Tema pautado na Reunião
Técnica CEXCORVI - Comissão Externa da Câmara dos Deputados destinada a
acompanhar o Enfrentamento à Pandemia da Covid-19 no Brasil1 de Julho de 2020
às 09:37, que pode ser acessada na integra no link: https://edemocracia.camara.leg.br/audiencias/sala/1562
Caso a vacina contra a
Covid-19 desenvolvida pela Universidade de Oxford se comprove eficaz em testes
preliminares, a produção no Brasil começará no fim do ano. A informação foi
dada em audiência pública da Câmara dos Deputados, nesta quarta-feira (1º), por
Jorge Mazzei, diretor-executivo de relações corporativas da AstraZeneca no
Brasil, grupo farmacêutico anglo-sueco para o qual a vacina foi licenciada.
Segundo ele, o acordo fechado
com o governo brasileiro prevê que, no momento em que a vacina se comprovar
eficaz e segura, já haja matéria-prima para a produção imediata pela Fundação
Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Cinco mil voluntários
Na comissão externa que acompanha as ações do governo de combate ao novo
coronavírus, a diretora médica da AstraZeneca Brasil, Maria Augusta Bernardini,
explicou que a vacina está na fase três de testes, de ensaios clínicos em
humanos - estágio de desenvolvimento mais avançado em relação a outras vacinas
pesquisadas no mundo contra a Covid-19.
O Brasil é o primeiro país
fora do Reino Unido a iniciar a fase três de testes com a vacina de Oxford, o
que começou a ocorrer em junho. O objetivo é testar ao todo 5 mil voluntários
no País, a partir de parceria com a Universidade Federal de São Paulo
(Unifesp).
Metade dessa população vai
receber a vacina experimental, e a outra metade um ativo comparador. Os
voluntários serão acompanhados durante um ano, mas com avaliações preliminares
periódicas de eficácia. “Entre os meses de outubro e novembro, esperamos já ter
resultados preliminares de eficácia a partir dessa análise dos pacientes
brasileiros e do Reino Unido”, disse a diretora.
Antes dos resultados finais
A presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, confirmou que o acordo fechado
com a AstraZeneca prevê a compra do ingrediente ativo e transferência de
tecnologia, para que o laboratório da Fiocruz Bio-Manguinhos possa produzir a
vacina contra Covid-19 antes dos resultados dos estudos finais e registro da
vacina.
A ideia é produzir “com risco”
15,2 milhões de doses em dezembro e 15,2 milhões de doses em janeiro, ao custo
de US$ 127 milhões.
Após a conclusão dos estudos,
prevista para junho de 2021, se a vacina for aprovada e registrada, serão
produzidas 70 milhões de doses, com custo de U$ 161 milhões. Segundo ela, a
vacina traz esperança para o País, a qual vem da ciência e do Sistema Único de
Saúde (SUS) - do qual a Fiocruz é parte -, que devem ter orçamento garantido.
Riscos necessários
Diretora do Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, Camile
Sachetti observou que a decisão do governo de fechar acordo envolvendo a vacina
de Oxford envolve risco, mas ela considera esse risco necessário diante da
grande procura global pela vacina contra Covid-19. “Se não estivermos
inseridos, mesmo sob risco, em algumas iniciativas, o Brasil ficará para trás”,
avaliou.
Ela acrescentou que o Brasil
também aderiu ao consórcio internacional de desenvolvimento da vacina Act
Accelerator. Segundo ela, existem 206 pesquisas de vacinas em andamento no
mundo, sendo que 27 já estão em fase de ensaios clínicos, e o ministério
monitora diariamente os resultados. “Uma vacina que se mostra promissora hoje
pode não ser amanhã”, alertou.
Com segurança, sem registro
Gustavo Mendes, representante da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa), afirmou que foi constatada a segurança clínica para a vacina de
Oxford ser administrada em voluntários.
Após a conclusão dos testes, a
Anvisa tomará a decisão sobre o registro da vacina - avaliação que incluirá a
comprovação de eficácia da vacina para a prevenção da infecção, reações
adversas e condições de fabricação, por exemplo. “Não podemos abrir mão da
cautela ao avaliar o risco-benefício”, disse.
Outras pesquisas
A reitora da Unifesp, Soraya Smaili, informou que inicialmente serão testados 3
mil voluntários em São Paulo e mais 1 mil no Rio de Janeiro que tenham alta
exposição ao vírus, como profissionais de saúde e áreas afins - limpeza,
lavanderia e logística. Todos os voluntários no Brasil são adultos entre 18 e
55 anos testados negativamente para o vírus. No Reino Unido, há voluntários de
outras faixas-etárias.
Ela destacou a importância
também das pesquisas com outras vacinas, além da de Oxford, e ressaltou que as
universidades federais têm mais de 800 projetos de pesquisa sobre a Covid-19.
Grupos prioritários
Coordenadora do Programa Nacional de Imunização do Ministério da Saúde,
Francieli Fantinato disse que já está sendo discutida no âmbito do programa a
definição de grupos prioritários para a vacinação contra Covid-19 a partir do
quantitativo de 30,4 milhões de doses inicialmente disponibilizadas.
As prioridades incluem
profissionais de saúde, população idosa (não está definida ainda a faixa etária)
e grupos com comorbidades. “As prioridades ainda precisarão ser escalonadas”,
acrescentou.
Deputados integrantes da
comissão comemoraram os prazos anunciados. Relatora do colegiado, a deputada
Carmen Zanotto (Cidadania-SC) disse que inicialmente se pensava que o prazo
para o Brasil ter acesso à vacina seria maior e salientou que o Congresso deve
ajudar a garantir o orçamento necessário para garantir a disponibilização da
vacina para a população brasileira.
Já Jandira Feghali (PCdoB-RJ)
preocupa-se com a possibilidade de a esperança com a vacina levar a um maior
descuido com o enfrentamento do coronavírus agora, chamando a atenção para o
avanço da curva de contaminação no País. “Que a esperança com a vacina não
signifique arrefecimento no enfrentamento”, advertiu.
Também participaram do debate,
que ocorreu por videoconferência, representantes da Fundação Lemann - que
financia os testes da vacina em São Paulo - e do Instituto D’Or de Pesquisa e
Ensino - que financia os primeiros mil testes no Rio. E ainda o embaixador do
Reino Unido no Brasil, Vijay Rangarajan. Para ele, a cooperação internacional é
essencial para combater o novo coronavírus, para que parcelas da população
mundial não fiquem sem a vacina.
Reportagem - Lara Haje,
Edição - Natalia Doederlein
Fonte: Agência Câmara de
Notícias