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terça-feira, 20 de maio de 2014

Fortalecer a cadeia de valor da saúde


Patricia Marrone[1]
O setor de materiais e equipamentos médicos e diagnóstico in Vitro, também conhecido como indústria de “produtos para saúde” é um dos mais dinâmicos. A receita de vendas dessa indústria em todo o mundo foi estimada em cerca de US$250 bilhões de dólares, com crescimento anual perto 6%. O Brasil é o segundo maior mercado entre os países emergentes e consome US$12 bilhões desses produtos ou 5% da demanda mundial. O mercado brasileiro cresce à taxa de 10% ao ano!
Mas o pleno aproveitamento do potencial desse mercado no Brasil não está ocorrendo. As compras do Sistema Único de Saúde (SUS) respondem por 35% a 65% do mercado, dependendo do produto. E a má gestão diminuiu o ritmo das compras, além de acarretar enormes desperdícios ao sistema.

O Relatório Sistêmico de Fiscalização da Saúde, do Tribunal de Contas da União (TCU), divulgado em março de 2014 trouxe fortes evidências de grande desorganização no fluxo de pacientes, equipamentos e insumos entre as redes de atenção básica, hospitalar, emergências e UTIs.

A superlotação dos leitos de internação foi verificada entre os 114 hospitais visitados. E há mais problemas: superlotação das principais emergências hospitalares, com pacientes atendidos ou internados nos corredores das unidades, em macas ou aguardando a realização de cirurgia, quartos com número de pacientes acima do planejado e a permanência de pacientes em leitos após a alta médica. A principal causa da superlotação das emergências apontada foi a baixa resolutividade da atenção básica, que leva a população a buscar atendimento nos hospitais.  A dificuldade de acesso a consultas ambulatoriais com especialistas, exames de diagnóstico e cirurgias eletivas desvia os pacientes para o atendimento de emergência.

O TCU entendeu que se a atenção básica cumprisse suas funções na Rede de Atenção à Saúde (ser base, ser resolutiva, coordenar o cuidado e ordenar as redes), a demanda por atendimentos nas emergências hospitalares seria menor e, consequentemente, o custo para o Sistema Único de Saúde também seria reduzido. A falta de vagas em leitos de UTI no  SUS também foi observada na maioria dos 116 hospitais visitados e decorre da inexistência dessas unidades, da falta de profissionais ou equipamentos e da gestão/regulação inadequada dos leitos existentes.

O relatório também mostrou a assustadora dimensão da insuficiência de medicamentos e insumos e falta de infraestrutura física, de manutenção de equipamentos e da má administração operacional dos estoques de materiais.  Nesse sentido, a restrição na realização de procedimentos devido à falta de insumos e a utilização de medicamentos e insumos de alto custo para substituir materiais de baixo custo, que se encontravam em falta na unidade, foram verificados. Falhas no processo de licitação e compras foram os motivos mais apontados pelos gestores de hospitais entrevistados para essas ocorrências. O desperdício de medicamentos e insumos foi confirmado em 39% das unidades visitadas. A carência de instrumentos de gestão na área de medicamentos e insumos foi levantada por 53% e a falta de instrumentos e mobiliários básicos foi relatada em 48% dos casos.

Mas, como organizar esse sistema caótico? Ajustes radicais na gestão deverão ser feitos através do fortalecimento da cadeia de valor de saúde. Com esses ajustes, fabricantes de produtos farmacêuticos, materiais, insumos e equipamentos médico-hospitalares, distribuidores, hospitais e farmácias poderiam diminuir os seus estoques, reduzir custos e ainda prover informações necessárias para o avanço tecnológico e aumento do valor adicionado dos produtos fabricados no Brasil.

Um estudo da consultoria McKinsey, intitulado “Fortalecendo a cadeia de suprimentos da saúde” e dois livros de Lawton R. Burns, da famosa escola de negócios Wharton, mostram a importância da informatização nos pontos de uso do sistema de saúde para o melhor planejamento. Apontam também para a importância da definição de padrões comuns de classificação de produtos e processos nesse setor, para que a partir das informações sobre o uso dos produtos possam ser feitas estatísticas e o planejamento operacional. A colaboração entre os integrantes dos elos da cadeia também seria fundamental para o sucesso desse plano.

[1] Economista e sócia da Websetorial, consultoria econômica e de política industrial para entidades de classe patronais. Atende a ABIIS – Aliança Brasileira da Indústria Inovadora em Saúde. E-mail: pmarrone@websetorial.com.br

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