Na audiência, foram discutidas
formas de prevenir e tratar a depressão
Psicólogos e psiquiatras
divergiram, em audiência na Câmara, sobre o uso adequado de antidepressivos.
O assunto foi discutido
na Comissão de Seguridade Social e Família nesta quinta-feira ( 8), a pedido do
deputado Flavinho (PSB-SP).
O deputado defende projeto
(PL 1938/15) que cria a Semana Nacional de Luta e Conscientização sobre a
Depressão, nos dias seguintes a 10 de outubro, Dia Mundial da Saúde
Mental.
Para Flavinho, o número de
casos de depressão no País justifica a proposta como forma de alerta à
população.
No Brasil, já são 11,5 milhões
de pessoas que sofrem da doença e, segundo levantamento da Organização Mundial
de Saúde (OMS), o número de casos cresceu em torno de 18% nos últimos dez anos.
Pressões diárias
A representante do Conselho Federal de Psicologia, Rosane Granzotto, atribui
esse aumento ao contexto socioeconômico atual, com mais competitividade e
exigências no trabalho; consumismo exacerbado; cobranças por um corpo perfeito
e jovem; e também ao aumento das relações virtuais em vez do contato interpessoal.
Todos esses fatores, segundo a
psicóloga, provocam ansiedade, fragilidade e frustração e podem levar à
depressão.
Rosane Granzotto alertou,
entretanto, para o fenômeno da "medicalização da vida", pelo qual o
uso excessivo de antidepressivos leva à banalização desses remédios no
enfrentamento de questões às vezes rotineiras. O caminho ideal, segundo ela,
seria a ajuda profissional interdisciplinar.
"Nós não aceitamos que a
leitura de uma configuração clínica seja exclusivamente biológica, porque sabemos
que as relações imprimem uma forma de comportamento que se perpetua pela vida;
então, não podemos deixar de considerar os laços afetivos, a forma com que esse
ser vem ao mundo e como ele é acolhido, ou como ele é abandonado, violentado,
como recebe amor, enfim, tudo isso vai configurar sua saúde mental."
Preconceito
Já o representante da Associação Brasileira de Psiquiatria, Antônio Geraldo da
Silva, disse que, por desconhecimento, o psiquiatra ainda enfrenta muito
preconceito. A depressão, explicou ele, apresenta um conjunto de sintomas e
deve, sim, ser tratada por uma equipe multidisciplinar. Ele advertiu,
porém, sobre o risco de suicídio no caso de depressão grave. No Brasil, já há
33 suicídios por dia.
"Depressão leve pode ser
tratada só com psicoterapia, atividades físicas e tudo mais. Agora, depressão
leve para moderada, moderada, moderada para grave e depressão grave você não
tem como não tratar adequadamente, e isso inclui o uso de antidepressivo”,
disse o médico.
Segundo ele, é preciso responsabilizar
aqueles que evitam ou não tratam as pessoas que têm depressão e que chegam ao
suicídio. “Desses suicídios que estamos tendo no País, muitos poderiam ter sido
evitados se houvesse diagnóstico precoce ou se não negassem que a doença
existe."
Parceria
Coordenador-geral de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas do Ministério da
Saúde, Quirino Cordeiro disse que a gravidade do problema é reconhecida pelos
órgãos oficiais
Ele anunciou que o ministério,
por meio de um acordo com o Centro de Valorização da Vida (CVV) e a Agência
Nacional de Telecomunicações (Anatel), vai oferecer, em até dois anos, uma
linha telefônica gratuita para o serviço de apoio emocional e prevenção do
suicídio. Hoje, no serviço prestado voluntariamente pelo CVV, a ligação é paga.
ÍNTEGRA DA PROPOSTA:
PL-1938/2015
Reportagem - Geórgia Moraes,
Foto - Luis Macedo, Edição - Rosalva Nunes, Agência Câmara Notícias