Por:
Aline Câmera (IFF/Fiocruz)
O
conceituado periódico Neurology, da Academia Americana de
Neurologia, publicou em sua capa da edição de julho, imagens tridimensionais
inéditas da gravidade da lesão encontrada no crânio de um bebê com
microcefalia, cuja mãe foi exposta ao vírus zika no primeiro trimestre de
gestação. As imagens compõem o artigo Cranial bone collapse in
microcephalic infants prenatally exposed to Zika virus infection
(Colapso dos ossos cranianos em bebês com microcefalia expostos à infecção pelo
vírus zika na gestação) na editoria NeuroImages, da Revista.
As
evidências são fruto do trabalho realizado no Instituto Nacional de Saúde da
Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) pelos
especialistas Dafne Horovitz, Marcos Vinícius Pone, Sheila Pone, Tânia
Regina Saad e Márcia Cristina Boechat. Referência na assistência a gestações de
alta complexidade e na atenção integral a crianças com doenças crônicas, o IFF
vem acompanhando de perto as consequências da situação de emergência em saúde
pública, causada pelo vírus zika e o nascimento de crianças com diversas
anomalias, em especial a microcefalia.
Já
nos primeiros atendimentos às crianças com microcefalia, cujas mães foram
expostas ao vírus, a equipe do IFF foi surpreendida com achados radiológicos
que apontavam para uma realidade diferente daquela vista tradicionalmente
quando a causa é determinada por fatores genéticos ou mesmo por outras
infecções congênitas. “Com as imagens tridimensionais realizadas no IFF
nós conseguimos visualizar todos os aspectos da calota craniana, nessas imagens
temos as dimensões reais. Como estamos diante de uma situação nova, o que nos
chamou atenção foi o grau de deformidade do crânio", ressaltou a médica
radiologista responsável pela realização dos exames e das imagens
publicadas, Márcia Boechat.
“Observamos
que o tecido cerebral foi significativamente afetado. No que diz respeito ao
arcabouço ósseo, é como se acontecesse o colapso da calota craniana,
secundariamente a destruição do cérebro que estava em desenvolvimento. Com
isso, os ossos superiores foram rebaixados. Clinicamente, é possível palpar uma
espécie de bico tanto atrás, na região occipital, quanto nas laterais da cabeça
dos bebês”, destaca a médica geneticista do IFF e autora do artigo, Dafne
Horovitz.
Tais
achados corroboram o que outras pesquisas também apontaram: o vírus tem uma
predileção pelo sistema nervoso. “Por conta da desaceleração do crescimento
cerebral, alguns neurônios acabam perdendo as suas funções, o que prejudica
diretamente a capacidade de aprendizagem dessas crianças. Contudo, dependendo
da localização no cérebro onde há lesões e do grau de sua extensão, os bebês
podem apresentar problemas de visão, surdez, dificuldade para deglutir a
própria saliva, convulsões, entre outros sintomas”, explica a neurologista
infantil do Instituto, que também esteve à frente da publicação, Tânia Saad.
0 comentários:
Postar um comentário