Representando o governo brasileiro na 2ª Conferência Internacional de Nutrição da FAO em Roma, ministro Arthur Chioro ressaltou que o enfrentamento da má-nutrição exige políticas complementares e intersetoriais
Envolver as diversas políticas de governo é novo desafio dos países na busca pela melhoria da nutrição no mundo, redução da obesidade e erradicação da fome mundial. Essa foi a defesa apresentada pelo ministro da Saúde, Arthur Chioro, durante a 2ª Conferência Internacional de Nutrição, que acontece até esta sexta-feira (21/11) em Roma, na Itália. Arthur Chioro chefia a delegação brasileira, que reúne cerca de 40 pessoas, entre representantes do governo, parlamentares e da sociedade civil. Ao final do encontro, os participantes assinarão dois documentos que atestam o compromisso contra má nutrição: a Declaração de Roma sobre a Nutrição e o Marco de Ação.
A 2ª Conferência Internacional de Nutrição reúne representantes de países membros da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e acontece 22 anos após a primeira conferência, realizada em 1992. Apesar de reconhecer avanços, o alerta dos dois organismos internacionais é de que o planeta ainda tem mais de 840 milhões de pessoas cronicamente subnutridas.
Relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) aponta o Brasil como referência internacional no combate à fome, tendo cumprido com antecedência os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio em relação à redução da pobreza. Recente pesquisa dos ministérios da Saúde e do Desenvolvimento Social e Combate à Fome demonstrou que a desnutrição crônica, que reflete longos períodos de exposição a situações de fome e miséria, inclusive no ventre da mãe, caiu 51,4% entre as crianças beneficiárias do programa Bolsa Família acompanhadas durante cinco anos.
Para o ministro da Saúde, os resultados positivos conquistados nas últimas décadas são fruto do alinhamento de políticas sociais, de saúde e educação, combinadas com a política econômica e de proteção social. “A valorização do salário mínimo e a recuperação do poder de compra do trabalhador levaram mais de 42 milhões de pessoas à classe média. O Programa Bolsa Família tirou da linha de pobreza mais de cinco milhões de brasileiros. Isso possibilitou a população ter acesso à alimentação, e a fome hoje caminha para tornar-se um fenômeno isolado no Brasil”, comemorou.
Chioro ressaltou ainda que para enfrentar a má-nutrição os países precisam adotar políticas complementares e intersetoriais. “Ao pensarmos em nossas políticas de alimentação e nutrição, precisamos levar em consideração as diferentes faces da insegurança alimentar e nutricional, que levam a desfechos como desnutrição, carências de micronutrientes, excesso de peso, obesidade e doenças crônicas associadas à alimentação inadequada”, reforçou.
Além do programa Bolsa Família, o Brasil vem investindo em outras ações que estão contribuindo para a redução da desnutrição crônica no país, como a suplementação nutricional com sulfato ferroso para crianças de seis a 24 meses e de vitamina A para menores de cinco anos. Somente em 2014, o Ministério da Saúde investiu R$ 30 milhões na suplementação, que já beneficiou cerca de 2,3 milhões de crianças. A Politica Nacional de Aleitamento Materno também tem conseguido ampliar as taxas de aleitamento de forma significativa e contribuído efetivamente para que o país atingisse as metas internacionais. Nas capitais brasileiras e no Distrito Federal, o tempo médio de aleitamento materno aumentou em um mês e meio entre 1999 a 2008.
Em paralelo ao combate à fome, outro problema que deve ser enfrentado pelos países, segundo a presidente da Organização Mundial da Saúde (OMS), Margareth Chan, é o crescimento constante da obesidade. “O sistema alimentar mundial está falido, dependemos cada vez mais de alimentos industrializados e mais baratos do que alimentos saudáveis produzidos localmente”, disse. Nesse sentido, o diretor geral da FAO, José Graziano, destacou que há 22 anos não se imaginava que uma conferência sobre nutrição fosse preocupar-se com o crescimento da obesidade. “Temos todos os recursos e há alimentos para todos de forma adequada, mas isso não tem se transformado em alimentação saudável para todos”, acrescentou, afirmando que o ponto de partida da discussão é o reconhecimento da nutrição como problema público.
Ao final do evento, os países assinarão a Declaração de Roma sobre a Nutrição, que responderá às questões e desafios atuais relacionados com a nutrição e o Marco de Ação, que reúne uma lista com 60 recomendações de políticas e estratégias que podem ser incorporadas nos planos dos países. O ministro da Saúde reafirmou o compromisso do Brasil em participar ativamente da discussão e adoção de medidas que reduzam a obesidade e o sedentarismo na agenda de desenvolvimento pós-2015. “Vamos empreender esforços para implementar as ações da Declaração Política de Roma e de seu Marco de Ação, na busca da melhoria da nutrição no mundo”, reforçou Chioro em seu discurso.
Por Hortência Guedes e Murilo Caldas, da Agência Saúde
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