Teste com medicamento à base de maconha é liberado nos EUA
Fonte: O Globo
Notícia publicada em: 23/11/2013
Autor: Flávia Milhorance
Um medicamento para o tratamento de epilepsia à base de maconha pode estar disponível no mercado a partir do ano que vem nos Estados Unidos. A expectativa é da GW harmaceuticals, que conseguiu junto à FDA, a agência reguladora de remédios do país, a aprovação para testes em humanos do Epidiolex, fórmula líquida oral com 98% de canabidiol (CBD), um dos componentes da planta Cannabis sativa (maconha).
Segundo o laboratório, a substância não é alucinógena e tem efeito anticonvulsivante. Os testes clínicos serão feitos em 125 crianças com tipos raros de epilepsia: síndrome de Dravet, síndrome de Lennox-Gastaut e outras síndromes epilépticas pediátricas, geralmente resistentes aos medicamentos hoje disponíveis.
A notícia foi comemorada pelo professor de Psicofarmacologia da Unifesp e diretor do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), Elisaldo Carlini. Ele conta que há 40 anos o seu grupo de pesquisa, em parceria com universidades de Alemanha e Israel, publicou artigos relacionando as propriedades farmacológicas da planta em epilépticos. Eles também viram seu potencial de amenizar os sintomas da esclerose múltipla.
O próprio GW Pharmaceuticals tem, desde a década de 1990, a aprovação do governo britânico para a produção do ativex, fórmula que contém o CBD para o tratamento das dores da esclerose. Outros 20 países conseguiram a liberação de seus órgãos reguladores. O Brasil não está nesta lista.
— O nosso país está pelo menos 100 anos atrasado nesta discussão. Em 1910, importávamos da França a cigarrilha grimault, com extrato de maconha, que era prescrita para asma e insônia. Agora, não conseguimos nem mais importar a substância para pesquisa. No universidade, lutamos para tirar este obscurantismo da medicina brasileira — criticou Carlini.
Outros estudos vêm analisando os efeitos dos extratos da maconha na diminuição dos sintomas do mal de Alzheimer, esquizofrenia, ansiedade e outros males.
Mas o tema polêmico é visto com desconfiança pela psicanalista Ivone Ponczek, diretora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Atenção ao Uso de Drogas (Nepad), da Uerj. Apesar de favorável à descriminalização da droga, ela pondera seu uso medicinal.
— Claro que se for cientificamente comprovado que a maconha é útil para aliviar sintomas de dor, é um caso a se pensar. Mas acho que está faltando muita pesquisa para isso — comenta Ivone. — A medida poderia abrir margem a outros usos. É muito fácil conseguir uma receita médica. E além disso, a morfina tem uso terapêutico, mas atendemos com muita frequência pessoas viciadas na substância, geralmente profissionais de saúde, que têm mais acesso às drogas.
0 comentários:
Postar um comentário