Sob ajustes, pauta da indústria está distribuída nesta quarta-feira (23) de modo bastante heterogêneo. Jornais nacionais centram forças em questões macro e deixam de lado aspectos ligados à produção que até ontem davam sinais de que interfeririam de modo mais contundente na agenda da mídia.
O comércio exterior é um dos pontos de referência, sobretudo nas abordagens que buscam qualificar o desempenho da balança comercial e recentes alterações no câmbio. Parte dos jornais ainda chama a atenção para a relação do Brasil com os países vizinhos, que, especialmente no caso da Argentina, é motivo de preocupação.
FOLHA DE S.PAULO informa que o governo lançará hoje o Portal Único de Comércio Exterior, “um sistema para facilitar a exportação e a importação de mercadorias”. Conforme o jornal, o objetivo é concentrar em um único ambiente todas as informações sobre os produtos, simplificando o processo de liberação na alfândega. FOLHA adverte que, atualmente, há sete sistemas diferentes que o exportador utiliza, gerenciados pela Receita Federal, pelo Ministério do Desenvolvimento, e pela Secretaria de Portos. Há ainda sistemas locais, como o usado em Santos.
Reportagem revela também que, em breve, o sistema terá capacidade de viabilizar o chamado "Documento Único de Exportação", que substituirá uma série de formulários exigidos hoje por mais de uma dezena de órgãos. Em tom positivo, FOLHA destaca a economia de tempo ao desembaraçar mercadorias na aduana e possíveis melhorias no fluxo de navios nos portos.
Em O ESTADO DE S.PAULO, reportagem diferenciada ressalta que representantes dos governos e das montadoras do Brasil e da Argentina vão se reunir na próxima semana, em São Paulo, para discutir uma solução para a retração dos negócios entre os dois países. Texto registra que o encontro é resultado de esforços conjuntos do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior do Brasil (Mdic), Mauro Borges, do secretário executivo do Ministério de Fazenda, Paulo Rogério Caffarelli, dos ministros argentinos Axel Kicillof (Economia) e Débora Giorgi (Indústria) e do presidente do Banco Central da Argentina, Juan Carlos Fábrega.
ESTADÃO avança e afirma que os governos dos dois países pretendem definir uma proposta para o financiamento de exportações para garantir a liquidez do comércio. A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) é mencionada, assim como dados recentes que mostram uma reversão do cenário nas vendas de carros. “A preocupação do governo brasileiro com a queda das vendas ao mercado do principal sócio na região tem sustentação nos números”, resume o jornal.
Como ponto de atenção – e em tom crítico – jornalista ELIO GASPARI, em sua coluna na FOLHA DE S.PAULO e em O GLOBO, escreve que “a Casa Civil da Presidência da República, as montadoras e os sindicatos estão discutindo um socorro para os trabalhadores ameaçados com a perda do emprego por causa da queda nas vendas de veículos”.
Citando informações que reforçam a perda de vigor das vendas de automóveis, GASPARI informa que “as empresas e os sindicatos discutem a importação de um mecanismo eficaz, usado na Alemanha: nele, o trabalhador reduz sua carga horária, mantém seus benefícios e, durante um período de seis meses a dois anos, recebe até 67% do que lhe é devido. No limite, recebe mesmo sem trabalhar”.
ELIO GASPARI critica o fato de “um pedaço dessa conta” ser paga pelo Tesouro: “a proposta assemelha-se mais a uma empulhação do que a um programa social. Mais um caso em que a sacrossanta "destruição criadora" do capitalismo é reciclada no Brasil destruindo a Bolsa da Viúva para criar puxadinhos de cartórios”. E conclui: “se os empresários e sindicalistas estão diante de uma crise, devem botar a boca no mundo, expondo as razões pelas quais as vendas de veículos caíram”.
Avaliação semelhante está no editorial de O ESTADO DE S.PAULO (leia abaixo). Recomenda-se ainda a leitura dos editoriais dos jornais de São Paulo (leia abaixo).
Complementando a pauta, destaca-se no VALOR ECONÔMICO a entrevista exclusiva com o professor de direito na Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, e ex-presidente da autoridade reguladora do mercado de valores mobiliários de Israel entre 2008 e 2011, Zohar Goshen. O especialista ressalta os entraves ao desenvolvimento do mercado doméstico de dívida corporativa no Brasil.
Na avaliação de Goshen, o governo brasileiro suga parte relevante da poupança nacional com emissão de títulos públicos a taxas elevadas e, ao mesmo tempo, concede crédito subsidiado às empresas por meio do BNDES. "Com o governo dos dois lados, não adianta investir em infraestrutura para desenvolver as negociações, porque não haverá demanda nem oferta para produtos de crédito privado", afirma.
Destaque do dia para o reposicionamento da crise instalada em torno do futuro político do deputado André Vargas (PT-PR). Acusado de manter ligações escusas com o doleiro Alberto Youssef, o parlamentar é pressionado a renunciar, mas, conforme as reportagens publicadas hoje, não só resiste como dá sinais que pretende ir para o enfrentamento.
FOLHA DE S.PAULO registra que “sob ameaça de expulsão do PT e pressionado pelo partido a abandonar o mandato”, Vargas insiste que não renunciará e que conta com o apoio de pelo menos um terço da bancada petista na Câmara. Jornal relata uma “dura conversa” entre o deputado e o presidente do PT, Rui Falcão. “Em resposta à resistência de Vargas, Falcão disse que será inevitável a instauração de uma comissão de ética no partido, na qual o deputado pode ser punido com a expulsão da legenda”, resume o texto.
O ESTADO DE S.PAULO e O GLOBO também se mobilizam e publicam abordagens semelhantes relatando, entre outras coisas, o desgaste público causado ao PT e ao governo pela resistência de Vargas em ceder.
Sobre a Petrobras, mídia nacional volta a centrar forças no choque de argumentos protagonizado pelo ex-presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, e a presidente Dilma Rousseff. Os ruídos verificados nas versões apresentadas por ambos em relação à compra da refinaria de Pasadena (EUA) são explorados sob a perspectiva das legendas de fazem oposição ao Palácio do Planalto.
Reportagens relatam que PSDB e DEM lideram um movimento no Congresso em favor de uma investigação mais rigorosa envolvendo os negócios da companhia de petróleo.
A Comissão de Fiscalização Financeira e Controle (CFFC) da Câmara dos Deputados deverá votar hoje requerimento protocolado pelo DEM para convidar Gabrielli a prestar esclarecimentos. Pedido idêntico foi protocolado na Comissão de Desenvolvimento Econômico. Na FOLHA, breve nota reforça que Gabrielli disse a interlocutores que não tem "por que não ir se for convidado.
Na cobertura eleitoral, chama a atenção o espaço conferido ao senador Aécio Neves (PSDB-MG). Jornais informam com destaque que o PSDB decidiu oficializar a candidatura presidencial tucano no dia 14 de junho. A convenção tucana será realizada em São Paulo. Ontem, representantes dos 27 diretórios estaduais lançaram manifesto de apoio a Aécio.
Como ponto de atenção dentro da agenda eleitoral, O GLOBO compara o quadro de apoio ao presidente da República verificado em 2010 com o atual. Tese do jornal carioca é de que a presidente Dilma “terá neste ano menos máquinas eleitorais ao seu lado”.
Análises sobre o comportamento da inflação e notícias associadas a consumo incrementam a cobertura econômica do dia. Apesar disso, agenda ainda continua bastante concentrada em temas de infraestrutura – especialmente energia e segurança hídrica.
Destaque para a informação de que, pela primeira vez desde 2004, analistas do mercado financeiro consultados pelo Banco Central por meio da pesquisa Focus preveem que o repique de preços deverá ultrapassar o teto da meta estipulada pelo governo neste ano e fechar em 6,51%.
O GLOBO relata que, “preocupados com o impacto da alta dos alimentos na inflação, técnicos do governo defendem nos bastidores mudanças polêmicas na formulação da política econômica”. Reportagem sugere que uma das alternativas é retirar do cálculo do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) os produtos in natura por causa de problemas climáticos.
MIRIAM LEITÃO, em sua coluna em O GLOBO, escreve que “a inflação deve estourar a meta em maio (...) e deve continuar pelos meses seguintes”. Em tom negativo, a jornalista afirma que “o governo Dilma está colhendo o que plantou: não deu atenção devida ao tema, deixou várias vezes pessoas influentes darem demonstração de que o combate à inflação estava em segundo plano, ampliou os gastos, permitiu que os indicadores fiscais perdessem credibilidade”.
Entre os temas ligados a infraestrutura, a questão energética monopoliza boa parte das atenções. Uma das abordagens de maior peso está na FOLHA DE S.PAULO, que revela: “o gasto das empresas de distribuição – que levam energia até a casa do consumidor – chegou a R$ 4,7 bilhões em fevereiro, de acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). O número supera em 17,5% as estimativas do setor e indica que pode haver necessidade de novos empréstimos para o setor, principalmente se o leilão programado para o dia 30 não suprir toda a necessidade das distribuidoras”.
Complementando a pauta, registra-se ainda a importância dada pelos jornais à aprovação do Marco Civil da Internet, ontem, no Senado. Com grande expectativa e certo tom de alívio, reportagens registram que o texto deverá ser sancionado hoje pela presidente Dilma Rousseff.
MERCADO ABERTO, na FOLHA DE S.PAULO, informa que “a Boeing vai renovar a parceria com o programa Ciência sem Fronteiras, do governo federal. Neste ano, a companhia apoiará 25 estudantes de engenharia aeronáutica com um programa de oito semanas nos EUA”.
O GLOBO informa que a comissão especial da Câmara que analisa as mudanças promovidas pelo Senado no projeto do Plano Nacional de Educação (PNE) aprovou ontem o texto-base de autoria do relator, deputado Ângelo Vanhoni (PT-PR). Segundo o jornal, o projeto aumenta para 10% do PIB os gastos anuais da União, dos estados e dos municípios com ensino público, a partir do décimo ano de vigência da proposta. Em 2011, o país destinou 5,3%do PIB à educação. Um dos destaques que começaram a ser debatidos ontem definirá se gastos com programas como Universidade para Todos (ProUni), Pronatec e Ciência sem Fronteiras poderão ser contabilizados como investimentos em ensino público, resume O GLOBO.
FOLHA DE S.PAULO registra que “o Prêmio Empreendedor Social, realizado pela FOLHA e pela Fundação Schwab, prorrogou as inscrições até o dia 11 de maio. O formulário está no site folha.com/empreendedorsocial. Desde 2009, a FOLHA realiza também o Prêmio Folha Empreendedor Social de Futuro, para jovens de 18 a 35 anos. Os finalistas das duas competições participam da Escolha do Leitor, na qual internautas da Folha e do UOL votam nos projetos. O vencedor ganha um plano de comunicação. O prêmio tem patrocínio da CNI e da Vale e parceria estratégica do UOL, da Fundação Dom Cabral e da IE Business School”.
Sob o título ‘Proposta indecorosa’, ESTADÃO afirma que, “acostumados a empurrar seus problemas para o governo, empresários e sindicalistas do setor automobilístico tentam mais uma vez sangrar o setor público para compensar a ineficiência e o baixo poder de competição das empresas”. Texto condena a proposta – classificada pelo jornal como “indecorosa” – de usar dinheiro do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) para pagar durante até dois anos parte do salário de empregados com jornada reduzida. Segundo o ESTADÃO, “a indústria automobilística instalada no Brasil é uma das mais protegidas do mundo”.
ESTADÃO afirma ainda que “nem todos os problemas da indústria brasileira - automobilística ou de outros setores têm origem nas empresas”. Jornal aponta como uma das causas o baixo poder de competição da maior parte delas, gargalo explicável em boa parte por um mau ambiente de negócios, tributos excessivos, burocracia e custos logísticos.
Em ‘Avanço estatístico’, editorial da FOLHA DE S.PAULO celebra o fato de o IBGE mudar a coleta de dados industriais, ainda que o ajuste force a revisão do PIB. Segundo o jornal, “essa atualização é necessária” e, “longe de sugerir interferência ou partidarização do órgão, desta vez a mudança é bem-vinda e resultará em mapeamento melhor do setor, que representa quase 15% do PIB”. FOLHA adverte que “os problemas de competitividade, os custos elevados e a dinâmica de fundo da economia que favoreceram a desindustrialização nos últimos anos, afinal, não mudarão”.
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