Área: GGMON Número: 22018 Ano: 2018
Resumo: A Gerência de Farmacovigilância – GFARM alerta sobre novas informações
de segurança para medicamentos que contém o princípio ativo besilato de
anlodipino.
Identificação do produto ou caso: Besilato de anlodipino
Problema:
Após revisão de dados de literatura, a agência regulatória europeia –
EMA (European Medicines Agency) recomendou a inclusão em bula de novas
informações de segurança para medicamentos que contém o princípio ativo
besilato de anlodipino. As atualizações recomendadas são:
- Adicionar advertência de interação medicamentosa entre anlodipino e
rifampicina;
- Revisar a advertência sobre o risco de excreção de anlodipino no
leite materno;
- Incluir Necrólise Epidérmica Tóxica como reação adversa ao
medicamento com frequência desconhecida.
O documento no qual a agência europeia recomenda as alterações de bula
citadas pode ser visualizado na íntegra através do link:
Ação:
Levando-se em consideração os dados científicos e clínicos, a GFARM
concluiu que a atualização das bulas dos medicamentos que contém o fármaco
besilato de anlodipino, no que diz respeito à inclusão da interação
medicamentosa entre anlodipino e rifampicina e a revisão da informação sobre
excreção de anlodipino no leite materno é indispensável e deve ser realizada
pelos detentores de registro dos produtos que ainda não possuem tais
informações, nos moldes da recomendação feita pela EMA.
A inclusão da Necrólise Epidérmica Tóxica como reação adversa, no
entanto, continua em avaliação, uma vez que as evidências ainda não se
mostraram totalmente conclusivas.
Histórico:
Em 23/03/2018, a GFARM tomou conhecimento da recomendação realizada
pela agência regulatória europeia para a atualização do SmPC (Resumo das
características do produto) e da bula de medicamentos que contém o princípio
ativo anlodipino.
Para confirmar a plausibilidade das recomendações da EMA, foi realizada
pesquisa, pela GFARM, de informações de literatura científica, estudos clínicos
publicados e bancos de dados de notificações de eventos adversos.
Segundo literatura, o fármaco anlodipino é predominantemente
metabolizado pela CYP3A4, isoenzima da família do citocromo P4501. Na presença
de rifampicina, uma forte indutora da CYP3A4, outros fármacos que são
substratos para a CYP3A4 podem se tornar ineficazes2, a exemplo do anlodipino.
Portanto, a interação medicamentosa entre os insumos farmacêuticos ativos
anlodipino e rifampicina é altamente possível.
Em relação ao risco de excreção de anlodipino no leite materno,
determinado estudo clínico3 avaliou 31 mulheres no pós-parto com hipertensão
induzida pela gravidez as quais receberam anlodipino diariamente por via oral.
Amostras simultâneas de sangue materno e leite materno foram obtidas dentro de
3 semanas após o parto. Resultados mostraram que as mulheres lactantes tinham
altas concentrações plasmáticas de anlodipino durante o período incial
pós-parto. O anlodipino foi transferido para o leite materno no mesmo nível que
o do plasma sanguineo da mãe. Ainda, segundo informações de estudo clínico
disponibilizadas pela EMA no documento em que recomenda a revisão da bula dos
produtos com anlodipino, a proporção da dose materna recebida pelo bebê foi
estimada com intervalo interquartil de 3 a 7%, com um máximo de 15%. Portanto,
existem evidências reais da excreção de anlodipino no leite materno.
Para verificar a plausibilidade da inclusão da Necrólise Epidérmica
Tóxica como reação adversa ao anlodipino, foi realizada pesquisa de
notificações dessa reação nos bancos de dados Notivisa4, Periweb5 e Vigilyze6.
Não foram encontradas notificações desta reação nas duas primeiras bases de
dados, e, no Vigilyze6, foram verificadas 81 notificações de Necrólise
Epidérmica Tóxica para o medicamento besilato de anlodipino. No entanto, dados
estatísticos desta base de dados indicam não haver alta correlação entre a
reação adversa e o medicamento. Lembramos que, apesar de a notificação
espontânea ser um dos principais instrumentos utilizados pela
farmacovigilância, uma das limitações de um sistema de notificações de
suspeitas de reações adversas a medicamentos é o fato de que o registro de
notificações não indica necessariamente problemas com o medicamento, do mesmo
modo que a ausência de notificações não é garantia de inexistência de problemas
com um determinado produto.
Em complemento, foi realizada pesquisa em literatura científica em que
foram encontrados artigos que correlacionam o evento adverso com o medicamento.
Segundo Özkaya &Yazganoglu (2014)7, erupções cutâneas graves como síndrome
de Stevens Jhonson e Necrólise Epidermica Tóxica foram reportadas com o uso de
anlodipino. Baetz et al (2011)8, trouxe, em outro artigo, relato de um caso de
indução de Necrólise Epidérmica Tóxica por anlodipino, que, segundo os autores,
foi o primeiro caso publicado do tema.
Recomendações:
· Após co-administração de
indutores conhecidos do CYP3A4, a concentração plasmática de anlodipino pode
variar. Portanto, a pressão arterial deve ser monitorada e a regulação da dose
considerada durante e após a medicação concomitante, particularmente com
indutores fortes do CYP3A4 (por exemplo, rifampicina).
· A experiência em seres
humanos indica que o anlodipino é transferido para o leite materno humano. A
decisão sobre continuar/interromper o aleitamento materno ou
continuar/interromper o tratamento com anlodipino deve ser feita tendo em conta
o risco-benefício da amamentação para a criança e da terapia com anlodipino
para a mãe.
· Em casos de suspeitas de
eventos adversos a medicamentos que contém o princípio ativo anlodipino, a
comunicação pelos pacientes pode ser realizada por meio dos canais disponíveis
pela Anvisa para atendimento ao cidadão: Central de Atendimento ao Público e Ouvidoria.
Para o profissional de saúde, a Anvisa disponibiliza o
sistema Notivisa4 para a realização das notificações.