Antônio Jácome: "Entre
80% e 90% dos casos de câncer são causados por algum fator externo
evitável"
Parlamentares e médicos
defenderam nesta terça-feira (22), em comissão geral em alusão ao Dia Nacional
de Combate ao Câncer (27 de novembro), a adoção de ações de prevenção e combate
à doença no País. Para eles, o Estado tem papel fundamental no combate aos
fatores externos causadores de câncer – como tabagismo, alcoolismo, poluição,
hábitos alimentares e sexuais –, mas também deve melhorar o diagnóstico precoce
de tumores malignos.
“Um milímetro, dois
milímetros, isso faz uma diferença grande em alguns tipos de tumores”, observou
o deputado Antônio Jácome (PTN-RN), que sugeriu o debate sobre o assunto.
Citando dados do Instituto
Nacional de Câncer (Inca), Jácome lembrou que entre 80% e 90% dos casos de
câncer são causados por algum fator externo evitável. Em 2016, disse ainda, as
projeções apontam para a ocorrência de quase meio milhão de novos casos dos
diversos tipos de câncer na população brasileira. Dados do Inca indicam, por
exemplo, a incidência de 61,2 mil novos casos de câncer de próstata neste ano e
57,9 mil de mama.
“O Ministério da Saúde aponta
que em 2020 o câncer será a principal causa de morte no Brasil, revelando a
importância de promover campanhas educativas e preventivas”, acrescentou
Jácome.
Em mensagem enviada à comissão
geral e lida por Jácome, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia,
também defendeu a prevenção dos novos casos de câncer, com o mesmo argumento de
que muitos podem ser evitados a partir da mudança de hábitos. “O governo
precisa de políticas públicas de combate à obesidade, ao fumo, ao
sedentarismo”, afirmou. “O Estado deve disponibilizar sistematicamente
informações sobre situações de risco”.
A necessidade de combater a
doença, segundo Antônio Jácome, se justifica ainda pelas mortes e pela angústia
gerada em pacientes e familiares, mas também pelos impactos econômicos. “O
câncer compromete somas de recursos para o combate à doença, provoca o
afastamento das funções laborais, quando não lhes exige a aposentadoria
precoce, onerando a previdência social”, listou.
Diagnóstico precoce
Outro ponto mencionado pelos deputados foi o diagnóstico precoce. Rodrigo Maia
lamentou que, na rede pública de saúde, metade dos casos de câncer
diagnosticados já apresentem metástase, ou seja, são diagnosticados
tardiamente. “Devemos admitir as falhas do Estado e o mau funcionamento das
políticas públicas de combate à neoplasia maligna”, disse Maia.
A importância do diagnóstico precoce foi destacada: aumento
da chance de cura e redução dos custos de tratamento
O oncologista Raphael Haikel
Junior, do Hospital de Câncer de Barretos (SP), observou que o diagnóstico
tardio dificulta e encarece o tratamento. Como exemplo, ele citou o caso de uma
mulher que descobre precocemente um câncer de mama. Ela passará por um tratamento
de seis meses, com 95% de chances de cura e custos de R$ 10,4 mil aos cofres
públicos. Na contrapartida, no câncer avançado, o tratamento dura dois anos e
meio, com chances de cura de 30% e custos de R$ 144 mil.
Haikel também reclamou dos
altos custos para os hospitais. “Tudo tem um preço. O hospital de Barretos
custa R$ 32 milhões por mês, mas temos um repasse do SUS (Sistema Único de
Saúde) da ordem de R$ 15 milhões. Buscamos apoio, patrocínio, imploramos
ajuda”, afirmou.
O diretor do Hospital de
Câncer de Campo Grande, Carlos Alberto Coimbra, também reclamou da falta de
incentivo aos hospitais especializados e pediu mais efetividade do Programa
Nacional de Apoio à Atenção Oncológica (Pronon), do Ministério da Saúde, lento
na concessão de incentivo, segundo ele.
Antônio Jácome considerou a
criação de um grupo de trabalho para rever a lei que trata do Pronon (12.715/12).
Demora no atendimento
Os participantes da comissão geral criticaram ainda a demora no início do
tratamento de câncer no País. O presidente Rodrigo Maia reclamou do fato de
muitas vezes um paciente só conseguir atendimento ou remédios no SUS por meio
da Justiça.
A deputada Carmen Zanotto
(PPS-SC) lembrou que hoje a legislação brasileira já prevê prazo de 60 dias
para início do tratamento de pacientes diagnosticados com câncer no SUS.
“Por que aprazar o início do
tratamento? Em algumas regiões do País, alguns pacientes esperam até 18 meses
para o início de tratamento. Isso significa diagnóstico tardio, dificuldades e
muito mais chance de o paciente ir a óbito”, lamentou Zanotto. Para ela, o
Brasil ainda é incipiente quando se trata de câncer.
Reportagem - Noeli Nobre,
Edição - Rachel Librelon, Foto - Edson Lopes Jr./Governo de São Paulo,
Luis Macedo / Câmara dos
Deputados