); 2) não têm o apoio de sua própria sigla (Cid Gomes, da Educação, foi renegado pelo Pros, assim como Helder Barbalho, cujo partido, o PMDB, anunciou que não tem nada a ver com sua indicação); 3) não entendem de suas pastas (‘Mas entendo de gente’, tentou compensar o pastor evangélico e novo ministro do Esporte, George Hilton)”, indica VEJA.
- O cientista político Rubens Figueiredo afirma à reportagem que a falta de nomes de prestígio “é reflexo da estratégia de Dilma para tentar depender menos do PMDB, o maior partido do Congresso, e compor com as siglas menores”.
- MINO CARTA, em editorial na CARTA CAPITAL, avalia, em tom crítico, a nomeação de alguns ministros do segundo mandato de Dilma Rousseff. Ele menciona que “surgem sinais de que um dos trunfos brasileiros em meio à crise global, o baixo índice de desemprego, começa a ensaiar uma tendência de alta. Com Joaquim Levy na Economia, cabe o temor de que o esboço se torne obra feita e acabada, mais uma conspícua oferenda ao deus mercado”.
- Para o jornalista, a intenção do governo com as nomeações era “garantir um transcurso mais ou menos tranquilo ao segundo mandato de Dilma. Como se fazer mais ou menos o que a oposição faria, com o useiro apoio da mídia nativa, tivesse o condão de colocar a presidenta a salvo, ao menos em boa parte, da virulência dos ataques daquelas”. Ainda na avaliação de MINO CARTA, “Dilma precisa de melhores conselheiros”.
- ISTOÉ notícia que o corte de cerca de 30% nas despesas dos ministérios é apenas o primeiro passo para o ajuste fiscal anunciado pelo novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy. “O surpreendente foi a presença do Ministério da Educação no topo das pastas atingidas pelo bloqueio de recursos. Representa a antítese do que Dilma Rousseff prometeu em sua posse”, aponta a reportagem. “O corte mensal anunciado na pasta é de R$ 586 milhões, um valor quase quatro vezes maior do que o bloqueio no Ministério da Defesa, segundo colocado na lista, com R$ 157 milhões.”
O futuro da Petrobras também está em destaque em algumas abordagens e é assunto de capa da CARTA CAPITAL.
- Reportagem alerta para os riscos e ameaças que rondam a Petrobras e aponta como a "Guerra Fria" do petróleo afeta o futuro da estatal. Conforme a CARTA, “o abalo da estatal e da sua cadeia produtiva, responsáveis por 10% do PIB e 15% do investimento total do País, poderá provocar uma crise sistêmica de impacto considerável na economia se não for enfrentado apropriadamente”.
- Texto sugere também que “só a retomada urgente dos negócios entre a Petrobras, os fornecedores e demais integrantes da cadeia de negócios, acompanhada da punição dos responsáveis pelos desmandos nessas organizações, evitará o aumento da dificuldade de obtenção de crédito pelas empresas”.
- Em entrevista à CARTA CAPITAL, o ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli fala sobre o escândalo de corrupção na estatal e de como ele tem o poder de afetar a empresa e o Brasil. Segundo ele, o Brasil precisa recuperar o crescimento. “E isso em boa medida será feito com os investimentos em infraestrutura. {...} Essa retomada precisa ser realizada com a participação das empresas brasileiras, com conteúdo nacional. Para o Brasil crescer, ele precisa da Odebrecht, da Queiroz Galvão, da Camargo Corrêa, da OAS. Se essas empresas quebrarem, compromete-se essa retomada”, defende.
- Com foco econômico, VEJA adverte que o petróleo barato já estimula o consumo e acelera a economia global, mas o Brasil pode sofrer com os efeitos sobre a Petrobras. Reportagem aponta que o Brasil está, na teoria, do lado das economias que se beneficiam mais do que são prejudicadas, porque importa petróleo e derivados mais do que exporta. “Espremida pelo escândalo do petrolão e por uma dívida de 330 bilhões de reais, a Petrobras precisa bancar os investimentos para ampliar a exploração do pré-sal”, sugere.
O ataque ocorrido no semanário Charlie Hebdo, que vitimou 12 pessoas, em Paris, coloca em destaque a pauta internacional na cobertura das revistas. O atentado terrorista é assunto de capa da VEJA, ISTOÉ e ÉPOCA e também está em evidência na CARTA CAPITAL e ISTOÉ DINHEIRO. ÉPOCA é a revista que confere o maior peso e volume ao atentado, com reportagens especiais e uma série de artigos de opinião de seus colunistas.
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