A principal bandeira de política
externa da presidente Dilma Rousseff, o programa Ciência sem Fronteiras, causou
uma saia justa com os EUA às vésperas da visita da líder brasileira à Casa
Branca.
O Brasil tem atrasado
sistematicamente os pagamentos de mensalidades e taxas para as universidades
americanas que participam do programa, segundo a Folha apurou
com autoridades do governo brasileiro e americano.
A Casa Branca entrou em contato com o
governo brasileiro e advertiu que o país precisa saldar as dívidas, porque isso
poderia acabar vindo a público e prejudicar a visita.
Iniciado em 2011, o programa prevê
concessão de até 101 mil bolsas em quatro anos –75 mil financiadas com recursos
do governo e 26 mil pela iniciativa privada. Foram implementadas pouco mais de
78 mil, e hoje há 22.064 bolsistas brasileiros nos EUA.
A dívida relativa ao primeiro
semestre deste ano superava US$ 300 milhões, além de cerca de US$ 40 milhões do
segundo semestre de 2014.
Em maio, foi feito um pagamento das
dívidas mais urgentes e pequena parte dos atrasados do ano passado. E a
promessa era fazer mais um pagamento nesta segunda-feira (29), antes da reunião
de Dilma com Obama no Salão Oval, que ocorre na terça (30).
A Folha apurou que a
maior vítima de atrasos de pagamento do governo brasileiro era a Universidade
da Califórnia. O governo americano quer resolvê-los da forma mais discreta
possível –o programa interessa muito às universidades do país, por ser uma nova
fonte de receita.
"Os atrasos eram grande
preocupação, mas, depois que foram reiniciados os pagamentos, ficamos um pouco
mais tranquilos. Vamos ver como evolui", disse à Folha uma
autoridade dos EUA.
Já haviam sido relatados atrasos dos
pagamentos de ajuda de custo do Brasil aos bolsistas do programa.
Os pagamentos são feitos pela Capes
(Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, ligada ao
Ministério da Educação) para a Fulbright-Institute of International Education,
que repassa às universidades.
A Capes nega atraso. Em resposta por
e-mail à Folha, em 9 de junho, o ministério afirmou: "A Capes
informa que tem dado andamento ao pagamento das faturas dos parceiros
internacionais. Na semana passada, o MEC liberou R$ 322 milhões, cujo repasse
pela Capes aos referidos parceiros encontra-se em fase de tramitação
bancária".
Indagada novamente se não há atrasos,
a Capes negou e disse que o calendário de pagamento tem sido seguido.
ACORDO COM A NASA
O governo Dilma finaliza um acordo de
intercâmbio para estudantes brasileiros com a Nasa, a agência espacial
americana, durante a viagem da presidente aos EUA.
O convênio será destinado sobretudo a
alunos de graduação inscritos no programa Ciência sem Fronteiras.
Os estudantes aceitos poderão usar
parte da bolsa para bancar o estágio. Segundo a Folha apurou,
o governo terá como custo extra uma taxa de administração à Nasa.
A presidente tem agenda prevista no
Nasa Ames Reserch Center, no Vale do Silício, na Califórnia, no dia 1º de julho
(quarta-feira) à tarde.
Colaborou THAIS BILENKY,
de Nova York, PATRÍCIA CAMPOS MELLO ENVIADA ESPECIAL DA FOLHA
DE S. PAULO A WASHINGTON