O Brasil está perto de ter um
medicamento totalmente desenvolvido no país. Pesquisadores do Instituto
Butantan, em São Paulo, apostaram na saliva do carrapato-estrela, de onde
conseguiram retirar uma molécula para tratar alguns tipos de câncer, como o melanoma,
um câncer de pele e tumores do pâncreas e dos rins.
A Organização Mundial da Saúde
calcula que o Brasil terá, em 2015, mais de 24 mil novos casos desses três
tipos de câncer. A descoberta, meio inusitada, foi por acaso, quando o grupo
estava pesquisando um novo remédio para evitar a coagulação do sangue.
No laboratório, a molécula do
carrapato-estrela foi testada em células humanas normais e doentes. No primeiro
grupo, não acontecia nada, mas no segundo, a molécula matava células que tinham
tumores.
“E aí o projeto teve uma
mudança de rota. Nós resolvemos, além da atividade anticoagulante, começar a
entender por que essa molécula matava células tumorais.”, diz a doutora Ana
Marisa Chudzinski, do Laboratório de Bioquímica do Instituto Butantan.
Os cientistas começaram a
testar a substância em animais.
“Cada ponto desses é uma
metástase. E aqui tem o pulmão de um animal tratado. Foi induzido um tumor no
pulmão na mesma condição que esse aqui, que não foi tratado”, explica Ana
Maria.
A molécula usada nos testes
não é mais extraída do carrapato, mas produzida em larga escala em laboratório.
O próximo passo da pesquisa é o teste clínico, para confirmar se o remédio vai
mesmo servir para os seres humanos. Lá se vão 12 anos de estudos.
“Nós conseguimos fazer desde o
início, desde a pesquisa-básica até a produção final do medicamento
viabilizando esse produto para sociedade e isso é um processo inovador, que não
é só brasileiro. Isso é um conceito de inovação internacional”, explica Alexander
Precioso, da Divisão de Ensaios Técnicos do Instituto Butantan.
Grande parte dos remédios vem
da natureza. E o Brasil tem uma das maiores biodiversidades do mundo. Só que os
cientistas acham que a burocracia não ajuda a conhecer melhor essa riqueza, mas,
agora, o estudo de plantas e animais é a base de uma nova lei que pode
facilitar a vida dos pesquisadores.
A lei sobre a biodiversidade
brasileira, recentemente aprovada,
simplifica o acesso ao material retirado da natureza. Uma das mudanças é
que o pesquisador vai poder se cadastrar pela internet, sem ter que apresentar
tantos documentos para começar o trabalho.
Mas alguns grupos acreditam
que as novas regras são mais favoráveis aos cientistas do que às comunidades
indígenas, que também têm direito a essa riqueza.
O horto da faculdade de
medicina da Universidade Federal do Ceará é o campo de trabalho do professor
Manoel Odorico. A equipe dele descobriu uma planta que tem uma atividade
anticâncer. “Dessa folha, é de onde se tira a substância que a gente determinou
que tem efeito anticâncer”, diz o professor.
O estudo foi publicado em uma
revista científica internacional. No Brasil, por causa da burocracia, não foi
adiante. Mas nos Estados Unidos, foi diferente. A descoberta chamou a atenção
de pesquisadores da Universidade de Harvard. A substância acabou patenteada
pelos americanos. E mais: já é testada em humanos lá fora.
“Perde o país, perdemos nós
pesquisadores, perde a universidade e perdem, principalmente, os pacientes que
deixam de ter um medicamento genuinamente nacional a um custo bem abaixo do que
é cobrado pelas indústrias farmacêuticas internacionais”, lamenta Manoel
Odorico de Moraes, da Universidade Federal do Ceará.
No Brasil, os pesquisadores
esperam mais estímulos para produzir trabalhos, como o teste do
carrapato-estrela, que é brasileiro do início ao fim.
Fonte: G1
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