Os grandes assuntos da agenda nacional estão sintetizados pelas revistas que circulam neste fim de semana na forma de reportagens especiais que se caracterizam por duas qualidades bastante claras: extensão e profundidade.
O caso Petrobras é o principal mote da cobertura – está nas capas das revistas ÉPOCA e VEJA –, sendo que, ao contrário da mídia diária, os esforços mais latentes são no sentido de contextualizar melhor o atual momento da operação Lava Jato, o alcance das consequências econômicas dos desvios e irregularidades na estatal, o futuro das empresas investigadas no escândalo e, por último, os efeitos políticos da crise sobre o governo.
Entre os temas de interesse da indústria, destaca-se a cobertura voltada às medidas de austeridade fiscal propostas pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e suas influências sobre a produção – registra-se como diferencial a capa da revista CARTA CAPITAL.
Somada à crise hídrica do Sudeste, que também é alvo de abordagens específicas, a conjuntura fabril é retratada na forma de um painel que se relaciona com a macroeconomia e outros subitens tais como mercado de trabalho, novos negócios, investimentos e comércio exterior.
- Com foco no esforço do governo em economizar e colocar as contas públicas em ordem, como ponto de atenção, registra-se em CARTA CAPITAL reportagem que adverte para os riscos de as ações serem “pior do que se imagina”.
- Conforme o texto, as medidas atingem “uma economia fragilizada com o fim de um ciclo excepcional de dez anos de altos preços mundiais das commodities e a vulnerabilidade inédita da indústria, em decorrência de 30 anos de crises, políticas equivocadas e omissões”.
- De acordo com CARTA CAPITAL, “a essa situação de caráter estrutural somam-se a fraqueza da economia mundial, as consequências da seca no abastecimento de água e de energia e o travamento dos negócios pela operação Lava Jato”.
- Mesma reportagem lembra que “no período de bonança, dos preços altos das commodities entre 2002 a 2012, o governo não aproveitou para fazer as reformas econômicas há muito consideradas fundamentais para fortalecer a indústria”.
- CARTA CAPITAL registra os protestos sindicais contra o ajuste fiscal do governo federal durante a semana. “Uma das propostas mais criticadas pelas entidades é a mudança nas regras para o pedido do seguro-desemprego”, aponta a reportagem.
- “Além do seguro-desemprego, as mudanças nas pensões também assustam. As novas regras para o cálculo podem resultar em um corte de 50% do benefício, no caso de o cônjuge não possuir filhos”, afirma CARTA. Texto pondera que “a união contra o ajuste fiscal não esconde as divergências políticas do movimento sindical”.
- ANTONIO DELFIM NETTO, em sua coluna na CARTA CAPITAL, analisa o pacote. Segundo ele, a presidente Dilma Rousseff deu um sinal definitivo para cooptar o setor privado industrial, “que poderá antecipar a volta do seu ‘espírito animal’ (mesmo com as dificuldades de curto prazo das crises de água, de energia elétrica e da operação Lava Jato) e facilitar o retorno do crescimento, a única solução de nossos problemas”.
Revistas ampliam a capacidade de análise sobre a crise hídrica que atinge parte do país. Em comum, abordagens apontam que a opção pelo racionamento é real e deve-se, fundamentalmente, à má gestão dos governos estaduais.
Nesse contexto, a administração do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, está no centro de algumas reportagens que se diferenciam pelo tom crítico.
- ÉPOCA alerta que o problema entra em sua fase mais dramática. “Paulistas, mineiros, capixabas e fluminenses se prepararam para meses de agonia, desconforto e racionamento de água”, sinaliza o texto.
- “No Rio de Janeiro, as autoridades querem impor às grandes indústrias a compra de água de reuso”, exemplifica. Reportagem pondera que “a crise é nacional. Respinga na presidente e em todos os governadores do Sudeste”.
- Mesma reportagem de ÉPOCA ressalta também os “erros” do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, na crise hídrica e afirma que ele “poderia ter tomado medidas mais drásticas para economizar água no ano passado”.
- Outro ponto de atenção está na reportagem da CARTA CAPITAL, que adverte que a agricultura é a primeira vítima da crise hídrica em São Paulo, Minas e Rio, mas “sobrará ainda para a indústria”. Em tom crítico, texto posiciona que o "colapso iminente dos reservatórios de água" colocam em xeque “o planejamento dos governos federal e estaduais, além de expor o total despreparo no enfrentamento de situações de crise”.
- “Como a lei garante prioridade ao abastecimento humano, a agricultura e a indústria devem ser diretamente impactadas”, reforça CARTA CAPITAL.
- De acordo com a mesma reportagem, a Federação das Indústrias de São Paulo se queixa que, “como o governo sonegou informações precisas sobre a situação hídrica, os empresários não puderam se preparar adequadamente”. Revista lembra que a indústria, responsável por 60% do PIB do estado, prevê queda na produção, redução de investimentos e demissões. “Em Campinas, o setor representa 30% da economia. Na Grande São Paulo, 25%. O impacto é direto. Estamos tentando quantificar o tamanho do prejuízo”, afirma à reportagem o vice-presidente da Fiesp, Nelson Pereira dos Reis.
- ISTOÉ adverte que a falta de planejamento e má gestão dos governos estaduais empurram a região Sudeste para a maior crise hídrica da história, com risco de racionamentos severos. Texto afirma que, no Espírito Santo, a situação já afeta a indústria e a agricultura.
- SUSTENTABILIDADE, em ISTOÉ DINHEIRO, registra que “não é apenas São Paulo que sofre um estresse hídrico capaz de desorganizar a atividade econômica e a vida das pessoas. No Rio de Janeiro, por exemplo, nada menos que 30% das indústrias já sentem os efeitos da estiagem prolongada. O dado consta de levantamento feito pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan). A amostragem incluiu 487 indústrias que dependem da água coletada nos rios Paraíba do Sul e Guandu, os principais do estado”.
- DINHEIRO NA SEMANA, em ISTOÉ DINHEIRO, posiciona que a crise hídrica em São Paulo, “responsável por um terço do PIB do Brasil, foi prevista há mais de uma década, mas nenhuma solução foi adotada para evitar o pior pelos governantes do PSDB, que desde 1998 vêm se revezando no poder”. Segundo a coluna, “o governo de Geraldo Alckmin garantia que estava tudo sob controle. Mas, no segundo ano de chuvas abaixo da média nos reservatórios estaduais, o discurso mudou da água para o vinho - ou melhor, para a seca. O rodízio drástico ainda não começou. Alckmin demorou a vestir o boné da estatal. O gesto só faz lembrar que, até agora, ele tapava o sol com a peneira”.
- VLADIMIR SAFATLE, em sua coluna na CARTA CAPITAL, sentencia que a causa da crise hídrica de São Paulo “tem nome e sobrenome: o governador Geraldo Alckmin, assim como seus antecessores diretos, todos eles ligados ao mesmo grupo político”.
- CLAYTON NETZ, em sua coluna em ISTOÉ DINHEIRO, afirma que “para Sergio Werneck Filho, CEO da Nova Opersan, especializada em gestão de águas, o Brasil tem um problema estrutural e não uma crise de abastecimento. Cerca de 80% da água própria para consumo não é absorvida no processo e volta como esgoto, diz. Werneck afirma que as empresas de prestação de serviços deveriam ser obrigadas a entregar e receber a água para tratar corretamente o resíduo, o que ajudaria a aliviar a dependência das chuvas”.
A crise no setor elétrico também está destaque nas revistas, ocupando espaços, em geral, associados à discussão econômica. O ponto de vista do consumidor doméstico está em primeiro, mas há referências ao segmento fabril.
- PODER, em ISTOÉ DINHEIRO, assinala que “o governo federal se recusa a pedir para a população economizar energia elétrica, mas a Aneel, a agência reguladora do setor, está discutindo com a Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia (Abesco) um plano para aumentar a eficiência no setor. A entidade vai propor a revisão da regulação sobre consumo de equipamentos e dos padrões de construção. A Abesco estima que o desperdício chegou a 250 mil GWh, nos últimos seis anos, com o custo de R$ 62 bilhões. Ou seja, o equivalente a duas usinas de Belo Monte”.
- PODER registra também que, “depois de resolver o problema da energia, cujo rombo financeiro ainda não está devidamente dimensionado, o próximo item da lista de prioridades do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, é o plano de estímulo à competitividade da indústria brasileira, mencionado pela presidenta Dilma Rousseff, na semana passada. Desta vez, porém, não haverá incentivos setoriais”.
- Segundo PODER, “o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, começou a receber representantes de entidades empresariais, que se mostram preocupados com o ajuste fiscal. A Abimaq, por exemplo, pediu a manutenção da desoneração da folha de pagamentos e a garantia de que não haverá novas altas de impostos. A resposta foi positiva para as duas demandas”.
- Ainda em PODER: “A desvalorização do real deve dar fôlego à competitividade da indústria neste ano. No entanto, em 2014, o desequilíbrio do câmbio piorou a arrecadação. No ano passado, o valor total das importações caiu 3,5%, em moeda americana. Assim, o imposto sobre importados rendeu à Receita R$ 3,9 bilhões, menos do que em 2013”.
No que se refere à operação Lava Jato abordagem de maior destaque está em VEJA. Reportagem especial de oito páginas avança sobre as investigações e afirma que os trabalhos entram em sua fase mais decisiva.
- VEJA informa que os executivos presos refletem, de dentro da cadeia, sobre novas estratégias de defesa. Texto associa a suposta disposição de empresários investigados de delatar políticos e, com isso, reduzir penas e danos econômicos a suas corporações. O PT e personalidades ligadas ao partido são mencionados em todos os contextos da reportagem.
- Em reportagem coordenada, VEJA volta a enaltecer o trabalho do juiz Sergio Moro, que está à frente das investigações da Lava Jato. Texto afirma que o magistrado está quase “invicto” e que a capacidade do juiz de identificar malfeitos advém de sua experiência no combate à lavagem de dinheiro e ao crime organizado.
- CARTA CAPITAL também trata do caso Petrobras e informa que os advogados dos empresários investigados na operação Lava Jato “tentam confundir a opinião pública e parar a investigação”. Em tom crítico, reportagem afirma que as bancas advocatícias são "as responsáveis por instalar as mais diversas armadilhas jurídicas nos processos e espalhar notícias imprecisas nos meios de comunicação com o único objetivo de criar ruídos e tumultuar o andamento da investigação e dos processos".
- Já a revista ÉPOCA, em tom bastante analítico, resume com didatismo e detalhes o que chama de “queda trágica de um gigante”, a Petrobras. Reportagem de quatro páginas sintetiza que “sair da tempestade perfeita exigirá que a Petrobras seja conduzida por exímios navegadores”.
- Com foco em investimentos, ISTOÉ DINHEIRO aponta que a divulgação dos resultados não auditados da Petrobras manteve a incerteza dos investidores e fez as cotações desabarem ainda mais. “O balanço, as notas explicativas e as apresentações para analistas e jornalistas não responderam como a empresa vai contabilizar as perdas provocadas por investimentos suspeitos de corrupção”, afirma a reportagem.
- Em outra reportagem, ISTOÉ DINHEIRO aponta que a queda do valor do petróleo acentua a crise na Venezuela, que está próxima do calote. Segundo a reportagem, “a conta respinga no Brasil”. Dados da Câmara de Comércio Brasil-Venezuela (Cavenbra) mostram que os vizinhos acumulam dívidas de cerca de US$ 5 bilhões com empresas brasileiras. “O valor supera o que o Brasil exportou para a Venezuela no ano passado, cerca de US$ 4,6 bilhões, segundo o Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC).”
- Na agenda política, FELIPE PATURY escreve em sua coluna na ÉPOCA que "a temperatura da relação entre a presidente Dilma Rousseff e o PMDB, seu principal aliado, pode ser aferida pelas puladas de cerca. Na semana passada, Dilma procurou o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira e o convidou para assumir a liderança do governo na Casa. Não vingou. Eunício está magoado com o Planalto, que o abandonou na disputa pelo governo do Ceará Tem mais: o PMDB quer que Eunício continue à frente de sua bancada no Senado”.
- FELIPE PATURY completa que “o cenário na Câmara é mais conturbado. Os cinco deputados que concorrem a líder do PMDB fizeram campanha para o principal presidenciável de oposição, o senador tucano Aécio Neves. E o que pode se esperar da candidatura de Eduardo Cunha (PMDB) à presidência da Câmara? ‘Se vencer, Cunha será independente, como sempre foi. Se ele perder, uma grande ala do PMDB migrará para a oposição’, responde o deputado Leonardo Picciani, um dos aspirantes a líder do partido”.
- FELIPE PATURY registra ainda que “o ex-governador do Ceará Ciro Gomes é cotado para assumir o comando da Transnordestina, a subsidiária da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) responsável pelas obras da ferrovia que corta o Nordeste. O posto seria uma compensação a Ciro, um fiel aliado da presidente Dilma Rousseff. Em 2013, Ciro se desfiliou do PSB para ajudar a consolidar o Pros, partido que apoiou a reeleição de Dilma. O presidente da CSN, Benjamin Steinbruch, e a CSN não comentaram o assunto”.
- FELIPE PATURY adverte também que “o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, revoltou a militância petista ao dizer que o modelo brasileiro do seguro-desemprego está ‘completamente ultrapassado’. O secretário nacional da Juventude do PT, Jefferson Lima, mandou seu recado pelas redes sociais: ‘Ministro Levy, o seguro-desemprego é ultrapassado para você, que nunca precisou e nem vai precisar desse benefício. Tá de brincadeira, né!’”.
0 comentários:
Postar um comentário