Minas se beneficia com o avanço do setor e é alvo de ao menos R$ 650
milhões em investimentos de laboratórios.
Complexo industrial que a Cimed vai
construir em Pouso Alegre. no Sul de Minas, prevê investimentos de R$ 450
milhões e geração de 800 empregos diretos
Se tem um setor que não tem muito do
que queixar da crise econômica no Brasil é o farmacêutico.
Impulsionado por fatores como o envelhecimento da população ou o avanço dos
medicamentos genéricos, a indústria apresentou crescimento de 13,1% no ano
passado, representando um faturamento de cerca de R$ 85 bilhões no período.
Ao contrário do fechamento de postos
de trabalho ocorrido em vários setores, as contratações aumentaram em 20%. Os
números não significam que o setor não tenha lá suas dificuldades, como a alta
do dólar – 80% dos insumos são importados –, a carga tributação e a dívida
acumulada pelo poder público com a judicialização da saúde, que chegou a R$ 1
bilhão em dezembro de 2015.
Mas um país com 200 milhões de
habitantes nunca deixará de ser visto como um mercado estratégico para as
indústrias.
Nesse contexto, Minas Gerais pode
comemorar. Nos últimos meses, empresas do setor têm investido milhões de reais
na expansão de suas unidades. Uma delas é a Biolab Farmacêutica, que no ano
passado faturou R$ 1,25 bilhão.
A farmacêutica acaba de anunciar R$
450 milhões nos próximos quatro anos para a construção de um novo complexo
industrial em Pouso Alegre, no Sul do estado, com área construída de 60 mil
metros quadrados, distribuídos em sete complexos, e geração de 800 empregos
diretos. No local serão produzidas a cada ano 200 milhões de unidades de várias
classes de medicamentos.
O projeto está em fase final, e as
obras começarão neste segundo semestre. A produção atenderá ao mercado interno
e externo, como os Estados Unidos e União Europeia. Para isso, a empresa
seguirá as normas FDA (Food and Drug Administration) e EMA (European Medicines
Agency), na tentativa de obter a certificação internacional. Também seguirá as
regras para a certificação de fábrica verde.
“Continuamos acreditando e investindo
no Brasil e em nossos profissionais, buscando sempre melhorar”, afirmou o CEO
da Biolab, Paulo Marques. A qualidade, segundo ele, é que faz com que o
paciente fidelize a marca, especialista em medicamentos de uso contínuo.
A fabricante de produtos
farmacêuticos Cimed também anunciou um investimento de R$ 100 milhões na
ampliação de seu parque produtivo de vitaminas em Pouso Alegre, além da
construção de uma fábrica de medicamentos sólidos.
A nova unidade vai contar com três
linhas, destinadas a medicamentos genéricos, similares e isentos de prescrição
médica. A expectativa é dobrar a capacidade produtiva de medicamentos sólidos e
500 postos de trabalhos sejam criados até o final do ano que vem, quando a
unidade deve ser inaugurada.
O presidente do grupo Cimed, João
Adibe, ressalta que Minas Gerais é um estado importante do ponto de vista
geográfico, facilitando a logística de distribuição da produção. Atualmente,
40% do faturamento da empresa está concentrado na região Sudeste.
E por falar em faturamento, a empresa
contabiliza crescimento constante. “O setor farmacêutico não se abala diante de
uma crise porque o medicamento é um produto de primeira necessidade. E uma
estratégia nossa sempre foi o preço. A gente consegue passar para o
varejo qualidade com preços mais atrativos”, diz João Adibe. Prova
disso é que, segundo ele, somente neste ano houve um crescimento de 15% na
contratação de pessoal.
Embalagens Especializada em produção
de embalagens, ampolas e frascos destinados à indústria farmacêutica, a OMPI do
Brasil – pertencente à italiana Stevanato Group – anunciou em fevereiro do ano
passado um acordo com o governo estadual para investir R$ 100 milhões na
fábrica de Sete Lagoas, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Pouco mais de um ano depois da
cerimônia de lançamento da pedra fundamental, a fábrica está pronta e a
produção já começou.
“A primeira remessa de amostras
produzidas no local foi enviada neste mês de julho a um dos clientes da empresa
no Brasil. O volume de produção crescerá gradualmente a partir de agora”,
informou a Assessoria de Imprensa da Stevanato Group. A fábrica será inaugurada
oficialmente em novembro.
Atualmente são empregados no local 80
pessoas, número que chegará a 200 quando a unidades estiver operando em plena
capacidade.
“A decisão de investir no Brasil foi
tomada depois de análises precisas do mercado local. O Brasil é o sexto maior
mercado farmacêutico do mundo e projetamos que continuará crescendo a taxas de
dois dígitos”, afirmou em fevereiro Marco Stevanato, vice-presidente do grupo.
Com a unidade brasileira, o grupo
italiano ampliou para dez o número de fábricas, que estão instaladas também na
Itália, Dinamarca, Eslováquia, México e China.
Carga tributária e câmbio são
entraves
Em meio a uma crise generalizada, os
números do setor de medicamentos podem – e devem – ser comemorados. Mas eles
podiam ser ainda melhores, segundo análise da Associação da Indústria
Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma).
Alguns fatores como a variação no
câmbio, alta tributação (34% do preço dos remédios diz respeito a imposto),
roubo de carga nas estradas durante o transporte dos produtos e controle
rigoroso de preços impedem um crescimento que poderia ser bem maior que os 13%
registrados no último ano.
“São muitos os problemas, o que faz
com que a indústria tenha que se reinventar para fazer mais”, diz Pedro
Bernardo, diretor da Interfarma. Uma reclamação constante do setor é a alta
tributação, embora a Constituição Federal estabeleça que a carga de impostos
deve levar em consideração a essencialidade do produto.
O índice dos medicamentos só perde
para o cigarro e bebidas alcoólicas, mas é mais alto por exemplo que o cobrado
sobre moda praia e alguns brinquedos.
O diretor enfatiza outro ponto
importante: a participação das importações de produtos e insumos no mercado
farmacêutico saltou 19 pontos percentuais em 10 anos, chegando a representar
58% do total comercializado no Brasil.
Para se ter uma ideia, em 2005 as
importações correspondiam a 33% do mercado. Na ponta, pode repercutir em menos
investimento em tecnologia e geração de empregos.
“A importação da matéria-prima e
produto pronto está subindo bem mais que o faturamento. O aumento da importação
representa um ganho que estamos deixando de registrar. Lógico que temos
investimentos e crescimento, mas poderia ser muito maior”, analisa Pedro
Bernardo.
Ele lembra que o custo do Brasil é
muito alto, o que envolve ainda burocracia e processos muito demorados, o que
muitas vezes desencoraja investimentos na produção de insumos e medicamentos.
Por outro lado, o Brasil se mantém
como um dos alvos do setor em razão de algumas características como o
envelhecimento da população – atualmente em 75,5 anos, fase em que é mais comum
o uso de medicamentos.
Mas há ainda outros fatores, como o
sobrepeso da população. Estima-se que 56% dos brasileiros estão acima do peso,
condição que propicia o surgimento de mais doenças, como a hipertensão e
diabetes, levando consequentemente a uma maior necessidade de uso de remédios
de forma constante.
Fonte: Portal UAI, foto:
Cimed/Divulgação