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quinta-feira, 30 de junho de 2016

Pesquisa constata que produzir vacina contra o vírus zika é viável

Testes feitos em camundongos conseguiram 100% de êxito
       
Os primeiros avanços na luta para prevenir o zika começam a emergir, com a viabilidade de uma vacina tendo sido demonstrada pela primeira vez. Cientistas brasileiros e americanos testaram com sucesso em animais duas estratégias de imunização. Publicado na “Nature”, o estudo é importante porque a vacina é considerada a única forma realmente eficaz de proteger a população contra uma epidemia que já se espalha por 61 países. E uma outra vacina, em desenvolvimento no Instituto Evandro Chagas, em Ananindeua (Pará), deve começar a ser testada em macacos em novembro.

No estudo relatado na “Nature”, o grupo integrado por cientistas da USP e da Universidade de Harvard, nos EUA, testou duas formas de imunizar camundongos contra o zika. As duas obtiveram 100% de êxito. Isto é, os roedores não desenvolveram a doença ao serem infectados pelo zika em laboratório.

O estudo é o primeiro a empregar também a cepa brasileira do zika, originária do Nordeste. Ela foi isolada de um paciente na Paraíba pelo grupo do virologista Pedro Fernando da Costa Vasconcelos, diretor do Instituto Evandro Chagas.

A primeira forma testada, mais convencional, foi usar o zika inativado para causar uma resposta do sistema de defesa dos roedores. A segunda foi obter a mesma resposta com uso de pedaços do material genético do vírus.

Um dos autores do estudo, Paulo Zanotto, professor do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, diz que a meta era compreender os mecanismos da infecção pelo zika:

— Embora seja ciência básica, em fase inicial, a pesquisa é importante porque ainda se sabe pouco sobre os aspectos imunológicos do vírus.

VÍRUS DIFÍCIL DE SER INATIVADO
A primeira técnica oferece a vantagem de ser mais simples e, por isso, em tese, mais fácil de desenvolver. Esse tipo de vacina está em uso com sucesso contra a pólio e a encefalite japonesa. Todavia, o zika não tem se mostrado trivial. Ele não é fácil de inativar, salienta Zanotto. Tornar um vírus inativo é eliminar sua capacidade de se replicar dentro das células infectadas. Assim, ele serve para “ensinar” o sistema imunológico a reconhecê-lo como invasor e atacá-lo.

Zanotto explica que uma vacina desenvolvida a partir de pedaços de genes do vírus é vista como mais promissora. Esse imunizante é mais seguro e não pode causar doença, já que não há vírus nele. É um produto desse tipo que a equipe de Dan Barouch planeja testar em macacos em Harvard, numa segunda etapa do trabalho.

Barouch é um dos principais especialistas do mundo em vacinas contra retrovírus. Seu grupo desenvolveu e testa em pessoas uma vacina contra o HIV. Como a que se planeja criar contra o zika, ela é genética.

— Nosso grupo da USP focará no conhecimento da imunologia do zika. Estamos trabalhando agora com uma linhagem do vírus que isolamos em São Paulo — diz o pesquisador.

A equipe dele colabora com a do Instituto Butantan, que também busca criar uma vacina.
POR ANA LÚCIA AZEVEDO

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