SUS passa a oferecer
tratamento inovador para todos os diagnosticados, independente dos danos no
fígado
Todas as pessoas
diagnosticadas com hepatite C, em grau avançado de comprometimento do fígado
(F3 e F4), receberão o chamado “tratamento inovador” até o final do ano,
zerando a fila dessa população que era contemplada pelo protocolo atual. Os
medicamentos sofosbuvir, daclatasvir ou simeprevir, que apresentam cura de
cerca de 90%, estarão disponíveis nas unidades básicas de saúde, conforme
solicitado pelos estados. Além disso, a partir de agora, outros públicos passam
a ser tratados com esse esquema de medicamentos. Todos os 135 mil
diagnosticados com hepatite C, independente do grau de comprometimento do
fígado, serão atendidos. O anúncio foi feito nesta quinta-feira (27/7) pelo
ministro da Saúde, Ricardo Barros, na véspera do Dia Mundial de Luta contra as
Hepatites Virais.
A ampliação da oferta de
tratamento para todos será possível devido à mudança na modalidade de compra do
Ministério da Saúde. A pasta condicionará o pagamento à indústria farmacêutica
do tratamento à comprovação da cura do paciente. O novo modelo tem como
referência experiências de compras adotadas, por exemplo, na Austrália e em
Portugal. A negociação é que, como aconteceu em outros países, o valor por
tratamento caia de U$ 6,9 mil para U$ 3 mil, possibilitando a inclusão de até
três vezes mais pessoas do que as atendidas atualmente no SUS.
“Estamos trazendo uma nova
ótica de compras para o SUS, seguindo a lógica de comprar mais barato e, com
isso, aumentar a oferta de medicamentos para a população. Este é um
investimento muito grande do Governo Federal. Não estamos apenas tratando a
hepatite C. Estamos curando a doença”, explicou o ministro Ricardo Barros,
nesta quinta-feira.
O objetivo do Ministério é que
todos os diagnosticados com hepatite C sejam tratados, independente do dano no
fígado. O atendimento será feito conforme a gravidade da doença. O
comprometimento do fígado varia de F0 a F4. A fila dos casos diagnosticados F3
e F4 acabará neste semestre. Até o primeiro semestre de 2018, os diagnosticados
com F2 serão plenamente atendidos. Os demais serão contemplados integralmente
no período de dois anos.
Durante o anúncio de hoje, a
escritora Janette Alvim Soares, paciente curada com o tratamento oferecido pelo
Ministério da Saúde, deu um depoimento sobre a sua trajetória de vida. A
mineira descobriu-se vivendo com HIV em 1996, quando também soube que estava
coinfectada com a hepatite C. Em setembro de 2016, submeteu-se ao tratamento
disponível no SUS e, já em maio de 2017, recebeu o resultado com a sua cura da
hepatite C. “Faço uma apelo aos portadores de Hepatite C que procurem o
tratamento. Conviver com esta doença é difícil, mas tratar é muito fácil. Basta
procurar atendimento do SUS”, aconselhou a escritora.
O Ministério da Saúde, ainda,
anunciou a incorporação de mais medicamentos, a combinação 3D (Ombitasvir,
Paritaprevir, Ritonavir e Dasabuvir). As novas inclusões oferecem maiores
possibilidades para o tratamento. Esses fármacos também possibilitam a cura superior
a 90%.
Em 2016, o Brasil registrou
42.830 casos de hepatites virais. Os dados fazem parte do novo Boletim
Epidemiológico de Hepatites, que pode ser acessado no site indicadoreshepatites.aids.gov.br. Na
plataforma, é possível, pela primeira vez, acompanhar dados das hepatites de
cada município de Brasil, com recortes de raça, cor, sexo, idade.
PANORAMA B e C – Em
2016, foram notificados 14.199 casos de hepatite B no Brasil, o que equivale a
uma taxa de detecção de 6,9 casos por 100 mil habitantes. A transmissão da
hepatite B se dá por sexo desprotegido e sangue contaminado. A vacina
disponível no SUS teve sua cobertura ampliada no ano passado, é a melhor
estratégia de prevenção contra a doença.
Já com relação à hepatite C,
foram registrados no ano passado, 27.358 casos, o que representa 13,3 casos por
100 mil habitantes. O mesmo patamar de 2015, quando foram notificados 27.441
casos (13,4 casos por 100 mil habitantes). A doença pode ser transmitida pelo
contato com sangue contaminado (transfusão de sangue e hemoderivados, sexo
desprotegido e compartilhamento e objetos de uso pessoal como agulhas de
tatuagem, alicates e tesouras). Não existe vacina contra a hepatite C, mas o
tratamento é eficaz e disponível no SUS.
TRATAMENTO - Nos
últimos dois anos, foram disponibilizados pelo SUS 57 mil tratamentos para
hepatite C. Em um ano de nova gestão, foram entregues 42.366 tratamentos para a
doença. O Ministério da Saúde também incorporou novas tecnologias. A combinação
Ombitasvir, Paritaprevir, Ritonavir, Dasabuvir (3D), é mais uma opção
terapêutica para pacientes com hepatite C. O tratamento deverá ser ofertado aos
pacientes até o final deste ano.
MORTES -
Dados da Organização Mundial da Saúde apontam que as hepatites virais causaram
1,4 milhões de mortes em 2015, no mundo. A maioria delas está ligada à doença
hepática crônica (720 mil mortes por cirrose) e câncer de fígado primário (470
mil) mortes devido à carcinoma hepatocelular). No ano passado, foram
registrados no Brasil 2.541 óbitos provocados por hepatites virais, sendo que
79,8% (2.028) mortes relacionadas à hepatite C.
TESTAGEM –
Uma das frentes para o combate às hepatites é a oferta de testes rápidos no
SUS. Em 2016, foram distribuídos 8,6 milhões de testes de hepatite B e C. Para
2017, a expectativa é que sejam encaminhados aos estados 12 milhões de testes.
CAMPANHA –
Durante o evento desta quinta-feira, foi apresentada a nova campanha
publicitária de prevenção, que chama atenção para a invisibilidade das
hepatites B e C. As peças gráficas, de áudio e vídeo, incentivam a população a
procurar os serviços de saúde para realizar a testagem e se vacinar, no caso da
hepatite B. A campanha reforça também que, em caso positivo para a hepatite C,
deve-se iniciar o tratamento, conforme os danos causados no fígado.
“O objetivo dessa campanha é
ampliar o número de testagens e pacientes diagnosticados. Assim, conseguiremos
tratar ainda mais pessoas e eliminar a sombra da hepatite do Brasil”, reforçou
a diretora do Departamento de IST, HIV/Aids e Hepatites Virais do Ministério da
Saúde, Adele Benzaken.
O sucesso do protagonismo do
Brasil no enfrentamento às hepatites trouxe ao país um dos mais importantes
eventos internacionais na área, a Cúpula Mundial de Hepatites, que vai
acontecer em São Paulo, de 1º a 3 de novembro.
Por Gabriela Rocha e Nivaldo
Coelho, da Agência Saúde