A médica sanitarista
Adele Benzaken foi exonerada da direção do Departamento de Vigilância,
Prevenção e Controle das ISTs, do HIV e Hepatites Virais do Ministério da
Saúde. A decisão foi tomada nesta quinta, em meio a uma série de manifestações
pela permanência da médica no cargo e uma semana depois da polêmica em torno da
cartilha, lançada há seis meses para homens trans.
Assume a diretoria seu
adjunto, Gerson Pereira.
O Ministério da Saúde atribuiu
a mudança a uma renovação da equipe e informou que Adele foi convidada para
continuar a contribuir para formulação de políticas para o setor. Adele assumiu
a direção do departamento em 2016. Em sua gestão, o País começou a adotar a
profilaxia pré-exposição (PrEP), que prevê o uso de antirretrovirais não como
tratamento do HIV, mas para prevenir a infecção. Com amplo apoio de
organizações não governamentais, a permanência de Adele era considerada como
uma garantia da manutenção de ações modernas de prevenção, de combate ao
preconceito e de promoção dos direitos humanos.
Os sinais de que a gestão de
Adele estavam sob risco começaram ainda antes da posse do presidente Jair
Bolsonaro e do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Antes de assumir a
pasta, Mandetta mostrou descontentamento com as ações de prevenção e disse ser
necessária a adoção de estratégias que não “ofendessem” as famílias.
As suspeitas ganharam corpo
semana passada, com a suspensão no site do ministério da Saúde de uma cartilha
voltada para homens trans, que havia sido lançada há seis meses pela pasta. A
retirada do material foi informada pelo jornal O Estado de S. Paulo. A
justificativa oficial era a de que haviam sido identificadas “falhas” no
material.
Um esquema para o pump (uma
seringa invertida usada por parte da população para ampliar o clitóris) teria
sido incluído sem advertências necessárias. O ministro da Saúde afirmou que a
prática, controversa, não poderia ser recomendada pela pasta. A ilustração,
porém, havia sido incluída para alertar sobre a necessidade de não compartilhar
as seringas. Uma medida de redução de danos, não de incentivo, informaram
técnicos do ministério.
A cartilha havia sido elogiada
por médicos que trabalham na prevenção de infecções sexualmente transmissíveis.
Em entrevista ao Estado, a diretora em exercício do Centro de Referência e
Treinamento em DST/Aids de São Paulo, Rosa de Alencar Souza, afirmara que a
cartilha trazia informações importantes e que não havia ali nada que
justificasse a retirada de circulação.
A retirada do material que
estava no site provocou uma série de críticas ao ministério e foi interpretada
como um claro sinal de recuo das ações de prevenção de doenças sexualmente
transmissíveis.
Nesta quinta, a cartilha foi
abordada numa conversa entre Adele e o secretário de Vigilância em Saúde,
Wanderson Kleber de Oliveira.
As cartas em defesa da
permanência de Adele no cargo começaram a ser enviadas nesta quarta a Mandetta.
Entre elas, a Articulação Nacional de Luta contra Aids, o Fórum de ONGs de Aids
de São Paulo e infectologista José Ramalho Madruga.
“Não podemos adormecer diante
de uma epidemia que se aproxima de um milhão de casos e mais de 350 mil mortes
desde 1980 no Brasil. Problematizar a questão da aids é compreendê-la dentro da
concepção mais ampla”, afirmaram na carta integrantes da Anaids. O Fórum de
ONGs Aids do Estado de São Paulo, por sua vez, afirmou a importância das
ferramentas para prevenção da infecção, entre elas, a profilaxia pré-exposição
(PrEP), que prevê o uso de medicamentos entre populações mais vulneráveis à
doença de forma preventiva. Ramalho Madruga observou que, na gestão de
Benzaken, o Brasil foi o primeiro país da América Latina a ofertar a PrEP.
Fonte: O
Estado de S. Paulo
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