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sábado, 12 de janeiro de 2019

PRODUTOS PARA SAÚDE - SEGMENTO QUE A OFERTA CRESCEU 11,4% NOS ÚLTIMOS TRÊS ANOS


A oferta de produtos para a saúde no mercado nacional está em alta. De acordo com dados da Anvisa, somente em 2018 foram aprovados um total de 5.780 itens, o que correspondeu à regularização de quase 16 produtos por dia. Além do grande volume de aprovações concedidas pelo órgão, o número também representou um crescimento de 11,4% em apenas três anos (2016-2018).

Os produtos para a saúde, também conhecidos como dispositivos médicos, são aqueles utilizados na realização de procedimentos médicos, odontológicos, fisioterápicos, para fins de diagnóstico, tratamento, reabilitação ou monitoramento de pacientes. Portanto, o aumento de itens regularizados no país possibilita, na prática, mais acesso dos serviços de saúde e da população a novas opções de produtos no mercado.

Complexidade
A ampliação da oferta de produtos para a saúde seguros e eficazes é um fato positivo e resultado direto da atuação da Anvisa, que tem o desafio de regular uma área que a cada ano cresce em volume e complexidade.

De 2016 a 2018, a quantidade de pedidos de regularização de novos produtos teve incremento de 27%, enquanto que a de pós-registro (alterações, revalidações, transferência de titularidade, entre outros) aumentou em 35%.

Já a quantidade total de petições encaminhadas para análise subiu 33% entre 2016 e 2018. Somente no ano passado, a Anvisa recebeu cerca de 22 mil petições referentes a produtos para a saúde. Essa demanda equivale à necessidade de analisar cerca de 60 petições por dia, incluídos os sábados, domingos e feriados. Portanto, representou um grande desafio para o órgão.

Responsabilidade
A área da Anvisa responsável por propor, participar, apoiar e analisar a edição de regulamentos e padrões relativos aos dispositivos médicos, bem como suas inovações tecnológicas, é a Gerência Geral de Tecnologia de Produtos para Saúde (GGTPS). Essa área também analisa os pedidos de regularização de materiais, equipamentos e produtos para diagnóstico in vitro, considerando a qualidade, a segurança e a eficácia desses produtos.

Para enfrentar a grande demanda relacionada aos dispositivos médicos e estimular a oferta de novos produtos à sociedade, a GGTPS investe na capacitação de sua equipe técnica, no aprimoramento da regulamentação, na racionalização de processos de trabalho e no estreitamento da relação com o setor regulado. Também acompanha e implementa as melhores práticas regulatórias internacionais, sem perder de vista a realidade do cenário nacional e o adequado controle sanitário.

Regime de notificação
O foco do trabalho da GGTPS é aplicar maior esforço em processos que envolvem maior risco sanitário, no sentido de oferecer maior segurança aos usuários e, ao mesmo tempo, agilidade para que produtos e tecnologias inovadoras alcancem o mercado mais rapidamente, ampliando o acesso à saúde.

Um exemplo disso é a proposta de Resolução da Diretoria Colegiada (RDC), já em fase final de tramitação (após consulta pública), que adotará o regime de notificação para a regularização de produtos de menor risco (classe I), dispensando-se a análise técnica e a publicação do deferimento ou indeferimento na imprensa oficial. Atualmente, 37% dos produtos regularizados e com registro válido na Agência pertencem a essa classe.

A partir da entrada em vigência do regime de notificação de produtos pertencentes à menor classe de risco, o esforço da Anvisa se voltará, ainda mais, para a atuação na regulação de produtos de maior risco, possibilitando o aprimoramento da qualidade da análise técnica e o incremento da produtividade, atualmente já no limite possível da expansão.

Para 2019, a Anvisa reforça seu compromisso com a transparência, com foco no aprimoramento do controle sanitário de dispositivos médicos, além do fomento e execução de ações para o desenvolvimento da convergência regulatória internacional.

Ascom – ANVISA



GERSON FERNANDO MENDES PEREIRA, atual adjunto e Diretor Substituto do DST-AIDS do MS


GERSON FERNANDO MENDES PEREIRA, graduado em Medicina pela Universidade Federal do Piauí (1983), especialização em Saúde Pública pelo Centro Universitário de Brasília (1985) e, Epidemiologia pela Fundação Oswaldo Cruz (1988), mestrado em Epidemiologia pela Universidade Federal de São Paulo (1999). Atualmente, está cursando o doutorado em Saúde Coletiva da UnB. Servidor Público do Ministério da Saúde, atualmente Diretor Substituto do Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis, do HIV/AIDS e das Hepatites Virais da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde. Professor da faculdade de Medicina do Centro Universitário de Brasilia - UNICEUB.

Informações coletadas do Lattes em 04/12/2018

Acadêmico
FORMAÇÃO ACADÊMICA
Doutorado em andamento em Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva
2013 - Atual
Universidade de Brasília, UnB 
Título: Sobrevida de Pacientes com Aids do Estado do Rio Grande do Sul no período de 2002 a 2007,
Helena Eri Shimizu. Coorientador: Ximena Pamela Díaz Bermúdez.
Mestrado em Epidemiologia
1997 - 1999
Universidade Federal de São Paulo 
Título: Características da hanseníase no Brasil: situações e tendências no período de 1985 a 1996,Ano de Obtenção: 1999
Roberto Geraldo Baruzzi.
Especialização em Epidemiologia
1988 - 1988
Fundação Oswaldo Cruz 
Título: Situação Epidemiológica da Hanseníase no Brasil
Especialização em Especialização em Saúde Pública
1984 - 1985
Centro Universitário de Brasília, UniCEUB 
Título: Drogas - Implicações Jurídicas
Orientador: Antonio Barbosa Raposo
Graduação em Medicina
1977 - 1983
FORMAÇÃO COMPLEMENTAR
2017 - 2017
Capacitaçao em Metodologias Ativas. (Carga horária: 20h). , Centro Universitário de Brasília, UniCEUB, Brasil.
2007 - 2007
Extensão universitária em Análise de Sobrevida. (Carga horária: 20h). , Universidade de São Paulo, USP, Brasil.
2004 - 2004
Curso de CBVE de HIV/aids. (Carga horária: 40h). , Secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo, SESES, Brasil.
1993 - 1993
Extensão universitária em III Sesion de Verano de Epidemiologia. , University of South Florida, USF, Estados Unidos.
1988 - 1988
Aperfeiçoamento em Epidemiologia da Hanseníase. , Fundação Oswaldo Cruz, FIOCRUZ, Brasil.
1984 - 1984
Extensão universitária em Avaliação Crítica das Evidências Clínicas. (Carga horária: 32h). , Universidade de Brasília, UnB, Brasil.



sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

AIDS AINDA É UMA GRAVE AMEAÇA NO BRASIL


Estatísticas traduzem fielmente a realidade quando apreciadas de maneira dinâmica, e não como uma fotografia inerte na parede. Semanas atrás, setores da saúde pública no Brasil, entre hospitais, universidades, médicos, pesquisadores, ONGs e agentes comunitários estavam de olho na divulgação de um aguardado boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, bem ao fim do mandato do ex-presidente Michel Temer (MDB). O interesse justificava-se no título do documento: “HIV Aids 2018”. Como de costume, técnicos da Secretaria de Vigilância em Saúde do ministério vieram a público para revelar as mais recentes estatísticas de uma epidemia que alcança em torno de 40 mil pessoas por ano no país.

Em 2017, segundo o boletim, foram registrados 42.420 novos casos de HIV; 37.791 casos diagnosticados de aids e 11.463 mortes pela doença, num universo em que a subnotificação ainda se mantém alta. Afinal, quantas são as pessoas que não sabem estar infectadas ou que, mesmo sabendo, não fazem parte das estatísticas de saúde? Por que o tempo médio entre conhecer o diagnóstico e buscar tratamento tem sido algo próximo a 1 ano no Brasil?

Minutos após a divulgação do documento em Brasília, comemora-se: cai a mortalidade da aids no país! De fato, em 20 anos de aferição, as taxas de mortalidade baixaram 16,5%. Boa notícia. Mas cabe também esta pergunta: era de se esperar o contrário, considerando a eficiência das drogas e profilaxias às quais os brasileiros têm acesso pelo SUS? Certamente, não.

“Só que é a primeira vez, em duas décadas, que se vê uma queda tão expressiva”, diz a médica sanitarista Adele Schwartz Benzaken, até então diretora de uma divisão de nome muito longo, o Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle de Infecções Sexualmente Transmissíveis, HIV/Aids e Hepatites Virais, do Ministério da Saúde.
“A última vez que tivemos uma queda forte foi nos anos 1990, quando o Brasil adotou a terapia tríplice, também conhecida como coquetel. Ali houve uma redução da mortalidade em torno de 38%. Depois, as quedas voltaram a ser menos expressivas.”

Entre os bons números do boletim – como os da redução em 43% da transmissão vertical do HIV (gestante-bebê) nos últimos dez anos – podem-se encontrar estatísticas que alimentam a preocupação de muitos estudiosos. Isso ocorre quando se comparam os níveis de detecção de casos de aids por faixa etária, nos anos 2007 e 2017: nota-se o alastramento da epidemia entre jovens do sexo masculino, hoje. Na faixa de 15 a 24 anos, a detecção dobra. O que estaria ocorrendo com a geração que inicia a vida sexual nesse momento, menosprezando um vírus que, só no ano passado, pode estar relacionado a 1 milhão de mortes pelo mundo e para o qual não se tem, após 35 anos de tentativas, uma vacina eficaz?

Adele Benzaken seguiu contornando os números, em entrevista ao Valor: “Novas infecções crescem entre jovens homens que fazem sexo com homens. Por outro lado, decrescem entre mulheres de quase todas as faixas etárias”. Pelo que se depreende do estudo, explica a médica, a epidemia brasileira parece apontar para nichos definidos, alguns mais significativos quantitativamente que outros – homens gays, pessoas trans, pessoas que atuam na prostituição, usuários de álcool e outras drogas, pessoas privadas de liberdade. A médica afirma que o preservativo tem sido deixado de lado cada vez mais. “Explicar por que isso ocorre não é tão simples. Só em 2017, o Ministério da Saúde distribuiu gratuitamente 750 milhões de preservativos.”

No início dos anos 80, quando o mundo ainda não ouvira falar de um vírus misterioso que chegava a matar em questão de meses, jovens também eram jovens, interessados em sexo e drogas. Não se protegiam porque simplesmente desconheciam a ameaça. E se infectaram à larga. Pois a juventude de hoje, cujos pais já viveram sob o alerta permanente da aids, está se infectando na mesma, ou até em maior, velocidade do que a geração dos desavisados.

“Temos sinais claros do recrudescimento da epidemia em nosso país, o que é preocupante. Em situação de alta incidência, aumentam as chances de transmissão, já que mais pessoas transam sem proteção, repassando o vírus na fase inicial da contaminação. Cria-se uma situação propícia para a intensificação da epidemia”, afirma o cientista social Alexandre Grangeiro, especialista em saúde pública que há décadas pesquisa a evolução da aids no Brasil.

Como também ocorreu no passado, hoje vive-se uma (outra) revolução sexual que vem moldando comportamentos entre adolescentes, jovens e adultos jovens, num campo de afirmação pessoal no qual convivem distintas identidades de gênero. Essa revolução perpassa toda a sociedade brasileira, ao mesmo tempo em que ações preventivas para conter a contaminação por HIV perdem espaço. E mais: cresce uma espécie de grande interdição moral em torno do debate sobre temas ligados à sexualidade humana. “O resultado disso é que estamos formando uma geração totalmente incompetente para lidar com o HIV”, diz Grangeiro.

Não tem sido fácil explicar essa interdição. Segundo visões mais restritivas, sejam elas guiadas por crenças religiosas, heranças culturais ou interesses políticos, só existem duas representações possíveis de gênero – masculino e feminino. Supor algo além disso seria alimentar a “ideologia de gênero”, expressão muito em voga nos dias atuais.

Essa ideologia abriria uma perigosa trilha da aceitação do outro tal como ele é, ou como venha a se definir, escapando, portanto, da dualidade masculino/feminino. Como a realidade sempre acaba superando modelos e interdições, tem sido inevitável cruzar um imenso campo de tensões quando se tenta entender por que, apesar de tantos avanços, a aids ainda é uma grave ameaça no Brasil.

Há quase 30 anos a USP abriga uma entidade reconhecida nacional e internacionalmente, o Núcleo de Estudos para a Prevenção da Aids (Nepaids). Trata-se de um instituto interdisciplinar que desenvolve análises, pesquisas de campo e tecnologias inovadoras para o combate ao HIV/aids. Um de seus integrantes é a psicóloga e educadora Vera Paiva, professora titular do Departamento de Psicologia Social da USP, que atualmente coordena um programa educativo de prevenção em escolas públicas de São Paulo e do Distrito Federal.

O programa leva a alunos do ensino médio informação abalizada sobre sexualidade e vida reprodutiva, numa perspectiva laica que conjuga não só o respeito a diferentes credos, mas o respeito a princípios éticos, valores democráticos e direitos humanos. Pois com todo esse aparato formal, ainda assim Vera admite: não tem sido nada fácil informar e sensibilizar a juventude sobre os riscos de infecção. Por quê?

“Há tempos vínhamos percebendo uma mudança na sociedade brasileira, ligada à religiosidade. O Brasil, que soube dar uma resposta de alto nível à epidemia da aids nos anos 1990, valendo-se da noção de acolhimento do outro e somando forças com católicos, protestantes, evangélicos, judeus, praticantes de cultos afro e outros, a partir de 2008 começou a fazer uma inflexão em sentido oposto”, afirma. “Em vez da abordagem do acolhimento, vimos emergir a abordagem da culpabilização do portador do vírus. Há casos até de perseguição a essas pessoas. Para nós, a religiosidade que ajuda na prevenção é a do acolhimento, da diversidade.”

Essa “inflexão” a que se refere a pesquisadora repercute no processo de formação dos jovens. No Brasil, a média de idade para o início da vida sexual se dá entre 14 e 15 anos – e não é muito diferente da encontrada na maioria dos países ocidentais. Ao fim do ensino médio, cerca de 90% dos estudantes brasileiros já tiveram relações sexuais. “Mesmo que as religiões queiram retardar esse início, uma vez que a vida sexual começou, ela segue”, diz Vera. Jovens ainda virgens nessa faixa etária, segundo relatos colhidos pelo núcleo, tornam-se alvos de “bullying” dos colegas, porque são considerados fora da norma.
A sexualidade, na hierarquia católica, esbarra numa muralha de resistências, como o veto aos programas de distribuição de camisinhas
Com uma crescente onda conservadora opondo obstáculos a que estudantes recebam informação sobre sexualidade nas escolas, mais e mais acaba sobrando para a família a responsabilidade de “educar” filhos em temas bem complexos – entre eles, a prevenção da aids e outras tantas doenças sexualmente transmissíveis, os riscos da gravidez indesejada, a violência de gênero. Curiosamente, esses obstáculos aparecem tanto na rede pública quanto na rede privada de ensino.

“O problema é que a maioria dos pais pede essa formação, ainda que num curso optativo, como o que oferecemos, ao contrário do que acontece em países como a Alemanha, onde é curso obrigatório”, afirma Vera. “A verdade é uma só: os pais sabem que não estão preparados para abordar esses assuntos. Acham muito difícil acessar a intimidade dos filhos e sentem-se angustiados com a disseminação da pornografia, pedofilia e outras formas de abuso pela internet, sem poder controlar o acesso que os jovens têm a esse universo.”

Pesquisadores do Nepaids não têm dúvida: hoje crianças e adolescentes se “iniciam” na vida sexual guiados pelo que veem e descobrem em seus celulares e computadores. E, na maior parte das vezes, o que veem e descobrem passa longe de uma boa formação. Nesse sentido, Vera Paiva afirma que apenas cursos ministrados por profissionais capacitados farão frente aos desafios atuais. “Aulas de biologia não dão conta do recado. Idem para pregações religiosas”, afirma. Como constatou no projeto que coordena, em escolas que oferecem programas de prevenção à aids, o índice de gravidez indesejada na adolescência cai ao nível zero. Por outro lado, hoje, por falta de informação, meninas usam a pílula do dia seguinte para evitar a gravidez, mas se descuidam do uso do preservativo, para prevenir a contaminação por HIV.

“Prevenção é trabalho complexo. Não adianta martelar os ouvidos dos jovens dizendo ‘tem que usar camisinha, tem que usar camisinha’, porque isso não funciona”, afirma o antropólogo americano Richard Parker, professor emérito da Columbia University e presidente da Abia (Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids). Ele foi autor do primeiro artigo antropológico sobre aids numa revista de divulgação científica, “Medical Antropology Quartely”, em 1987. Enveredou por esse caminho quando muitos colegas seus eram marginalizados – falar de aids não era coisa séria no meio acadêmico. Continua seguindo de perto os desdobramentos da epidemia no Brasil.

“Infelizmente, o país desmontou muitas das suas ações educativas no campo da prevenção nos últimos anos, preferindo investir no modelo biomédico do tipo ‘testou, tratou’: se for soropositivo, coloca-se o indivíduo em tratamento para reduzir ao nível mínimo a carga viral e assim inibir a transmissão. Só que essa estratégia resolve uma parte do problema, não resolve tudo”, adverte Parker. A começar pelo fato de que, no plano individual, não se pode forçar uma pessoa a se submeter a qualquer tratamento; e, no plano geral, a política da testagem não desfaz a teia de vulnerabilidades sociais que envolve – e alimenta – a epidemia.

Para a comunidade internacional de combate ao HIV/aids, o Brasil foi durante longo tempo um modelo a ser seguido. Nos anos 90, quebrando patentes de laboratórios, o país bancou a distribuição universal e gratuita das drogas retrovirais por meio do SUS. Formou-se ali um sólido campo de ação e vigilância epidemiológicas, aliado a um ativismo social exuberante, gerando o que se convencionou chamar de “resposta brasileira à epidemia” – interdisciplinar, plural, democrática, ética.

Uma resposta que nada tinha a ver com o preconceito disseminado em relação a populações infectadas na África. Nem com o estereótipo pejorativo de “peste gay”. A experiência brasileira criou um standard: para combater a epidemia, seria fundamental entendê-la em todas as suas dimensões, passando por representações sociais, culturais, econômicas e religiosas, encarando o fenômeno persistente da desigualdade e mantendo um olhar especial sobre os direitos humanos.

Foi com esse arcabouço que o Brasil se fez ouvir: no ano 2000, no Congresso Mundial de Aids em Durban, na África do Sul, o país foi protagonista não só pelo número de participantes, mas pela alta qualidade das intervenções. Já em 2018, no mesmo congresso em Amsterdã, na Holanda, o Brasil deu ares de grande ausente. E por quê?

“Eu diria que, ao longo do processo de redemocratização e até os governos Lula, tivemos décadas de avanço continuado. Com a presidente Dilma Rousseff, o que vimos foi a aids virar moeda de troca para bancadas religiosas no parlamento”, avalia Richard Parker, ressalvando que o governo Temer até recuperou um pouco do terreno perdido.

Essa visão tem sido compartilhada por parte da comunidade científica e entidades que atuam nesse campo: nos anos Dilma, para aprovar matérias de interesse do Executivo em troca de uma governabilidade que ao fim se provou insustentável, acordos teriam sido fechados na tentativa de salvaguardar interesses oficiais e, ao mesmo tempo, atender a interesses religiosos. Tais acordos resultaram em censura a campanhas de informação, interdição de materiais pedagógicos para prevenção, interrupção de ações educativas e redução de verbas para pesquisas.

Como reforça a antropóloga Sonia Corrêa em artigo para a coletânea “Aids, Mitos e Verdades”, publicada pela Abia, esse ativismo político-religioso se fez notar, alto e bom som, nos inúmeros votos em nome de Deus e da família de parlamentares a favor do impeachment de Dilma. Sobre a dinâmica que torna o Executivo refém de negociações instáveis com esses legisladores, Sonia acrescenta: “(…) tem impactado negativamente as políticas públicas de vários campos moralmente sensíveis, como saúde e direitos reprodutivos, HIV e aids, educação em sexualidade”.

Em 2011, o Executivo suspendeu a distribuição de vídeos criados para combater a homofobia. Foram apelidados de “kit gay” e deram combustão a discursos conservadores. No ano seguinte, houve censura do Ministério da Saúde à campanha de prevenção ao HIV para o Carnaval. Em 2013, nova censura para campanha dirigida a prostitutas, determinação que teria levado o então diretor do Departamento de HIV, Aids e Hepatites Virais a pedir exoneração.

Ainda observando a guinada conservadora, calcula-se que o número de evangélicos no Brasil hoje beire 43 milhões de pessoas. Considerando o ritmo com que se multiplicam, poderão vir a constituir a maioria religiosa no país – que ainda é a grande nação católica do mundo – antes de 2030. Nesse vasto universo de pastores e buscadores da fé, há igrejas hegemônicas como a Assembleia de Deus, com mais de 12 milhões de fiéis, fincando posturas rígidas no campo da sexualidade. A homossexualidade, por exemplo, é transferida para o terreno do pecado, da transgressão. Portadores do HIV precisariam ser “regenerados” – física e espiritualmente.

“As consequências desse tipo de discurso são visíveis. Temos hoje mais homofobia, mais estigmatização, mais preconceito, e, o que é dramático, menos prevenção”, afirma Grangeiro, relembrando a declaração do então presidenciável Jair Bolsonaro de que não corria o risco de ter um filho gay por ter educado bem os seus. “Ao contrário do que se diz por aí, hoje precisamos de muito mais esclarecimento sobre como combater a transmissão do vírus. E estamos perdendo aquele momento em que os programas de prevenção ainda respondem bem.”

Por dogmáticas que possam ser, religiões não impedem o aparecimento de discursos alternativos a seus cânones. Hoje já se estuda o fenômeno do “pentecostalismo inclusivo”. São igrejas dissonantes em relação à pregação de muitas evangélicas. Nesses templos, como a Igreja da Comunidade Metropolitana de São Paulo ou a Igreja Cristã Contemporânea do Rio, acolhe-se o “cristão gay” sem condená-lo aos porões do inferno.
Em trabalho acadêmico bastante original, o cientista social Marcelo Tavares Natividade, da Universidade Federal do Ceará, estuda como o homossexual que é fiel das igrejas inclusivas pode vivenciar a passagem da criatura deformada para a criatura transformada, em ambiente em que o respeito à diferença consegue ser mantido. Ser gay faz parte do humano e do divino, conclui o pesquisador em seu estudo.

Já a temática da sexualidade, na hierarquia católica, continua a esbarrar numa conhecida muralha de resistências – entre elas, o veto aos programas de distribuição de camisinhas. Mesmo o papa Francisco, tão firme no combate à pedofilia dentro da igreja e que perguntou publicamente “quem sou eu para julgar os gays?”, emite sinais contraditórios ao falar para pais de crianças e jovens com tendência homossexual – numa recente visita à Irlanda, recomendou que famílias procurem a ajuda de psiquiatras.

Fato é que, passadas quase quatro décadas de convivência com o vírus, parece impossível tentar enfrentá-lo tratando a homossexualidade como doença ou pecado. Defensor das políticas estruturadas de prevenção, dom Paulo Evaristo Arns, cardeal e arcebispo emérito de São Paulo, não titubeou a se pronunciar logo nos primeiros tempos da epidemia: “Entre o preservativo e a vida, sou pela vida”. E, em 2000, lá estava ele, inaugurando o primeiro seminário “Aids e os Desafios para a Igreja no Brasil”, ao lado do então ministro da Saúde, José Serra, e do sanitarista Paulo Teixeira. Sua postura respaldou a criação da Comissão Pastoral DST-Aids, que passou a atuar de forma ecumênica.

Novas infecções crescem entre jovens homens que fazem sexo com homens, mas decrescem entre mulheres de quase todas as faixas etárias

Mas nem todas as tensões ocorrem no terreno da fé. Muitos estudiosos sinalizam a necessidade de buscar novas abordagens para conter a transmissão do vírus, em tempos de drogas e tratamentos eficazes, porém, de baixa prevenção. No início da epidemia, era possível colher dados de vigilância epidemiológica simplesmente a partir do número de casos diagnosticados – até porque eles acabavam levando a óbito. Hoje isso não ocorre: a expectativa de vida de um soropositivo que se trata corretamente pode ser muito parecida com a de um soronegativo. Mas isso não quer dizer que a epidemia está sob controle.

No Brasil, cerca de 90% das pessoas em tratamento, mesmo as que têm planos privados de saúde, procuram o SUS para obter os retrovirais – é um processo mais simples e menos oneroso do que importar medicamentos, por exemplo. Também são oferecidas na rede de saúde duas metodologias de prevenção que se revelam bem eficientes – a Profilaxia Pós-Exposição ao HIV (PEP) e a Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP).

A primeira consiste em tomar a droga retroviral em até 72 horas após a relação, por 28 dias. A segunda, de uso contínuo, é indicada para pessoas que não conseguem se adaptar ao preservativo ou para casais onde um parceiro é soropositivo. “Não há dúvida de que esses retrovirais revolucionaram a resposta ao HIV”, afirma Grangeiro. “Quem faz uso deles de forma orientada não adoece e nem transmite, além de ter uma qualidade de vida satisfatória. Mas os médicos ainda têm receio de dar esse tipo de informação.”

As razões desse receio têm suas justificativas – os medicamentos disponíveis chegam a zerar a carga viral, mas não curam; vacinas têm sido testadas, mas todas com resultados relativos; o tratamento com retrovirais precisa ser muito controlado, o que demanda um tipo de acompanhamento clínico ao qual a grande maioria dos brasileiros não tem acesso; as metodologias preventivas exigem, cada vez mais, profissionais habilitados, portanto, falta investir em formação; por fim, não dá mesmo para imaginar que está tudo resolvido.

“Estamos longe do fim. Não adianta pensar que abordagens biomédicas vão dar conta de tudo. Nem supor que essa onda conservadora vai vencer a epidemia. Precisamos urgentemente de mais informação, pesquisa, respeito à diversidade, compromisso com direitos e, sobretudo, mais mobilização social”, afirma Richard Parker. Desse grande mix, imagina o antropólogo, podem sair novos modelos de prevenção combinada, onde a ciência e a clínica médica caminharão lado a lado com uma sociedade mais esclarecida, mais mobilizada, mais democrática. Essa parece ser a conversa da vez para quem quer falar sério de aids no Brasil.

Fonte: Valor Econômico



ADELE BENZAKEN SE DESPEDE DO DEPARTAMENTO DE AIDS COM CARTA DE AGRADECIMENTO


A médica Adele Benzaken se despediu nesta sexta-feira (11), do Departamento de IST, Aids e Hepatites Virais, do Ministério da Saúde, com uma carta de agradecimento. “Cheguei ao Ministério da Saúde em 2013, como diretora adjunta do Departamento, a convite do então diretor, Fabio Mesquita.

Vim do Unaids, onde respondia interinamente pelo escritório dessa agência no Brasil. Depois, com a saída de Fabio, fui convidada a assumir seu lugar. Vi o convite como um reconhecimento ao meu trabalho, mas, ao mesmo tempo, como o enorme desafio de manter o protagonismo da resposta brasileira ao HIV/aids e buscar esse mesmo protagonismo na luta contra as hepatites virais e outras infecções sexualmente transmissíveis”, diz um trecho do documento.

Adele enumerou na carta os principais avanços do Brasil na luta contra aids, as ISTs e as hepatites virais. Também destacou a importante parceria do governo com a comunidade científica, sociedade civil e agências da ONU. “Desde minha formação acadêmica, dediquei-me a enfrentar a dor humana, nos mais recônditos ambientes da Amazônia Brasileira. Ali pude ver o quanto é preciso fazer para que tenhamos de fato um sistema de saúde universal e de qualidade, que se constitua como referência mundial. Cabe destacar que os meus 40 anos de Medicina foram dedicados quase que exclusivamente a trabalhar com o tema do HIV e das IST, na gestão da saúdepública.”

Ela continua: “Aprendi a lutar, a respeitar as diferenças e a reconhecer o direito das minorias, muito antes de me confrontar com os desafios que a epidemia do HIV/aids nos colocou no início dos anos 1980, quando também aprendi a acolher as pessoas, num tempo em que o temor relegava ao abandono e à discriminação quem vivia com o vírus.”
Adele encerrou o documento desejando “sucesso aos que vierem a me suceder! Que não se retroceda em nenhuma das conquistas já alcançadas pelas pessoas vivendo com HIV, hepatites virais e IST.

Como no início da minha carreira – junto às comunidades ribeirinhas mais remotas do meu Amazonas –, coloco-me à disposição da saúde pública, porque esse sempre foi e sempre será o meu compromisso.”

Leia a carta na íntegra





ADELE BENZAKEN, DIRETORA DO DEPARTAMENTO DE HIV/AIDS DO MINISTÉRIO DA SAÚDE É EXONERADA - ASSUME O ADJUNTO, GERSON PEREIRA


A médica sanitarista Adele Benzaken foi exonerada da direção do Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das ISTs, do HIV e Hepatites Virais do Ministério da Saúde. A decisão foi tomada nesta quinta, em meio a uma série de manifestações pela permanência da médica no cargo e uma semana depois da polêmica em torno da cartilha, lançada há seis meses para homens trans.

Assume a diretoria seu adjunto, Gerson Pereira.

O Ministério da Saúde atribuiu a mudança a uma renovação da equipe e informou que Adele foi convidada para continuar a contribuir para formulação de políticas para o setor. Adele assumiu a direção do departamento em 2016. Em sua gestão, o País começou a adotar a profilaxia pré-exposição (PrEP), que prevê o uso de antirretrovirais não como tratamento do HIV, mas para prevenir a infecção. Com amplo apoio de organizações não governamentais, a permanência de Adele era considerada como uma garantia da manutenção de ações modernas de prevenção, de combate ao preconceito e de promoção dos direitos humanos.

Os sinais de que a gestão de Adele estavam sob risco começaram ainda antes da posse do presidente Jair Bolsonaro e do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Antes de assumir a pasta, Mandetta mostrou descontentamento com as ações de prevenção e disse ser necessária a adoção de estratégias que não “ofendessem” as famílias.

As suspeitas ganharam corpo semana passada, com a suspensão no site do ministério da Saúde de uma cartilha voltada para homens trans, que havia sido lançada há seis meses pela pasta. A retirada do material foi informada pelo jornal O Estado de S. Paulo. A justificativa oficial era a de que haviam sido identificadas “falhas” no material.

Um esquema para o pump (uma seringa invertida usada por parte da população para ampliar o clitóris) teria sido incluído sem advertências necessárias. O ministro da Saúde afirmou que a prática, controversa, não poderia ser recomendada pela pasta. A ilustração, porém, havia sido incluída para alertar sobre a necessidade de não compartilhar as seringas. Uma medida de redução de danos, não de incentivo, informaram técnicos do ministério.

A cartilha havia sido elogiada por médicos que trabalham na prevenção de infecções sexualmente transmissíveis. Em entrevista ao Estado, a diretora em exercício do Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids de São Paulo, Rosa de Alencar Souza, afirmara que a cartilha trazia informações importantes e que não havia ali nada que justificasse a retirada de circulação.

A retirada do material que estava no site provocou uma série de críticas ao ministério e foi interpretada como um claro sinal de recuo das ações de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis.

Nesta quinta, a cartilha foi abordada numa conversa entre Adele e o secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson Kleber de Oliveira.

As cartas em defesa da permanência de Adele no cargo começaram a ser enviadas nesta quarta a Mandetta. Entre elas, a Articulação Nacional de Luta contra Aids, o Fórum de ONGs de Aids de São Paulo e infectologista José Ramalho Madruga.

“Não podemos adormecer diante de uma epidemia que se aproxima de um milhão de casos e mais de 350 mil mortes desde 1980 no Brasil. Problematizar a questão da aids é compreendê-la dentro da concepção mais ampla”, afirmaram na carta integrantes da Anaids. O Fórum de ONGs Aids do Estado de São Paulo, por sua vez, afirmou a importância das ferramentas para prevenção da infecção, entre elas, a profilaxia pré-exposição (PrEP), que prevê o uso de medicamentos entre populações mais vulneráveis à doença de forma preventiva. Ramalho Madruga observou que, na gestão de Benzaken, o Brasil foi o primeiro país da América Latina a ofertar a PrEP.

Fonte: O Estado de S. Paulo



DOENÇA DE CHAGAS - OPAS DIVULGA NOVO GUIA PARA DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO


Cerca de 65 milhões de pessoas que vivem em 21 países endêmicos das Américas correm o risco de contrair a doença de Chagas, uma infecção parasitária que atinge cerca de 12 mil vidas na região a cada ano. Para melhorar a detecção e o manejo clínico da doença, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) publicou um novo guia para o diagnóstico e o tratamento da doença de Chagas, por enquanto disponível apenas em espanhol.

A doença de Chagas, ou tripanossomíase americana, é causada pelo parasito Trypanosoma cruzi e pode ser transmitida por meio de insetos, transfusões de sangue, de mãe para filho durante a gestação ou parto e por alimentos. Mais de 6 milhões de pessoas nas Américas vivem com Chagas; a maioria delas não sabe que está infectada. Estima-se que 28 mil novos casos ocorrem por transmissão vetorial e outros 8 mil novos casos por transmissão congênita.

Todas essas características fazem da doença de Chagas uma patologia regional com impacto negativo em saúde pública e com potencial de dispersão para outros continentes por transmissão congênita e sanguínea. No entanto, os profissionais de saúde da região se mantêm e trabalham com poucas informações, bem como com capacitação mínima. Por isso, o guia se propõe a fortalecer as capacidades desses profissionais para diagnosticar e tratar a doença de forma oportuna e adequada, incluindo o manejo clínico integral.
O novo guia procura preencher estas lacunas, fornecendo procedimentos mais claros e padronizados para melhorar o atendimento e o tratamento para cada pessoa infectada, com o objetivo de contribuir para uma melhor saúde entre pacientes, suas famílias e comunidades.

O documento foi desenvolvido por especialistas renomados e é baseado em evidências avaliadas com a metodologia GRADE (Grading of Recommendations Assessment, Development and Evaluation), fornecendo uma síntese de evidências atualmente conhecidas e publicadas sobre o assunto.

Clique na imagem abaixo para acessar o guia

OPAS



DÚVIDAS FREQUENTES SOBRE IMUNIZAÇÃO E SEGURANÇA DAS VACINAS


As vacinas são seguras? A imunidade proporcionada por elas é melhor do que a oferecida pelas infecções naturais? Uma criança pode receber mais de uma vacina por vez? Existe alguma relação entre vacinas e autismo? Confira as respostas da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) para perguntas frequentes da população sobre imunização.
As vacinas são seguras?
Sim, elas são seguras. Todas as vacinas aprovadas são submetidas a testes rigorosos ao longo das diferentes fases de ensaios clínicos e seguem sendo avaliados regularmente uma vez que comercializadas. Cientistas também monitoram constantemente informações de várias fontes para qualquer sinal de eventos adversos relacionados a alguma vacina. A maioria das reações são leves e temporais, tais como dor no local da injeção ou febre baixa. Raros efeitos colaterais graves são notificados e investigados imediatamente.
É muito mais fácil sofrer graves lesões por uma doença prevenível por vacinação do que por uma vacina. A poliomielite, por exemplo, pode causar paralisia; o sarampo, encefalite e cegueira; algumas doenças como difteria, pneumonia, meningites, tétanos e outras que podem ser evitadas por vacinas podem ser mortais. Embora qualquer ferimento grave ou morte causada por vacinas sejam importantes, os benefícios da vacinação superam amplamente os riscos, considerando que muitas outras doenças e mortes ocorreriam sem as vacinas.

Mesmo tendo uma boa higiene, saneamento e água potável, ainda é necessário me vacinar?
Sim! Uma boa higiene, saneamento a água potável não são suficientes para deter doenças infecciosas, por isso a vacinação continua sendo necessária. Se não mantivermos altas taxas de imunização – o que se chama de imunidade coletiva, as doenças preveníveis por vacinas voltarão. Ainda que melhoras na higiene, saneamento e salubridade da água nos ajudem a nos proteger de doenças infecciosas, muitas delas podem se propagar independentemente de quão asseados somo, originando doenças respiratórias, diarreias e até a morte. Sem vacinação, doenças que hoje são raras (como a poliomielite, o sarampo e a coqueluche) podem reaparecer rapidamente.

A imunidade proporcionada pelas vacinas é melhor do que a oferecida pelas infecções naturais?
As vacinas interagem com o sistema imunológico e produzem uma resposta imunitária similar àquela gerada por infecções naturais, mas sem causar adoecimento e sem colocar a pessoa imunizada em risco de sofrer as possíveis complicações de uma enfermidade. Por outro lado, o preço a se pagar pela imunização por meio da infecção natural pode consistir em disfunção cognitiva na infecção por Haemophilus influenzae tipo B, condições congênitas no caso da rubéola, câncer hepático na hepatite B ou morte por complicações relacionadas ao sarampo, ao vírus do papiloma humano, ou influenza gripal.

Preciso me vacinar contra doenças que não circulam em minha comunidade ou em meu país?
Por mais que as doenças que podem ser prevenidas por vacinas sejam raras em muitos países, os agentes infecciosos que as causam seguem circulando em outros. Em um mundo tão interconectado como o de hoje, esses agentes podem cruzar fronteiras geográficas e infectar qualquer pessoa que não esteja protegida. Assim, por exemplo, surgiram surtos de sarampo em populações não vacinadas na Alemanha, Áustria, Bélgica, Bulgária, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Rússia, França, Grécia, Itália, Reino Unido, Sérvia e Suíça, entre outros.

Os dois principais motivos para se vacinar são: proteger a nós mesmos e às pessoas que nos rodeiam. Programas de vacinação bem-sucedidos dependem da cooperação de cada indivíduo para garantir o bem-estar de todas e todos. Não devemos esperar que as pessoas ao nosso redor impeçam a propagação da doença; nós também devemos fazer o que está ao nosso alcance.

Uma criança pode receber mais de uma vacina por vez?
Evidências científicas mostram que administrar várias vacinas ao mesmo tempo não afeta negativamente o sistema imunológico de uma criança. As crianças são expostas a várias centenas de substâncias estranhas que desencadeiam uma resposta imunológica todos os dias. O simples ato de ingerir alimentos introduz novos antígenos no organismo e numerosas bactérias vivem em nossa boca e em nosso nariz. Uma criança é exposta a muito mais antígenos de um resfriado comum ou uma dor de garganta do que de vacinas.
Quando uma vacinação combinada é possível (para difteria, coqueluche e tétano, por exemplo), a criança receberá menos injeções e isso reduzirá seu desconforto. Além disso, há a vantagem de ter que fazer menos visitas aos estabelecimentos de saúde, o que economiza tempo e dinheiro. Além disso, várias medidas também podem ser tomadas para reduzir a dor da “picada” no momento da vacinação.

Preciso me vacinar contra a gripe?
A gripe é uma doença grave que mata entre 300 mil e 500 mil pessoas em todo o mundo a cada ano. Mulheres grávidas, crianças pequenas, pessoas idosas que possuem problemas de saúde e qualquer pessoa com uma condição crônica, como asma ou doença cardiovascular, correm maior risco de infecção grave e morte. Vacinar mulheres grávidas tem o benefício adicional de proteger seus bebês (atualmente não há vacina para bebês com menos de 6 meses).

As vacinas contra a gripe sazonal oferecem imunidade às três cepas mais prevalentes, que circulam em qualquer época do ano. É a melhor maneira de reduzir as chances de uma gripe mais grave e de disseminá-la para outras pessoas e é usada há mais de 60 anos. Evitar a gripe significa evitar custos adicionais de cuidados médicos e perda de renda por falta de dias de trabalho ou escola.

Quais conservantes são usados nas vacinas?
O tiomersal é um composto orgânico contendo mercúrio adicionado a algumas vacinas como conservante. Seu uso é seguro; trata-se do conservante mais utilizado para as vacinas que são fornecidas em frascos de múltiplas doses. Não há evidências que sugiram que a quantidade de tiomersal usada em vacinas represente um risco à saúde.

Existe alguma relação entre vacinas e autismo?
Um estudo de 1998 levantou preocupações sobre uma possível ligação entre a vacina contra sarampo, rubéola e caxumba (MMR) e o autismo. Descobriu-se posteriormente que esse estudo é seriamente falho e fraudulento. O artigo foi retirado pela revista que o publicou. Sua divulgação desencadeou um pânico que levou à queda das taxas de imunização e aos subsequentes surtos dessas doenças. Não há evidências de uma ligação entre essa vacina e o autismo ou transtorno do espectro autista.

OPAS


ANTICORPOS DE LHAMAS PODEM OFERECER PROTEÇÃO UNIVERSAL CONTRA GRIPE


Vacina universal contra gripe
Pesquisadores criaram um anticorpo antigripal que demonstrou proteção universal e duradoura contra uma grande variedade de vírus influenza A e B, incluindo cepas de origem aviária, como o H1N1.

De acordo com Nick Laursen e seus colegas do Instituto de Pesquisa Scripps (EUA), o início rápido da proteção contra a gripe oferecida pelo anticorpo pode ser suficiente para fornecer proteção contra a gripe durante toda uma temporada - uma estação -, particularmente para idosos ou pessoas imunocomprometidas.

Os anticorpos foram isolados de lhamas imunizadas com vacinas tradicionais contra a gripe.

[Imagem: Nick S. Laursen et al. - 10.1126/science.aaq0620]
Além disso, a técnica mostrou-se promissora como medida preventiva que pode ser imediatamente eficaz tão logo surjam suspeitas de um surto ou mesmo uma pandemia de gripe.

Embora as vacinas contra a gripe sejam atualmente a ferramenta mais usada no manejo e prevenção de epidemias em todo o mundo, sua eficácia entre as estações e as populações permanece limitada, com um interesse decrescente da população. Além disso, as vacinas atuais não têm produzido a resposta esperada justamente em partes mais necessitadas da população, como os idosos ou aqueles com imunidade enfraquecida.

Laursen e seus colegas destacam que, além desses problemas, a própria gripe é altamente variável e, como resultado, as vacinas precisam ser adaptadas constantemente a cepas de vírus específicas que circulam em cada estação.

É por isso que tem havido tantos esforços em busca de uma vacina universal contra a gripe.

Anticorpos de lhama contra gripe
Uma das terapias mais pesquisadas como alternativa às atuais vacinas é baseada em anticorpos amplamente neutralizantes (bnAbs: broadly neutralizing antibodies), mas os resultados não têm sido os esperados em grande parte devido a uma falta similar de cobertura entre cepas virais de influenza A e B e à necessidade de múltiplas injeções de alta dose para manter a proteção.

Laursen e seus colegas desenvolveram uma nova estratégia para alcançar uma proteção duradoura contra o vírus da gripe usando anticorpos de domínio único amplamente neutralizantes (sdAbs: single-domain antibodies).

Esses anticorpos foram isolados de lhamas imunizadas com vacinas tradicionais contra a gripe. A partir desses sdAbs, a equipe gerou um anticorpo multi-domínio (MDAb: multi-domain antibody) altamente potente. E esse anticorpo múltiplo conseguiu alvejar múltiplos epítopos de antígenos, chamados MD3606.

Em camundongos tratados por via intranasal usando um vetor de adenovírus, os anticorpos forneceram proteção quase universal contra os vírus influenza A e B. Além disso, animais idosos e imunodeficientes mostraram-se protegidos de doses letais de influenza aviária H1N1. Se essas descobertas pré-clínicas se traduzirem em humanos, a abordagem poderá ser uma ferramenta poderosa para combater a gripe em populações vulneráveis, atualmente não cobertas pela vacinação tradicional.


Redação do Diário da Saúde


CÂNCER DE BOCA -DESCOBERTOS MARCADORES QUE PODEM AUXILIAR NO DIAGNÓSTICO PRECOCE


Estudo identificou que há correlação de proteínas do tecido tumoral com a progressão da doença

Um grupo reunindo pesquisadores de várias instituições, incluindo Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Universidade Estadual do Oeste do Paraná, identificou a correlação entre a abundância de proteínas presentes no tecido tumoral e na saliva com a progressão do câncer de boca. A descoberta surge como um parâmetro capaz de antecipar ou prever a progressão da doença.

O estudo se iniciou por meio da análise proteômica de diferentes áreas do tecido tumoral, utilizando-se 120 amostras microdissecadas. Na fase de verificação, as assinaturas de prognóstico foram confirmadas em aproximadamente 800 amostras de tecido por meio da técnica de imuno-histoquímica e 120 amostras de saliva de pacientes com a doença por proteômica baseada em alvos ou dirigida.

“O conjunto de dados nos levou a ter um resultado robusto e bastante promissor na definição da gravidade da doença. Além de sugerirmos marcadores potenciais da doença, também verificamos esses marcadores, o que confere mais confiabilidade aos achados, mostrando que esses marcadores são eficientes para classificar o paciente com metástase em linfonodo cervical”, afirma a pesquisadora Adriana Franco Paes Leme.

O câncer de boca, também chamado de carcinoma espinocelular (CEC), é o tipo mais comum de tumor maligno de cabeça e pescoço. Tem alta prevalência e mortalidade, com cerca de 300 mil novos casos diagnosticados por ano no mundo e 145 mil mortes. Embora seja relativamente fácil de ser detectado, por feridas na boca identificadas por dentistas, geralmente o diagnóstico é feito quando a doença já está em estágio avançado.



EXAMES DE IMAGEM MOSTRAM OCORRÊNCIA DE MICROCEFALIA DEVIDO AO ZIKA NA BAHIA


Estudo investigou 365 casos e detectou que 45% deles apresentaram alterações nos exames de imagem

Um estudo da Fiocruz Bahia utilizou resultados de exames de imagem intracraniana para confirmar ou descartar a ocorrência de anormalidade congênita no cérebro de crianças com suspeita de microcefalia potencialmente relacionada à infecção pelo zika em Salvador (BA). Entre os 365 casos investigados, 166 (45,5%) apresentaram alteração nos exames de imagem, enquanto 199 (54,5%) tiveram exames normais.

No trabalho, os autores descrevem aspectos clínicos e epidemiológicos do surto de microcefalia ocorrido na capital baiana e avaliam a performance de diferentes critérios de triagem, que utilizam a circunferência da cabeça do bebê ao nascer, para detectar crianças com suspeita de microcefalia. Essa avaliação correlacionou os resultados das medidas de circunferência com os achados nos exames de imagem.

De acordo com a pesquisa, entre abril de 2015 e julho de 2016, 650 bebês nascidos em Salvador foram notificados por suspeita de microcefalia, dos quais 365 tiveram os prontuários médicos revisados para obtenção dos resultados de exames de imagem intracraniana. As lesões mais comumente identificadas foram calcificações cerebrais (86,1%) e dilatação nos ventrículos (66,9%).

O período de maior detecção de crianças com alterações nos exames de imagem foi dezembro de 2015, quando, a cada 100 crianças nascidas vivas, duas foram acometidas. Também foi observado que, comparadas às crianças com exames sem alterações, aquelas com alterações foram significativamente mais propensas a terem nascido de forma prematura e de mães que apresentaram manifestações clínicas sugestivas de infecção pelo zika durante a gravidez.


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