Até junho, 1.662 famílias
autorizaram a doação, 16% mais que ano passado. Apesar disso, Ministério da
Saúde alerta que 43% dos parentes ainda dizem não e vidas deixam de ser salvas
O Brasil registrou o maior
número de doadores de órgãos da história. No primeiro semestre deste ano, 1.662
famílias que perderam parentes próximos autorizaram a doação de órgãos, 16%
mais que no mesmo período do ano passado. Contudo, o Ministério da Saúde alerta
para o alto índice de recusas: 43% das famílias ainda dizem não e muitas vidas
deixam de ser salvas. A campanha “Família, quem você ama pode salvar vidas” do
governo federal, lançada nesta quarta-feira (27), Dia Nacional do Doador de
Órgãos, busca sensibilizar a população para a importância da doação de órgãos e
de avisar a todos sobre o seu sim.
“A área de transplantes é
muito sensível e estamos comemorando recordes, tanto em número de transplantes
quanto em número de doadores. A campanha visa sensibilizar que cada vez mais
famílias autorizem a doação de órgãos de seus entes queridos que faleceram,
dando uma nova oportunidade de viver para outras pessoas”, ressaltou o ministro
da Saúde, Ricardo Barros.
Com o aumento no número de
doadores, foram realizados 12.086 transplantes no primeiro semestre deste ano,
um recorde. Se o ritmo for mantido até o fim do ano, o Brasil deve registrar um
crescimento de 27% nos transplantes entre 2010 e 2017, ultrapassando 26,7 mil
cirurgias – o que seria o maior número anual. Em relação a doadores, o índice
de crescimento pode chegar na casa dos 75,3% em relação a 2010.
Entre os transplantes que mais
comuns destacam-se os de córnea, rim, fígado, coração e pulmão. Os transplantes
de fígado tiveram aumento de 12,3% neste ano em comparação ao primeiro semestre
do ano passado, com total de 2.928 cirurgias. Rim registrou aumento 9,7%,
chegando a marca de 2.928 cirurgias; seguido de córnea, 7.865 cirurgias,
aumento de 7,2%. Coração, um dos mais complexos e que exige muita rapidez em
todo o processo, também registrou crescimento: de 4,2%, chegando a 172 cirurgias.
“Apesar do recorde
transplantes em alguns órgãos, constatamos estatisticamente a queda nos
transplantes de pâncreas associados ao rim e pâncreas isolado. Por isso,
estamos liberando R$ 10 milhões para ampliar esse tipo de transplantes. Desse
total, 70% serão investidos nos procedimentos em si e 30% na melhoria e
aperfeiçoamento dos processos de trabalho”, destacou o ministro Ricardo Barros.
CAMPANHA – Para
marcar o Dia Nacional do Doador de Órgãos, também foi lançada a campanha de
conscientização e incentivo à doação. Atualmente, um dos principais fatores
para o êxito do sistema de doação e transplantes no Brasil é justamente a
sensibilização das famílias na hora de autorizar a retirada dos órgãos e
tecidos após confirmação de morte cerebral. A taxa de recusa familiar
atualmente é de 43% e tem se mantido alta ao longo dos últimos anos, o que
acaba inviabilizando que mais vidas sejam salvas por meio dos transplantes.
A educadora física e
transplantada Liège Gautério reforça a importância da autorização da família.
“Esse ano completo seis anos de uma nova vida. Sou transplantada unilateral de
pulmão, ou seja, vivo apenas com um pulmão funcionando, mas devo isso a uma
família que há seis anos me disse sim e me permitiu viver. E posso dizer que é
perfeitamente possível levar uma vida tranquila, mesmo após o transplante,
tanto que hoje sou atleta. Seguindo corretamente as orientações e tomando as
medicações necessárias, podemos viver bem. Para isso, basta que uma família
diga sim, como um dia disse a mim”, comentou.
Entre as peças principais da
campanha está um curta metragem de animação de 3 minutos, na voz da cantora
Kell Smith, famosa pela música “Era uma vez”. O nome do curta é “A hora de
lembrar” e a música da campanha poderá ser baixada pelo Spotify. A animação se
desenvolve em um mundo fantasioso onde todos os habitantes são relógios e conta
a história de uma família de relógios cujo pai se torna doador de órgãos. O
conceito que assina a história é “Família, quem você ama pode salvar vidas”.
TRANSPORTE AÉREO – A
parceria entre o SUS e as companhias da aviação civil brasileiras para
transporte de órgãos, tecidos e/ou equipes de profissionais é fundamental para
a realização dos transplantes em todo o país. Nesses casos, as aeronaves
recebem prioridade para pouso e decolagem. No primeiro semestre deste ano, foi
registrado aumento de 27,6% nos transportes aéreos, passando de 1.881 para
2.402. As companhias aéreas civis respondem por 96% do total.
Existe ainda um Decreto do
Presidente Michel Temer (nº 8.783), de junho de 2016, determinando que a Força
Aérea Brasileira (FAB) mantenha pelo menos uma aeronave em solo à disposição do
Governo Federal para esse tipo de missão. Desde a determinação, houve aumento
de 6.740% no número de transporte de órgãos pela FAB, passando de 5, entre
janeiro e maio do ano passado, para 342 até setembro deste ano.
“Desde 2000 as companhias
aéreas nos acompanham e nos ajudam cada vez mais. Esse ano tivemos um
crescimento expressivo e importante, tanto da aviação civil quanto da FAB, o que
nos permitiu fazer mais transplantes. Isso é um case mundial de parceria de
sucesso, porque não existe nenhum outro país no mundo que tenha uma parceria
tão exitosa como a nossa na área de transplantes”, afirmou a coordenadora do
Sistema Nacional de Transplantes, Rosana Nothen.
SISTEMA NACIONAL DE
TRANSPLANTES – O Brasil possui o maior sistema público
de transplantes no mundo e atualmente cerca de 95% dos procedimentos de todo o
Brasil são financiados pelo SUS. Os pacientes possuem assistência integral e gratuita,
incluindo exames preparatórios, cirurgia, acompanhamento e medicamentos
pós-transplante. A rede brasileira conta com 27 Centrais de Notificação,
Captação e Distribuição de Órgãos, além de 13 câmaras técnicas nacionais, 501
Centros de Transplantes, 819 serviços habilitados, 1.265 equipes de
Transplantes, 63 Bancos de Tecidos, 13 Bancos de Sangue de Cordão Umbilical
Públicos, 574 Comissões Intra-hospitalares de Doação e Transplantes e 72
Organizações de Procura de Órgãos.
Os investimentos na área também
tem sido constantes e crescentes. Os recursos mais que dobraram entre 2008 e
2016, passando de R$ 453,3 milhões para R$ 942,2 milhões. Para 2017, a previsão
é R$ 966,5 milhões. Com esse orçamento, é possível, por exemplo, capacitar
equipes e estruturar mais todo o serviço, permitindo que a pasta tenha
condições de reduzir a lista de espera, que atualmente é de 41.122 pessoas, e a
taxa de recusa familiar.
SERVIÇO – A
doação de órgãos ou tecidos pode advir de doadores vivos ou falecidos. Doador
vivo é qualquer pessoa saudável que concorde com a doação, desde que não
prejudique a sua própria saúde. O doador vivo pode se dispor a doar um dos
rins, parte do fígado ou do pulmão e medula óssea. Pela lei, parentes até o
quarto grau e cônjuges podem ser doadores. Fora desse critério, somente com
autorização judicial. Já o doador falecido é a pessoa em morte encefálica cuja
família pode autorizar a doação de órgãos e/ou tecidos, assim como a pessoa que
tenha falecido por parada cardíaca que, nesse caso, poderá doar tecidos.
Quais órgãos podem ser doados?
Doador falecido: Coração, pulmões, fígado, pâncreas, intestino, rins, córnea, vasos, pele, ossos e tendões. Portanto, um único doador pode salvar inúmeras vidas. A retirada dos órgãos é realizada em centro cirúrgico, como qualquer outra cirurgia.
Doador vivo: 1 dos rins, parte do fígado ou do pulmão e medula óssea.
Doador falecido: Coração, pulmões, fígado, pâncreas, intestino, rins, córnea, vasos, pele, ossos e tendões. Portanto, um único doador pode salvar inúmeras vidas. A retirada dos órgãos é realizada em centro cirúrgico, como qualquer outra cirurgia.
Doador vivo: 1 dos rins, parte do fígado ou do pulmão e medula óssea.
Por Gustavo Frasão, da
Agência Saúde