As duas listas têm foco em
câncer e outros desafios globais de saúde, com ênfase em soluções eficazes,
priorização inteligente e acesso ideal aos pacientes. Foto: EBC
A Organização Mundial da Saúde
(OMS) atualizou nesta terça-feira (9) suas listas de medicamentos e
diagnósticos essenciais, que são documentos de orientação aos países para que
priorizem produtos de saúde que devem estar amplamente disponíveis e ser
acessíveis em todos os sistemas de saúde. As duas listas têm foco em câncer e outros
desafios globais de saúde, com ênfase em soluções eficazes, priorização
inteligente e acesso ideal aos pacientes.
“Em todo o mundo, mais de 150
países usam a Lista de Medicamentos Essenciais da OMS para orientar decisões
sobre quais medicamentos representam a melhor relação custo-benefício, com base
em evidências e impacto na saúde”, afirmou o diretor-geral da OMS, Tedros
Adhanom Ghebreyesus. “A inclusão de alguns dos mais recentes e mais avançados
medicamentos contra o câncer, que salvam vidas, é uma forte declaração de que
todos merecem acesso a eles, não apenas aqueles que podem pagar.”
Lista de Medicamentos Essenciais
2019
Tratamentos para câncer:
Embora vários novos tratamentos contra a doença tenham sido comercializados nos
últimos anos, apenas alguns deles fornecem benefícios terapêuticos suficientes
para serem considerados essenciais. As cinco terapias contra o câncer
adicionadas pela OMS na nova Lista de Medicamentos são consideradas as melhores
em termos de taxas de sobrevivência para tratar câncer de pele melanoma,
pulmão, sangue e próstata. Duas imunoterapias recentemente desenvolvidas
(Nivolumab e Pembrolizumab), por exemplo, forneceram até 50% de sobrevida para
o melanoma avançado, um câncer que até recentemente era incurável.
Antibióticos
O Comitê de Medicamentos
Essenciais reforçou o aconselhamento sobre o uso de antibióticos, atualizando
as categorias do AWARE, que indicam quais desses medicamentos usar para
infecções comuns e graves com vistas a alcançar melhores resultados de
tratamento e reduzir o risco de resistência antimicrobiana. O Comitê recomendou
que três novos antibióticos para o tratamento de infecções resistentes a
múltiplas drogas sejam adicionados como essenciais.
Outras atualizações na lista
de medicamentos: novos anticoagulantes orais para prevenir AVC como uma
alternativa à varfarina para fibrilação atrial e tratamento de trombose venosa
profunda. Estas são particularmente vantajosas para os países de baixa renda,
pois, ao contrário da varfarina, não requerem monitoramento regular; biológicos
e seus respectivos biossimilares para condições inflamatórias crônicas, como
artrite reumatoide e doenças inflamatórias intestinais.
A lista de medicamentos também
passou a incluir carbetocina termoestável para a prevenção da hemorragia
pós-parto. A nova formulação tem efeitos semelhantes aos da ocitocina, terapia
padrão atual, mas oferece vantagens para os países tropicais, já que não requer
refrigeração.
A OMS explica que nem todas as
submissões ao Comitê estão incluídas na lista. Medicamentos para esclerose
múltipla submetidos para inclusão, por exemplo, não foram listados. O Comitê
pontuou que algumas opções terapêuticas relevantes atualmente comercializadas
em muitos países não foram incluídas nas submissões; será lançado um aplicativo
revisado com todas as opções relevantes disponíveis. Além disso, não recomendou
a inclusão do metilfenidato, um remédio para o transtorno de déficit de atenção
e hiperatividade (TDAH), já que há incertezas nas estimativas de seus
benefícios.
Lista de Diagnósticos
Essenciais
A primeira lista de
diagnósticos essenciais foi publicada em 2018, concentrando-se em um número limitado
de doenças prioritárias, como HIV, malária, tuberculose e hepatites. A lista
deste ano foi expandida para abranger mais doenças não transmissíveis e
transmissíveis.
Câncer
Dado o quão crítico é garantir
um diagnóstico precoce do câncer (70% das mortes por pela doença ocorrem em
países de baixa e média renda, principalmente porque a maioria dos pacientes é
diagnosticada de forma tardia), a OMS adicionou 12 testes à Lista de
Diagnósticos para detectar uma ampla gama de tumores sólidos. Para apoiar o diagnóstico
adequado, uma nova seção cobrindo testes anatomopatológicos foi adicionada;
este serviço deve ser disponibilizado em laboratórios especializados.
Doenças infecciosas
A lista tem foco em doenças
infecciosas predominantes em países de baixa e média renda, como a cólera, e em
doenças negligenciadas como leishmaniose, esquistossomose, dengue e zika. Além
disso, uma nova seção para testes de influenza foi adicionada para ambientes de
saúde da comunidade onde não há laboratórios disponíveis.
Testes gerais
A lista também foi expandida
para incluir testes gerais que abordam uma série de doenças e condições, como
testes de ferro (para anemia) e testes para diagnosticar o mau funcionamento da
tireoide e a anemia falciforme (uma forma hereditária de anemia muito presente
na África Subsaariana).
Há também uma nova seção
específica para testes destinados à triagem de doações de sangue. Isso faz
parte de uma estratégia da OMS para tornar as transfusões mais seguras.
“A Lista de Diagnósticos
Essenciais foi introduzida em 2018 para orientar o fornecimento de testes e
melhorar os resultados de tratamento”, disse Mariângela Simão, diretora-geral
assistente para Acesso a Medicamentos, Vacinas e Produtos Farmacêuticos da OMS.
“À medida que os países
avançam em direção à cobertura universal de saúde e os medicamentos se tornam
cada vez mais disponíveis, será crucial ter as ferramentas de diagnóstico
corretas para garantir o tratamento adequado”.
Nota aos editores
A Lista de Medicamentos
Essenciais atualizada acrescenta 28 medicamentos para adultos e 23 para
crianças, além de especificar novos usos para 26 produtos já listados. Isso
eleva o total para 460 produtos considerados essenciais no atendimento às
principais necessidades de saúde pública. Embora esse número possa parecer
alto, corresponde a uma fração do número de medicamentos disponíveis no
mercado. Ao focar nas escolhas, a OMS está enfatizando os benefícios para os
pacientes e os gastos responsáveis com vistas a ajudar os países a priorizar e
alcançar a cobertura universal de saúde.
A lista atualizada de
diagnósticos essenciais contém 46 testes gerais que podem ser usados para
atendimentos de rotina ao paciente, bem como para a detecção e diagnóstico de
uma ampla gama de condições de doença; 69 testes são destinados à detecção,
diagnóstico e monitoramento de doenças específicas. Essa lista é dividida em
duas seções, dependendo do usuário e da configuração: uma para configurações da
comunidade, que incluem autotestes; e outra para laboratórios clínicos, que
podem ser instalações gerais e especializadas.
Ambas as listas da OMS são
modelos para os países desenvolverem suas próprias listas nacionais, baseadas
na carga local de doenças e na infraestrutura de prestação de cuidados de saúde
existentes. O acesso a esses produtos de saúde requer boas práticas de compras,
cadeias de suprimentos efetivas, protocolos de gerenciamento de qualidade e
forças de trabalho de saúde qualificadas. A prestação de serviços diagnósticos
efetivos, por se basearem em tecnologias, depende também de especificações
técnicas robustas, disponibilidade de redes laboratoriais cuidadosamente
projetadas, infraestrutura de suporte adequada e educação adequada dos usuários
(paciente ou agente de saúde) para garantir a segurança.