Para
ministro substituto do MCTIC, Elton Zacarias, iniciativas parlamentares têm
condições de atenuar efeitos da crise econômica sobre o meio científico
brasileiro. Ele participou de debate no Senado Federal nesta terça-feira (11).
O
secretário-executivo do MCTIC, Elton Zacarias, e o secretário de
Desenvolvimento Tecnológico e Inovação, Álvaro Prata, participaram do debate.
O
Congresso Nacional tem condições de amenizar os efeitos da crise econômica
sobre a ciência brasileira e de ajudar na recuperação do orçamento do
Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). A sugestão
é do secretário-executivo da pasta, Elton Zacarias, que participou,
nesta terça-feira (11), de audiência pública interativa da Comissão de
Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática do Senado Federal
(CCT).
"Existem
várias iniciativas que precisam ser incentivadas, colocadas em pauta e
debatidas pelo Congresso Nacional, para que a gente possa melhorar o patamar
orçamentário do ministério. Se o MCTIC for prejudicado, aí, sim, partiria de
uma posição muito ruim para 2018", afirmou. "Há questões que precisam
ser colocadas na mesa, como um projeto de lei para impedir, a partir de 2020, o
contingenciamento do FNDCT [Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico]", destacou Zacarias, ministro em exercício durante
a viagem de Gilberto Kassab a Portugal.
Ele
pediu o apoio dos parlamentares para reforçar o caixa do MCTIC, de modo a
fortalecer o incentivo à ciência no país. O secretário-executivo lembrou que a
Lei nº 12.858/2013, que trata dos recursos do Fundo Social do Pré-Sal, ainda
precisa ser regulamentada. Metade do valor arrecadado é voltado para educação e
saúde, mas os outros 50% não têm destinação definida e, de acordo com o
representante do ministério, seria importante que a pasta tivesse acesso aos
recursos. Segundo ele, "isso poderia trazer um orçamento extra de R$ 1
bilhão ao ministério."
O
ministro em exercício apresentou parte das dificuldades do MCTIC, diante do
corte de 44% no orçamento da pasta, reduzido de R$ 5 bilhões para R$ 2,8
bilhões. "Nós temos conseguido vitórias parciais, como o aumento da
dotação orçamentária da fonte de luz sincrotron Sirius e do Satélite
Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas [SGDC]. Temos obtido
pontualmente alguma compreensão do Ministério do Planejamento, Desenvolvimento
e Gestão, mas a situação realmente é bastante dramática", disse.
Na
perspectiva do secretário de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do MCTIC,
Alvaro Prata, as restrições orçamentárias devem reduzir ainda mais a taxa do
dispêndio nacional em pesquisa e desenvolvimento em relação ao Produto Interno
Bruto (PIB). Atualmente, o país investe 1,2% do PIB na área. Para ele, é
importante estimular a participação do setor privado nesse esforço.
"O
setor público tem que aumentar seu investimento, mas precisa também fazer com
que esses recursos alavanquem investimento do setor privado", afirmou.
Prata
reforçou o papel da ciência como pilar da retomada nacional. "Ao longo dos
anos, conseguimos construir um belo sistema, que começa mais e mais a se
preparar para dar frutos e beneficiar o nosso desenvolvimento econômico e
social. Mas ainda precisamos criar facilidades para que o nosso meio acadêmico
e científico possa interagir com o meio industrial", comentou.
Prioridade
A
presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena
Nader, manifestou preocupação com o orçamento do MCTIC em 2018, restrito à
"fotografia" das despesas primárias pagas em 2017. Segundo a
dirigente, é preciso que o Estado tenha consciência da importância de investir
em educação, ciência e tecnologia.
"Enquanto
não tivermos essa visão estratégica para o Estado brasileiro, vamos continuar
tendo que ter vários debates para tentarmos suprir o que o caos
financeiro está fazendo. Não é que ciência e educação sejam melhores do que
qualquer outra pasta, mas elas são estratégicas por permitir, em longo prazo,
que o país realmente saia de uma crise", opinou.
Para
ilustrar o potencial de recuperação a partir da ciência, a presidente da SBPC
comparou o momento brasileiro à crise financeira asiática de 1997. "A Coreia
do Sul passou por algo muito semelhante e decidiram onde colocar seu montante
de recursos: se aplicassem na construção civil, o retorno seria rápido, mas
estacionaria e cairia; assim, perceberam que, por meio de ciência, tecnologia e
inovação, o retorno poderia demorar, porém, chegaria com um crescimento
exponencial. E aí está a Coreia do Sul com a sua economia pujante, para não
falar da China e de outras nações."
Já
o presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Luiz Davidovich,
condicionou o desenvolvimento do Brasil como uma economia sustentável ao
restabelecimento dos recursos para ciência. "O corte orçamentário de 44%,
sobre um orçamento já extremamente reduzido, compromete o futuro do nosso
país", previu. "A situação agora é de emergência. Não dá para
esperar até novembro uma recomposição. Nós não
vamos ter possibilidade de reconstruir esse sistema se nós não
tomarmos medidas imediatas. Quem tem visão de futuro precisa fazer escolhas e
prioridades. E eu acho que cabe ao Congresso definir essas diretrizes de forma
muito clara."
Na
opinião de Davidovich, a redução orçamentária do MCTIC ao longo dos anos
explica o fechamento de laboratórios. Levantamento apresentado por ele aponta
que o montante destinado neste ano representa menos da metade do orçamento de
2005.
"Estou
falando de centros de pesquisa que contribuíram para a análise da epidemia de
zika. As pessoas estão indo para outros países e os estudantes estão deixando
de ser formados por falta de insumo. Quando isso não pode ser recuperado, nós
perdemos uma geração. Estamos preocupados com os jovens de hoje, que estão
saindo da pesquisa por falta de incentivo e que não estarão aí, daqui a 10 ou
20 anos, para enfrentar as epidemias emergentes ou para fazer progredir a
agricultura brasileira", afirmou.
O
presidente do Conselho Nacional das Fundações de Apoio às Instituições
de Ensino Superior e de Pesquisa Científica e Tecnológica (Confies),
Fernando Peregrino, avaliou que uma interrupção no financiamento pode levar
à "desintegração do sistema, construído ao longo de décadas pelo
esforço público e privado". Segundo ele, em 2016, havia 37 grupos de
pesquisa espalhados pelo país. "Essas redes são de excelência, mas em
quantidade inferior às nossas necessidades. Agora, correm o risco de se
desintegrar, sucessivamente."
Para
o senador Jorge Viana, o Brasil precisa eleger ciência, tecnologia e inovação
como tema estratégico, a fim de que suas atividades não parem. "Será que
tirar orçamento dessa área, que já dispõe de tão poucos recursos, não pode criar
danos para décadas futuras?", questionou. "A ideia é que, todos
juntos, façamos um movimento no sentido de estabelecer um tratamento
diferenciado. Em momentos de dificuldades, a gente precisa fazer
escolhas."
Também
participaram do debate o presidente da CCT, Otto Alencar; o vice-presidente da
comissão, Waldemir Moka; o senador Lindbergh Farias; e o deputado federal Celso
Pansera.
Fonte:
MCTIC, Crédito: Ascom/MCTIC