O
surgimento e a retomada de doenças infecciosas no mundo frequentemente são
provocados por pobreza, desigualdade e discriminação, sendo que o atual surto
de zika expõe “injustiças sistemáticas” presentes nos sistemas de saúde
globais, disseram especialistas no site do programa Impacto Acadêmico das
Nações Unidas (UNAI, na sigla em inglês).
No Brasil, a maior parte dos
casos de microcefalia está concentrada no Nordeste. Foto: EBC
O
surgimento e a retomada de doenças infecciosas no mundo frequentemente são
provocados por pobreza, desigualdade e discriminação, sendo que o atual surto
de zika expõe “injustiças sistemáticas” presentes nos sistemas de saúde
globais, disseram especialistas no site do programa Impacto Acadêmico das
Nações Unidas (UNAI, na sigla em inglês).
Para
os pesquisadores da Universidade de Georgetown (Estados Unidos) Alexandra
Phelan e Lawrence Gostin, doenças transmitidas por mosquitos afetam
desproporcionalmente os mais pobres e vulneráveis. “Falhas estruturais de
governos em garantir saneamento forçam pessoas a armazenar água, o que acaba
criando focos de mosquitos”, disseram.
“Governos
não priorizam programas de controle de vetores em seus orçamentos —
especialmente em momentos de recessão e instabilidade política como no caso do
Brasil — o que cria uma ‘tempestade perfeita’ para o vírus nas comunidades mais
pobres”, salientaram.
Segundo
os pesquisadores, outro ponto é a questão de gênero, já que o surto de zika
afeta mais as mulheres, que sofrem risco de aborto e malformação fetal. “Na
maior parte dos países das Américas, barreiras legais, socioeconômicas e
políticas impedem o acesso das mulheres a serviços de saúde reprodutiva,
incluindo contracepção, aborto e saúde maternal e infantil”.
Além
disso, em países sem uma cobertura de saúde universal e integrada aos sistemas
de seguridade, pessoas com deficiência ficam especialmente vulneráveis. “Os
sistemas de saúde e seguridade não estão bem equipados para fornecer o apoio
necessário para que indivíduos vivam de forma saudável após potenciais
deficiências provocadas por síndromes neurológicas e microcefalia”, declararam.
“Infelizmente,
surtos de doenças infecciosas normalmente só ganham atenção durante a fase de
transmissão. É necessário garantir o direito à saúde e os direitos de crianças,
mulheres e pessoas com deficiência para além do período de declaração de
emergência de saúde.”
O
professor Daniel Lucey, do Centro Médico da Universidade de Georgetown, lembrou
por sua vez que o surto de zika e de microcefalia no Brasil em 2015 e 2016 foi
precedido de eventos similares, porém de menor escala, na Polinésia
Francesa. Segundo ele, a importância desses eventos prévios precisa ser
reconhecida para que ações apropriadas sejam tomadas.
“O
reconhecimento da importância da ligação entre zika e microcefalia tanto na
Polinésia Francesa como no Brasil requeria uma tomada de ação apropriada (…) em
antecipação a uma pandemia de microcefalia em muitos outros países e
territórios”, disse.
“Sob
o risco de estar errado, às vezes é necessário tomar ações antes que todas as
informações desejadas estejam disponíveis. Essa ação prematura pode ser
essencial quando as consequências da inação precoce podem ser catastróficas”,
completou o pesquisador.
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