Um dos melhores laboratórios
do País, o Lacen foi o primeiro a abandonar testes em animais para diagnóstico
da raiva. Também é uma das únicas 24 instituições no mundo que fazem o
monitoramento de resistência a antimicrobianos, além do pioneirismo do Programa
Sentinela.
Lacen vira referência nacional e sai na vanguarda em projetos de monitoramento
Foto: Roberto Dziura Jr/AEN
O Laboratório Central do
Estado (Lacen) é o laboratório de referência para a saúde pública no Paraná.
Nele, são feitos exames voltados à vigilância epidemiológica e ao monitoramento
de doenças infecciosas de notificação obrigatória. É ele quem gera os
"alertas" que se transformam em políticas públicas de proteção das
comunidades, campanhas de vacinação e reforço do atendimento em saúde em determinados
locais, em parceria com as prefeituras. Nele foram detectados os primeiros
casos de Covid-19 no Paraná, que ajudaram na formatação das primeiras medidas
de distanciamento social em março de 2020, mas o trabalho é bem mais amplo,
reconhecido nacionalmente, e envolve inovações no diagnóstico da raiva
animal, monitoramento de resistência a antimicrobianos e controle da
dengue.
Na quinta reportagem da série
“Paraná, o Brasil que dá certo”, o Lacen, que completou 128 anos, tem ações que
viraram referência no Brasil e projetos que influenciaram até o Ministério da
Saúde. O DNA inovador da equipe técnica coloca o laboratório entre os melhores
do País, com inovação constante nos processos e na infraestrutura localizada em
São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba.
“Fazemos a detecção de doenças
que podem afetar não somente o indivíduo que recebeu o diagnóstico, mas a saúde
da população como um todo, o que requer ações imediatas do Poder Público. Os
resultados e inovações produzidos no Lacen ajudam a formar um conceito muito
importante e que envolve toda a sociedade, que é o que chamamos de Saúde
Pública. Conseguimos mapear a circulação de doenças e contribuir com o
bem-estar da população paranaense”, explica Celia Fagundes da Cruz,
diretora do Lacen.
“O Lacen é um laboratório de
excelência, pioneiro em novas tecnologias para realização de diagnósticos
precisos que auxiliam na tomada de decisão”, complementa o secretário de Saúde,
Beto Preto.
Um grande exemplo disso é
o Programa Sentinela. Em parceria com a Secretaria de Estado da Saúde, o Lacen
mantém 60 unidades sentinelas espalhadas pelo Estado. Cada uma envia,
semanalmente, amostras coletadas de cinco pacientes ambulatoriais que tenham
suspeita de dengue.
A análise dos resultados
obtidos para essas amostras permite definir, de maneira regionalizada, quais
são os sorotipos de dengue circulantes e se está ocorrendo introdução de dengue
em regiões não endêmicas. Além disso, é possível também fazer o controle de
outros arbovírus (Chikungunya, Zika e Febre Amarela).
À medida que o Lacen recebe as
amostras das unidades, elas são tabuladas e verifica-se as tendências e
eventual aumento do número de casos positivos, antes mesmo do problema se
tornar maior. Assim, a Secretaria de Estado da Saúde consegue agir antes
de eventuais surtos. Quando são detectados casos positivos, a vigilância
epidemiológica faz o georreferenciamento dos casos, identificando focos e
contendo a transmissão. Esse trabalho é feito de forma unificada pelo Estado,
prefeituras e até mesmo a União. Desta forma, é possível agir de forma preventiva
e rápida.
Guilherme Nardi Becker,
farmacêutico do Lacen, explica que o projeto, além de otimizar recursos,
permite que o Lacen faça a vigilância epidemiológica destes vírus e consiga
detectar o aumento do número de casos de forma precoce. “Trata-se de um projeto
pioneiro a trabalhar com unidades sentinelas para o diagnóstico de dengue”,
afirma. “Nós tivemos, por exemplo, um caso de Chikungunya que foi apontado
inicialmente como sendo de dengue e conseguimos detectar a diferença pela
Unidade Sentinela. Desta forma, contivemos um surto antes dele se espalhar”.
O projeto, criado em 2020,
também é uma excelente ferramenta para diminuir gastos. “Conseguimos dar as
mesmas respostas epidemiológicas diminuindo em 50% o número de amostras
processadas. Assim, é possível direcionar os recursos para aquilo que realmente
precisamos aqui dentro do Lacen”, explica Becker. Outra novidade trazida pelo
programa é a divulgação dos resultados do monitoramento das unidades em tempo
real, pela internet. Assim, cada Regional de Saúde pode acessar o site do Lacen
e acompanhar os indicadores.
A diretora técnica do
Lacen, Irina Riediger, completa que, com esse tipo de
abordagem, que auxiliou também no mapeamento da circulação de variantes do novo
coronavírus nos últimos anos, é possível detectar precocemente a emergência de
circulação ou a introdução de um novo sorotipo de dengue – ou de um outro
arbovírus qualquer, como o SARS-CoV-2.
“Assim, conseguimos tomar as
medidas de contenção ou de prevenção para a população de maneira precoce. Com
isso conseguiremos, ao longo do tempo, reduzir a amplitude das epidemias, que é
um foco de atenção desse século”, afirma.
RAIVA ANIMAL –
Outro grande exemplo do trabalho inovador do Lacen é a mudança na forma de
fazer o diagnóstico da raiva animal no Paraná. O laboratório, seguindo
determinação da Organização Mundial da Saúde (OMS), foi o primeiro do País a
deixar de usar testes em animais para a prova biológica da raiva. O método
de pesquisa anterior consistia na verificação do vírus da raiva com a
utilização de camundongos, prática que foi substituída pelo método in
vitro, no qual se pesquisa o material genético do vírus diretamente do tecido
do paciente.
“O teste em animais está
tecnologicamente ultrapassado. A sociedade civil está se organizando de tal
maneira a procurar reduzir ao mínimo o número de experimentos animais para a
validação de qualquer produto ou serviço que façamos uso como sociedade. E o
laboratório fez parte desse movimento, com pioneirismo”, afirma Irina.
Com a adoção da nova
sistemática, além de deixar de usar animais vivos nos testes, o Lacen reduziu
de 30 dias para uma semana o prazo para divulgação dos resultados deste tipo de
exame. Com o uso dos animais vivos, isso não era possível porque havia
dependência do desenvolvimento da doença induzida no animal explorado como
cobaia. O trabalho do laboratório passou por validações, ajustes e depois de um
ano foi publicado.
“Cedemos esse protocolo para
os outros laboratórios brasileiros, que agora estão implantando a mesma
sistemática. Cedemos também para o Ministério da Saúde, que está trabalhando na
descentralização dessa técnica que nasceu aqui com a gente”, conta a diretora-técnica.
A raiva é uma doença
infecciosa viral aguda, que acomete mamíferos, inclusive o homem, e
caracteriza-se como uma encefalite progressiva e aguda com letalidade de
aproximadamente 100%. É causada pelo vírus Lyssavirus. Ele é transmitida
ao homem pela saliva de animais infectados, principalmente por meio da
mordedura, podendo ser transmitida também pela arranhadura e/ou lambedura
desses animais.
O Lacen também é referência nacional quando o assunto é o monitoramento de resistência a antimicrobianos. Foto: Roberto Dziura Jr./AEN
BACTÉRIAS – O Lacen também é referência nacional quando o assunto é
o monitoramento de resistência a antimicrobianos. Em ambientes hospitalares,
pacientes que ficam muito tempo internados acabam contraindo bactérias
multirresistentes para as quais não existem drogas ou opções terapêuticas, e
que acabam levando a óbito. O que o Lacen faz é monitorar a emergência dessas
bactérias, como elas se comportam ao longo do tempo e como elas se distribuem
no espaço.
“Isso
ajuda quem trabalha nos hospitais a conhecer quais são as bactérias que estão
naquele ambiente e como fazer um manejo melhor das drogas a serem implementadas
dentro do rol de drogas disponíveis daquela instituição”, explica Irina.
De
acordo com Marcelo Pillonetto, farmacêutico bacteriologista do Lacen, desde 2014
o laboratório é um dos quatro do País designados pela Anvisa para fazer este
tipo de monitoramento. “Fazemos um serviço de vigilância de epidemiologia, no
qual recebemos amostras de vários estados e detectamos qual mecanismo de
resistência aquela bactéria possui. A partir disso, vemos a clonalidade, ou
seja, qual é a semelhança da bactéria que está no hospital A, B ou C e aí
podemos ver como elas estão circulando de um hospital para outro”, explica.
No ano
passado, o Lacen venceu um edital da Coordenação Geral de Laboratórios de Saúde
Pública do Ministério da Saúde e se tornou uma das 24 instituições no mundo a
fazer este tipo de monitoramento. “No Brasil ficamos como referência e somos
responsáveis por coordenar uma rede formada por 15 hospitais sentinelas
espalhados por 11 estados brasileiros”, afirma Pillonetto.
"Nós
capacitamos e treinamos estas equipes para detectar bactérias resistentes,
testar e aprovar metodologias que identifiquem essas bactérias mais
rapidamente. Nós também damos treinamentos para as equipes de microbiologistas
para que eles melhorem o seu conhecimento e consigam fazer melhor esse
serviço", complementa.
Para o
segundo ano do projeto, a Anvisa também passou a integrar a ação e cuidará do
controle e prevenção dessas doenças no ambiente hospitalar. “Esses hospitais
estão em contato continuamente conosco, conversando sobre novas bactérias que
surgem, que produzem novas variantes, até mesmo novos genes de resistência. Com
os dados em mãos, condensamos, analisamos e damos feedback para o Ministério,
para os laboratórios regionais, para os hospitais sentinelas e, assim, tentamos
controlar melhor a disseminação dessas bactérias resistentes”, arremata.
SÉRIE –
“Paraná, o Brasil que dá certo” é uma série de reportagens da Agência Estadual
de Notícias. São apresentadas iniciativas da administração pública estadual que
são referência para o Brasil em suas áreas. A primeira abordou o sistema estadual de transplante de órgãos, a segunda
a companhia master de dança mais longeva do País,
a terceira a cadeia de produção e distribuição de alimentos orgânicos e
a quarta a sala exclusiva do Museu Oscar Niemeyer para atender
o público autista.
Confira o vídeo:
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