Atualmente, em países de baixa
e média renda, 11% dos pacientes que passam por cirurgias são infectados no
procedimento. Nos Estados Unidos, complicações operatórias causadas por
microrganismos geram custos adicionais de 900 milhões de dólares por ano. Conjunto
de 29 novas recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) é primeiro guia
global com indicações para prevenir e acabar com o problema.
Novas diretrizes da OMS buscam
acabar com infecções contraídas na mesa de cirurgia.
Pessoas que se preparam para
cirurgias devem sempre tomar banho, mas não serem depiladas, e antibióticos só
devem ser usados para prevenir infecções antes e durante o procedimento, não
depois. As recomendações fazem parte das novas orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) para prevenir
complicações operatórias causadas por microrganismos. Diretrizes foram
divulgadas na quinta-feira (3) no The Lancet Infectious Diseases.
Atualmente, em países de baixa
e média renda, 11% dos pacientes que passam por cirurgias são infectados no
procedimento. Na África, até 20% das mulheres submetidas a cesáreas contraem
infecção na ferida — o que compromete a própria saúde e também sua habilidade
de cuidar dos bebês.
O documento publicado nesta
semana reúne 29 diretrizes — elaboradas por 20 dos principais especialistas globais
e a partir de 26 revisões de evidências científicas — para evitar complicações
ligadas a agentes patogênicos.
Mais cedo ou mais tarde,
muitos de nós precisarão de cirurgia, mas nenhum de nós quer pegar uma infecção
na mesa de operação.
A OMS esclarece que as
infecções cirúrgicas são causadas por bactérias que penetram no corpo através
de incisões feitas durante operações. Elas colocam a vida de milhões de
pacientes em risco a cada ano e contribuem para aumentar a resistência de
microrganismos a antibióticos.
O problema não afeta apenas os
países mais pobres. Nos Estados Unidos, estudos indicam que infecções
cirúrgicas levam pacientes a passar 400 mil dias a mais no hospital. O custo
desse tempo de permanência adicional é calculado em 900 milhões de dólares por
ano.
“Ninguém deveria ficar doente
enquanto procura ou recebe cuidados”, ressaltou a diretora-geral assistente
para sistemas de saúde e inovação da OMS, Marie-Paule Kieny.
Prevenindo infecções antes,
durante e depois da cirurgia
A lista divulgada pela OMS
contém 13 recomendações para o período pré-cirúrgico e outras 16 para
prevenir infecções durante e depois do procedimento.
As orientações vão desde
simples precauções, como assegurar que os pacientes tomem banho antes da
cirurgia e a melhor maneira de higienizar as mãos para as equipes cirúrgicas,
até indicações sobre quando usar antibióticos para prevenir infecções, quais desinfetantes
utilizar antes da incisão e quais suturas são mais adequadas.
Um estudo-piloto em quatro
países africanos mostrou que a aplicação de algumas das novas recomendações
poderia reduzir as infecções cirúrgicas em 39%. Medidas também seriam capazes de
diminuir os danos das eventuais complicações provocadas por bactérias.
“Mais cedo ou mais tarde,
muitos de nós precisarão de cirurgia, mas nenhum de nós quer pegar uma infecção
na mesa de operação”, explicou o diretor do Departamento de Prestação de
Serviços e Segurança da OMS, Ed Kelley.
“Aplicando essas novas
diretrizes, as equipes cirúrgicas podem reduzir danos, melhorar a qualidade de
vida e fazer a sua parte para acabar com a resistência a antibióticos. Nós
também recomendamos que os pacientes que se preparam para cirurgias perguntem a
seus médicos se eles estão seguindo as orientações da OMS.”
Até o momento, não havia
diretrizes internacionais baseadas em evidências e a interpretação de dados
científicos, bem como as recomendações das orientações nacionais não eram
uniformes.
As novas diretrizes da OMS são
válidas para qualquer país, adaptáveis a circunstâncias locais, e levam em
conta a consistência das evidências das pesquisas utilzadas. Custos,
recursos necessários e as preferências dos pacientes também são levados em
conta.
Resistência a antibióticos
As diretrizes recomendam o uso
de antibióticos apenas antes e durante a cirurgia — medida considerada crucial
pela OMS para interromper a propagação da resistência a esses medicamentos. Ao
contrário do habitual, antibióticos não devem ser usados após a cirurgia, recomenda
a agência de saúde das Nações Unidas.
Antibióticos são drogas
medicinais consumidas para prevenir e tratar infecções bacterianas. A
resistência ocorre quando a bactéria se modifica em resposta ao uso desses
medicamentos. É um processo que transcorre naturalmente, com o tempo.
Entretanto, a utilização inapropriada em humanos e animais pode acelerar as
transformações dos microrganismos.
A OMS alerta que isso colocar
em risco diferentes conquistas da medicina moderna. Sem antibióticos eficazes
para impedir e curar infecções, transplantes de órgãos, quimioterapia e
cirurgias como cesárea e próteses do quadril se tornam muito mais perigosas e
podem aumentar o tempo de internação no hospital, os custos médicos e a
mortalidade.
Acesse as diretrizes aqui (em
inglês).
Foto: Flickr (CC) / Army
Medicine / John Chew